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Mostrando postagens de julho, 2014

Jardim Cerâmico do Éden brotou no centro historico de São João del-Rei

Do barro, Deus criou o homem, e da costela de barro do homem Deus criou a mulher. Conta o livro do Gênesis que  era o sexto dia da criação do mundo. Em São João del-Rei, um grupo de artistas repetiu o gesto divino e do barro criou um Jardim Cerâmico - várias flores, de várias especies e formatos, em elevados caules de ferro, entre as cordas vegetais da lira, que é o magnífico jardim do Largo de São Francisco. Talvez mais bonito e sedutor do que o próprio Jardim do Éden. Eram 300 flores - anturios fálicos, genitalicos gerânios, veludosos copos de leite, cúbicas rosas, dolentes trombeteiras, ensolaradas margaridas, sorridentes girassois, florais frades franciscanos, brilhantes brincos da rainha, flores de maio em julho, esbugalhadas buganvilias, juvenis jasmins. E as mais belas, atrevidas, sedutoras, surpreendentementeroticas meia-mulheres. Invertidas sereias vegetais, flores vulvovaginais, grossas coxas à mostra, graciosamente de cabeça para baixo, com inocência colocando o mund

São João del-Rei. Pedacinho do céu de onde nascem todos os santos.

São João del-Rei mantém, e dia a dia até fortalece, um ofício antigo, natural na cidade desde as primeiras décadas do século XVIII: os escultores santeiros, que precisam apenas de cinzel e martelo, troncos de madeira ou blocos de pedra, para fazerem nascer cristos, anjos, virgens, santos, querubins, mártires e toda a falange sagrada que, desde os tempos do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, faz esta cidade mais parecer um espelho do céu. De 1704 até hoje muita coisa mudou, o mundo deu muitas voltas. Muitas águas passaram debaixo das pontes do Rosário e da Cadeia, mudaram-se as crenças, as esperanças, os costumes, os desejos, as tecnologias, mas o fazer sagrado continua aceso entre o povo que vive à sombra da Serra do Lenheiro. Muito mais do que em qualquer outro lugar. Aqui, volta e meia se vê voar um novo anjo, chorar sangue um novo Cristo, acenar e sorrir uma nova santa - tudo brotando das mãos dos escultores santeiros de São João del-Rei. Hoje, são bem mais que dez

O dia em que os sinos de São João del-Rei chamaram para um programa de televisão

Para quem nasceu, viveu ou vive em São João del-Rei, o toque de um sino é sempre um chamado: para uma missa, para uma novena, para uma procissão, para um enterro, para uma bênção, para uma Via Sacra, para um Te Deum . Mesmo quando não se está na cidade é assim. Assistindo a qualquer filme ou vídeo lá gravado no centro histórico, é possível saber a que horas ocorreu aquela cena simplesmente ficando atento às pancadas que de vez em quando bate o sino-relógio da Matriz do Pilar. Na quarta-feira da semana passada, dia 16 - coincidentemente dia festivo na cidade, consagrado a Nossa Senhora do Carmo - os são-joanenses em São João del-Rei e em todas as partes do Brasil, na metade da manhã, surpreenderam-se com o toque dos sinos chamando-os para um lugar inusitado: para a frente da televisão. Não que o aparelho estivesse no alto de uma torre ou sobre um altar, mas é que em sua tela a apresentadora Ana Maria Braga e seu "escudeiro" Loro José apresentaram uma reportagem de o

Meia-sola, taquinho, "neulate e bichigão" para andar a pé os 300 anos de história de São João del-Rei

