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Mostrando postagens de setembro, 2014

São Miguel Arcanjo: um luminoso corpo celeste em São João del-Rei

Divindade que é, São Miguel Arcanjo não tem corpo. É espírito, um dos mais elevados das Potestades. Quando Deus criou a luz e, em seguida, o universo, com seus astros, planetas e cometas, São Miguel há muito já existia. Mas em São João del-Rei, desde séculos passados até hoje, muitos artistas se dedicam a dar ao Anjo Maior forma humana. E, com isto, existe na cidade um sem-número de representações de São Miguel, nas mais diversas técnicas, formas e materiais - madeira, cerâmica, ferro, pinturas, bordados, pedra sabão, cobre, papel, palha, aninhagem. Todas aladas, a maioria com a balança na mão esquerda, várias com espada flamejante, algumas com escudo e lança, tendo o demônio, assustado e temeroso, a seus pés. Na ilustração deste post, a representação do arcanjo São Miguel - obra em cerâmica, criada pelo saudoso artista plástico são-joanense Marcos Mazzoni, em 1992 (acervo do autor) .

São Miguel Arcanjo. Há 300 anos Príncipe da Milícia Celeste protege São João del-Rei

Faz mais de 300 anos que São Miguel Arcanjo chegou a São João del-Rei, ainda Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Aqui, ele viu o ouro brotar da terra e, por cobiça humana, facões e espadas crisparem seus metais, acendendo no ar raios e relâmpagos. Arcabuzes lançarem pólvora e estouro de trovão e até o Córrego do Lenheiro correr tinto de sangue na Guerra dos Emboabas. Há quem diga que, sinal de sua força e poder, ele escapou das chamas que incendiaram a primitiva capela de Nossa Senhora do Pilar, no Morro da Forca, saindo a salvo na companhia de seu vizinho, o guerreiro e mártir São Sebastião. Vencidas as chamas e abrandado o calor das pedras em brasa, em 1716 São Miguel criou seu exército humano na recém-criada Vila de São João del-Rei: a Irmandade de São Miguel e Almas. Desde então, toda segunda-feira é saudado com uma missa vespertina e no mês de setembro festejado com muita oração e especial louvor. Depois de um tríduo noturno, de leituras e cânticos bar

Festa de Nossa Senhora das Mercês: a sagração da primavera em São João del-Rei*

Em São João del-Rei, todo ano é assim: a primavera só chega no dia 24 de setembro, no buquê de flores brancas que Nossa Senhora das Mercês carrega na mão direita. Seus pés pisam nuvens de flores que brotam dos altares e se espalham por toda a igreja, singela e graciosa, incrustada em uma rocha que dá início à subida da Serra do Lenheiro. Entrada para o caminho por onde no século XVIII subiam homens escravos, desciam negros livres, transitavam cativos mulatos, atrevidos criolos, astutos morenos e gentes de toda laia - clandestinos, foragidos, ladrões, proscritos, ciganos, bandidos, degredados - todos a faiscar ouro nas betas, a garimpar no ribeirão e a catá-lo entre raízes do capim agreste. Alguns, dizem, escondiam o ouro na carapinha... Todo ano, no anoitecer do dia 24 de setembro, Nossa Senhora das Mercês leva a primavera a passear pelas ruas, largos e becos coloniais de São João del-Rei. Entre as flores de seu buquê e de seu andor, carrega graças, mercês, milagres e favores, que

Lua nova de setembro: semicírculo de prata brilhante no céu de São João del-Rei

A lua nova de setembro, em São João del-Rei, que acontece nesta época do ano, mostra uma paisagem celeste singular. Ainda mais quando acontece de estar alinhada com alguns planetas, brilhantes e bem visíveis a olho nu logo depois do anoitecer. É como se fosse um semicírculo de prata, meia aliança, incompleto aro, pontuado por dois ou três diamantes. Tão belos são esta lua e este luzeiro que inspiraram aos são-joanenses a seguinte saudação religiosa popular:                            "Deus vos salve Lua Nova,                              Lua de São Clemente.                             Quando voltares de novo                              trazes dinheiro * pra gente..."  * O objeto do pedido pode variar de acordo com a necessidade: dinheiro, saúde, fartura, alegria, esperança... .............................................................................. Informante: Carmen Trindade da Costa

