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Mostrando postagens com o rótulo tradição popular

Setembro é uma primavera de poesia e fé em São João del Rei

  Antes mesmo que chegue a primavera, a fé e a religiosidade florescem todos os dias do mês de setembro em São João del-Rei. Senhor dos Montes, Bom Jesus de Matosinhos, Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora das Dores, Bom Jesus dos Perdões, Chagas de São Francisco, Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora do Parto, Santa Teresa, São Miguel Arcanjo, Anjos Custódios - faltam dias ao calendário para acomodar tantas celebrações, que se dão por meio de novenas, tríduos, missas, procissões, rasouras, bênçãos, te deum's e outros barroquíssimos ritos litúrgicos e para-litúrgicos. Sinos de todas as torres, de quase todas as igrejas e capelas do centro histórico tocam várias vezes por dia; às 12 horas e às 6 da tarde um alto-falante, do alto da igreja das Mercês, entoa para toda a cidade uma prece musical à Rainha Mercedária. As bandas de música, as orquestras, os corais - cada um a seu modo, no horário próprio e no lugar certo - enriquecem o universo sonoro da cidade com antífonas, responsó...

São João del Rei tem saudades do tempo que não viveu!

O calendário da vida , em São João del-Rei, é regido pelas festas religiosas. O são-joanense tradicional, "legítimo" - como diziam (e ainda dizem!) os mais antigos quando querem testemunhar que algo  é 'o orignal e verdadeiro' -, medem o tempo pelos ponteiros de deus girando numa ciranda alegre e festiva de celebrações, que se sucedem pelo ano inteiro. De janeiro a dezembro. Pensando sob uma certa perspectiva, pode-se até mesmo dizer que o calendário religioso de nossa terra tem mais dias do que o calendário civil. Há pouco mais de um ano, a cidade de repente viu-se diante de uma nova realidade. A pandemia do coronavirus virou o mundo pelo avesso e, nele, São João del-Rei. Do dia para a noite, uma des-ordem se estabeleceu, tão perigosa quanto desconhecida e misteriosa, e qualquer deslize, inocente ou acidental; qualquer transgressão, deliberada ou por vontade própria, quase sempre tem levado ao que em toda parte é líquido e certo: à morte.  Mas aqui, não à morte como ...

Em São João del-Rei, São Jorge perde a cabeça, mas não perde a vergonha! E nem a pose!

Antigamente, em São João del-Rei, no tempo em que nossos pais viviam a infância, certamente fazia parte do universo deles a mula-sem-cabeça: aquela figura imaginária e muito temida, que andava a horas mortas pelos locais ermos, nas noites da quaresma. Seu tropel, ora lento e bem compassado, ora veloz e desritmado, era percebido pelo bater de seus cascos no calçamento das ruas, e do mesmo modo que surgia, desaparecia, no silêncio, ao longe.  Fora a estória de uma ou outra alma penada, em um corpo decapitado, vagando pela noite à procura de sua cabeça, cortada por castigo, vingança, cobiça, inveja, ira - ou simplesmente por crueldade - em São João del-Rei, sempre que se falava (e ainda hoje quando se fala!) que alguém perdeu a cabeça, na maioria das vezes é para justificar desaforos, adultérios, crimes passionais, e até mesmo assassinatos. Mas neste domingo por volta do meio-dia, passando pela lateral direita da igreja do Carmo, uma cena incomum chamou minha atenção: São Jorge deca...

Marmelada com canela. O doce caminho para a morte na velha São João del-Rei

Pela formação colonial-barroca da cultura são-joanense, mesmo sob a ilusória égide da temperança, da serenidade e da discrição mineira, aqui em São João del-Rei tudo é exacerbado, extremado, monumentalizado. Independentemente se são o idílio ou o inferno, o sagrado ou profano, o luto ou o gozo, a alegria ou o sofrimento. Quando não as duas coisas ao mesmo tempo. Porta de entrada deste mundo para o outro, a Morte é um eixo importante e presente em quase todas as manifestações culturais são-joanenses, sejam elas expressões coletivas, celebradas no mundo da rua, ou vivências individuais, que acontecem entre as paredes cobertas pelo telhado de um lar. No primeiro caso, como em geral são ocasiões festivas, programadas para a coletividade rememorar, viver ou reviver situações simbólicas, consagradas e preservadas como tradição, o passar do tempo não foi suficiente para modificá-las tanto. Isto porque,  mesmo veladamente ou inconscientemente, elas têm uma finalidade - e até mesmo u...

