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Mostrando postagens de junho, 2013

300 anos - Retratos de São João del-Rei na poesia de J. Dangelo. Igreja de São Francisco

                    "Esta portada me fala                         dos pardos destas gerais.                       Com que metro, em que escala,                       com quantas dores e ais,                       com quanto sangue de escaras                       foram feitas estas lavras?                      E quem as teria lavrado                     sem força de mãos escravas?                     Que prumo usou o pedreiro?                     Que compasso e que esquadro?                     Quem foi o mestre-santeiro?                     Quem desenhou este adro?                     Aqui, Lisboa e Cerqueira                     sublimaram sua arte.                     Um riscou, outro interviu,                      cada qual fez sua partwe.                     Quando dois gênios se encontram                      Deus renasce no que fazem...                     Ai! Estes templos barrocos!                     Quanta alegria me trazem!                     M

A congada, a pluralidade cultural e a transformação social na São João del-Rei de nossos dias

 São João del-Rei é plural em sua cultura. Protegidas pela Serra do Lenheiro e vigiadas pelas torres imponentes das igrejas setecentistas, manifestações culturais diversas convivem pacificamente, se complementam formando um universo único, fértil, fecundo e enriquecedor para todas as formas de expressão. Sejam elas eruditas ou populares. Sagradas ou profanas. Tradicionais ou contemporâneas. Nativas, de origem européia ou africana. A realidade tem mostrado que, quanto mais a sociedade são-joanense evolui e amplia a visão que tem de si mesma e do mundo, mais valoriza a pluralidade, a multiplicidade e a diversidade cultural. E caminha rumo à universalidade. Em relação à congada, é isto o que está acontecendo. Tão antiga na região quanto a própria história de São João del-Rei e de Minas Gerais, esta forma de manifestação e expressão negra é realizada em nossa terra desde os tempos do cativeiro. Naquele tempo colonial distante era coisa de escravos, depois passou a ser vista como

300 anos - Retratos de São João del-Rei na poesia de J. Dangelo: Largo do Carmo

                            " Sob o olhar da baronesa                               e luzes, então acesas,                               desta Rua da Cachaça                               vejo a igreja e a redondeza.                               O alto portão de ferro                               do Cemitério do Carmo:                               me dispo de vaidades                               e, no limite das grades,                               vejo o chão de meu repouso.                                Vejo o pó de onde venho.                               Quero rezar, mas não ouso.                               Quero chorar, me contenho. "                                                                                             Jota Dangelo   

Cultura negra, congada e o rosário de tempo, de flores e lágrimas de São João del-Rei

A presença da cultura negra em São João del-Rei é tão forte que chega a ser imperceptível. Isto mesmo. Ela se confunde com a cultura de São João del-Rei, ou melhor, ela é a própria cultura de São João del-Rei. Sempre requintada e profunda, sagrada em suas várias vertentes, ela vai do erudito ao popular, do barroco ao espontâneo. Faz parte da vida, da alvorada ao anoitecer, da concepção à morte. Entretanto, por ser ela tão vital quanto orgânica, o tempo todo cotidiana, São João del-Rei ainda precisa conhecer e reconhecer a presença da cultura negra na composição de seu mosaico de tradições e no caleidoscópio de suas expressões culturais. Neste sentido, a Associação Cultural Casa do Tesouro - Egbê Ilê Omidewea Asè Igbolayo realizou, em maio passado o Encontro de Congadeiros das Vertentes e lança nesta segunda-feira, dia de São João, 24 de junho, o documentário Este rosário é meu . Com duração de 55 minutos, o filme é um registro antropolígico-afetivo do panorama da congada na reg

Era assim São João del-Rei, há 190 anos atrás: "um dos lugares mais animados do Brasil"

1823. Diminuído o brilho do ouro, já esgotado à flor da terra e escasseado nas betas e galerias, a vila de São João del-Rei florescia como um entreposto comercial de produtos vindos da capital do Império, Rio de Janeiro, e da Europa. Passara-se um ano do grito retumbante que "ouviram do Ipiranga as margens plácidas", libertando o Brasil de Portugal, quando observadores viajantes estrangeiros estiveram em São João del-Rei. O que viram na quarta vila instituída em Minas Gerais, em 1713, assim registraram: . Saint-Hilaire - " Depois que o Brasil se tornou independente e os habitantes de São João del-Rei renunciaram, ao menos em parte, a mineração, esta vila tornou-se centro de considerável comércio, que tende a aumentar com o tempo. " . Spix e Martius - " Quanto aqui é animado o comércio logo se vê pelo fato de fazerem quatro tropas, cada uma de 50 cargueiros, contínuas viagens para lá e para cá da capital anualmente, levando toicinho, queijos, algum t

