Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2012
Se pela beleza, imponência e grandiosidade de suas igrejas os largos do Carmo e de São Francisco são os que, de imediato, sempre encantam, no mês de dezembro é para o Largo do Rosário, no abraço que dá à mais antiga igreja de São João del-Rei, que todos os sentidos se voltam. O olhar, para ver o belo cenário, iluminado ou natural, coroado pela igreja do Rosário e ponteado por orgulhosos sobradões . Os ouvidos, para escutar a magia que causa arrepios a quem ouve os tencões, terentenas e floreados de Natal, assiste a novena barroca do Menino Jesus e presencia o Te Deum Laudamus cantado no crepúsculo do dia 25 de dezembro. O olfato, para aspirar o perfume das flores que enfeitam os altares e o cheiro do incenso queimado nas brasas dos turíbulos de prata trazendo o céu para o interior daquele templo, construído em 1719. O paladar, para perceber o sabor da hóstia consagrada, que no dia 25 se converte no próprio Jesus Menino, descido dos braços da virgem em visita a todos, na mesa da co

Presépio da Muxinga é mágico: transforma São João del-Rei em Belém da Judeia. Há 84 anos!

A  Belém da Judeia, que há 84 anos existe em São João del-Rei, na aguda ladeira que os mortos sobem rumo à "sua derradeira morada", não fica em meio ao deserto. Ergue-se à sombra da Serra do Lenheiro, em paisagem absolutamente montanhosa, montanhesa, mineira, são-joanense. É lá que, desde 1929, Jesus, em seu mistério, também nasce. Na Belém são-joanense, pacificamente, em meio a diminutas ruas e quintais, convivem galinhas, camelos, cavalos, vacas, elefantes, burros, galos, gatos e cachorros. Nela,o  ferreiro forja o ferro que faz o serrote que os serradores usam para serrar a madeira que o marceneiro usa em seu trabalho. Nela, tal qual o milagre dos peixes, o pescador tira da água o alimento que o jacaré deseja, mas que vai para a panela da cozinheira, que antes soca temperos para uma boa muqueca, assistida pela negra, que a tudo espana. Nela, dois galos brigam, dois meninos brincam na gangorra, Papai Noel embala uma criança no balanço, um carrossel roda, uma ro

Natal em São João del-Rei: a "Estrela Guia" já no céu desponta!

Sempre que dezembro chega, São João del-Rei já está olhando para o céu. Lendo na pauta de estrelas a barroca novena de Nossa Senhora da Conceição. Aprendizado muito antigo, do tempo em que a santa, pousada sobre a lua crescente, esmagava a serpente verde, que ainda trazia entre os dentes  pecado vermelho e a maçã que traiu Eva e condenou Adão ao castigo do trabalho: "ganharás o pão de cada dia com o suor do teu rosto!" Mal Nossa Senhora da Conceição recolhe-se ao seu altar na igreja de São Francisco, voltando do passeio que faz todo dia 8 de dezembro para, em gratidão, homenagear o aniversário da cidade que tanto lhe ama, São João del-Rei volta pela Rua da Prata, atravessa a Ponte do Rosário para de novo afinar seus instrumentos, preparar foguetes e fogos de artifício, lustrar pratarias, aparar velas, encomendar flores. Tudo para adorar, em novena, o sorridente Menino Jesus. Ele gosta tanto desta festa que faz questão de descer dos braços de Nossa Senhora do Rosário

Ainda quando vila, São João del-Rei batizou os irmãos do herói Tiradentes

Ainda hoje, aos olhos de todos, o herói Tiradentes parece um homem solitário, de história isolada, que brotou dos mineiros campos vertentes e lançou sementes de liberdade e esperança sobre montanhas e vales cobertos de ouro e diamantes. É bem verdade que não teve madrinha, como declara seu registro de batismo, realizado a 12 de novembro de 1746 na capela de São Sebastião do Rio Abaixo e assentado na folha 151 do Livro de Batizados da então matriz da Vila de São João del-Rei, Mas na infância, teve família de numerosos irmãos. Vários deles também receberam o sacramento do batismo na mesma capela de São Sebastião do Rio Abaixo, entre eles José da Silva Santos, no dia 5 de dezembro de 1747. Passara-se, portanto, um ano e poucos dias depois do batismo do herói sonhador da Inconfidência Mineira.  José da Silva Santos não só foi batizado em São João del-Rei como também sepultado, no dia 11 de junho de 1833, com quase 86 anos, na igreja do Carmo desta cidade. Tinha posto de capitão.