Isolamento social & resgate cultural em São João del-Rei no Dia de Santa Cruz

Isolamento social é sinônimo de resgate e produção cultural? Por que não? Em São João del-Rei, com toda certeza, pode ser sim! Herdeiro e agente de um incalculável e inesgotável tesouro cultural, a quarentena a que vive 'a terra onde os sinos falam' só é tediosa e improdutiva para o são-joanenses que isso quiser. As horas vagas - e são muitas! - podem ser o tempo que se precisa para relembrar, rememorar, resgatar, reaprender e reavivar o saber, o fazer e o viver que são a essência, a magia, o encantamento e a alma do povo de cá. Daqui a alguns dias será 03 de maio - Dia de Santa Cruz. Uma data muito significativa no calendário religioso-cultural de nossa cidade, quando era costume comum enfeitar de flores ou papel de seda colorido repicado uma pequena cruz de madeira,e  pendurá-la  na porta principal ou na fachada, como elemento de fé e de identificação entre os iguais. Mas a movimentada rotina dos novos tempos foi aos poucos diluindo este hábito, que embelezava tanto a ...

São João del-Rei, em festa, "põe nas coisas as cores que tem por dentro"

Não é sem motivo que muitas comemorações religiosas de São João del-Rei são popularmente chamadas de festas. Afinal, mesmo sendo eventos quase cotidianos no calendário sociocultural da cidade, são "fenômenos" extraordinários, que funcionam como parêntesis na rotina e criam uma nova territorialidade tempo/espaço no dia a dia dos são-joanenses. Sobretudo daqueles que vivem intensamente ou acompanham de perto tudo o que acontece no centro histórico da velha cidade, surgida no alvorecer do século XVIII. Assim como as festas sociais, inclusive as predominantemente profanas, as festas religiosas também são precedidas de desejo, espera e expectativa. Elas são como ponteiros de um relógio memorável, que marca a passagem de um tempo existencial. Para o povo daqui, essa marcação, por ser subjetiva, é mais precisa, importante e acreditada do que a sucessão das estações do ano, que informam quantas voltas a Terra já deu e em que posição ela se encontra no seu giro em torno do sol. ...

A Paixão segundo São João (del-Rei)

Quem anda com o coração aberto em São João del-Rei colhe e recolhe imagens vivas de puro sentimento. Oportunidades de rever a vida e entender que a existência humana é breve e passa. Dela, restará viva apenas alguma lembrança, por algum tempo. Este poema é um retrato, tirado no entardecer de hoje (19/07), na Rua das Flores. Fará parte do livro A Paixão segundo São João (del-Rei) , quando ele vier a ser publicado. XIV Estação - Procissão das Lágrimas Está doendo demais! , gritava a mulher negra aos prantos, amparada por dois homens negros, silenciosos. Dos olhos dela desciam rios caudalosos, ladeira abaixo, pelo beco, até a encruzilhada onde às vezes se encontram o Espírito Santo, Nossa Senhora do Rosário e Santo Antônio. A tarde fugia, o sino tocou Ângelus, mas nada adiantou. Nenhum dos três veio trazer alento, obedientes ao que, no Velho Testamento, pregou o profeta Jeremias: "Grande como o mar é tua dor. Quem poderá te consolar?" A tarde caiu mais um pouc...

No Dia de Santa Cruz, descubra uma Arca da Aliança em São João del-Rei

Quem passeia por São João del-Rei, e não apenas pelo centro histórico, vê inúmeras cruzes espalhadas pela cidade, sejam os monumentais e bicentenários cruzeiros da Penitência, sejam as grandes cruzes de madeira ou ferro fincadas na pedra ou plantadas nos jardins ou  sejam, ainda, as pequenas cruzes penduradas nas portas de muitas casas. Todas elas ganham muitas flores e muitas cores no dia 03 de maio - Dia de Santa Cruz. Antigamente a tradição de ter cruzes na porta de casa e enfeitá-las com flores naturais, flores de papel crepom ou mesmo apenas com papel de seda colorido repicado para marcar a passagem do terceiro dia de maio era mais viva e se fazia presente do Bonfim ao Senhor dos Montes, do Tejuco a Matosinhos, mas hoje ela está mais esparsa. Perdemos a graça de ritualizar os dias para marcar de felicidade a passagem do tempo, assim como estamos desaprendendo a colorir o mundo em que vivemos e, por isso, não ensinamos mais este segredo às novas gerações. Mas nos últimos...

