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Mostrando postagens com o rótulo congada

Dia 20 de novembro não passa em branco em São João del Rei!

  O passado e o presente estão tão unidos, e até mesmo tão emaranhados, em São João del-Rei, que não é raro, de repente, a gente se confundir e, por alguns instantes, ficar em dúvida quanto ao tempo em que agora se está. Se no século 18, 19, 20 ou 21. Principalmente se num domingo à noite, na cidade sonolenta, você começar a ouvir, ao longe, o toque de atabaques, o bater de palmas, o som de vozes firmes, entoando cantos ritmados e desconhecidos, quase ancestrais. Uma situação incomum no coração do centro histórico de São João del-Rei, mais precisamente no Largo do Rosário.  Um local que, segundo a História, desde os idos de 1708, foi um território de muito significado, força e importância para os africanos e seus descendentes, num tempo em que estas terras ainda eram o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Mais de 300 anos depois o Largo do Rosário ainda conserva para os descendentes são-joanenses dos africanos o mesmo significado e a mesma força, pois foi ...

São Benedito, me responda: Aqui tem ou não tem uma coisa?

  Em São João del Rei não é raro, volta e meia a gente ouvir, algum são-joanense, com um quê de mistério, dizer: - "Aqui em São João, parece que tem uma coisa!..." Se prestar bem a atenção na vida da cidade, você vai ver que de fato eles têm razão. Em São João del Rei, às vezes do nada, parece que uma porta se abre, rompendo a delimitação dos tempos e dos mundos. Nestes momentos, há quem quase fique sem saber se está no  aqui e agora, no hoje, presente, ou se está lá e antes, no ontem, passado. E isto não ocorre só nas grandiosas, solenes e pomposas tradições barrocas, que são a principal identidade são-joanense não. Esta dúvida, na verdade, é a certeza de que foi transposto o portal  do lado  racional, pragmático e definitivo e então se está a transitar nos territórios da emoção e da memória afetiva. A procissão de São Benedito, realizada em meados de maio na capelinha do Bonfim, é um dos melhores exemplos. Extremamente delicada e singela, assim como a capela, não p...

Inconfidência dos escravos: Reis foram presos na Quaresma de São João del-Rei.

Da história colonial de São João del-Rei, especialmente de alguns capítulos, pouco se fala. A bem da verdade, deles nada se fala, principalmente quando não exaltam fatos grandiosos, vangloriam feitos gloriosos, louvam atos destemidos e corajosos daqueles que, por razões que aqui não vem ao caso, foram consagrados como heróis. Assim como em quase toda parte, também aqui a história dos oprimidos não consta dos livros de História. Uma pena. Mas vamos adiante... Desde os anos setecentos, a Quinta-Feira Santa sempre sensibilizou e mobilizou fortemente a população de São João del-Rei. Principalmente as cerimônias da Última Ceia do Senhor e do Lava-pés, além da visitação às igrejas, que retratam primorosamente e com grande criatividade as cenas bíblicas que contam os milagres, sermões e outras passagens da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vem daquela época o costume, ainda hoje muito vivo, de na noite de Quinta-Feira Santa visitar uma a uma as belas igrejas barrocas e capelas do...

São João del-Rei, com respeito, se curva e"bate paó" pra São Benedito!

Em São João del-Rei, o ano tem 365 dias, e todos eles são de festa. Inclusive não é raro, no calendário religioso, haver dias com mais de uma festa, o que nos leva a pensar que, em nossa terra, o ano precisa ter mais dias, para nele caber melhor todas as festas. E então, com isso, as pessoas são-joanenses viverão muito mais... Aliás, vamos pedir esse milagre a São Benedito? Afinal, não é possível que ele, desde o dia 29 de abril passado recebendo satisfeito as homenagens festivas que a comunidade do Bonfim lhe presta com grande fraternidade, alegria e entusiasmo - tríduo, missas, adorações, bênçãos, orações, cânticos, confraternizações, comunhões, shows e doações - faça a desfeita de não dar importância a este nosso pedido! A festa de São Benedito é singular no calendário religioso de nossa cidade. A começar que ela é devotada a um santo negro e, sendo assim, convém que seja também uma homenagem de lembrança, resgate e reconhecimento a todos os negros que participaram e participa...

Divino Espírito Santo: descei sobre nós! Alumiai nossa São João del-Rei!

