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Mostrando postagens de outubro, 2012

De tristeza, sinos de São João del-Rei dobram "de trás pra frente, pelo avesso" no dia de Finados

No principiar de novembro, São João del-Rei volta no tempo. É tempo de Finados. Desde o entardecer do dia 1º até o entardecer do dia 2, de tempos em tempos os sinos das igrejas barrocas dobram Finados - dobre triste, é como um toque inverso, pelo avesso, de trás para frente. Já na manhã do primeiro dia, nas ruas coloniais do centro histórico, se percebe que é véspera. Os são-joanenses mais antigos, previamente, visitam os cemitérios, vistoriando, limpando e zelando das tumbas e ossuários. Depois, transitam pelas lojas, prevenidos que são, comprando flores artificiais que no dia seguinte serão entregues aos seus mortos. Em São João del-Rei, túmulo descuidado é o mesmo que defunto esquecido, desonrado ou por gosto abandonado, intencionalmente deixado para trás. Antigamente, no dia 2, as velhas igrejas são-joanenses montavam em seu interior uma instalação funerária, na nave do templo ou em sua capela-mor: um tapete retangular preto ou roxo de galões dourados, quatro altos castiçais

1783-1817 - Da setecentista Casa de Caridade à Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei

No jogo de víspora, tão comum nas antigas barraquinhas das festas de largo de São João del-Rei, o número trinta e três é anunciado como "a idade de Cristo". Trinta e três anos foi o tempo que se passou entre a fundação e instalação da Santa Casa de Misericórdia são-joanense e o ato que oficializou e confirmou tal fundação. Voltemos no tempo, aliás,  tempo da Inconfidência ... As origens da Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei nos levam a 28 de dezembro de 1783, quando Manuel de Jesus Fortes requereu ao bispado da Capitania de Minas Gerais licença para a construção de uma ermida, dedicada a São João de Deus, junto à Casa de Caridade que ele havia construído na próspera Vila. Segundo pesquisas documentais do historiador Sebastião Cintra, a construção durou menos de um ano e, para a época, era um hospital qualificado,              "em lugar próprio, com cômodos necessários para trinta doentes, com todas as camas precisas e distinção de lugares para pessoas

São João del-Rei e a saúde pública no século XVIII

Nestes dias em que outubro está indo embora, em São João del-Rei os congadeiros empunham estandartes enfeitados e fazem soar mais forte suas caixas, seus guizos e suas vozes rústicas, para  homenagear Nossa Senhora do Rosário. Madrinha e protetora dos escravos, era a ela que os negros recorriam nos tempos de ferro quente, algemas e chicotes, pedindo socorro, alívio para as dores, cicatrização para as feridas, cura para doenças, luz para a alma, paz para o coração, força e esperança para lutar e acreditar que mais cedo ou mais tarde o sol haveria de trazer um novo e livre dia. No Brasil colonial do século XVIII, escravos eram mercadoria valiosa, custavam caro e - perecíveis pela força que o trabalho pesado lhes roubava - precisavam de pelo menos algum cuidado físico para não se deteriorarem no adoecimento. Foi nesse momento histórico que em 1708  fundaram, em São Joao del-Rei, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Afirmam alguns historiadores q

Antes que Chacrinha, São João del-Rei já sabia: "Quem não se comunica..."

Por mais que se saiba da importância e se reconheça o pioneirismo de São João del-Rei na história de Minas, a todo instante tem uma coisa nova para se descobrir. Você imaginava que São João del-Rei foi uma das quatro primeiras vilas mineiras a ter uma agência de Correios? Isto mesmo, e desde 20 de janeiro de 1798, conforme alvará editado pelo Conde de Sarzedas, então governador da Capitania. Entretanto, mesmo existindo este "serviço público", a população continuou contando com os mercadores, mascates e tropeiros para levar recados, dar notícias e transportar correspondências, encomendas e objetos, os mais variados. As viagens dos estafetas, que eram os carteiros da época e faziam o percurso Rio / Minas - Minas / Rio eram muito espaçadas, muitas vezes não atendendo a urgência da necessidade de informação e comunicação. A chegada dos "carteiros" à Vila de São João era quinzenal. Anunciada por ruidosos foguetes, soltados do alto do Morro da Forca, alvoroçava a p

Em São João del-Rei, onde vai a corda, vai a caçamba!...

Dizem que corda foi feita para amarrar. Isto é verdade, em parte. Corda também serve para unir, para estreitar, para ligar. Para apresentar, conhecer, ensinar e aprender. Pelo menos é isto o que está acontecendo de hoje até sábado em São João del-Rei. Na  setecentista e barroca cidade, a 3ª Semana de Cordas do Conservatório Padre José Maria Xavier está levando música de qualidade, gratuitamente, para diversos pontos da cidade e principalmente para um público especial: jovens, alunos das escolas públicas de ensino fundamental e médio. - Mas o que a corda tem a ver com isso? - Ora, as músicas são todas executadas unicamente com instrumentos de corda - violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Com esta iniciativa o Conservatório, além de apresentar os instrumentos há muito tempo mais conhecidos na execução de músicas eruditas do que nos hits do momento, aínda desperta o interesse das crianças e adolescentes para o estudo da música. Não é à toa que o Conservatório tem tantos

São João del-Rei não conhece (nem reconhece!) são joão del-rei...