São João del-Rei: da Guerra dos Emboabas à Guerra do Paraguai

Passados 133 anos desde que os portugueses, inflamados de ódio na Guerra dos Emboabas, incendiaram em 18 de novembro de 1709 o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, São João del-Rei cobriu-se de festa para receber por três dias, com entusiasmo e homenagens, o Barão de Caxias, heroi brasileiro da Guerra do Paraguai. Por coincidência ou de propósito, em 1842, no dia 11 de setembro, Caxias chegou à cidade pelo mesmo lugar onde o bandeirante Tomé Portes cobrava pedágio pela travessia do caudaloso Rio das Mortes: o Porto Real da Passagem. Dali então, por todo o trajeto, de trechos em trechos era saudado por foguetes e fogos de artifício - recursos sonoros até hoje muito usados em São João del-Rei, frequentemente até várias vezes por dia. De longe a população fica sabendo que em algum lugar não muito distante alguém está comemorando alguma coisa, mas exatamente qual o motivo da alegria, não dá para saber. Em seu percurso até o centro da cidade, Caxias passou sob vá

À luz do dia, cemitério desapareceu no centro histórico de São João del-Rei

Quem disse que morto não anda? Bem, se anda ou não anda,  isso ninguém ainda não viu, mas que cemitério muda de lugar, ah, isso muda. Pelo menos em São João del-Rei. Duvida? Então veja só: Ainda não havia acabado o século XIX. Era, mais precisamente, dia 30 de novembro de 1897, quando a Mesa Administrativa da Irmandade da Misericórdia  de São João del-Rei foi convocada para tomar ciência de um documento que trazia um pedido inusitado - o fim imediato de sepultamentos no cemitério daquela irmandade. Como aquele campo santo ficava em frente à Santa Casa de Misericórdia, bastava atravessar a rua para que o defunto, tendo deixado a vida naquele hospital, chegasse à morada eterna. Então, se morto não incomoda a ninguém - a não ser os que tem a alma apenada - por que tornar mais longa a distância entre este e o outro mundo, levando os mortos para o "Cemitério da Fábrica", que ficava na entrada da cidade, na margem esquerda do Rio das Mortes? O ofício que, assim como os mor

São João del-Rei precisa valorizar mais sua história, de páginas escritas com o sangue de seus filhos

Novembro está chegando ao fim e, com ele, o mês do 266º aniversário do batismo de Joaquim José da Silva Xavier, o herói Tiradentes, na então Vila de São João del-Rei. Este ano, completou-se 220 anos de sua execução. O batismo de Tiradentes, em nossa cidade, não só por razões históricas, mas também por significado e emblemática, merece ser sempre vigorosamente lembrado, difundido e divulgado em nossa cidade, com uma programação que evidencie o justo e exato grau de sua importância para a história local, do estado de Minas Gerais e do país. Mais uma vez não o foi, apesar do empenho pessoal de alguns valorosos são-joanenses e dos esforços empreendidos por algumas instituiçõe locais. Na Terra da Música, o batismo do herói "inflamado de esperança" não motivou a celebração de uma missa cantada, um concerto ou recital, sequer serenata ou roda de samba, apesar de a cidade orgulhar-se desta sua alcunha, conferida pela tradição musical de quase trezentos anos. Não foi enredo de nen

Visões mágicas de São João del-Rei

Por mais que se procure São João del-Rei, nossa terra está sempre muito além e até onde menos imaginamos. Misteriosa, mais do que uma cidade ou um território, é um sentimento, uma emoção, um desejo. Quem sabe um delírio? Tão misteriosa e onírica é São João del-Rei que parece ter sido feito para ela o poema abaixo, A palavra Minas , escrito por Carlos Drummond de Andrade: Minas não é palavra montanhosa. É palavra abissal. Minas é dentro e fundo. As montanhas escondem o que é Minas. No alto mais celeste, subterrânea, é galeria vertical varando o ferro para chegar ninguém sabe onde. Ninguém sabe Minas. A pedra o buriti a carranca o nevoeiro o raio selam a verdade primeira, sepultada em eras geológicas de sonho. Só mineiros sabem. E não dizem nem a si mesmos o irrevelável segredo chamado Minas. Ilustração: “Paisagem de São João del Rey”, 1838 . Desenho de Vanderburch. Gravador:  H. Lalaisse. Gravura em metal, 1838. 09cm x 14cm - copiada do site http://www.opapeldaarte.com

