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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

São João del-Rei, a caráter, alegremente, abre alas para o Carnaval de Antigamente

Um dos momentos mais aguardados da festa de Momo em São João del-Rei é o entardecer do domingo de Carnaval. Nele, no cenário setecentista do Largo do Rosário, sob o olhar distante da lua nova e vespertina, a alegria dá piruetas com a folia, voltam cem anos no tempo e trazem para a rua o Carnaval de Antigamente. A banda, centenária, sopra em seus metais marchinhas da infância de nossas avós, e à frente dela, a pé, no colo, no ombro, em carrinhos de bebê, vão foliões de todas as idades. Todos com sorriso no rosto, encantamento nos olhos, felicidade no peito e aceno nas mãos. Namorados, amigos, casais, pais e filhos, vizinhos, desconhecidos, o bloco do eu sozinho... Salpicadas aqui e acolá, fantasias sentenciam que é Carnaval: palhaços, pernas de pau, bailarinas, arlequins, colombinas, piratas, espanholas, mágicos, ciganinhas, toureiros, acrobatas, havaianas, borboletas, joaninhas ... Chovem confetes, relampeiam serpentinas. Cores se movem pelo ar. À frente de tudo, abrindo alas, vã

No Carnaval de São João del-Rei, feito de sonho e ilusão, qual é a sua fantasia?

Brincar o Carnaval. Esta expressão era o que mais se ouvia em São João del-Rei há até mais ou menos trinta anos atrás, quando chegava o mês de fevereiro. Agora, não se usa mais, caiu em desuso este modo falar. Apenas ' vou para o Carnaval ', se diz. Sequer cordão, farra e folia... E não vai aqui qualquer saudosismo ou nostalgia. É assim, e pronto! Naquele tempo, na verdade, o que se fazia no Carnaval era brincar, num faz de conta em que tudo se podia: o bancário ser sheik , a cozinheira odalisca , o farmacêutico pierrô , a escriturária colombina , o pedreiro arlequim , o carteiro Mandraque , a balconista havaiana , o relojoeiro pirata , a empregada doméstica  trapezista , o açougueiro bebê-chorão , a "mulher da vida" dama antiga , o pai-de-família palhaço , a mãe-de-família melindrosa , o desempregado mandarim , o caixeiro Maciste , a professora fada madrinha , o escoteiro Peter Pan , a estudante meiga oncinha , o comerciário Nega-maluca , o funcionário da P

Sabedoria de São João del-Rei encanta. Tanto pelo que mostra quanto pelo que esconde...

Na ancestralidade da história de Minas, raiar do século XVIII e infância desta terra, o ouro em São João del-Rei qual gabiroba era catado à flor da terra. Cada pepita brilhando à luz do sol, como num milagre, reluzia de eternidade uma semente do espírito de Minas. O cobiçado metal exauriu-se, mas a semente brotou, floresceu e frutificou na forma de um "sigiloso desafio", como tão bem interpretou o célebre são-joanense Otto Lara Resende. Aliás, Fernando Sabino, na crônica Mineiros por Mineiros , jura ser de Otto um "causo" que bem mostra a sabedoria que subjaz nos códigos diários embaçados pela fumaça das cozinhas e pela sombra cheirosa dos velhos quintais são-joanenses. Conta a estória que certo rapaz, em visita a uma casa amiga, quatro vezes foi convidado a jantar e quatro vezes recusou a oferta. Somente depois deste último não a dona de casa providenciou mais um lugar à mesa. Terminada a refeição, a sobremesa, o licor, o café e a conversa, despediu-se o ra

Lembrando os antigos carnavais, São João del-Rei pode rimar alegria e folia com soberania e cidadania!

Não são só a lembrança e a saudade dos são-joanenses mais velhos que dizem. Fotografias, panfletos, jornais antigos, marchas-rancho e sambas testemunham como era singular e grandioso o Carnaval de São João del-Rei por quase oito décadas no século XX. Esta fotografia, de 1923, mostra como era aristocrático, respeitado, elegante e refinado o Club X - no estandarte identificado como X PTO.  O Rancho Carnavalesco Custa Mas Vae,  na marcha-rancho composta em 1929, para servir-lhe de hino, esnobou lirismo, erudição e conhecimento da mitologia grega para exaltar uma das mais antigas agremiações carnavalescas de São João del-Rei. Seu compositor, J. Colombiano, vulgo Collombo, assim escreveu:                 "Como estrela a cintilar                   a luzir lá no céu / sempre azul.                   Tal é o Custa Mas Vae                   rivalizando com o Cruzeiro do Sul.                                Phebo morre de ciúmes de ti                                 porque brilhas

Ti-ti-ti da alegria com a morte? Só mesmo no Carnaval de São João del-Rei...

