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Mostrando postagens com o rótulo musica barroca

Presciliano Silva, dizem os músicos, é um dos maiores compositores sacros de São João del-Rei

Se "palavra de rei não volta atrás", de palavra de músico não se duvida. Escrita em pautas, é pura música, que se solfeja, toca e canta! Sendo assim, inegavelmente, Presciliano Silva é um dos mais importantes compositores barrocos de nossa região. E quem diz isso? Quem mais conhece desse assunto: os músicos mais velhos das setecentistas orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos e da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Mesmo quem não conhece seu nome, conhece algumas peças de sua obra, como a emocionante Ó Vos Omnes - uma das mais belas composições inspiradas nesta lamentação relativa ao sofrimento da mãe dolorosa, executada em diversos momentos da Festa de Passos e no rito da Comunhão, na tarde da Sexta-Feira da Paixão, na Matriz do Pilar. Presciliano nasceu em São João del-Rei em 1854, onde sua carreira musical foi muito fértil, não só com obras de finalidade religiosa, mas também com composições para piano, atualmente desconhecidas, mas que fora...

Quanto encanto na Festa de Passos de São João del-Rei

Nesta sexta-feira, que é a quarta da Quaresma, começa em São João del-Rei uma era muito profunda, quase ancestral, que, porém, dura não mais do que três dias: a Sexta-Feira das Dores, o Sábado de Passos e o Domingo do Encontro. Os são-joanenses nativos ou adotivos, sabem de cor do que se trata, mas muita gente que é de outros lugares certamente não reconhecem em seu universo o sentido que tem aqui o quarto final de semana depois do Carnaval. Em São João del-Rei vive-se nestes dias, com grande liturgia, sentimentos e sensações, uma das mais emocionantes cenas da Paixão de Cristo. O Encontro de Jesus  coroado de espinhos, e todo machucado,carregando uma grande cruz nas costas, com sua mãe serenamente desolada, cujo coração foi transpassado por quatro espadas de prata. Tudo remonta ao século XVIII. Das imagens e andores, ora enfeitados com manjericão, ora com hortências e orquídeas, até a rosmaninha cheirosa espalhada pelo chão das igrejas barrocas. Do incenso que enfum...

O enigmático, misterioso e encantador aniversário dos cemitérios de São João del-Rei

Alguém já ouviu falar que cemitério faz e celebra aniversário? Pois é, em São João del-Rei isto acontece. O que é popularmente conhecido pelos são-joanenses mais ligados às tradições litúrgicas coloniais como aniversário do cemitério é a cerimônia que a igreja local denomina Missas Aniversárias dos Cemitérios. Esta celebração, que se repete sete vezes em diferentes dias, consiste em uma Missa de Réquiem, ofício de responsórios e marchas fúnebres, executados pelas bicentenárias orquestras Lira Sanjoanense ou Ribeiro Bastos. O repertório é composto por obras de compositores são-joanenses dos séculos XIX e XX, destacadamente o padre José Maria Xavier, Luiz Baptista Lopes, Emídio Machado, João Feliciano de Souza, Pedro de Souza, Benigno Parreira e Geraldo Barbosa de Souza. Após esta missa, na igreja que é sede da Irmandade homenageada, os "irmãos" saem em procissão até o cemitério da referida Irmandade, onde o padre faz orações fúnebres, abençoa os presentes e pede a Deu...

Em São João del-Rei, até defuntos e cemitérios comemoram aniversários. Sabia?

Na tradição popular, novembro é o mês dos mortos e, em São João del-Rei, esta característica do penúltimo mês do ano é reforçada diversas vezes. A partir do dia 2, quando se celebra Finados, começam as missas aniversárias dos defuntos que pertenceram a uma, ou a várias, das dez Irmandades bicentenárias, sediadas no centro histórico são-joanense. Também conhecida como "aniversário dos cemitérios", a cerimônia é composta de duas partes. Começa com uma missa, na igreja que é sede da Irmandade, onde, no centro da nave estão dispostos, no chão, um tapete preto, com galões e uma grande cruz dourados e bordados. Em cada uma das quatro pontas, um castiçal alto, com uma vela acesa, como se estivesse aguardando um defunto para a oração final. Terminada a missa, os sinos tocam exéquias e os irmãos saem em procissão, vestidos com suas opas ou hábitos, e assim vão até o cemitério correspondente, onde o padre faz orações fúnebres. Tudo - missa e orações no campo santo - ao som de mú...