Precioso álbum de família: São João del-Rei & suas quatro filhas

Assim como a santa Nhá Chica, que nasceu no distrito são-joanense de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, as cidades de Baependi, Campanha e Três Pontas também são filhas de São João del-Rei. Isto é o que mostra uma representação setecentista do Termo da Vila de São João del-Rei , cabeça da antiga Comarca do Rio das Mortes. Desde a criação daquela Comarca, e por muitas décadas, as três cidades ficavam em território geopoliticamente pertencente à quarta vila instituída na Capitania de Minas Gerais. Quase trezentos anos depois, novamente as quatro cidades se juntam, como contas e mistérios de um terço, no roteiro turístico-religioso dos santos Nhá Chica e Padre Vitor. Quem pesquisar vai saber que existem muitas afinidades entre os dois santos: ambos eram negros, viveram na mesma época e na mesma região e dedicaram todos os anos de suas existências à fé, à caridade e ao amor a Deus e aos semelhantes. Tal qual o maná caiu do céu, nasceu em São João del-Rei, em Baependi, em C

Também em São João del-Rei hão de brilhar como ouro a consciência negra e o desejo de igualdade

São João del-Rei, como em todo o Brasil, no dia 20 de novembro comemora-se o Dia da Consciência Negra, homenageando o herói Zumbi dos Palmares. Oxalá nos ajude que esta data comemorativa se fortaleça a ponto de se transformar no Dia Nacional de Luta Contra a Desigualdade e a Discriminação Racial, estendendo-se as homenagens, hoje dedicadas ao herói pioneiro, para todos os brasileiros que, efetivamente, dedicaram sua vida - e até a sua morte - para as causas da igualdade e da verdadeira democracia racial, servindo de exemplo para as gerações que desde então os sucedem. Como em todo o país, a população negra de São João del-Rei é quantitativamente muito expressiva. Mas qualitativamente, ela tem ainda maior valor. Desde os tempos coloniais, os escravos vindos da África e seus descendentes muito contribuíram e contribuem concretamente para o desenvolvimento desta nossa cidade, nos mais importantes e preciosos setores: da mineração à arquitetura barroca; dos serviços domésticos e braça

São João del-Rei está em toda parte. Até onde ninguém imagina...

São João del-Rei ainda não tem, mesmo que preliminar, um catálogo das obras fotográficas ou pictóricas que retratam sua paisagem e suas manifestações culturais. Carlos Bracher, Pancetti, Alfredo Norfini, Oscar Araripe, Tom Maia, Pedro Oswaldo Cruz, Gil Prates e muitos outros pintores e fotógrafos acharam sublime inspiração em nossas igrejas, pontes e casarios e tudo perenizaram em fotografias e pinturas que muitos de nós desconhemos ou ignoramos. Quem advinha qual é a paisagem que serve de fundo para esta fotografia do grande compositor popular Herivelto Martins? Isso mesmo: nada mais, nada menos do que a igreja do Rosário, tendo, à esquerda, um pouco do casario de seu largo, e, à direita, a entrada da Rua Santo Antônio. A  fotografia foi publicada pelo jornal Correio Braziliense , na edição do sábado, 17 de novembro, no caderno Diversão & Arte , como ilustração da matéria Um rei de volta ao trono, sobre a obra e o centenário de nascimento de Herivelto Martins. Se Herivel

São João del-Rei homenageia, com uma semana musical, Santa Cecília, padroeira dos músicos

 Sem dúvida, mais do que um presente, a música é uma das maiores virtudes que Deus deu a São João del-Rei. Do erudito das músicas barrocas ao popular dos sambas e das congadas, na ' Terra dos Sinos ' ela está presente em todas as horas: na alegria e na tristeza,na saúde e na doença (e até na morte!)  nas procissões e no Carnaval, nos ambientes sagrados e nos bares, nos teatros,  nas praças públicas e até mesmo no meio da rua... Enfim, em São João del-Rei, a música é onipresente: está o tempo todo, em toda parte, ao mesmo tempo. Reconhecendo este mérito, a cidade realiza anualmente, no período de 14 a 22 de novembro, a Semana da Música, sempre em homenagem a Santa Cecília  - padroeira dos músicos. É uma semana atípica, pois começa em uma quarta-feira (14) e tem 9 dias, se encerrando numa sexta-feira (22), dia consagrado à santa, cuja imagem (foto) desfruta o privilégio de ficar no nicho de um altar dourado, na Matriz do Pilar. Como não poderia deixar de ser, é uma se

Nascido na Fazenda do Pombal, herói Tiradentes foi batizado em São João del-Rei. Há 266 anos atrás...

