São João del-Rei precisa valorizar mais sua história, de páginas escritas com o sangue de seus filhos
Novembro está chegando ao fim e, com ele, o mês do 266º aniversário do batismo de Joaquim José da Silva Xavier, o herói Tiradentes, na então Vila de São João del-Rei. Este ano, completou-se 220 anos de sua execução. O batismo de Tiradentes, em nossa cidade, não só por razões históricas, mas também por significado e emblemática, merece ser sempre vigorosamente lembrado, difundido e divulgado em nossa cidade, com uma programação que evidencie o justo e exato grau de sua importância para a história local, do estado de Minas Gerais e do país. Mais uma vez não o foi, apesar do empenho pessoal de alguns valorosos são-joanenses e dos esforços empreendidos por algumas instituiçõe locais.
Na Terra da Música, o batismo do herói "inflamado de esperança" não motivou a celebração de uma missa cantada, um concerto ou recital, sequer serenata ou roda de samba, apesar de a cidade orgulhar-se desta sua alcunha, conferida pela tradição musical de quase trezentos anos. Não foi enredo de nenhuma peça teatral nem tema de nenhuma exposição; não inspirou nenhum sarau, lançamento de livro, nem de cartaz ou cartão postal, não se destacou em nenhuma intervenção urbana. Desta forma, por não congregar a população em torno deste acontecimento histórico, sua lembrança continuou tão afastada do dia a dia e da realidade, tão desvinculada da herança histórica dos são-joanenses comuns, como em outras épocas. Quanto mais isso acontece menos os são-joanenses se apropriam de sua própria história e menos dela se beneficiam com a elevação da autoestima.
Por não comemorar coletivamente esta efeméride, pode-se dizer que, negativamente, nossa cidade, sem motivo, parou no tempo e menospreza fatos importantes de sua história. Vem ignorando a possibilidade de desenvolver ações extensas e consistentes, como por exemplo o projeto 1792 / 1992 - Duzentos sonhos de liberdade, lançado em São João del-Rei há 20 anos, para marcar o bicentenário da Inconfidência Mineira. Sequer o marco inaugurado por diversas autoridades governamentais e eclesiásticas, entre elas o presidente Itamar Franco e o Cardeal Primaz Dom Lucas Moreira Neves, no dia 21 de abril de 1992,vem sendo conservado. Já perdeu a composição superior que o coroava com grande simbolismo nativista, religioso e patriótico e agora consiste em três degraus e uma coluna de pedra, na qual está assentada uma placa lembrando o acontecimento e a data.
Este marco fica no Largo Tamandaré, exatamente em frente ao majestoso edifício onde funciona o Museu Regional, escritório do IPHAN na cidade. Por que não integrá-lo ao conjunto do Museu, restaurando-o e iluminando-o com efeito semelhante ao que faz a "Casa do Comendador" destacar-se na noite de São João del-Rei? Já seria uma ação de efeito cotidiano e permanente...
Enquanto não reverenciamos o batismo do herói Tiradentes com a amplitude e a grandiosidade que são dignos deste fato histórico, facilitando à população de São João del-Rei apropriar-se, identificar-se e orgulhar-se deste capítulo importante de sua história, lembremos então da caminhada para a força e da dignidade dos últimos atos de nosso conterrâneo maior, nosso velho irmão. Quem nos conta é o inglês Francis Burton, que a tudo testemunhou:
"O lugar escolhido para a execução era então um sítio agreste na parte oeste do Rio de Janeiro, chamado Campo dos Ciganos. Ali se enterravam os ciganos e negros escravos recém-importados.
Seis corpos de infantaria e duas companhias de cavalaria, além dos milicianos, rodeavam o cadafalso. Grande multidão se agitava no campo, se concentrava nas faldas do morro de Santo Antônio. Um filho do Conde de Rezende, D. Luiz de Castro Benedicto, que montava um cavalo com ferraduras de prata, comandava as tropas.
Primeiramente foi entoado um Te Deum no Carmo, em honra a Sua Majestade (Dona Maria I). Enquanto se pregava o Semão da Lealdade e da Fidelidade, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, como então era costume, fazia coleta de esmolas para serem dispendidas em missas por alma do condenado.
O heróico Tiradentes, calmo e solene, foi conduzido, vestindo a túnica dos condenados, da prisão pela Rua da Cadeia (hoje Rua da Assembleia) e pela Rua do Piolho, acompanhado por dois padres e uma guarda de cem baionetas, fazendo preces até chegar ao cadafalso.