O patrimônio barroco de São João del-Rei é tamanho, tão grandioso e ofuscante, que enche a vista de todos. Arquitetura, escultura, música, paisagismo, urbanismo,sonoridades, tradições religiosas de três séculos, tudo isso se entrelaça de tal modo que a muitos - são-joanenses e não-são-joanenses - parece ser esta a riqueza cultural de São João del-Rei. Não é bem assim. Ela é maior ainda... Além dos limites do perímetro histórico também acontecem manifestações culturais originais e genuínas, algumas delas existentes desde os primórdios do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, no começo do século XVIII. Entretanto ainda hoje, século XXI, conttinuam desconhecidas e, portanto, não reconhecidas pela sociedade são-joanense. Um exemplo disto vai ver quem assistir abaixo o videodocumentário Festa do Rosário do Rio das Mortes , gravado naquele distrito são-joanense, berço de Nhá Chica, em outubro de 2005, por João Paulo Guimarães. João Paulo é fotógrafo, produtor de ví

Quando o sol marcou as horas em São João del-Rei

Para São João del-Rei, o relógio da Matriz do Pilar é tão importante quanto o é o Big Ben para Londres. Instalado no alto da torre esquerda, logo abaixo da sineira, é considerado o principal relógio púbico da cidade e assinala as horas, suas metades e quartos de modo original, bastante conhecido dos são-joanenses: . o primeiro quarto de hora (15 minutos) é marcado com uma pancada no sino pequeno, . meia hora (segundo quarto) é anunciada com tantas batidas quantas a da hora seguinte, também no sino pequeno, . aos três quartos (45 minutos) ouve-se uma batida no sino grande e . as horas são dadas no sino grande. Foi instalado e bento no dia 13 de dezembro de 1905, mas tudo indica que, antes dele, desde o século XVIII havia um relógio do sol no adro da Matriz do Pilar, no lado oposto a um Cruzeiro da Paixão, ou da Penitência, citado por alguns autores.  Prova disso é que no dia 14 de outubro de 1845, o mestre pedreiro Cândido José da Silva recebeu da Irmandade do Santíssimo Sacra

São João del-Rei se enfeita, se perfuma, canta e se encanta para saudar sua padroeira

Tem coisa que não se sabe: foram os bandeirantes paulistas que, no primeiro raiar do século XVIII, trouxeram em primitiva imagem Nossa Senhora do Pilar para São João del-Rei ou foi a Virgem de Saragoza que os chamou e conduziu para este eldorado das terras são-joanenses? Não importa! Aqui os bandeirantes encontraram muito ouro nas betas, nas pedras que rolavam nas enxurradas, à flor da terra. Depois se foram, rumo a outros destinos e à eternidade do esquecimento. Seus nomes se apagaram no tempo, mas a santa que os guiou - ou que com eles veio, tanto faz - continua protetora, humilde, emblemática e excelsa na Matriz do Pilar de São João del-Rei. Hoje, 12 de outubro, a cidade se enfeita por ela, se perfuma por ela, se encanta por ela, canta por ela, cobre de flores andores e altares, salpica pétalas no chão que já foi dourado de pepitas. Hoje, em São João del-Rei, logo cedo, o sol despertou ao som de uma alvorada festiva. Banda de música, sinos, foguetes - É dia de festa! E duran

São João del-Rei, além do rei!

Em São João del-Rei, assim como a vida, a arte está em toda parte. Igrejas barrocas, pontes setecentistas, edifícios monumentais, jardins, sobradões imponentes, chafarizes, casarios, lampiões, largos e becos numa paisagem colonial delicada, pratarias, ourivessarias, imaginária, alfaias, tradição e religiosidade ímpares, consagrados compositores e música barroca original, da melhor qualidade. Mas engana-se quem pensa que o patrimônio cultural são-joanense é só isso. Não é! Há muita riqueza cultural em regiões da cidade que não integram o centro histórico, nos bairros periféricos e até na área rural que, por serem fruto, dizerem respeito e serem expressão da arte, do pensamento e da vida popular, injustamente não são devidamente valorizadas nem alcançam o merecido reconhecimento. Fora alguns poucos e dedicados pesquisadores, quem conhece bastante e é capaz de dimensionar a quantidade, a qualidade e a diversidade das tradições populares de São João del-Rei e da região? Mas apesa

Medonho, triste e tenebroso foi o dia em que o sol não deveria ter nascido em São João del-Rei

Os dois últimos minutos deste 4 de outubro, dia de São Francisco - quando São João del-Rei mais uma vez celebrou com grandiosidade e emoção a lembrança da morte do santo que era irmão da humildade e da natureza - fizeram saltar da internet para este almanaque a memória de um dia que, de tão barrocamente trágico e tenebroso,  o sol parece não ter nascido na terra onde os sinos falam. São João del-Rei, 24 de abril de 1985, de sol a sol, nas palavras e nas lentes do escritor, jornalista, ex-militante revolucionário, político fundador do Partido Verde e ex-deputado federal Fernando Gabeira. Mesmo que demore ou tenha interrupções, vale a pena insistir.

São João del-Rei, começo de outubro. Doçura, sorriso e orvalho na morte de São Francisco

Em São João del-Rei, seja de manhã, de tarde, à noite ou alta madrugada, é impossível passar diante da igreja de São Francisco e não se extasiar com tamanha beleza, imponência e grandiosidade. A visão majestosa do templo de paredes e telhado curvos, projetado por Aleijadinho na segunda metade do século XVIII, encanta até mesmo quem, íntimo daquela paisagem, cruza o belo largo cotidianamente. Seja religioso, crente ou ateu, a beleza todos adoram. Mas quem o vê por fora não imagina que ali dentro se cultua o pai da pobreza e da humildade, o irmão dos animais, da água, do sol e da lua, que teve impressas, por ação divina, no próprio corpo, as cinco dolorosas chagas vivas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta, aliás, é a primeira celebração anualmente ali realizada em honra ao santo: a Quinquena das Chagas de São Francisco de Assis. Tradição noturna bissecular, realizada de 12 a 17 de setembro, consta de cânticos, orações, reflexões e música barroca ( Domine ad adjuvandum, Veni Sancti