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Mostrando postagens de julho, 2013

Poética anotação - São João del-Rei: a cidade & sua história

Há vinte anos, por ocasião das comemorações do 30º aniversário do Museu Regional de São João del-Rei, colaborei na elaboração de um projeto cultural que, além de um ciclo de palestras, lançamento de um carimbo postal e realização de duas exposições - Painéis da Inconfidência , do artista plástico Fernando Pita, e Povo da Terra , do multiartista são-joanense Marcos Mazzoni, previa também o lançamento de um folder sobre a instituição homenageada. Dividida em três blocos, a programação durou quatro meses: começou no dia 11 de agosto de 1993, com a primeira palestra, e encerrou-se em 6 de dezembro, com o carimbo e a segunda exposição. Para compor o folder e para o painel de abertura da segunda exposição, do são-joanense Mazzoni, que reproduzia em esculturas de cerâmica personagens populares da história de São João del-Rei a partir da segunda década do século XX, até os anos 90, criei o seguinte texto: São João del-Rei: a cidade & sua história Sob as luzes e o esplendor do sé

Lincoln de Souza: ouro de São João del-Rei que refulgiu aquém e além da Serra do Lenheiro

Quando nasceu o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, em 1704, o ouro brotava à flor da terra, às margens do riacho e nos cocurutos da Serra do Lenheiro, entre cascalhos, quartzos e raízes, abrindo trilhas que, pouco tempo depois, em 1713, viraram ruas da nascente e fulgurante Vila de São João del-Rei. Metal precioso, o ouro esgotou-se. Mas do solo são-joanense continuou brotando outro ouro, ainda mais brilhante, fino e precioso: um povo cuja alma é iluminada pela fé, pela arte, pelo saber e pela cultura. Duvida? Quem percorre, nas noites de sábado, entre telhados, lampiões, sinos e torres, os largos, becos e ruelas,  igrejas e cemitérios do centro histórico de São João del-Rei, acompanhando o espetáculo itinerante Lendas São-Joanenses , não imagina que a estória fantástica do menino perdido que foi devolvido à família por Nossa Senhora, do defunto que o diabo levou para o nunca mais, da mãe morta que voltou ao mundo a pedir comunhão para o filho agonizante,

Festival Inverno Cultural São João del-Rei 300 anos - "Hoje é dia de el Rey" Milton Nascimento

No ano em que São João del-Rei comemora seus 300 anos como vila instituída a 8 de dezembro de 1713 pelo Rei Dom João V, a cidade não poderia receber melhor presente do que Milton Nascimento. De corpo, alma e música. Assim, duplamente abençoada será a próxima quinta-feira, 25 de julho, Dia de São Cristóvão. Nele, o próprio santo, dono dos caminhos, das estradas e travessias, trará por uma mão, o compositor de Travessia. No outro braço, São Cristóvão traz sempre consigo o Menino Jesus que, alguém já disse, se cantasse, seria com a voz de Milton Nascimento. O show será em uma geografia enigmática: nas imediações do local onde o Córrego do Lenheiro abraça e acompanha o Rio das Mortes, rumo a outros rios e ao mar. Quem sabe Milton Nascimento não é convidado a voltar à cidade, no anoitecer do dia 8 de dezembro - momento maior das comemorações dos 300 anos, para, depois da procissão de Nossa Senhora da Conceição, cantar, nas escadarias da igreja das Mercês? São João del-Rei merece!

2013 - Vila de São João del-Rei: 300 anos . Museu Regional de São João del-Rei: 60 anos

2013. No mesmo ano em que São João del-Rei celebra trezentos anos que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes ganhou o status de Vila, com o nome de São João del-Rei (a quarta instituída em solo mineiro), o povo são-joanense tem também mais um motivo para comemorar: os 60 anos do Museu Regional. Comparando os números, vemos que 60 é 1/5 de 300 - uma boa proporção quando a unidade é o tempo. O Museu Regional de São João del-Rei pertence ao Instituto Brasileiro de Museus, do Ministério da Cultura. Criado em 1963, em um dos mais belos edifícios coloniais oitocentistas de três andares da cidade e até do estado de Minas Gerais, representa e apresenta muitas conquistas histórico-culturais que se consolidaram ao longo destas seis décadas.  Uma delas é que deu destinação museológica para um casarão que nos anos quarenta começou a ser demolido, mas teve a obra interditada e foi tombado pelo SPHAN, o que possibilitou sua restauração e revitalização. Assim, tornou-se um

