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Mostrando postagens com o rótulo tradição

Viva o Príncipe Celeste nas terras de São João del Rei!

  - Valei-me, meu São Miguel Arcanjo! Não foram poucos os são-joanenses que com estas palavras, algum dia, invocaram a proteção dele: o anjo poderoso que, com sol no peito e espada de fogo, é invencível na luta contra o mal e contra os maus. É infalível no combate ao Maligno, a quem, com seu olhar brilhante e firme, porém sereno, e o nome de Deus em pensamento, afugenta e acorrenta no fundo do Inferno. Trazendo-nos a temperança, a justeza, a justiça e o equilíbrio, dele pende na mão esquerda uma balança de dois pratos, onde compara em peso as virtudes e as impurezas do mundo. Dizem que São Miguel estabeleceu-se em São João del Rei nos primeiros anos do século XVIII, antes até que a febre do ouro e a cobiça pelo rico metal fizessem dos homens inimigos, na sangrenta Guerra dos Emboabas.   Sangue, selvageria, tortura, crueldade, destruição, morte, desolação, pavor. Nesta cruenta peleja, o  Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar ardeu-se em chamas, mas como por milagre, ...

São João del-Rei e a Folia de Reis a "Caminho da Salvação"

A passagem de folias de reis pelas ruas de São João del-Rei - do centro histórico às localidades mais periféricas - é tradição centenária, mas nos últimos anos andou perdendo força, pela falta de renovação em seus membros. É que a modernidade e a urbanização, com seus novos valores estéticos e apelos tecnológicos, aos mais jovens ainda parecem  opor a folia de reis tradicional ao status de progresso e evolução. Com isso, os grupos são-joanenses cada vez mais se tornaram menores e mais escassos, compostos em sua grande maioria por pessoas mais idosas. Atentos a esta realidade, alguns intelectuais buscaram não só minimizar este enfraquecimento quanto valorizar a folia de reis, elevando a auto-estima de seus membros e das comunidades que as conservam, pensando na  revigoração desta importante expressão cultural popular do ciclo natalino. Foi assim que a Organização Não Governamental Atitude Cultural organizou e promoveu, durante mais de uma década, o Encontro das Folias de ...

A eterna rainha do Carnaval de São João del-Rei

A verdadeira rainha do Carnaval de São João del-Rei não desfila na passarela. Não se agita com a batucada, nem repete o requebrado dos becos tortos e das vielas estreitas. Não se perturba com os delírios nem desvairios da carne pulsante e ardente. Soberana e serena, olha tudo do alto, com seu fino diadema de prata, destacando no manto azul. Dizem que ela é nova, mas sua idade, ninguém sabe. O que se sabe é que ela chegou por aqui muito antes dos primeiros bandeirantes que vieram em busca do Eldorado. Que ela viu nascer o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, assistiu aflita a Guerra dos Emboabas, testemunhou o batismo de Tiradentes, o casamento de Bárbara Eliodora, a chegada da estrada de ferro, a passagem de Dom Pedro, a partida dos soldados são-joanenses para a guerra, entre tantas coisas que aconteceram nestes trezentos anos. Na euforia, na sedução, na lascívia e no torpor do Carnaval, pouca gente vê quando a lua nova, por volta das seis da tarde do domingo, segunda e terça...

São Sebastião: contra a peste, a fome, a guerra, a amargura e a tristeza, protetor de São João del-Rei

De um lado, o sonhado Eldorado. O ouro a rolar entre o redondo cascalho, a misturar-se às raízes do capim silvestre, a escorrer pelos fios d'água, a se infiltrar em veios profundos no meio do quartzo rochoso. De outro, a cobiça, a violência, a ganância, o desvario, as febres, as crenças, as trapaças, os homicídios, delírios, traições, desorientações e alucinações. No meio de tudo, no ponto de exato equilíbrio entre os lados extremos - a falta, a falsidade, o feitiço, a fúria e os funestos sentimentos. Foi neste universo que São Sebastião chegou a São João del-Rei, mal amanhecera o século XVIII para, com seu lume, seu poder e suas flechas, abrandar os ânimos, abrir os caminhos, clarear as noites, iluminar as trevas da alma e proteger são-joanenses e forasteiros contra a peste, a fome e a guerra. Sua primeira casa foi a capela de capim e taipa, erguida no Morro do Bonfim e incendiada na Guerra dos Emboabas - idos de 1709. Mas ele sobreviveu e hoje vive altivo em altar dourado ...

Os olhos de Santa Luzia iluminam São João del-Rei, seja de noite, seja de dia

13 de dezembro - dia de Santa Luzia. A eternamente jovem, virgem e cega, que tem domínio sobre os olhos, protege a visão e guia os cegos na sua noite longa e sem estrelas. Em São João del-Rei, Santa Luzia tem bastante prestígio junto ao povo são-joanense, que chega a ter com ela, inclusive, relativa intimidade física. Durante o ano quase inteiro, a Santa - em imagem de madeira - mora sobre uma arca grande na sacristia da modesta igreja de São Gonçalo Garcia. A ela fazem companhia flores artificiais, bilhetes, pedidos, agradecimentos e fotografias daqueles que lhe devem ou lhe pedem favor: homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e velhos. Pessoas simples, humildes de bens e ricas de esperança e fé. Da noite da Quarta Feira de Trevas até o entardecer da Sexta Feira da Paixão, Santa Luzia vai para a entrada da igreja onde, à frente do tapa-vento, recebe os são-joanenses. Estes, por sua vez, ajoelham-se diante dela, beijam a fita roxa que pende de seus pés e passam-lhe o polega...

Festa das Mercês - Doce, sereno e sublime encanto de São João del-Rei

Há quase 300 anos o povo de São João del-Rei participa - com fé, devoção e encantamento - da sublime novena barroca de Nossa Senhora das Mercês. É um ofício encantador, numa capela delicadamente dourada, entre flores, incensos, música suave que vem de violas, violinos, violoncelos, flautas, clarinetas e de belas vozes que se harmonizam em rendilhados de notas musicais que formam volutas sonoras inigualáveis. O sino sozinho, na torre altaneira, soberana e solitária, toca alegre. Padre Geraldo canta vigoroso responsórios seculares, que orquestra e fieis, em coro único, respondem convictos. Fieis em sua maioria negros de carapinha branca, entre jovens e crianças, compenetrados vivenciam por uma hora e meia, um amoroso abraço imaginário com Nossa Senhora das Mercês. Com o olhar trocam palavras, fazem pedidos, promessas, agradecimentos. A tudo a Virgem acolhe de braços abertos e face levemente inclinada na direção da mão direita, que estende para o povo são-joanense com um buquê de crav...