300 anos - Retratos de São João del-Rei na poesia de J. Dangelo - Largo do Rosário

                                            " Rosário, tão branca e fria                         é sentinela postada                         que paciente vigia                         a Rua de Santo Antônio.                                                  O padre José Maria,                         de costas para a portada,                         fica olhando bem de frente                         para o solar dos Lustosa                         que curou dores de dente                         com a cera milagrosa.                         Já não há quem alivie                         as dores de minha sina:                         acabaram com a farmácia                         da velha dona Afonsina...                          Tancredo, ali, da sacada                          vê o seu próprio enterro.                          Morrer, talvez tenha sido                          o seu único erro...                         Ninguém seguiu seu conselho,      

Festival Inverno Cultural 2013 - Milton Nascimento nos 300 anos de São João del-Rei

    Uma palpitação, uma taquicardia, um sopro no coração de São João del-Rei. É assim que as águas correm sob as pontes seculares que se curvam de ponta a ponta sobre o Córrego do Lenheiro. É assim que sinos tocam, que maria fumaça e fábricas apitam, que foguetes espocam no céu de inverno, que bandas de música apressam o passo e o compasso de suas marchas. Tudo isto tem motivo. No presente, deve-se à irmandade que São João del-Rei selou com outras cidades brasileiras, nas manifestações e protestos que, no somatório, pedem dignidade cidadã, decoro político, justiça social, respeito cívico, simbolizados nas reivindicações imediatas e cotidianas. No futuro próximo, pela festa barroca de Nossa Senhora do Carmo e pelo Inverno Cultural, programações já incorporadas ao calendário pessoal e afetivo do povo são-joanense, na travessia de quase todo o mês de julho. E por falar em Travessia, em 2013 com a presença de Milton Nascimento. Esperança, entusiasmo, expectativa, esforço, enf

300 anos - Retratos de São João del-Rei na poesia de J. Dangelo - Rua Direita

               " As casas enfileiradas                   vigiam  rua e pessoas,                       com olhos de guilhotina.                  Entre uma esquina e outra esquina                  alguns sobrados se alteiam.                  No Pilar, ferem a retina                  esguias torres erguidas:                  o * Passos olha de quina                  o * Sacramento empinado.                  O adro me lembra a infância:                  coroinha endiabrado...                  Lá dentro a arte faz pouso                  em rebuscado desenho.                  Quero ter fé, mas não ouso.                  Quero rezar me contenho ."                                                                            Jota Dangelo                                                                                                                        * sino dos

São João del-Rei, em festa, dá vivas a Santo Antônio!

Há muito tempo Santo Antônio vive em São João del-Rei. Tanto que, dizem, a rua que responde pelo seu nome surgiu sobre o caminho pelo qual os bandeirantes entraram no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, atrás de ouro e muita riqueza. A casa de Santo Antônio é pequenina, delicada e graciosa. Mais parece um oratório barroco do que uma capela. Entre jasmineiros e jaboticabeiras, o santo de Pádua que carrega o Menino Jesus sorridente, sentado em seu braço, é vizinho da centenária Banda Theodoro de Faria e das bicentenárias Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos. Especialmente hoje, os casarões e sobrados da Rua Santo Antônio estão enfeitados para saudar o santo padroeiro que por ali passeia todo dia 13 de junho, depois que o sol vai se deitar do outro lado da Serra do Lenheiro. Colchas rendadas, toalhas bordadas, cortinas de linha, vasos de plantas, jarros de flores - tudo nas janelas de uma rua sinuosa, estreita, poética e muito musical. A fachada de m

Beco do Capitão do Mato: atalho entre o Céu e o "Inferno" na São João del-Rei colonial

Desde seu planejamento urbanístico original, esboçado na segunda década do século XVIII, São João del-Rei aviva antagonismos urbanos próprios do espírito barroco, aqui muito fecundo. A própria geografia local, com seus montanheses altos e baixos, impôs um traçado urbano diversificado, com becos estreitos e ruas sinuosas que se convergem em largos claros, amplos, arejados e esplanados, povoados por chafarizes, pelourinho, lampiões, jardins e monumentos, coroados por templos que são tesouros de outros tempos. Um bequinho muito conhecido, mas quase anônimo, é o que liga a face lateral da igreja do Carmo à Rua da Cachaça e da Alegria. Talvez, porque seu nome lembra a brutalidade e os terrores da escravidão. Beco do Capitão do Mato, diz o historiador Fábio Nelson Guimarães, em sua obra Ruas de São João del-Rei . Menor em extensão, porém tão belo quanto o Beco do Cotovelo, Beco do Salto, Beco da Romeira e Beco da Matriz, a história injustamente não lhe deu a mesma nobreza nem o mesm