Em São João del-Rei, quando o assunto é Carnaval, a alegria não escolhe lugar.  Insubordinada na sua emoção despreocupada e expansiva, ignora restrições, subverte convenções, extrapola limitações - toma conta de todos. Em toda parte... Democrática, dialoga com todos, rompendo barreiras possíveis e inimagináveis. E nem espera a chegada de Momo. Mal janeiro vira as costas, largos, praças, cantos, becos viram campos de artilharia das baterias de escolas de samba. Nem o Largo do Carmo, com sua pompa e circunstância, escapa.  Pelo contrário, é exatamente no portão do solene e altivo Cemitério do Carmo que uma bateria se instala. Dali, do por do sol ao primeiro cantar do galo, vibra suas caixas, surdos, metais e chocalhos, hipnotizando em frenesi o requebrar alucinante das mulatas, o gingar gracioso das cabrochas, o deslizar dolente das pastoras, o gira-girar rendado das baianas. Toda noite. Tudo com o maior respeito. Quem disse que a alegria não combina com a lembrança e co

A eterna rainha do Carnaval de São João del-Rei

A verdadeira rainha do Carnaval de São João del-Rei não desfila na passarela. Não se agita com a batucada, nem repete o requebrado dos becos tortos e das vielas estreitas. Não se perturba com os delírios nem desvairios da carne pulsante e ardente. Soberana e serena, olha tudo do alto, com seu fino diadema de prata, destacando no manto azul. Dizem que ela é nova, mas sua idade, ninguém sabe. O que se sabe é que ela chegou por aqui muito antes dos primeiros bandeirantes que vieram em busca do Eldorado. Que ela viu nascer o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, assistiu aflita a Guerra dos Emboabas, testemunhou o batismo de Tiradentes, o casamento de Bárbara Eliodora, a chegada da estrada de ferro, a passagem de Dom Pedro, a partida dos soldados são-joanenses para a guerra, entre tantas coisas que aconteceram nestes trezentos anos. Na euforia, na sedução, na lascívia e no torpor do Carnaval, pouca gente vê quando a lua nova, por volta das seis da tarde do domingo, segunda e terça

Velhos carnavais. São João del-Rei, 1929: "um enorme, tonto, doido e alegre inferno"

A tradição do Carnaval em São João del-Rei começou nas últimas décadas do século XIX, semeada pelos entrudos, que mais tarde possivelmente deram origem aos blocos de sujos e zé-pereiras. Na virada do século XX, mais precisamente no domingo de Carnaval 17 de fevereiro de 1901, aconteceu na cidade um baile a fantasia, promovido pela notável Sociedade Filarmônica Sanjoanense. A música, em sua maioria valsas, esteve a cargo da Orquestra Ribeiro Bastos e a chegada dos foliões, fantasiados ricamente e a caráter já era uma atração para o povo, que esperava em frente à sede da Filarmônica aquele desfile incomum. Mas a década de 1920 despediu-se de São João del-Rei com um Carnaval grandioso. Em 1929, conforme divulgado no tablóide O Carnaval , editado pelo comércio local com tiragem de10 mil exemplares (a população são-joanense ficava na casa dos 20 mil habitantes), a farra de Momo foi descrita assim: "... As duas magníficas avenidas, separadas pelo rio, formam como uma enor

Sinos de São João del-Rei. "Sentinelas Sonoras" de meu coração

No crepúsculo de 2013, como mais um presente pelos 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes a Vila de São João del-Rei, nossa cidade recebeu um presente tão valioso quanto raro. Um inventário e uma radiografia daquela que é uma das mais singulares manifestações culturais de Minas e do Brasil - as vozes de bronze que do alto das torres, em linguagem muito antiga, desde o século XVIII conclamam para o regozijo e para o pranto: os sinos de nossa terra.  Quem presenteou foi um homem nobre e digno, a quem a cidade muito deve, pelo tanto que ele contribui, com produção intelectual e tecnico-arquitetônica para a preservação do patrimônio de São João del-Rei - o arquiteto André Guilherme Dornelles Dangelo, ou simplesmente André Dangelo. - Mas, afinal, o que foi este presente tão badalado? - Ora, o livro Sentinelas Sonoras de São João del-Rei ! O livro é, pode-se dizer, a mais completa e detalhada obra já produzida sobre os sinos de Sã

São João del-Rei. Sempre São João del-Rei! Salve São João del-Rei!

Não são poucos os que, olhando a São João del-Rei de hoje, suspiram, pesarosos.  Que com olhar distante, perdido no horizonte, lamentam os casarões e palacetes erguidos nos séculos passados que foram demolidos nos últimos 75 anos, dando um ritmo arquitetônico alternado e incomum a diversas áreas do nosso espaço urbano. E, nostálgicos e pessimistas, sentenciam: "É uma pena; não tem mais jeito! O Almanaque Eletrônico Tencões e terentenas pensa diferente. Quando vive a cidade fisicamente, ou a mira virtualmente, enche o peito e pensa: "Como é belo, rico e importante o muito que ainda existe em São João del-Rei! Como, nos últimos tempos e a cada dia, mais nosso patrimônio se fortalece, ganha visibilidade positiva e responsável, conquista garantia de perpetuidade e proteção, recebe zelo, cuidado e dedicação de vários setores da sociedade são-joanense! Na última semana, duas menções na imprensa - uma no jornal local Gazeta de São João del-Rei e outra no canal nacional Glo