Semana Santa de São João del-Rei: Domingo de Ramos, determinista domingo de angústias...

Hoje, Domingo de Ramos, em São João del-Rei o tempo já mudou. O início oficial da Semana Santa imerge os são-joanenses em uma outra era emocional, emoldurada e conduzida pelo mais profundo sentimento religioso. Há em tudo uma expectativa determinista do que já é conhecido, que se repete há muitos séculos, mas que é anualmente revivido, como se fosse sempre a primeira vez. Um pesar denuncia o desejo irrealizável de que a história acontecida pudesse ainda ter outro rumo, ou não mais se repetir, como se faz desde sempre. Tudo começa na Igreja do Rosário, aos pés do Senhor do Triunfo, entre palmas viçosas, pratarias brilhantes, paramentos vermelhos, incensos aromáticos, cruzes cobertas, em meio ao povo que levanta nas mãos ramos verdes que o bispo benze, ao som de antífonas e hinos  barrocos do século XVIII que a Orquestra Ribeiro Bastos entoa. Tudo lembra tristemente a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a caminho do sofrimento e do sacrifício. O sino toca pungente nota...

Encomendação de Almas entrega música e oração aos mortos na noite de São João del-Rei

Tradição bicentenária de São João del-Rei, mantida com grande mistério até os dias atuais, as Encomendações de Almas são cortejos que, em hora próxima da meia-noite, percorre várias ruas da cidade, parando sete vezes em encruzilhadas, portões de cemitérios, cruzeiros e portas de igreja. Realizadas exclusivamente no tempo da Quaresma, por ocasião da Festa de Passos, podem acontecer em três sextas-feiras consecutivas ou em uma única semana, em dias alternados - segunda, quarta e sexta-feira. Lembrando rituais muito antigos, mais se parecem com enterros noturnos do que com procissões. Não é conduzida por padres, mas por um homem mais velho, respeitável e respeitado por todos, que puxa o terço durante todo o trajeto e, nas sete paradas de cada Encomendação, faz orações - ora em latim, ora em português -, como a chamar as almas e entregar-lhes cantos, lembranças, lamentos e orações. Nestas horas, ouve-se o bater da matraca e músicos executam os Motetos dos Passos, compostos há...

Novena barroca de Natal em São João del-Rei. Encantamento, magia e mistério!

O calendário festivo de São João del-Rei é tão intenso que mal termina uma "festa" e outra já está a caminho, quando não começando ou, então, já na metade. As comemorações do Natal, por exemplo, na "terra onde os sinos falam" começam no dia 16 de dezembro, com uma novena barroca, na igreja do Rosário - a mais antiga da cidade. Nesta celebração, durante nove noites a Orquestra Lira Sanjoanense - a mais antiga das Américas - executa hinos, salmos, responsórios e ladainhas compostos no século XIX, entre eles as famosas "Matinas do Natal", que o compositor são-joanense Padre José Maria Xavier criou especialmente para a ocasião. Muito alegres, vivas e suaves, as Matinas são cantadas em latim e descrevem a história do nascimento de Cristo. Narram o chamado que o Anjo fez aos pastores, o movimento do cometa que guiou os Reis Magos do Oriente até Belém, a humildade devota dos animais que estavam na estrebaria, a harmonia infinita e brilhante dos astros no céu ...

A música de São João del-Rei é a afilhada preferida de Santa Cecília.

São João del-Rei é terra abençoada. Santos e anjos que moram na corte celestial habitam também a terra que tem no nome uma homenagem ao Rei Sol português, D. João V. Entre as tantas divindades que habitam o firmamento, mas que não tiram os olhos do povo são-joanense, uma, inclusive, fica mais na cidade do que no céu. É Santa Cecília! Mas pudera: como desde 1717 a Música firmou morada em São João del-Rei, aqui a santa tem para cuidar quatro bandas de música e três orquestras, vários corais, grupos de câmera, duos, trios e quartetos, muitos maestros, sineiros e compositores, sempre em permanente atividade. Nas igrejas, nos teatros, nas praças, nas ruas, nos auditórios. E como Santa Cecília é padroeira dos músicos, não é sem motivo que ela está em toda parte... Mas aqueles a que a santa dedica tanto olhar e zelo não lhe são ingratos. Deram-lhe lugar de honra, em um dourado altar lateral da Matriz e Pilar, e a guardam consigo, em imagem ou estampa, na sede da Orquestra Ribeiro ...

