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Mostrando postagens de novembro, 2011

Em São João del-Rei, uma rua começa na alegria e vai dar no meu coração...*

 A alegria é mulher e, morando em São João del-Rei, tem lá uma rua só pra ela. É a Rua da Alegria - estreita, ligeiramente curva, colorida, graciosa, sedutora e serelepe. Fica paralela à majestosa igreja do Carmo, separada apenas pelo Beco da Escadinha. Tão perto que, estendendo o braço com pequeno esforço, é possível até pegar na mão de Nossa Senhora e tomar-lhe a bênção. Nesta rua  fica o Centro Cultural Feminino da cidade. O Centro Cultural Feminino de São João del-Rei é coisa só de mulher? Né não, cara! É um espaço universal e democrático, onde se cultiva principalmente trabalhos manuais, que a maioria das mulheres gosta de fazer: artesanatos, bordados, amarrados, enfeites, estampas, flores, imagens, tecelagens - tudo o que requer delicadeza, tempo, paciência, dedicação, convívio, conversa (muita conversa!), cumplicidade e saber antigo. Lá os produtos da ação, da criação e da imaginação estão sempre em exposição e, por um preço camarada, podem tornar mais bonito o lugar onde voc

São João del-Rei teve chafariz no Largo São Francisco. Foi por água abaixo!...

Atualmente São João del-Rei ainda tem três chafarizes: o da Legalidade, de cantaria, na Praça dos Expedicionários, o da Municipalidade, no Largo do Carmo, e o da Deusa Ceres, na Praça Bom Jesus de Matosinhos - estes dois de ferro fundido. Entretanto, há registro de que, no dia 28 de novembro de 1750, a Câmara mandou construir uma fonte pública, nas imediações da igreja de São Francisco. Da decisão à ação, foi um pulo. Dez dias após a deliberação, portanto no dia 8 de dezembro de 1750, João Batista de Almeida arrematou a execução da obra por 60 oitavas de ouro. Era exigência que tivesse um tanque coberto, medindo seis palmos de comprimento, quatro palmos de altura e outros quatro de largura e oferecesse água farta, boa e pura à população são-joanense setecentista em duas bicas de ferro. Por enquanto, nada se sabe de sua fachada ou frontispício. Tampouco da época e circunstância de sua demolição e muito menos de seu destino. Bom, isto é assunto para historiadores, pesquisadores, estu

Batismo de sangue e fogo trouxe o Inferno à Vila de São João del-Rei. Era novembro de 1709...

 Além da matança brutal que consumiu muitas vidas no Capão da Traição, uma das cicatrizes que a Guerra dos Emboabas deixou no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, depois Vila de São João del-Rei, foi o incêndio de todas as casas do povoado, inclusive da primitiva capela de Nossa Senhora do Pilar. Por ordem dos portugueses, o fogo foi ateado no dia 18 de novembro de 1709, consumindo todas as edificações, em sua maioria cobertas de palha. Durante muitos anos a lembrança das chamas ardentes aterrorizou a população são-joanense e preocupou o governo da Provìncia. Tanto que, oito anos depois, exatamente no dia 26 de novembro de 1717, o Governador Dom Pedro de Almeida enviou correspondência ao Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei, ainda para tratar daquele sangrento assundo. Na carta, proibia que, a partir de então, fosse construída naquela Vila qualquer edificação coberta de palha. Cumprindo a ordem, há 294 anos, a Câmara fez publicar um Edital, onde se lia.

À memória de meu pai, Geraldo Sebastião da Costa

Na noite que sucedeu a tarde em que sepultamos meu pai (18/11), dormi demorado sono profundo. Cansaço, esgotamento, tristeza, alienação, fuga, solidariedade, desejo de identificação - cada coisa ou todas elas, pode ser. Sonho contínuo, fatos unidos igual às contas do terço que nos últimos muitos anos, antes de dormir, religioso ele rezava. Entre duas pencas de ave-marias, como um perdido Pai Nosso, a pergunta surgiu no território onírico e ficou na memória, mesmo depois de acordar: " Que pode uma criatura senão, entre outras criaturas, amar ?" Assim Drummond, sem explicação, voltara a São João del-Rei para se juntar a mim e a meu pai naquela madrugada. A pergunta brotada no sonho é o primeiro verso do poema Amar , que partilho com os amigos internavegadores, reproduzindo-o abaixo, integralmente, nas formas escrita e falada.           "Que pode uma criatura senão,             entre criaturas, amar?             amar e esquecer,             amar e malamar,          

Em São João del-Rei, quem clareia o dia é sempre a clave de sol...