" Aos doze dias do mes de novembro de mil setecentos e quarenta e seis anos, na capela de São Sebastião do Rio Abaixo, filial desta paróquia de São João del-Rei - o reverendo Padre João Gonçalves Chaves, capelão da dita capela, batizou e pôs os santos óleos a Joaquim, filho legítimo de Domingos da Silva e Antônia da Encarnação Xavier. Foi padrinho Sebastião Ferreira Leitão e não teve madrinha, do que fiz este assento. O coadjutor Jerônimo da Fonseca Alves " Esta é a transcição literal do Atestado de Batismo de Joaquim José da Silva Xavier, o herói Tiradentes, lavrado na folha 51 do Livro de Batizados de São João del-Rei, no ano de 1746. À época, este documento era considerado o registro civil. Lembrando o nascimento do herói, em dia anterior próximo a 12/11/1746, ouça alguns versos do clássico Romanceiro da Inconfidência , de Cecília Meireles, na voz de Chico Buarque. A grande poetisa pesquisou durante dez anos a Inconfidência Mineira para escrever este livro e

Das umbigadas, cateretês e batuques ao Samba nas Praças de São João del-Rei

A música chegou em São João del-Rei em 1717 - antes do Conde de Assumar - e desde então fixou residência na cidade. Hoje, quem tem olhos abertos e ouvidos apurados, sabe: ainda não reconhecida nem valorizada em toda sua amplitude, a sonoridade é a grande característica de São João del-Rei. Nesta sonoridade incluem-se, além da produção musical erudita e popular, o toque dos sinos, o apito da Maria Fumaça, o som da banda militar em sua marcha matinal, os concertos e apresentações ao ar livre, o apito - quase afogado e desaparecido - das fábricas de tecido. Ninguém duvida que a música barroca é um dos mais ricos patrimônios culturais de São João del-Rei. É ela que preenche todos os espaços das festas religiosas, dando ambiência a novenas, missas, procissões, via-sacras, encomendação de almas e um sem-fim de solenidades só existentes naquela cidade. Entretanto, a música popular também faz parte da cultura são-joanense. E não é de hoje! Estudos acadêmicos baseados em pesquisas na imp

São João del-Rei se subverte: como se dança, se toca!

Uma das expressões populares muito conhecidas em São João del-Rei, principalmente pelos são-joanenses mais antigos, é a frase " como se toca, se dança " - versão local da clássica " dançar conforme a música ". Mas as vezes a cultura local se subverte e muda a ordem das coisas, ora " botando a carroça na frente dos burros ", ora " botando o carro na frente dos bois ". Quer saber o que isto tem a ver com o ritmo lento das marchas que as bandas de música tocam acompanhando as tradicionais procissões de São João del-Rei? Então ouça o que nos ensina o maestro são-joanense Marcelo Ramos, nesta breve entrevista ao jornalista José Mário de Araújo e transmitida nas rádios São João del-Rei e Itatiaia.

No retrovisor, São João del-Rei

Colhido no blog Tertúlia Pão de Queijo http://www.tertuliapaodequeijo.com/2012/07/no-retrovisor-sao-joao-del-rei.html , o poema abaixo, de Ronald Clever, é delicado retrato de São João del-Rei, em palavras, imagens, emoções e sentimentos... Os sinos de São João del-Rei não badalam em vão. São irmãos nos acordes e, em romaria, acordam os possíveis pecados e pesadelos que ficaram nos vãos da Rua da Cachaça. Um passarim marrom é fina flauta nas palmeiras de São Francisco de Assis. O Lenheiro escorre a memória da cidade em seu tênue e fino fio de água. O rei e o santo atravessam, em procissão, a ponte da Cadeia. Bárbara, ainda bela, repousa eterna na alcova inconfidente. "Beija-me com os beijos de sua boca". Éo mascate Salomão cantando para a Baronesa, que do alto da sacada, travestida em Sabá, retruca: "Beba-me com a sede de seus rios". O sino do Rosário fia seu terço, o das Dores chora em cantochão. E os sinos irmanado