O universo fantástico de São João del-Rei: o Rio Jordão, a serpente e o castigo de Adão e Eva

Dentro de poucas horas, São João del-Rei já estará na glória do dia de Nossa Senhora do Carmo. Alvorada festiva, sinos dobrando, gente arrumada chegando no largo e na igreja, missas cantadas, adorações, horas santas, música barroca, procissão, estandartes, crianças vestidas de anjo, tapete de flores, banda tocando, cheiro de incenso, de pipoca, de beijo quente de coco e de amendoim, perfume forte de mulher no ar, foguetes ruidosamente estrelando de cores o luzeiro celeste. Tudo tal qual se fazia há quase três séculos, para agradar o Céu e a Terra. Com tanta intensidade, entusiasmo, fé, cor e luz, talvez não seja assim em nenhuma outra cidade. Tão antiga quanto a festa do Carmo - e envolvendo o magnífico templo - é uma crença que ouvi, na infância, de minha avó, Francisca Maria da Conceição (1898 - 1994). Nos idos anos 60, eu criança pequena ela me dizia que sua mãe jurava que sua avó contava que o Rio Jordão, onde Cristo foi batizado, corria debaixo da igreja do Carmo. Que na ca

Incêndio destruiu casarão histórico em São João del-Rei. Mas o amor ao passado não virou cinzas!

Há 18 anos, no dia 5 de julho de 1995, no começo do anoitecer, os sinos do centro histórico de São João del-Rei dobraram descompassados e aflitos. Não era o toque de Ângelus, nem chamada temporã para a novena do Carmo, nem brincadeira de sineiros. Era um aviso sinistro: aquela noite tenebrosa trouxe consigo um violento incêndio que em vorazes labaredas devorou o sobrado de esquina onde há mais de cem anos nascera o presidente eleito Tancredo Neves. Desacostumado deste tipo de desastre, o povo são-joanense, assistiu atônito o fogo alastrar-se, derrubando  abaixo sacadas, vidraças, beirais, platibanda, telhado, tijolos, cumeeira, ladrilhos - tudo, do que muita coisa já era cinzas quando soldados do Corpo de Bombeiros, vindos de cidades vizinhas, duas horas depois, chegaram ao pedaço do inferno em que se transformou o imóvel daquela torta encruzilhada O fato foi noticiado em tempo real pelo Jornal Nacional daquela noite e, no dia seguinte, era manchete, matéria ou nota nos princi

Novo sino do Carmo: São João del-Rei faz um convite irrecusável

São João del-Rei tem consciência da importância e do valor de sua riqueza cultural. Por isso a cidade vive a dar exemplos. Inclusive para si própria. A bênção, no domingo 14 de julho, do sino São Simão Stock, que fará par com o sino Santo Elias, substituindo a outro, antigo, que rachou de tanto uso, em uma das torres angulosas da majestosa igreja do Carmo da "cidade onde os sinos falam", é prova disso. A Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, zelosa de seu patrimônio, diante de um prejuízo causado pelo tempo em uma peça de seu patrimônio, não resignou-se à própria sorte. Assumiu a propriedade de tão importante signo da cultura nacional e não fugiu à responsabilidade de empreender todos os esforços necessários para preservá-lo. Por isso, generosamente partilhou o sentimento de pertencimento com a comunidade são-joanense, ao lançar uma campanha de doações financeiras, com intenção, sobretudo, participativa. Ao mesmo tempo saiu em busca de patrocínios público e privad

Festival Inverno Cultural 2013 São João del-Rei - Milton Nascimento, há 20 anos, "todo lugar é aqui"