Nesta terça-feira, 22 de novembro, a 30a Semana da Música de São João del-Rei chega ao final, com uma merecida homenagem a Santa Cecília - padroeira da Música e dos músicos. Foram nove dias de intensa programação, composta por dezesseis eventos culturais - retretas, concertos, missas barrocas, tríduo e procissão, da qual participaram duas orquestras bicentenárias, a centenária Banda Theodoro de Faria, a quase centenária Sociedade de Concertos Sinfônicos e diversas corporações musicais são-joanenses remanescentes do século XX ou criadas no século atual. Folheando o livro Efemérides de São João del-Rei, mais precisamente a página 485 do volume 2, vemos que, em 1966 a cidade começou um movimento cultural, focado na música, de finalidade muito semelhante à que se propõe a Semana que nesta terça-feira se encerra. Era o Festival de Música de São João del-Rei , organizado pelo Serviço de Recreação e Turismo da Prefeitura Municipal. Também a data de sua realização coincidia com a do evento

Uma Semana de Música e de nove dias em São João del-Rei

Uma semana de nove dias? Em São João del-Rei tem. É a 30ª Semana da Música , que começa nesta segunda-feira, 14 de novembro, e vai até terça-feira da semana que vem, dia 22. Tudo para homenagear a Música e sua padroeira, Santa Cecília. Serão dezesseis eventos - entre retretas, concertos, tríduos, missa barroca, procissão e Bênção do Santíssimo Sacramento - envolvendo dez corporações musicais, entre elas algumas muito antigas, como as bicentenárias orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, a centenária Banda Theodoro de Faria e a Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei, que já deve estar caminhando para completar um século de excelentes serviços musicais prestados à terra onde os sinos falam. Como você vê, a Música - que desde 1717 mora e passeia pelas ruas históricas, pelos largos e becos, jardins, coreto, teatros e igrejas de São João del-Rei - nos próximos dias vai ocupar todos os espaços da cidade, espalhando em tudo notas de alegria, entusiasmo, felicidade e c

Herói contemporâneo, Tiradentes navega no ciberespaço e tem até página no Facebook

 Duzentos e dezenove anos após sua morte, Tiradentes continua vivo. E muito vivo! Tão vivo que tem até página no Facebook... Quer ver? Então acesse http://www.facebook.com/media/set/?set=a.192615460763945.56533.124068884285270&type=1 Parece que a página foi criada há pouco tempo e, além de duas imagens, tem apenas as seguintes informações pessoais: JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER , o TIRADENTES (Fazenda do Pombal), batizado em 12 de novembro de 1746 — Rio de Janeiro, 21 de abril de 1792) foi um dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político que atuou no Brasil colonial, mais especificamente nas capitanias de Minas Gerais e Rio de Janeiro.   No Brasil, é reconhecido como mártir da Inconfidência Mineira, patrono cívico do Brasil, patrono também das Polícias Militares dos Estados e herói nacional. O  dia de sua execução, 21 de abril, é feriado nacional. Sem dúvida é uma página " fake ", mas que relevância isso tem se efetivamente constitui

São João del-Rei constrói novo Sudário do herói Tiradentes

As comemorações do Dia da Liberdade e da Cidadania, celebradas na data em que, em 1746, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi batizado na Capela de São Sebastião do Rio Abaixo, Termo da Vila de São João del-Rei, apontam para um novo olhar sobre o herói maior de um dos mais importantes capítulos da história nacional: a Inconfidência Mineira. Sinalizam também para vários aspectos que, mesmo simbólicos, mostram estar aquele território ressignificando a própria história; os são-joanenses dispondo-se a olhar o mundo com novos olhos e seguir rumo ao futuro com renovada determinação. Não mais objeto, mas sujeito. Não mais determinismo, mas imprevisibilidade, com uma plenitude de possibilidades. Não mais crença, mas confiança. Não mais vítima, mas agente. Protagonismo. Isto cada vez fica mais claro quando percebemos a evolução / renovação do culto ao herói Tiradentes, em São João del-Rei realizado. Ao 21 de abril, data de sua morte, se acrescentou outra data comemorativa - o 12 de