De tristeza, sinos de São João del-Rei dobram "de trás pra frente, pelo avesso" no dia de Finados

No principiar de novembro, São João del-Rei volta no tempo. É tempo de Finados. Desde o entardecer do dia 1º até o entardecer do dia 2, de tempos em tempos os sinos das igrejas barrocas dobram Finados - dobre triste, é como um toque inverso, pelo avesso, de trás para frente. Já na manhã do primeiro dia, nas ruas coloniais do centro histórico, se percebe que é véspera. Os são-joanenses mais antigos, previamente, visitam os cemitérios, vistoriando, limpando e zelando das tumbas e ossuários. Depois, transitam pelas lojas, prevenidos que são, comprando flores artificiais que no dia seguinte serão entregues aos seus mortos. Em São João del-Rei, túmulo descuidado é o mesmo que defunto esquecido, desonrado ou por gosto abandonado, intencionalmente deixado para trás. Antigamente, no dia 2, as velhas igrejas são-joanenses montavam em seu interior uma instalação funerária, na nave do templo ou em sua capela-mor: um tapete retangular preto ou roxo de galões dourados, quatro altos castiçais

1783-1817 - Da setecentista Casa de Caridade à Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei

No jogo de víspora, tão comum nas antigas barraquinhas das festas de largo de São João del-Rei, o número trinta e três é anunciado como "a idade de Cristo". Trinta e três anos foi o tempo que se passou entre a fundação e instalação da Santa Casa de Misericórdia são-joanense e o ato que oficializou e confirmou tal fundação. Voltemos no tempo, aliás,  tempo da Inconfidência ... As origens da Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei nos levam a 28 de dezembro de 1783, quando Manuel de Jesus Fortes requereu ao bispado da Capitania de Minas Gerais licença para a construção de uma ermida, dedicada a São João de Deus, junto à Casa de Caridade que ele havia construído na próspera Vila. Segundo pesquisas documentais do historiador Sebastião Cintra, a construção durou menos de um ano e, para a época, era um hospital qualificado,              "em lugar próprio, com cômodos necessários para trinta doentes, com todas as camas precisas e distinção de lugares para pessoas

São João del-Rei e a saúde pública no século XVIII

Nestes dias em que outubro está indo embora, em São João del-Rei os congadeiros empunham estandartes enfeitados e fazem soar mais forte suas caixas, seus guizos e suas vozes rústicas, para  homenagear Nossa Senhora do Rosário. Madrinha e protetora dos escravos, era a ela que os negros recorriam nos tempos de ferro quente, algemas e chicotes, pedindo socorro, alívio para as dores, cicatrização para as feridas, cura para doenças, luz para a alma, paz para o coração, força e esperança para lutar e acreditar que mais cedo ou mais tarde o sol haveria de trazer um novo e livre dia. No Brasil colonial do século XVIII, escravos eram mercadoria valiosa, custavam caro e - perecíveis pela força que o trabalho pesado lhes roubava - precisavam de pelo menos algum cuidado físico para não se deteriorarem no adoecimento. Foi nesse momento histórico que em 1708  fundaram, em São Joao del-Rei, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Afirmam alguns historiadores q

Antes que Chacrinha, São João del-Rei já sabia: "Quem não se comunica..."

Por mais que se saiba da importância e se reconheça o pioneirismo de São João del-Rei na história de Minas, a todo instante tem uma coisa nova para se descobrir. Você imaginava que São João del-Rei foi uma das quatro primeiras vilas mineiras a ter uma agência de Correios? Isto mesmo, e desde 20 de janeiro de 1798, conforme alvará editado pelo Conde de Sarzedas, então governador da Capitania. Entretanto, mesmo existindo este "serviço público", a população continuou contando com os mercadores, mascates e tropeiros para levar recados, dar notícias e transportar correspondências, encomendas e objetos, os mais variados. As viagens dos estafetas, que eram os carteiros da época e faziam o percurso Rio / Minas - Minas / Rio eram muito espaçadas, muitas vezes não atendendo a urgência da necessidade de informação e comunicação. A chegada dos "carteiros" à Vila de São João era quinzenal. Anunciada por ruidosos foguetes, soltados do alto do Morro da Forca, alvoroçava a p

Em São João del-Rei, onde vai a corda, vai a caçamba!...