Todo lugar é aqui - este é o tema do Festival Inverno Cultural de São João del-Rei em 2013. Não poderia haver saudação mais adequada para situar  um acontecimento nascido aqui qual o ouro de aluvião, que há mais de trezentos anos, nos idos de 1705, brotava à flor de terra, entre raizes de capim e quartzo, no Morro das Mercês e nas encostas da Serra do Lenheiro. Todo lugar é aqui . São João del-Rei tem dessas coisas. Desde sempre e até depois de tudo, traz em si o mundo inteiro. Tem praia e cais sem sequer ter mar. Faz o bronze falar pelas bocas e badalos de seus sinos. Transforma estrelas em  brancas e doces amêndoas de coco e traz o céu para o chão, em suas centésimas e tricentenárias procissões. E também leva para o mundo a expressão artística, principalmente por meio da música barroca e sinfônica, do povo são-joanense. Compositores e maestros conterrâneos, de ontem e de hoje, são conhecidos além dos limites de nosso país. Toques de sino tão criativos e sofisticados quanto os de

300 anos. Retrato de São João del-Rei na poesia de Carlos Drummond de Andrade

Lanterna Mágica - V - São João del-Rei                                 "Quem foi que apitou?                                   Deixa dormir o Aleijadinho, coitadinho.                                    Almas antigas que nem casas.                                   Melancolia das legendas.                                   As ruas cheias de mulas-sem-cabeça                                   correndo para o Rio das Mortes                                   e a cidade paralítica                                   no sol                                   espiando a sombra dos emboabas                                   no encantamento das alfaias.                                   Sinos começam a dobrar.                                   E todo me envolve                                   uma sensação fina e grossa.                                         Carlos Drummond de Andrade in Alguma Poesia (1930) Clique no link abaixo e ouça o toque de sinos a que se

300 anos . Retratos poéticos de São João del-Rei: Chafariz da Legalidade

                                              Chafariz da Legalidade *                                     " Secaram a água                                        na boca dos chafarizes.                                                                            B rotaram lágrimas                                       no fundo dos olhos . "                                                                                                 * Antonio Emilio da Costa,  no livreto inédito Ossuário Geral

Ajudada por sacis, Alexina Pinto rasgou cartilhas e revolucionou o ensino infantil em São João del-Rei

4 de julho é data que deveria ser escrita com algarismos de ouro no Livro de História da Educação em São João del-Rei. Nele, em 1870, nasceu a educadora Alexina de Magalhães Pinto , considerada a primeira folclorista do Brasil e precursora da utilização da cultura popular como recurso didático-pedagógico no processo de alfabetização infantil. Sua história de vida é sem igual, em São João del-Rei, em Minas Gerais e no Brasil. A começar pela viagem que, aos 22 anos, fez sozinha à Europa, para conhecer e estudar em centros culturais daquele continente. Em 1892, quando o século XX sequer tinha chegado, Alexina Pinto andava de bicicleta no centro da cidade e aplicava em salas de aula proposta educacional revolucionária, que rasgava a cartilha de alfabetização tradicional, substituía castigos por brincadeiras de trava-língua e trocava a temida palmatória por cantigas de roda . Como era de se esperar, tanta inovação e vanguardismo chocaram a conservadora sociedade provincian

Festa do Carmo. A fé abraça a festa. Em São João del-Rei, ser feliz não é pecado!...

De janeiro a dezembro, é difícil dizer qual mês é mais rico de tradição, fé e encantamento no sofisticado calendário religioso de São João del-Rei. Seja nas celebrações dolorosas, como a Festa de Passos e a Semana Santa, seja nas comemorações gloriosas, como as novenas e procissões em homenagem aos santos e às Nossas Senhoras - por todas elas o povo são-joanense nutre grande dedicação, empenho, zelo e cuidado. Profundo, intuitivo e devotado senso estético, faz com que tudo - música, flores, cores, perfumes, sabores, ritmos, calores - se aproxime do sublime e do divino, tornando as pessoas arrebatadas, enlevadas, alegres e felizes. Julho, por exemplo, é o mês da Festa de Nossa Senhora do Carmo. A partir do dia 7, por dez dias, missas, novenas barrocas, procissões, bandas de música, fogos de artifícios, toques de sino, barraquinhas de canjica branca e morena, pé-de-moleque e quentão, devolvem ao Largo do Carmo a vitalidade que aqueles arredores tinham há duzentos anos. Mesmo as pe