Depois do Domingo de Páscoa, conte sete outros domingos. Então chegamos ao Domingo de Pentecostes, que em 2018 cai no dia 20 de maio. Em São João del-Rei é um dia de grandes festas, no bairro de Matosinhos, onde desde o século XVIII acontece o Jubileu do Espírito Santo, e no centro histórico, mais precisamente na Capela do Divino, que fica na Rua das Flores, logo depois do Largo da Muxinga. Mas na verdade, nos dois locais, a festa já começou há mais de uma semana, com uma novena. Na igreja de Bom Jesus de Matosinhos, a festa tem forte espírito popular, marcada principalmente pelas cores, pelos ritmos e pela dança das folias e congadas. Na Rua das Flores, as celebrações são influenciadas pelas tradições barrocas, com demorados tencões tocados pelos sinos da capela, diariamente ao meio dia, às três e as seis da tarde e no encerramento de cada dia da novena, lembrando que amanhã tem mais. Na tarde do sábado, há um momento em que as duas formas de expressão se dão as mãos: às 17 ho...

Nossa Senhora do Rosário: com terço de contas e rosas, a grande Matriarca de São João del-Rei

Se Nossa Senhora do Pilar, vinda com os brancos, bandeirantes, desaforados e opressores, é a padroeira de São João del-Rei, Nossa Senhora do Rosário, que veio com os negros - com os cativos, com os escravos, com os libertos e com os livres - é a matriarca desta terra. Sua corte na cidade começou oficialmente em 1708, quando a territorialidade são-joanense não passava de um arraial. A Irmandade do Rosário de São João del-Rei, uma das três mais antigas do Brasil e a pioneira de Minas Gerais, talvez seja a primeira instituição de direito civil, privado e religioso constituída na Comarca do Rio das Mortes. Documentos e datas não mentem. O orgulho dos irmãos do Rosário também não. Sua igreja foi das primeiras edificadas no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, numa situação geográfica que  ostenta sua expressão e seu significado na sociedade daquela época dourada e colonial. Também festejada no mês de outubro, porém durante todos os trinta e um dias, é aquela ...

São Sebastião, mártir glorioso, é festejado de ponta a ponta em São João del-Rei

Engana-se quem pensa que as festas em homenagem a São Sebastião acontecem apenas no centro histórico de São João del-Rei, onde o "Guerreiro de Cristo", desde o início do século XVIII, tem altar na igreja do Pilar, é celebrado com uma novena e sai às ruas em procissão, no dia 20 de janeiro. No coração colonial são-joanense, ele também tem um nicho lateral ao altar-mor da Capela do Divino Espírito Santo e, ainda, em uma peanha do altar lateral direito da igreja das Mercês. Em outras partes da cidade, e até do município, o santo protetor contra a peste, a fome e a guerra também é querido e festejado. Um dos mais antigos distritos de São João del-Rei, por exemplo, chama-se São Sebastião da Vitória e certamente também realiza algum festejo em honra do santo, está presente no distrito do Rio das Mortes, em imagem no altar da igreja de Santo Antonio,  onde a beata são-joanense Nhá Chica foi batizada. E na urbana Paróquia de Matosinhos, a Comunidade de São Sebastião presta-lhe  ...

Valei-nos Nossa Senhora do Rosário! Sorri com bondade para os congadeiros de São João del-Rei

Mesmo ficando meio à margem da cultura oficial são-joanense, algo como o primo pobre das nobres tradições coloniais, o congado, ou congada, como alguns preferem, é uma manifestação cultural forte em nossa região, principalmente nos bairros mais afastados e nos distritos de São João del-Rei. Não se precisa de nenhum esforço para entender porque isto acontece: basta relembrar a condição social do povo que introduziu este produto cultural na região: negros africanos, escravizados, que viviam à margem do sistema político-social. Na economia eram apenas a força bruta; para a religião vigente, no começo havia dúvida se sequer tinham alma. Ainda hoje ainda não são os negros são-joanenses que possuem visibilidade destacada na sociedade local que compõem os grupos de congado. Congado exige alma negra, exige fé autêntica e natural, exige crença, convicção e coragem. Se não for assim é folclore, folguedo, espetáculo e diversão. Mesmo que não se dimensione, a região de São João del-Rei tem...

Tesouros vivos de São João del-Rei - Ulisses Passarelli: garimpeiro de congadas e folias!

Na história de São João del-Rei, ouro é o que não falta. Ouro, do mais puro e mais reluzente, outrora catado em meio a raízes de capim, colhido em bateias, faiscado em veios de profundas betas e subterrâneas galerias. Dele brotaram altares de ouro, anjos de ouro, amuletos de ouro, alianças de ouro, corações de ouro, crucifixos de ouro, correntes de ouro... Metal cobiçado, há muito tempo este ouro esgotou-se das encostas são-joanenses. Mas daqueles tempos distantes e para sempre, existe outra riqueza viva e inesgotável nesta terra em que os sinos falam, mais brilhante e valiosa do que o ouro de outrora, que alimentou violências, ganâncias e castigos e emoldurou barrocos ideais. Esta outra riqueza é tão grande, tão vibrante e tão intensa que não pode ser congelada em templos nem em museus. Ela pulsa, corre no sangue, anima a fé e várias crenças, impulsiona, dá ritmo, resgata, recria e perpetua cantos, danças, ritos, rezas, orações, preces, mandingas, festejos. Em termos humanos mais...