Ah! Estes doces e inocentes mistérios de São João del-Rei...

Em São João del-Rei, os santos são amigos. Gostam de se encontrar, de conversar e matar a saudade, nem que para isso seja preciso se desculpar com o bispo, desobedecer o pároco, contrariar as irmandades e até mesmo a vontade do povo, como às vezes acontece. Quando resolvem colocar debaixo do braço auréolas e santidades, para sair do sério, basta apenas a oportunidade de uma procissão. Nestes dias, esperam somente o cortejo atravessar um largo e dobrar duas ou três esquinas para rapidamente recolherem do céu as estrelas e jogarem das nuvens um bom pé-d'água. Pode ser até que ele passe depois de alguns minutos, mas até que isto aconteça, o  povaréu já se dispersou. As irmandades encurtaram o caminho e os ilustres carregadores do andor, de lanternas e do pálio protetor da autoridade eclesiástica tomaram o rumo da igreja mais próxima, onde o santo - que estava a passear em procissão pelo centro his...

Alegria, confete, folia e serpentina. "Embolada" de blocos no Carnaval 2016 de São João del-Rei

Impossível duvidar: o espírito do povo de São João del-Rei é barrocamente celebrativo e prova disto é o gosto das pessoas desta terra por manifestações coletivas que se concentram em largos e depois se arrastam pelas ruas, como por exemplo procissões, desfiles, cortejos, cordões e coisas assim. É por este espírito celebrativo que o Carnaval de São João del-Rei sempre ultrapassa os tradicionais três dias de folia e em 2016, mesmo sem o brilho insubstituível das escolas de samba, durará nada menos do que 18 dias, ou seja, mais do que duas e meia semanas de alegria. Serão 47 blocos na rua, com nomes tão sem noção que até se embaraçam nesta segunda embolada. Quer ver? Bora, à Zero Hora , tomar Birinight no Alambique , curtir Block'n Roll  até a Alvorada chegar , na maior e mais alucinada  Tacofolia ? Ora, esquece que você tem  Copo Sujo e Banda Mole , é Lesma Lerda e vive na lama do maior Pantanal .  Anima, vamos lá, Deixe o Mundo Girar  até ficar tont...

Em São João del-Rei, presépios são herança sentimental, ora se desbotando pelo tempo...

São João del-Rei é muito fiel às suas tradições, sobretudo àquelas espontâneas e singelas, impregnadas de emoções genuínas, ingênuas e desinteressadas. Em poucas palavras, às que expressam emoções simples e muito autênticas, impulsionadas por elos de cuidado, afeto e lembranças. Como por exemplo o Natal. Literalmente, à sombra da Serra do Lenheiro Jesus nascia em humildes presépios todo dezembro, tanto nas igrejas suntuosas igrejas quanto nas casas mais pobres, abrigado por grutas de papel armado ou estrebarias cobertas com palha ou capim, encimadas pela Estrela Guia, de cinco pontas e com sua curva calda, pendendo para a direita, ou pelo anjo celeste, com sua fita " Gloria in excelsis Dei ". Junto da manjedoura, além de José e Maria, alguns animais, pastores com seu mínimo rebanho e os três Reis Magos, que após o dia de Natal, pouco a pouco iam sendo aproximados do Menino, o que só acontecia de fato no dia 6 de janeiro. Nas casas, montar o presépio era uma solenidade. ...

Ora iê iê ô, Oxum! Ora iê iê ô, São João del-Rei!

São João del-Rei nasceu do ouro. Foi este metal dourado que - assim como a Estrela Guia levou os Reis Magos até a gruta de Belém - atraiu os bandeirantes, os aventureiros, os forasteiros e o poder português, fazendo brotar aqui o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Aqui o ouro foi esplendor que reluz até hoje... Se o ouro foi a semente fértil do velho Arraial, São João del-Rei é, também, filha de Oxum - yabá das mais belas e nobres das religiões brasileiras de matriz africana. Oxum é a essência feminina em sua forma mais delicada, encantadora, amorosa, maternal. Rainha, é dona do ouro e de tudo o que é dourado. Mulher, é mãe da infância e da doçura. Natureza, vive na água doce que cai em cascatas e cachoeiras. Etérea, é senhora do dia e da noite de astros brilhantes. Talvez por desconhecimento deste laço original e pelos rumos que historicamente tomou a presença negra nesta região, em São João del-Rei não se realizam homenagens coletivas a Oxum. Seu cul...