Irmandade das Almas tranca a rua e o cofre, toca o sino e sela a eternidade em São João del-Rei

Se o dia 1º de junho felicitou São João del-Rei com a criação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário mais antiga de Minas Gerais, também a segunda mais antiga de todo o Brasil, em 1708, quando a cidade ainda era o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, oito anos depois, o dia 2 de junho também deu sua contribuição para a riqueza religiosa e cultural de nossa terra. Naquela data, em 1716, portanto há 296 anos, Dom Francisco de São Jerônimo, bispo do Rio de Janeiro, instituiu canonicamente a Irmandade de São Miguel e Almas da recém-elevada Vila de São João del-Rei. A Irmandade das Almas, como é popularmente conhecida, é das ordens religiosas mais populares da cidade. Sediada na Matriz do Pilar, em sacristia frontal à principal, ocupada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, tem seu altar em posição de destaque, imediatamente à direita do altar-mor. Além disto, sua importância se evidencia na pintura do teto do vestíbulo que separa as duas sacristias: três alma

Ao longo de 60 anos, Conservatório de São João del-Rei "solta a voz nas estradas, já não pode parar"

Por mais vitalidade que tenham, não são muitas as instituições culturais brasileiras que conseguem entusiasmadamente apagar 60 velinhas com a intensidade e o vigor de um jovem atleta de 30 anos. Entre estas poucas, está o Conservatório Estadual de Música Padre José Maria Xavier , de São João del-Rei, que em 2013 está comemorando o seu  60º aniversário  de inauguração Isto mesmo, de inauguração, pois sua criação foi oficializada dois anos antes, quando Juscelino Kubistchek, então governador de Minas Gerais, assinou as leis nº  811 e 825, nos dias 13 e 14 de dezembro de 1951. Inaugurado, o Conservatório não parou mais. Como nas músicas de Milton Nascimento, " soltou a voz nas estradas ", certo de que " todo artista tem de ir aonde o povo está ". Sempre dirigido por grandes nomes da música são-joanense, como Emilio Viegas, Silvio Padilha, Pedro de Souza, Abgar Campos Tirado, entre outros - atualmente é presidido pelo professor Anthony Claret Moura Neri - implanto

São João del-Rei tem a mais antiga irmandade negra de Minas Gerais. E a segunda do Brasil...

Há 305 anos , no dia 1º de junho de 1708, foi fundada, em São João del-Rei, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário  dos Homens Pretos. É a primeira Irmandade do Rosário instituída em Minas Gerais e a segunda mais antiga do Brasil dedicada à Virgem que traz sentado em um dos braços Jesus Menino e na outra mão um longo rosário, composto por mais de 150 contas, cada uma correspondendo a uma Ave Maria a ser rezada durante a oração. 1719. Este registro na pedra da portada da igreja do Rosário de São João del-Rei informa o ano que a igreja começou a ser erguida e sua localização - á direita da Matriz do Pilar e ostensivamente em frente à igreja de Nossa Senhora do Carmo - não deixa dúvidas quanto à importância daquela irmandade na sociedade são-joanense na segunda década do século XVIII, época em que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes foi elevado à condição de vila, com o nome de São João del-Rei. É um templo simples, porém leve e muito gracioso. Sua fachad

Cozinha mineira: São João del-Rei e as profecias gastronômicas de Autran Dourado

A melhor, mais autêntica, original, saborosa e nobre cozinha de São João del-Rei pouco sai às ruas. Se cultiva, se alimenta, se consome e se preserva no interior das casas simples - arroz com feijão, às vezes tutu, angu, almeirão, agrião, abobrinha batida, abóbora, abóbora d'água, broto de abóbora, berinjela, beldroega, batata, batata doce, batata baroa, bambá, cará, couve, chicória, chuchu, dobradinha, espinafre, frango com quiabo, frango a molho pardo, farinha torrada, gembê de mamão verde e de chuchu novinho, inhame, jiló, lombo, língua, linguiça, mandioca, mamão verde, moranga, mugango, mostarda, maneco com jaleco,  moela, mocotó, maneco sem jaleco, mexido, miúdos, mingau, ora-pro-nobis, pela-bico, pernil, pimentas várias, quiabo, salsinha, taioba, torresmo,tomate, umbigo de bananeira, urucum, vaca atolada. Da culinária são-joanense pode de extrair vários alfabetos. Isto sem falar das carnes e dos doces. Arroz-doce, doce de abóbora em calda e em creme, doce de batata doce,