Dizem que corda foi feita para amarrar. Isto é verdade, em parte. Corda também serve para unir, para estreitar, para ligar. Para apresentar, conhecer, ensinar e aprender. Pelo menos é isto o que está acontecendo de hoje até sábado em São João del-Rei. Na  setecentista e barroca cidade, a 3ª Semana de Cordas do Conservatório Padre José Maria Xavier está levando música de qualidade, gratuitamente, para diversos pontos da cidade e principalmente para um público especial: jovens, alunos das escolas públicas de ensino fundamental e médio. - Mas o que a corda tem a ver com isso? - Ora, as músicas são todas executadas unicamente com instrumentos de corda - violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Com esta iniciativa o Conservatório, além de apresentar os instrumentos há muito tempo mais conhecidos na execução de músicas eruditas do que nos hits do momento, aínda desperta o interesse das crianças e adolescentes para o estudo da música. Não é à toa que o Conservatório tem tantos

São João del-Rei não conhece (nem reconhece!) são joão del-rei...

O patrimônio barroco de São João del-Rei é tamanho, tão grandioso e ofuscante, que enche a vista de todos. Arquitetura, escultura, música, paisagismo, urbanismo,sonoridades, tradições religiosas de três séculos, tudo isso se entrelaça de tal modo que a muitos - são-joanenses e não-são-joanenses - parece ser esta a riqueza cultural de São João del-Rei. Não é bem assim. Ela é maior ainda... Além dos limites do perímetro histórico também acontecem manifestações culturais originais e genuínas, algumas delas existentes desde os primórdios do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, no começo do século XVIII. Entretanto ainda hoje, século XXI, conttinuam desconhecidas e, portanto, não reconhecidas pela sociedade são-joanense. Um exemplo disto vai ver quem assistir abaixo o videodocumentário Festa do Rosário do Rio das Mortes , gravado naquele distrito são-joanense, berço de Nhá Chica, em outubro de 2005, por João Paulo Guimarães. João Paulo é fotógrafo, produtor de ví

Quando o sol marcou as horas em São João del-Rei

Para São João del-Rei, o relógio da Matriz do Pilar é tão importante quanto o é o Big Ben para Londres. Instalado no alto da torre esquerda, logo abaixo da sineira, é considerado o principal relógio púbico da cidade e assinala as horas, suas metades e quartos de modo original, bastante conhecido dos são-joanenses: . o primeiro quarto de hora (15 minutos) é marcado com uma pancada no sino pequeno, . meia hora (segundo quarto) é anunciada com tantas batidas quantas a da hora seguinte, também no sino pequeno, . aos três quartos (45 minutos) ouve-se uma batida no sino grande e . as horas são dadas no sino grande. Foi instalado e bento no dia 13 de dezembro de 1905, mas tudo indica que, antes dele, desde o século XVIII havia um relógio do sol no adro da Matriz do Pilar, no lado oposto a um Cruzeiro da Paixão, ou da Penitência, citado por alguns autores.  Prova disso é que no dia 14 de outubro de 1845, o mestre pedreiro Cândido José da Silva recebeu da Irmandade do Santíssimo Sacra

São João del-Rei se enfeita, se perfuma, canta e se encanta para saudar sua padroeira

Tem coisa que não se sabe: foram os bandeirantes paulistas que, no primeiro raiar do século XVIII, trouxeram em primitiva imagem Nossa Senhora do Pilar para São João del-Rei ou foi a Virgem de Saragoza que os chamou e conduziu para este eldorado das terras são-joanenses? Não importa! Aqui os bandeirantes encontraram muito ouro nas betas, nas pedras que rolavam nas enxurradas, à flor da terra. Depois se foram, rumo a outros destinos e à eternidade do esquecimento. Seus nomes se apagaram no tempo, mas a santa que os guiou - ou que com eles veio, tanto faz - continua protetora, humilde, emblemática e excelsa na Matriz do Pilar de São João del-Rei. Hoje, 12 de outubro, a cidade se enfeita por ela, se perfuma por ela, se encanta por ela, canta por ela, cobre de flores andores e altares, salpica pétalas no chão que já foi dourado de pepitas. Hoje, em São João del-Rei, logo cedo, o sol despertou ao som de uma alvorada festiva. Banda de música, sinos, foguetes - É dia de festa! E duran

São João del-Rei, além do rei!