Valei-nos Nossa Senhora do Rosário! Sorri com bondade para os congadeiros de São João del-Rei

Mesmo ficando meio à margem da cultura oficial são-joanense, algo como o primo pobre das nobres tradições coloniais, o congado, ou congada, como alguns preferem, é uma manifestação cultural forte em nossa região, principalmente nos bairros mais afastados e nos distritos de São João del-Rei. Não se precisa de nenhum esforço para entender porque isto acontece: basta relembrar a condição social do povo que introduziu este produto cultural na região: negros africanos, escravizados, que viviam à margem do sistema político-social. Na economia eram apenas a força bruta; para a religião vigente, no começo havia dúvida se sequer tinham alma. Ainda hoje ainda não são os negros são-joanenses que possuem visibilidade destacada na sociedade local que compõem os grupos de congado. Congado exige alma negra, exige fé autêntica e natural, exige crença, convicção e coragem. Se não for assim é folclore, folguedo, espetáculo e diversão. Mesmo que não se dimensione, a região de São João del-Rei tem...

Em São João del-Rei, a cultura popular vai para o bar. E não quer mais sair de lá!

Diferentemente da cultura erudita, que se pratica e se conserva em espaços consagrados, a cultura popular vive na rua, é do mundo. Mesmo quando não está a céu aberto, sua proteção pode ser o telhado de uma igreja humilde, de uma casa de gente simples, da lona de um circo ou de uma barraquinha de quermesse. Até o mercado e o bar servem de teto para a cultura popular. Em São João del-Rei, apesar da modernidade que tomou conta dos espaços de convivência mais desfrutados pelos homens, em alguns bares, antigamente chamados botequins,  ainda se encontra o ambiente simples, mas culturalmente muito rico, de outros tempos. Tudo autêntico: uma imagem ou um quadro do santo protetor daquela casa, mais comumente os guerreiros São Jorge e São Miguel, ou das muitas invocações de Nossa Senhora, principalmente a de Aparecida, a das Mercês e a do Carmo, resgatando as almas que queimam em chamas ardentes. Santo católico não bebe, não come, mas em compensação sua presença não ocupa espaço nem...

A estrela de Davi, a Epifania e os Reis Magos em São João del-Rei

Por mais que se pense conhecer a riqueza cultural de São João del-Rei, constantemente uma antiga, mas impensada, prática cultural se mostra, revelando que a memória da cidade é imensurável e inesgotável. No conjunto das manifestações religiosas do ciclo natalino, é tradição, no dia seis de janeiro - Dia dos Santos Reis - as pessoas escreverem, no lado de dentro da porta principal de suas casas, o nome dos três reis magos do Oriente que foram ao encontro de Jesus recém-nascido: Gaspar, Baltazar e Belchior (ou Melchior). Esta prática é conservada principalmente pelas pessoas mais velhas e em alguns casos inclui até o desenho de uma estrela de seis pontas - a estrela de Davi - entre os mais simples conhecida como "cinco Salomão" (signo de Salomão). É possível que este símbolo judaico tenha a intenção de lembrar a estrela de Belém, que guiou os magos em sua longa jornada pela noite escura. O que nem todo mundo sabe é que tal inscrição (nomes e símbolos), para ter efeito p...

Bendito e louvado sejam as folias, pastorinhas, congadas e catupés de São João del-Rei

Ninguém duvida da riqueza cultural de São João del-Rei. Principalmente das tradições barrocas que, herdadas do século XVIII, permanecem vivas, nas mais diversas formas de expressão: ofícios religiosos, música barroca, ricas procissões, toques de sinos, tapetes de rua e muitas outras atividades que preenchem de som, perfume e cor os 365 dias do ano de quem vive às margens do Córrego do Lenheiro. Mas existem algumas manifestações culturais que, paralelas ou periféricas às grandes celebrações litúrgicas, ainda são pouco conhecidas - e por isto mesmo pouco reconhecidas - pelos próprios são-joanenses. Entre estas, estão as folias, pastorinhas e congadas, que se apresentam por ocasião do Natal, Santos Reis Magos e São Sebastião, em janeiro, Divino Espírito Santo, em maio / junho, e Nossa Senhora do Rosário, por todo o mês de outubro. Em algumas situações, as folias e congadas podem ser vistas no centro histórico da cidade, mas seu território forte são os bairros e alguns dist...