Em São João del-Rei, cidadania e liberdade, poesia e prece pelo heroi Tiradentes

Na semana em que São João del-Rei celebra os 265 anos de nascimento e batismo de Tiradentes, com  programação enriquecida pela outorga da Comenda da Liberdade e da Cidadania, que tal relembrar o poema que Cecília Meireles escreveu em 1955, uma conversa entre o menino Joaquim José e a Virgem na capela de Nossa Senhora da Ajuda, Fazenda do Pombal, então Termo da Vila de São João del-Rei. O altar da citada capela (foto acima) é parte do rico acervo histórico são-joanense e pode ser conhecido no Museu de Arte Sacra, localizado no Largo do Rosário de São João del Rei. Romance XII ou De Nossa Senhora da Ajuda Havia várias imagens na capela do Pombal. E portada de cortinas, e sanefa de damasco, e, no altar, o seu frontal. São Francisco, Santo Antônio olhavam para Jesus que explicava, noite e dia, com sua simples presença, a aprendizagem da cruz. Havia prato e galhetas, panos roxos e missal. E dois castiçais de estanho, e vozes puxando rezas, na capela do Pombal. (Pequenas imagens de pouc

São João del-Rei festeja, com liberdade e cidadania, o visionário sonhar do herói Tiradentes

Certamente será a primeira vez que um herói brasileiro terá seu nascimento tão grandiosamente festejado e, sobretudo, na cidade em que foi batizado. Certamente será também o primeiro herói brasileiro a ser festejado em duas datas: a de seu nascimento e a de sua morte.Quem é ele? Joaquim José da Silva Xavier, historicamente conhecido pelo apelido Tiradentes. Qual a cidade da comemoração? São João del-Rei... A grandiosidade das comemorações pode ser mensurada pela consistência e propósito das atividades que serão desenvolvidas. O Instituto Histórico e Geográfico da cidade, por exemplo, conjuntamente com a Chancelaria da Comenda da Liberdade e Cidadania, promoverá do dia 9 ao dia 13 deste mês um seminário composto por 15 palestras e conferências, proferidas por intelectuais de renome. Tratarão desde recentes descobertas historiográficas sobre a realidade vivida no tempo do ouro até as mais novas convenções da Unesco sobre bens culturais. Discorrerão com entusiasmo e realismo sobre questõ

Respeito e voz para os terreiros e para a negritude mulata de São João del-Rei

Cultura afrobrasileira? São João del-Rei tem, sim senhor! Só que aqui, por eufemismo tão típico dos mineiros, afrobrasileiros "mais claros, desbotados" e seus descendentes são, muitas vezes, regionalmente, classificados e chamados de mulatos. Entendido isto, vamos lá: a música colonial do Campos das Vertentes, quem compôs? Os músicos mulatos. E nas orquestras barrocas bicentenárias, o que muito tem? Músicos mulatos. As Folias de Reis, Congadas e Pastorinhas, quem as mantém? São-joanenses mulatos. Os sinos e seus toques, no alto das torres, viram dobres mulatos. Mulatos são os Passinhos da Paixão, as Pontes da Cadeia e do Rosário, os Cruzeiros e as matracas, a couve picada fininha, o angu, o torresmo, a farofa, a feijoada, a pimenta, o doce de abóbora com coco, as amêndoas no tacho de cobre, a cachaça com mel, o bolinho de feijão - São João del-Rei é cada vez mais uma cidade mulata. E não era para ser, pois os censos realizados no tempo da Colônia falam que a Vila de São J

Felit, Semana da Música, Vertentes da Liberdade. Novembro ferve arte e cultura em São João del-Rei