Em São João del-Rei, assim como a vida, a arte está em toda parte. Igrejas barrocas, pontes setecentistas, edifícios monumentais, jardins, sobradões imponentes, chafarizes, casarios, lampiões, largos e becos numa paisagem colonial delicada, pratarias, ourivessarias, imaginária, alfaias, tradição e religiosidade ímpares, consagrados compositores e música barroca original, da melhor qualidade. Mas engana-se quem pensa que o patrimônio cultural são-joanense é só isso. Não é! Há muita riqueza cultural em regiões da cidade que não integram o centro histórico, nos bairros periféricos e até na área rural que, por serem fruto, dizerem respeito e serem expressão da arte, do pensamento e da vida popular, injustamente não são devidamente valorizadas nem alcançam o merecido reconhecimento. Fora alguns poucos e dedicados pesquisadores, quem conhece bastante e é capaz de dimensionar a quantidade, a qualidade e a diversidade das tradições populares de São João del-Rei e da região? Mas apesa

Medonho, triste e tenebroso foi o dia em que o sol não deveria ter nascido em São João del-Rei

Os dois últimos minutos deste 4 de outubro, dia de São Francisco - quando São João del-Rei mais uma vez celebrou com grandiosidade e emoção a lembrança da morte do santo que era irmão da humildade e da natureza - fizeram saltar da internet para este almanaque a memória de um dia que, de tão barrocamente trágico e tenebroso,  o sol parece não ter nascido na terra onde os sinos falam. São João del-Rei, 24 de abril de 1985, de sol a sol, nas palavras e nas lentes do escritor, jornalista, ex-militante revolucionário, político fundador do Partido Verde e ex-deputado federal Fernando Gabeira. Mesmo que demore ou tenha interrupções, vale a pena insistir.

São João del-Rei, começo de outubro. Doçura, sorriso e orvalho na morte de São Francisco

Em São João del-Rei, seja de manhã, de tarde, à noite ou alta madrugada, é impossível passar diante da igreja de São Francisco e não se extasiar com tamanha beleza, imponência e grandiosidade. A visão majestosa do templo de paredes e telhado curvos, projetado por Aleijadinho na segunda metade do século XVIII, encanta até mesmo quem, íntimo daquela paisagem, cruza o belo largo cotidianamente. Seja religioso, crente ou ateu, a beleza todos adoram. Mas quem o vê por fora não imagina que ali dentro se cultua o pai da pobreza e da humildade, o irmão dos animais, da água, do sol e da lua, que teve impressas, por ação divina, no próprio corpo, as cinco dolorosas chagas vivas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta, aliás, é a primeira celebração anualmente ali realizada em honra ao santo: a Quinquena das Chagas de São Francisco de Assis. Tradição noturna bissecular, realizada de 12 a 17 de setembro, consta de cânticos, orações, reflexões e música barroca ( Domine ad adjuvandum, Veni Sancti

As boas coisas de São João del-Rei: Boutique das Ervas, natureza do mundo em cenário barroco

 No mundo todo, dizem que os menores frascos guardam os melhores perfumes e os piores venenos. Em São João del-Rei não é diferente. Em uma movimentada encruzilhada do centro histórico, uma pequenina loja de artigos naturais tem temperos, chás, condimentos e especiarias do mundo inteiro: cravo da Índia, canela em grandes cascas e lascas, guaraná em pó, ginseng, anis estrelado, açafrão, curry, colorau, pimentas, hibisco, hortelã, erva doce, tâmara, damasco, castanha,  banana seca, mel da terra, pimenta do reino, sal grosso, sal marinho, tomate seco, salsa desidratada, sementes alimentícias e grãos secos os mais variados. É a Boutique das Ervas. Quem entra lá pela primeira vez, tem a impressão de estar em um mercadinho persa. Em um entreposto do Oriente que tem alimentos secos, condimentos  e chás de todos os continentes. Um microarmazém da nova Companhia das Índias,  contemporânea entre o velho e o novo da trissecular cidade de El-Rei. Na espontânea ordem (ou apertada desordem)