Um canto de louvor e gratidão, de São João del-Rei, para sua áurea, excelsa e espanhola padroeira

Outubro, mais precisamente no dia 12, é a data consagrada à padroeira de São João del-Rei, Nossa Senhora do Pilar. Contam que a Virgem aqui chegou em imagem primitiva, trazida pelos próprios bandeirantes, a quem protegia de perigos, tristeza, violências, emboscadas, animais peçonhentos, maus pensamentos e infortúnios. Em troca, de início eles lhe construíram uma capela, incendiada em 1709, no final da Guerra dos Emboabas. A matriz atual, dedicada à Virgem espanhola começou a ser construída em 1721 e é um dos mais belos templos do barroco brasileiro. Nela acontecem as principais cerimônias da Semana Santa mais tradicional do Brasil, algumas únicas em todo o mundo. Volta e meia ali se ouve a música colonial de uma novena, dobres e repiques de sinos em tencões e terentenas. Da Matriz do Pilar sempre sai uma procissão... Como aqui se repete há quase 300 anos, a novena de Nossa Senhora do Pilar começa no dia 3 de outubro e vai até o dia 11, véspera da data maior. A parte musical, comp...

São João del-Rei, enternecida, lembra a morte de São Francisco de Assis

Neste dia 4, desde cedo, em São João del-Rei, os sinos das altas torres do templo franciscano tocam graves, compassados e langorosos para lembrar aos são-joanenses que no dia 3 de outubro de 1226 - portanto há 787 anos - morria, irmão da água e do fogo, da Terra, da Morte, do Sol e da Lua, São Francisco de Assis. Mesmo que seja azul e iluminado, o dia escorre triste no jardim em forma de lira, tendo palmeiras como cordas. Esparsamente, pessoas atravessam largo e adro, entram na igreja sombria e silenciosa  e levam orações para o santo, penitente, piedoso, magrinho e de hábito preto, austero e solitário em seu andor. Já no século XVIII era assim. Às três da tarde, os sinos tocam mais insistentes e mais tristes ainda. É hora de celebrar o momento em que São Francisco - em imagem deitado no chão da igreja - deixou este mundo. Em volta, também de hábitos pretos, irmãos e irmãs da Ordem Terceira oram contritos em memória da sentida passagem. Pouco depois, no adro da igreja, os ...

Setembro deveria ter mais dias em São João del-Rei. É pouco tempo para muita festa e muita fé...

Os trinta dias do mês de setembro são pouco para a quantidade das celebrações religiosas que acontecem em São João del-Rei no nono mês do ano. São cinco grandes festas e há dias em que, até, são simultâneas. Todas com toques de sinos, foguetes, cantos, flores, anjos, cores, incensos, mistérios, crenças, esperanças e certezas... Este ano, logo no dia 1º, a procissão do Senhor Bom Jesus do Monte encerrou a festa do Cristo crucificado que mora em uma colina no lado oeste da cidade, à sombra da Serra do Lenheiro. Quatro dias depois, começou a novena que terminou em procissão no dia 14, também para homenagear Nosso Senhor Bom Jesus. Desta vez, o de Matosinhos, na face norte da cidade - imediações de onde, a História diz, assentou-se por volta de 1704, cobrando pedágios pela travessia do Rio das Mortes, o bandeirante taubateano fundador de São João del-Rei, Tomé Portes del-Rei. Antes de tal procissão, no dia 12 começou a Quinquena de São Francisco - série de cinco ofícios sacr...

Pai da Música é "patusca"* e vive em São João del-Rei

A arte eterniza, desafia o tempo . Ainda mais a Música, que é etérea - puro sentimento. São João del-Rei sabe isso de cor e tem como prova incontestável o violinista Geraldo Ivon da Silva, o popular Geraldo Patusca . Às vésperas de completar, em 10 de julho próximo (1911), o seu 95º aniversário, Geraldo Patusca tem de música muito mais do que muita gente bem vivida tem de idade .  Mais de oitenta anos (exatamente  80 anos, 7 meses e 15 dias) dedicados  a tocar violino na Orquestra Lira Sanjoanense e na Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Assim, este são-joanense mulato, místico, religioso e cortês, sempre vestido de terno azul marinho, deve ser um dos músicos mais velhos de Minas Gerais. Sobre o começo da carreira musical de Geraldo Patusca, quando o violinista completou o seu 80º aniversário, em 1996, o historiador Sebastião de Oliveira Cintra escreveu: " Foi a 15 de setembro de 193...