Bendito e louvado sejam as folias, pastorinhas, congadas e catupés de São João del-Rei

Ninguém duvida da riqueza cultural de São João del-Rei. Principalmente das tradições barrocas que, herdadas do século XVIII, permanecem vivas, nas mais diversas formas de expressão: ofícios religiosos, música barroca, ricas procissões, toques de sinos, tapetes de rua e muitas outras atividades que preenchem de som, perfume e cor os 365 dias do ano de quem vive às margens do Córrego do Lenheiro. Mas existem algumas manifestações culturais que, paralelas ou periféricas às grandes celebrações litúrgicas, ainda são pouco conhecidas - e por isto mesmo pouco reconhecidas - pelos próprios são-joanenses. Entre estas, estão as folias, pastorinhas e congadas, que se apresentam por ocasião do Natal, Santos Reis Magos e São Sebastião, em janeiro, Divino Espírito Santo, em maio / junho, e Nossa Senhora do Rosário, por todo o mês de outubro. Em algumas situações, as folias e congadas podem ser vistas no centro histórico da cidade, mas seu território forte são os bairros e alguns dist...

Casa do Tesouro diversifica os mosaicos do rico caleidoscópio cultural de São João del-Rei

A cultura de São João del-Rei é diversa, múltipla, plural e complementar.Vem de muitas matrizes, de sucessivas épocas históricas, de origens variadas. É uma cultura de matizes diferentes, porém convergentes em uma única direção: a valorização do homem, sua dignificação, elevação e felicidade. Por isto é tão rica. Ela acredita no paraíso, certa de que ele existe e de que grande parte dele pode ser vivida em São João del-Rei, e no presente. Talvez por se lembrar do que ensinou o Padre Antônio Vieira, no distante século XVI,  1694, quando em um sermão disse: " cada um sonha como vive ". Na verdade, São João del-Rei é um caleidoscópio cultural, onde algumas peças ocupam o centro e maior espaço e outras, menores, se movem nas pontas. Todas integradas. A cada movimento de todas ou de somente uma delas, novo mosaico se forma e se transforma, sem nunca se repetir. Neste panorama de avançado, evoluído e ecumênico respeito, a Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro - E...

Corações negros de São João del-Rei teluricamente batem como tambor por Nossa Senhora do Rosário

Pela intensidade e fervor das manifestações religiosas que há mais de trezentos anos são realizadas em São João del-Rei - antes pelos escravos e, depois, por seus descendentes - logo depois que começa a primavera, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, pode-se dizer que outubro é o sagrado mês negro desta terra. Afinal, desde 1708 Nossa Senhora do Terço é madrinha do povo que veio da África e há três séculos vive ao longo e em torno da Serra do Lenheiro Caixas, tambores, vozes, bandeiras, rezas, rosários, fitas, flores, espelhos, olhares - tudo ressoa, pulsa, vibra, brilha, tremula nos grupos de congada de São João del-Rei e arredores. Homens, mulheres, crianças, idosos, unindo ontem e hoje, dois tempos, neste mês se juntam em grupos e ternos para praticar uma devoção muito antiga, iniciada em 1208. Foi naquele distante ano que Nossa Senhora do Rosário apareceu a São Domingos de Gusmão e lhe entregou um terço de 150 contas. Isto, exatamente 500 anos de ser criada a Irmandade ...

Em São João del-Rei, no mês de outubro, viva Nossa Senhora do Rosário!

Em São João del-Rei, antes que em qualquer outro lugar de Minas, "Bendito, louvado seja ô ganga,    o rosário de Maria!    No mundo, já era noite, ô ganga.     Lá no céu, parece dia... Foi por meio de nossa cidade que a Senhora do Rosário desceu nas terras mineiras. Antes que surgisse o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, ela ainda não havia chegado nas regiões onde o ouro brilhava qual as estrelas. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São João del-Rei é a mais antiga de Minas Gerais. A segunda mais velha do Brasil. Como não se orgulhar disso? Como não ser grato à Senhora do Rosário por esta preferência pelos são-joanenses, a quem, desde a madrugada do século XVIII, oferece o Menino Jesus e o rosário da salvação? Como não se rejubilar por esta distinção? A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros de São João del-Rei foi fundada em 1708, quando fervia na região a sangrenta Guerra dos Emboabas. Nenhuma vila t...