 Novembro é mês de memória, lembrança e saudade em São João del-Rei. Tempo de saudar o ontem e evocar os mortos, sem dúvida, para garantir-lhes perpetuidade. Mas, também, tempo de celebrar a vida, o agora e a eternidade do sempre, por meio da cultura nas suas mais diversas formas. Nada menos do que isto é o que este mês acontece na cidade. Especialmente no período de 10 a 20, São João del-Rei será palco e agente de um democrático e efervescente movimento cultural. O Festival de Literatura -Felit encherá de literatura, cinema e gastronomia auditórios, largos, becos e bares do centro histórico, este ano para homenagear o escritor Ziraldo. No dia 12, um  grande concerto em frente ao Coreto homenageará a vida do herói Tiradentes, na data em que, no século XVIII, ele foi batizado na Vila de São João del-Rei. E a Semana da Música, realizada em honra de Santa Cecília, padroeira dos músicos, na sua trigésima edição afasta qualquer dúvida: São João del-Rei é mesmo terra de rica de cultura. É

São João del-Rei. Del Rei Sol de Portugal, "d'Aquém e d'Além Mar, Senhor da África, Guiné, Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia."

 Todos sabemos que o nome São João del-Rei - criado em dezembro de 1713, quando o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar foi elevado à categoria de Vila, sede da Comarca do Rio das Mortes - homenageia o rei português Dom João V. Mas e daí: quem era este rei e o que ele tinha de especial? Famoso por seu amor à arte e à cultura, especialmente à Música, tanto que sua alcunha era O Magnânimo, Dom João V nasceu em Lisboa, em 16 de outubro de 1689. Oito anos depois foi "jurado" Príncipe Herdeiro e em 1706 tornou-se o 24º rei de Portugal. O ouro das Minas Gerais dourou seu reinado com exuberância, opulência e luxo, consagrando o mornarca como o "Rei Sol Português". Dom João V também tinha suas esquisitices. Apesar de muito dedicado à fé cristã, a ponto de receber do Papa Bento XIV o título de "Majestade Fidelíssima", era sexualmente aficcionado por freiras. Com elas teve alguns filhos, conhecidos como "Meninos de Palhavã", Mas isto não impediu q

Novembro. Tempo de saudades, lembranças e memórias em São João del-Rei

 Novembro, em São João del-Rei, é um mês diferente. Antigamente, amanhecia com a ladainha de Todos os Santos, saindo da Matriz do Pilar e rezada apressadamente e em movimento como um rosário a unir becos, travessas, ruas, largos, pontes de pedra, Passos da Paixão e cruzeiros. Mal a noite saudasse o dia, de manhã cedinho, antes que o sol nascesse. Primeiro de novembro. À noite o sino já tocava (e ainda hoje toca) códigos, ritmos e saudações  funerais. Véspera de Finados. Dia 2, missa barroca, de cordas lamentosas, metais pungentes e responsórios de Trevas no entremuros altos do Cemitério das Almas, dos Passos, do Santíssimo e da Boa Morte, cada qual com sua legião de mortos. Colina da Muxinga. De lá se avista, como delimitação precisa entre os territórios do aqui e do além, do agora, do sempre e do jamais, a Serra roxazul do Lenheiro. Fúnebres, de todas as torres, em dois de novembro os sinos tocam  até o sol se por. Silêncio e noite eterna depois. E voltarão a tocar mais, outros d

São João del-Rei, 2 de novembro, 1797: o sagrado desce água abaixo. Sobe a Ponte da Cadeia!

 A Ponte da Cadeia, - por sua beleza clássica e imponente e por sua grandiosidade arquitetônica - é um dos símbolos mais fortes e um dos mais consagrados ícones de São João del-Rei. Entretanto, o que poucos sabem é que sua construção, no projeto que ainda hoje vemos, foi motivado por uma tragédia, ocorrida exatamente no dia 2 de novembro. Era 1797. O pároco da Vila de São João del-Rei, acompanhado por um pequeno cortejo, atravessava com com Santíssimo Viático a Ponte da Rua da Intendência, a levar comunhão para alguns doentes. Gasta pelo tempo e pelo uso, a ponte não suportou o peso do reverendo nem de sua devota comitiva e, sem piedade, tirou-lhes o solo, lançando-os nas águas corredeiras que desciam da Serra e cortavam a Vila de São João. " Por um milagre extraordinário ficarão ilezas e salvas da corrente do Rio (naquela época, de tão caudaloso, o Córrego do Lenheiro parecia um rio) as sagradas formas, ao mesmo passo que todas as pessoas que 'O' acompanhavam em mayo