A música chegou em São João del-Rei em 1717 - antes do Conde de Assumar - e desde então fixou residência na cidade. Hoje, quem tem olhos abertos e ouvidos apurados, sabe: ainda não reconhecida nem valorizada em toda sua amplitude, a sonoridade é a grande característica de São João del-Rei. Nesta sonoridade incluem-se, além da produção musical erudita e popular, o toque dos sinos, o apito da Maria Fumaça, o som da banda militar em sua marcha matinal, os concertos e apresentações ao ar livre, o apito - quase afogado e desaparecido - das fábricas de tecido.
Ninguém duvida que a música barroca é um dos mais ricos patrimônios culturais de São João del-Rei. É ela que preenche todos os espaços das festas religiosas, dando ambiência a novenas, missas, procissões, via-sacras, encomendação de almas e um sem-fim de solenidades só existentes naquela cidade. Entretanto, a música popular também faz parte da cultura são-joanense. E não é de hoje!
Estudos acadêmicos baseados em pesquisas na imprensa local no século XIX mostram que, já naquela época São João del-Rei, em suas periferias, era palco de muitos e muito animados batuques e cateretês. Alguns até com a presença de autoridades masculinas que escandalosamente se esbaldavam nas atrevidas e irreverentes umbigadas.
A musicalidade erudita de São João del-Rei é consagrada e cada vez mais se fortalece e se perpetua, não só nas cerimônias religiosas mas também nos inúmeros concertos e recitais que continuamente se repetem como parte do dia a dia da cidade.
Os sons típicos, alguns continuam e ecoam mais fortes; outros rumam para o silêncio, dependendo do impacto positivo ou negativo que sofrem das transformações urbanas, econômicas e sociais a que, de algum modo, estão ligados.
Já a música popular local resiste, persiste e esforça-se para ampliar seu território, o que é facilitado pela espontaneidade e relativa alegria dos são-joanenses. Sambistas que, surgidos desde a metade dos anos cinquenta, por muitas décadas foram a alma do carnaval de São João del-Rei, até hoje são lembrados e reverenciados, apesar de muitos deles já estarem do outro lado, "cantando em outro terreiro".
Prova disto é o projeto Samba na(s) Praça(s), que um sábado por mês leva à noite o povo de São João del-Rei para uma praça histórica, para saudar, com cantos e palmas, grandes sambistas do lado de cá e do lado de lá da Serra do Lenheiro. Como os organizadores afirmam, eles "não deixam o samba morrer, não deixam o samba acabar!". Graças a Deus...
Comentários
Postar um comentário