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Mostrando postagens de abril, 2017

São João del-Rei de todos os tempos, de todos os estilos, sem preconceito...

Andar pelo centro histórico de São João del-Rei, prestando atenção nos detalhes de sua arquitetura, é uma viagem no tempo, rica de linhas e estilos - um prato cheio para dar asas à imaginação. Além das torres, telhados, frontispícios, pináculos, portadas, colunas, cornijas, coruchéus, cimalhas, rocalhas, ombreiras, aldabras e tudo o mais que é tipico da arquitetura colonial, a cidade possui exemplares  preciosos de outros estilos arquitetônicos característicos a séculos seguintes ao período setecentista, também muito ricos em suas figuras, linhas e curvas. Isto, aliás, é o que particulariza São João del-Rei em relação a outras cidades históricas mineiras, tornando-a arquitetonicamente mais plural, diversificada e rica, como um relógio que marca a passagem do tempo, por meio de suas construções. Figuras de animais, letras , flores, plantas, flechas, setas, estrelas, corações, enfeitam diversas construções do centro histórico e de outras áreas antigas um pouco mais afastadas, com

As linhas da mão e a fibra real do coração de São João del-Rei

Cidade colonial, barroca, as linhas de São João del-Rei, em sua maioria, são curvas. Curvas telhas, curvas torres, curvas beira-seveiras, curvas pontes, curvas conchas, rocalhas e volutas, curvas barroquices, como a curva lua crescente de prata que firma o pé de Nossa Senhora da Assunção, em sua subida ao céu no dia 15 de agosto. Diferentes destas, tem também a linha do trem, paralela e reta, que agora só leva à vizinha Tiradentes... Mas além destas, tem muitas outras linhas, que desenham o passado no presente, mostrando às vezes o que, a olho nu, no corre-corre da rotina, muitas vezes não se vê: as tramas do pau-a-pique das velhas paredes, os detalhes das aldabras e dos gradis de ferro batido, a harmonia secular das pedras pé-de-moleque, as nervuras e formatos das pétalas e das folhas de nossas plantas devocionais e da medicina popular. Tudo isso tem fibra, e esta fibra é real. Isso mesmo: Fibra Real é o nome de um projeto são-joanense muito interessante. Discreto como os minei

Missa do Aleluia. Um dos mais belos ritos da Semana Santa de São João del-Rei

Depois do esplendor, do encantamento e da intensidade maravilhosamente sensorial e dramática que são a Festa de Passos – desde as Vias Sacras até o Setenário das Dores, passando pelas rasouras e procissões do Encontro – e a Semana Santa de São João del-Rei – desde o Ofício de Ramos, até os ofícios de Trevas, o Canto da Paixão, Adoração da Cruz, descendimento e Procissão do Senhor Morto – é praticamente impossível imaginar que, complementando as celebrações da Paixão de Cristo, ainda possa haver algo uno, e de tamanha beleza, que seja capaz de exaltar de prazer todos os sentidos, da visão ao olfato, da audição ao tato. Mas existe. É a Missa do Aleluia! Diferentemente de outras ocasiões, em uma das três portas principais da matriz do Pilar, há velas a venda, que as pessoas tranquilamente compram e conservam apagadas. Nas 20 horas que neste dia o relógio não bate, o ritual começa em absoluto silêncio, do lado de fora, do lado esquerdo de quem sobe o adro da igreja, então guarnecido

A Paixão de Cristo, os mistérios, encantos e a magia da antiga Semana Santa de São João del-Rei

Antigamente em São João del-Rei, além da fé e da devoção, muitos outros sentimentos ocupavam os corações são-joanenses durante a Quaresma e a Semana Santa. Desde a piedade e a penitência, passando pelo jejum e abstinência voluntária de carne, até a restrição do lazer. Os bailes, por exemplo, eram suspensos nos clubes e salões locais e só voltavam a acontecer após a meia noite do Sábado Santo, ou melhor, do primeiro minuto do Domingo de Páscoa. Era o famoso Baile da Aleluia. O Domingo de Ramos era um contexto especial e uma ambiência religiosa singular. Começava com o som longo e espaçado dos sinos e a bênção das palmas, na igreja do Rosário, ao fim do que, na Matriz do Pilar se assistia a missa que, segundo os antigos, tinha o Evangelho mais demorado do ano. Teatralizado e cantado, narrava a história de Cristo,  da prisão no Horto das Oliveiras até o último suspiro, no Monte Calvário. As palmas bentas, acreditava-se, tinham poderes mágicos de proteção da casa que a guardava

Tapetes de flores, areia e serragem trazem o Céu para o chão na Semana Santa de São João del-Rei

Já faz mais de três décadas que as ruas de São João Del-Rei, durante a Semana Santa, apresentam um novo atrativo que encanta sanjoanenses e turistas: os delicados tapetes decorativos. Especialmente aos sanjoanenses, essa expressão cultural atrai duplamente, pois além de admirá-la, eles podem participar de sua produção e, assim, ser protagonistas de uma ação criativa que demora oito, dez horas para ser realizada, mas é muito efêmera. Em quinze, vinte minutos, o céu no chão se desfaz sob o caminhar de anjos, virgens, virtudes, reis, profetas, heróis, apóstolos, guarda romana- personagens do Velho Testamento que, voltando no tempo, vêm à frente do Senhor Morto na procissão do Enterro de Sexta-Feira da Paixão. Enfeitar ruas para procissões é tradição em diversos países católicos e forrar as ruas com folhas e flores também é comum em países da Península Ibérica e da América Central. Nas velhas cidades brasileiras, essa manifestação evoluiu para a confecção de tapetes de areia, fl

Passo a passo da tradicional Festa de Passos de São João del-Rei

As celebrações dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo a caminho do Calvário, ou simplesmente a Festa de Passos, realizadas em São João del-Rei tem particularidades marcantes que as diferem completamente daquelas que são realizadas em outras cidades históricas mineiras. Elas começam na primeira sexta-feira da Quaresma, com uma Via Sacra solene que se repete nas duas sextas-feiras seguintes. É um cortejo que se abre com um irmão dos Passos carregando erguida uma cruz de madeira preta, com o lençol banco na forma de um M, e se encerra com outro, carregando suspenso, em seu madeiro, um bicentenário crucificado. Estas Vias Sacras param nas capelas-passos, onde a Orquestra Ribeiro Bastos canta motetos barrocos que, mesmo sendo muito antigos e em latim, são muito familiares aos são-joanenses. E para finalizar, canta o tradicional Senhor Deus, Misericórdia, que ecoa profundo e torna-se um lamento ainda mais pungente diante do silêncio da pequena multidão. No quarto fim de semana da Q