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Mostrando postagens de dezembro, 2014

São João del-Rei e a Folia de Reis a "Caminho da Salvação"

A passagem de folias de reis pelas ruas de São João del-Rei - do centro histórico às localidades mais periféricas - é tradição centenária, mas nos últimos anos andou perdendo força, pela falta de renovação em seus membros. É que a modernidade e a urbanização, com seus novos valores estéticos e apelos tecnológicos, aos mais jovens ainda parecem  opor a folia de reis tradicional ao status de progresso e evolução. Com isso, os grupos são-joanenses cada vez mais se tornaram menores e mais escassos, compostos em sua grande maioria por pessoas mais idosas. Atentos a esta realidade, alguns intelectuais buscaram não só minimizar este enfraquecimento quanto valorizar a folia de reis, elevando a auto-estima de seus membros e das comunidades que as conservam, pensando na  revigoração desta importante expressão cultural popular do ciclo natalino. Foi assim que a Organização Não Governamental Atitude Cultural organizou e promoveu, durante mais de uma década, o Encontro das Folias de Reis e Pa

Barroco Natal de samba, sons e tons de São João del-Rei

Uma cidade de coração vivaz e multicor, que harmoniza os mais diversos tons e sons, para pulsar barrocos sentimentos tropicais de brasilidade. É assim São João del-Rei, e isto se vê de vários modos. Às fachadas dos sobrados coloniais, nas demais cidades históricas tradionalmente pintadas de branco, com portas e janelas vermelhas, azuis, ocre e marrom, aqui se juntam outras, de cores suaves, porém vibrantes: azuis, rosas, cinzas, amarelas, verdes - com seus beirais e lambrequins. Pura alegria. Mais do que em outras cidades nascidas no tempo do ouro, em São João del-Rei as sonoridades se harmonizam em compassos que ninguém imagina. Durante todo o dia 24 de dezembro, por exemplo, enquanto de tempos em tempos os sinos do Rosário repicavam o tencão de Natal, a poucos passos dali, no Largo do Carmo, uma  espontânea batucada, com muito samba,  celebrava a vida e a liberdade. Eram os herdeiros da noite, revivendo a conquista do dia. Tudo sobre as galerias subterrâneas de onde se ext

Vovô Gomide & as Catitas de São João del-Rei

Na galeria dos personagens típicose muito populares de São João del-Rei, um muito pitoresco, mas hoje praticamente esquecido, é Vovô Gomide. Fins dos anos 50, começo dos anos 60, já relativamente idoso, o velho meio branco, baixinho, de cabelo e barba brancos, morava na esquina da Rua Coronel Tamarindo com a Rua Rodrigues de Melo, onde hoje existe a Praça Padre José Maria Fernandes, próximo à Rua do Barro e ao Pau D'Angá. Para as crianças, pela semelhança, era o ilustre Marquês de Tamandaré, que naquela época corria de mão em mão na nota de Cr$ 1 (um cruzeiro). Sempre de paletó escuro e surrado, com sua voz mansa, rouca e baixa, se dizia nobre, descendente do Barão de Cocais, e aguardava a chegada de sua parte da lendária herança, que vinha não se sabe de onde, mas do século XIX. O que fazia dele uma pessoa especial? Vovô Gomide catava no chão maços vazios de cigarro que os fumantes jogavam fora e desenhava a lápis, no verso da estampa e no papel branco, garatujas de corpo

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mágico e iluminado em São João del-Rei

Na ocasião do Natal, mal começa o Advento, São João del-Rei fica envolta por uma aura mágica. Luzes coloridas e brilhantes realçam contornos de telhados, beirais e janelas coloniais, semeiam anjos e estrelas nos jardins, franjas luminosas enfeitam o coreto – romântico cenário para os corais e suas cantatas. Na metade do mês começa, na igreja do Rosário, a Novena Barroca do Menino Jesus, composta no século XIX pelo são-joanense Padre José Maria Xavier. É um ofício alegre e delicado, só executado em São João del-Rei, pela Orquestra Lira Sanjoanense, considerada a mais antiga orquestra das Américas em atividade permanente desde a segunda metade do século XVIII.  Pouca gente sabe, mas as mais importantes celebrações do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo na terra onde os sinos falam são realizadas na igreja do Rosário, seguindo uma tradição colonial. Assim como a Ordem Terceira do Carmo incumbia-se de parte das celebrações da Paixão de Cristo, a Irmandade do Rosário é responsáv

O modernista Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e a Semana Santa de São João del-Rei

Estamos em São João del-Rei, mais precisamente no Largo do Carmo, no ano de 1924. Pela sombra oblíqua projetada da esquerda para a direita, sabemos que devem ser, mais ou menos, 3 horas da tarde. Um soldado, em primeiro plano, anda depressa, atravessando a praça, como a fugir da paisagem rumo ao Largo da Cruz. Dois meninos brincando, um homem de pé, encostado na monumental fachada, do lado oposto mais algumas crianças. Uma mulher, na janela, espia o dia  escorrer e a vida passar... - Quem é aquele homem de terno preto e chapéu no centro da foto, de frente à portada? - Ora, não é ninguém menos do que Oswald de Andrade! Era abril, Semana Santa, e ele adentrava o interior de Minas para redescobrir o Brasil, na companhia da pintora Tarsila do Amaral e do poeta e intelectual francês Blaise Cendars. Ficaram todos tão encantados com o que viram que, entre outros poemas, Oswald de Andrade, após descrever sumariamente nossa cidade por não encontrar para ela adjetivos, pediu aos bra

301 anos de Vila. 310 anos de vida. "... Salve terra de São João del-Rei!"

301 anos de Vila, 310 anos de vida. É assim que São João del-Rei - ' a cidade mais barroca de Minas ' - chega a este 8 de dezembro, sua data natal. Exultante como a setecentista e alegre procissão que no entardecer, ao som dos sinos e das marchas  festivas que a banda toca, caminha com Nossa Senhora da Conceição pelas ruas da cidade. Mas agora, voltemos no tempo... O sol que anunciou em alvorada o amanhecer do dia 8 de dezembro de 1713 iluminou também uma nova era para o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Naquela data, o movimentado e próspero aglomerado urbano que desde 1703/1704 se formara à sombra da Serra e às margens do Córrego do Lenheiro, tendo - semelhante a Fênix - se recomposto do incêndio que assinalara o fim da sangrenta e cruel Guerra dos Emboabas, foi elevado à categoria de Vila. Seu nome, São João del-Rei, em homenagem a El-Rey Nosso Senhor Dom João V, o "Rei Sol" português. Nascia ali, assim, a quarta vila do ouro das Min