O dia 20 de julho não é uma data qualquer no trissecular calendário de São João del-Rei. Ao longo de 300 anos, várias vezes esta data se destaca, com registros que bem mostram indicativos de como era a vida da sociedade colonial que vicejava à sombra da Serra do Lenheiro. Voltemos no tempo, sempre no dia 20 de julho. No longínquo 1719 - portanto apenas seis anos após o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes ter sido elevado à Vila de São João del-Rei -, o Senado da Câmara local concedeu a Manoel de Araújo licença para exercer o ofício de sapateiro. Para obter este direito, Manoel apresentou fiador e se comprometeu a pagar tanto os quintos reais quanto os pesados impostos de almotaçaria. Este fato não teria nada de extraordinário se não tivesse ocorrido em um tempo em que a população das vilas mineiras, majoritariamente, vivia descalça e desse modo, com os pés no chão, comparecia até mesmo, às festas religiosas e a outros eventos sociais. Assim, a existência de

As duas histórias de São João del-Rei

Faustoso esplendor. Um Eldorado pródigo, onde arte e ouro o tempo todo saltavam de toda parte. Anjos em cada quina, santos em cada esquina, astros celestes, querubins, atlantes, o Velho Testamento desfolhado em púlpitos e nos altares. Esta é uma face da história antiga de São João del-Rei. Mas não é a única... A história longínqua de nossa cidade também possui cenas de uma realidade indesejada, marcada pelo sofrimento dos bastardos e oprimidos: fome, violência, exploração, medo, arbitrariedade e escravidão. Tudo isto foi marcado a ferro e fogo na carne e nas almas de grandes contingentes nas vilas criadas em Minas Gerais no tempo do ouro. As duas histórias aconteceram ao mesmo tempo e muitas vezes até se entrelaçaram. Porém, em todo o mundo é assim: a história que sobrevive aos séculos é a história dos vencedores - daqueles que se impuseram, conquistaram à força, subjugaram. Discriminação que faz parte do processo de dominação que, salvo para demonstrar poderio, apaga ao máximo a

Novena de Nossa Senhora do Carmo: orvalhada pétala musical e barroca de São João del-Rei

Desde o dia 7 deste julho - e até o dia 15 do mesmo mês -, acontece toda noite, em São João del-Rei um evento divino e sublime, que mistura arte, fé, música, imaginação, história, perfume, lembrança, memória, graça, cultura, alegria, recordação, beleza, encantamento e tradição. É a Novena do Carmo, que prepara o coração e os sentidos do povo são-joanense para as pomposas celebrações que, no dia 16, vão homenagear Nossa Senhora do Carmo. Virgem de devoção muito popular em várias cidades históricas de Minas Gerais, em São João del-Rei seu culto é especialmente grandioso  e começou em 1727, na Matriz do Pilar, com a Confraria do Escapulário. Criada a Irmandade do Carmo, em 1732, logo deu-se início à construção da igreja, que é considerada um dos seis mais belos templos criados por Aleijadinho. Em 1746 a Irmandade foi elevada a Ordem Terceira. A Novena de Nossa Senhora do Carmo, celebrada em São João del-Rei é barroca, composta por músicos são-joanenses setecentistas e oitocentistas

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Coisa da antiga: vereador de São João del-Rei foi "preso e recolhido à cadeia por três dias"

O começo do mês de julho faz lembrar um tempo distante em que o Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei era tão importante e respeitável que o estandarte daquele colegiado valia ouro. Prova disto é que no dia 1º de julho de 1716 - portanto há 298 anos - foram pagas 126,5 oitavas de ouro pela confecção da bandeira vertical que, como uma insígnia, ia à frente da corporação dos vereadores nas maiores procissões e nos cortejos oficiais. O Estandarte do Senado da Câmara era até mais importante do que é hoje a bandeira nacional. Tanto isto é verdade que, no dia 2 de julho de 1775, a Câmara retomou sobre ele uma antiga tradição: nas ocasiões em que a Câmara saísse "incorporada", o estandarte deveria ser carregado pelo vereador mais velho do ano antecedente. E detalhou a sucessão de responsabilidades por esta atribuição, no caso de impedimento daquele titular. Tal medida não foi sem motivo. Com ela buscavam corrigir um problema surgido no dia 24 de junho daquele ano, quan