Ali deu os valores que tinha ao carrasco e após repetir com seu confessor o Credo católico, gritou: cumpri minha palavra, morro pela Liberdade!"
Na Terra da Música, o batismo do herói "inflamado de esperança" não motivou a celebração de uma missa cantada, um concerto ou recital, sequer serenata ou roda de samba, apesar de a cidade orgulhar-se desta sua alcunha, conferida pela tradição musical de quase trezentos anos. Não foi enredo de nenhuma peça teatral nem tema de nenhuma exposição; não inspirou nenhum sarau, lançamento de livro, nem de cartaz ou cartão postal, não se destacou em nenhuma intervenção urbana. Desta forma, por não congregar a população em torno deste acontecimento histórico, sua lembrança continuou tão afastada do dia a dia e da realidade, tão desvinculada da herança histórica dos são-joanenses comuns, como em outras épocas. Quanto mais isso acontece menos os são-joanenses se apropriam de sua própria história e menos dela se beneficiam com a elevação da autoestima.
Por não comemorar coletivamente esta efeméride, pode-se dizer que, negativamente, nossa cidade, sem motivo, parou no tempo e menospreza fatos importantes de sua história. Vem ignorando a possibilidade de desenvolver ações extensas e consistentes, como por exemplo o projeto 1792 / 1992 - Duzentos sonhos de liberdade, lançado em São João del-Rei há 20 anos, para marcar o bicentenário da Inconfidência Mineira. Sequer o marco inaugurado por diversas autoridades governamentais e eclesiásticas, entre elas o presidente Itamar Franco e o Cardeal Primaz Dom Lucas Moreira Neves, no dia 21 de abril de 1992,vem sendo conservado. Já perdeu a composição superior que o coroava com grande simbolismo nativista, religioso e patriótico e agora consiste em três degraus e uma coluna de pedra, na qual está assentada uma placa lembrando o acontecimento e a data.
Este marco fica no Largo Tamandaré, exatamente em frente ao majestoso edifício onde funciona o Museu Regional, escritório do IPHAN na cidade. Por que não integrá-lo ao conjunto do Museu, restaurando-o e iluminando-o com efeito semelhante ao que faz a "Casa do Comendador" destacar-se na noite de São João del-Rei? Já seria uma ação de efeito cotidiano e permanente...
Enquanto não reverenciamos o batismo do herói Tiradentes com a amplitude e a grandiosidade que são dignos deste fato histórico, facilitando à população de São João del-Rei apropriar-se, identificar-se e orgulhar-se deste capítulo importante de sua história, lembremos então da caminhada para a força e da dignidade dos últimos atos de nosso conterrâneo maior, nosso velho irmão. Quem nos conta é o inglês Francis Burton, que a tudo testemunhou:
"O lugar escolhido para a execução era então um sítio agreste na parte oeste do Rio de Janeiro, chamado Campo dos Ciganos. Ali se enterravam os ciganos e negros escravos recém-importados.
Seis corpos de infantaria e duas companhias de cavalaria, além dos milicianos, rodeavam o cadafalso. Grande multidão se agitava no campo, se concentrava nas faldas do morro de Santo Antônio. Um filho do Conde de Rezende, D. Luiz de Castro Benedicto, que montava um cavalo com ferraduras de prata, comandava as tropas.
Primeiramente foi entoado um Te Deum no Carmo, em honra a Sua Majestade (Dona Maria I). Enquanto se pregava o Semão da Lealdade e da Fidelidade, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, como então era costume, fazia coleta de esmolas para serem dispendidas em missas por alma do condenado.
O heróico Tiradentes, calmo e solene, foi conduzido, vestindo a túnica dos condenados, da prisão pela Rua da Cadeia (hoje Rua da Assembleia) e pela Rua do Piolho, acompanhado por dois padres e uma guarda de cem baionetas, fazendo preces até chegar ao cadafalso.
Ali deu os valores que tinha ao carrasco e após repetir com seu confessor o Credo católico, gritou: cumpri minha palavra, morro pela Liberdade!"
O maior heroísmo de Joaquim José da Siva Xavier foi manter a dignidade e lealdade em meio ao medo e abandono.
ResponderExcluirLutar pelo que se acredita é algo cada vez mais raro em nossos tempos de comodismo e conveniência.