Crianças: a Arca da Memória de São João del-Rei

Quando se fala na preservação da memória e perpetuação da cultura de São João del-Rei, não se pode esquecer de um segmento muito importante: as crianças. São elas que, por gerações, levarão acesa na lembrança a chama da história do que nos legaram nossos antepassados. Que perpetuarão séculos afora, com amor, zelo e compromisso, as crenças, esperanças, tradições, sabedorias e saberes aqui construídos e cultivados há mais de três séculos. O dia 12 de outubro - Dia da Criança - é bom para se lembrar disto. Pensando assim, é preciso cada vez mais inserir a criança no universo cultural de São João del-Rei. Nas tradições barrocas, como as procissões e outras festas religiosas. Nas expressões populares, como congada, folia de reis, carnaval, artesanato. Em todas as artes, sejam música, teatro, literatura, dança ou artes plásticas. Na gastronomia... Na vanguarda de outras cidades, São João del-Rei já desenvolve algumas ações neste sentido. Em relação aos tapetes processionais, isto já ...

Dom Lucas Moreira Neves - Primavera floresce igualdade, gratidão e memória em São João del-Rei

Entre as várias preciosidades culturais que o cardeal Dom Lucas Moreira Neves deixou para São João del-Rei, uma delas se multiplica e se repete a cada ano: é a Semana Cultural Dom Lucas, realizada sempre no período de 08 a 15 de setembro, no memorial que leva o nome dele, que é um dos mais queridos são-joanenses, filho de família a quem muito deve a cultura de nossa terra. Em 2013, o tema que norteia todos os eventos mostra como a cada alvorecer mais evolui e se ilumina a compreensão, a humanidade, o pensamento, a democracia, a religiosidade - enfim a própria sociedade são-joanense. É que o nobre espaço, durante oito dias, abre-se com todo respeito e dignidade para cultura afro-sãojoanense, aqui brotada e frutificada quando o século XVIII, entre raios luminosos de ouro e sol, começava a amanhecer. Melhor reconhecimento e tributo aos são-joanenses de ontem e de hoje não poderia haver, do que a escolha de tema tão rico e tão pertinente, 300 anos vivo na sociedade local. Ora n...

A congada, a pluralidade cultural e a transformação social na São João del-Rei de nossos dias

 São João del-Rei é plural em sua cultura. Protegidas pela Serra do Lenheiro e vigiadas pelas torres imponentes das igrejas setecentistas, manifestações culturais diversas convivem pacificamente, se complementam formando um universo único, fértil, fecundo e enriquecedor para todas as formas de expressão. Sejam elas eruditas ou populares. Sagradas ou profanas. Tradicionais ou contemporâneas. Nativas, de origem européia ou africana. A realidade tem mostrado que, quanto mais a sociedade são-joanense evolui e amplia a visão que tem de si mesma e do mundo, mais valoriza a pluralidade, a multiplicidade e a diversidade cultural. E caminha rumo à universalidade. Em relação à congada, é isto o que está acontecendo. Tão antiga na região quanto a própria história de São João del-Rei e de Minas Gerais, esta forma de manifestação e expressão negra é realizada em nossa terra desde os tempos do cativeiro. Naquele tempo colonial distante era coisa de escravos, depois passou a ser vista c...

Cultura negra, congada e o rosário de tempo, de flores e lágrimas de São João del-Rei

A presença da cultura negra em São João del-Rei é tão forte que chega a ser imperceptível. Isto mesmo. Ela se confunde com a cultura de São João del-Rei, ou melhor, ela é a própria cultura de São João del-Rei. Sempre requintada e profunda, sagrada em suas várias vertentes, ela vai do erudito ao popular, do barroco ao espontâneo. Faz parte da vida, da alvorada ao anoitecer, da concepção à morte. Entretanto, por ser ela tão vital quanto orgânica, o tempo todo cotidiana, São João del-Rei ainda precisa conhecer e reconhecer a presença da cultura negra na composição de seu mosaico de tradições e no caleidoscópio de suas expressões culturais. Neste sentido, a Associação Cultural Casa do Tesouro - Egbê Ilê Omidewea Asè Igbolayo realizou, em maio passado o Encontro de Congadeiros das Vertentes e lança nesta segunda-feira, dia de São João, 24 de junho, o documentário Este rosário é meu . Com duração de 55 minutos, o filme é um registro antropolígico-afetivo do panorama da congada na reg...