Medos, segredos e mistérios do agosto na velha São João del-Rei

Antigamente, agosto era o mês mais temido pelo povo de São João del-Rei. Com seu céu pesado e opaco, com seu tempo brusco e suas ventanias, o oitavo mês do ano inspirava, aos são-joanenses do começo do século XX, quase tanto medo quanto a Quaresma. Isto porque acreditavam que nos 40 dias de jejum e sofrimento de Jesus, o Coisa-ruim, com permissão divina, estava solto na terra para tentar também os homens. E com suas ciladas, embustes, armadilhas, pactos e ilusões, desviá-los do bom caminho para por a perder suas almas... E pensavam que em agosto o perigo vinha do desconhecido e do acaso, das forças misteriosas e ocultas que regem a essência da natureza, gerando ameaças e provocando desastres de toda ordem. Nas águas dos rios e das lagoas, nos caminhos e nas estradas, nos abismos e precipícios, com fogo, objetos cortantes, animais peçonhentos e até mesmo com cachorros zangados. Loucura, envenenamentos, enforcamentos, afogamentos, suicídios e assassinatos também faziam parte deste...

Cruz enfeitada: lembrança desbotada pelo tempo na paisagem colonial de São João del-Rei

Três de maio é o Dia da Santa Cruz - uma data comemorativa outrora muito marcante no calendário religioso de São João del-Rei. Entretanto, nas últimas décadas, uma bela tradição relativa a este dia praticamente desapareceu da área urbana são-joanense, principalmente no centro histórico: a colocação de cruzes enfeitadas na porta das casas. Geralmente adornadas com flores naturais (crisântemos pequenos, em São João del-Rei antigamente conhecidos como "monsenhor") ou de papel crepom, ou simplesmente cobertas com papel de seda repicado, eram adereços coloridos que - em contraste com as portas azuis, vermelhas, verdes, cinzas, amarelas ou marrons - davam viva alegria à paisagem colonial de nossa cidade. As cruzes enfeitadas ficavam nas fachadas até que se desbotassem pela exposição ao sol, à chuva e ao sereno do inverno, que em São João del-Rei já começa forte nesta época do ano. Funcionavam como a guirlanda natalina, porém pendurada na porta no terceiro dia de maio, como d...

Encomendação de Almas entrega música e oração aos mortos na noite de São João del-Rei

Tradição bicentenária de São João del-Rei, mantida com grande mistério até os dias atuais, as Encomendações de Almas são cortejos que, em hora próxima da meia-noite, percorre várias ruas da cidade, parando sete vezes em encruzilhadas, portões de cemitérios, cruzeiros e portas de igreja. Realizadas exclusivamente no tempo da Quaresma, por ocasião da Festa de Passos, podem acontecer em três sextas-feiras consecutivas ou em uma única semana, em dias alternados - segunda, quarta e sexta-feira. Lembrando rituais muito antigos, mais se parecem com enterros noturnos do que com procissões. Não é conduzida por padres, mas por um homem mais velho, respeitável e respeitado por todos, que puxa o terço durante todo o trajeto e, nas sete paradas de cada Encomendação, faz orações - ora em latim, ora em português -, como a chamar as almas e entregar-lhes cantos, lembranças, lamentos e orações. Nestas horas, ouve-se o bater da matraca e músicos executam os Motetos dos Passos, compostos há...

São João del-Rei, a caráter, alegremente, abre alas para o Carnaval de Antigamente

Um dos momentos mais aguardados da festa de Momo em São João del-Rei é o entardecer do domingo de Carnaval. Nele, no cenário setecentista do Largo do Rosário, sob o olhar distante da lua nova e vespertina, a alegria dá piruetas com a folia, voltam cem anos no tempo e trazem para a rua o Carnaval de Antigamente. A banda, centenária, sopra em seus metais marchinhas da infância de nossas avós, e à frente dela, a pé, no colo, no ombro, em carrinhos de bebê, vão foliões de todas as idades. Todos com sorriso no rosto, encantamento nos olhos, felicidade no peito e aceno nas mãos. Namorados, amigos, casais, pais e filhos, vizinhos, desconhecidos, o bloco do eu sozinho... Salpicadas aqui e acolá, fantasias sentenciam que é Carnaval: palhaços, pernas de pau, bailarinas, arlequins, colombinas, piratas, espanholas, mágicos, ciganinhas, toureiros, acrobatas, havaianas, borboletas, joaninhas ... Chovem confetes, relampeiam serpentinas. Cores se movem pelo ar. À frente de tudo, abrindo alas, vã...