Setembro, em São João del-Rei, é tempo do Bom Jesus, da Cruz e do Perdão

Dia da Exaltação à Santa Cruz, 14 de setembro é festejado em São João del-Rei com três celebrações distintas e simultâneas. A mais movimentada, sem dúvida, acontece no bairro de Matosinhos, como ponto máximo do Jubileu do Senhor Bom Jesus, padroeiro daquela freguesia. Realizada desde o século XVIII, a festa tem importância regional e para ela, até décadas passadas, vinham romarias dos povoados e cidades próximas. Mas o Bairro de Matosinhos cresceu, é muito movimentado, e do tempo antigo, além da fé, da devoção, do entusiasmo e da imagem do Crucificado, quase nada restou. A velha igreja singela e barroca deu lugar a um templo moderno e a procissão crepuscular, que avança noite a dentro, chegou até a ser motorizada, adequada ao ritmo intenso e próprio daquela comunidade. Mas pelo bem da memória dos velhos e dos novos tempos, o andor voltou a ser carregado no ombro pelos homens da Irmandade do Bom Jesus, ao som de marchas tocadas pela banda local. Lembranças antigas, nas barraquinha

Patrimônio de valor inestimável são as lembranças e as memórias humanas de São João del-Rei

São João del-Rei tem muita história viva. Não apenas aquelas que se repetem anualmente nas tradições que revivem, no relembrar, fatos e tempos passados. São João del-Rei tem muita história que vive, dorme, sonha, tece, planta e cultiva saudades dos tempos idos e esperanças naqueles que estão por vir. Os octogenários e nonagenários de São João del-Rei têm a história brilhando nos olhos, correndo nas veias, batendo no peito, E zelam dela mantendo-a acesa e pulsante na memória pessoal, inclusive como escudo protetor contra o mal de Alzeimer, a depressão e depreciação social que o envelhecimento tenta lhes impor. Lembranças de antigas paisagens, de nomes originais das ruas, brincadeiras de infância, métodos escolares, modinhas, benzeções, propriedade terapêutica das ervas, simpatias, lendas, mandingas, chás miraculosos, orações fortes, cantigas, efemérides, temperos, crenças, saberes e sabores. Tudo isto é deles rico patrimônio sentimental, afetivo e cultural, mas muito pouco identif

V Semana Cultural Dom Lucas Moreira Neves: música de domingo a domingo em S. João del-Rei

Se Dom Lucas Moreira Neves do outro mundo viesse a São João del-Rei esta semana, certamente sorriria grande felicidade.Traria também seus irmãos, Dona Stella e Zé Maria, para partilhar com eles tamanha alegria. É que de domingo a domingo, ou seja, de 7 a 14 de setembro, acontece na terra onde os sinos falam a V Semana Cultural Dom Lucas Moreira Neves. Promovida pelo Memorial Dom Lucas Moreira Neves, este ano ela tem na música seu eixo principal. Afinal, a música sempre foi paixão, virtude e dom da família de Dom Lucas desde seu pai, Telêmaco Neves, e é uma das faces divinas da alma de São João del-Rei. A semana se abrirá no domingo, dia 7, às 20 horas na igreja do Carmo, com um encontro de Ave Marias: um recital lírico com as mais belas composições dedicadas a Nossa Senhora, executadas por um conjunto de sopranos, barítono, flauta e espineta. Na segunda feira, tem missa cantada na Matriz do Pilar e, nos dias seguintes, à noite, no Memorial, uma programação musical variada: Coral

O que se ver e fazer em São João del-Rei? Só não sabe quem não vem cá...

Uma cidade misteriosa, que não mostra, à primeira vista, suas belezas. São João del-Rei é assim. Não é uma cidade óbvia, espetacularizada, estereotipada nem folclorizada. Tal qual num namoro mineiro, é preciso calma e serenidade para conhecer os encantos daquela que - por manter vivas e organicamente integradas suas visões, memórias e tradições dos longínquos tempos do ouro - pode ser considerada a mais barroca cidade de Minas Gerais. De imediato, quem chega ao centro histórico não percebe isto. A diversidade evolutiva da arquitetura, que mistura os séculos XVIII, XIX e XX, às vezes intriga e desconcerta o visitante quanto ao tempo em que ele está. Como é possível ali três séculos trançarem seus estilos estéticos sem, na maioria dos casos, perder sua autêntica harmonia? E a monumentalidade delicada dos templos, a mostrar que Deus mora aqui e é vizinho dos são-joanenses? A cada hora do dia, conjugada com a estação do ano, a paisagem são-joanense muda tão fortemente sua face, que

Salve São João del-Rei. Salve setembro. Salve tudo o que aqui faz a vida ficar melhor e mais bonita!

Mal setembro anuncia sua primeira alvorada e em São João del-Rei a primavera se antecipa, florescendo pétalas de fé. De toda parte exala aroma doce de orvalhada flor de laranjeira, de inocentes manacás umedecidos de sereno e brisa, de jasmins mansinhos e repicados como se fossem vegetais estrelas de papel. Nem precisa ser noite. O amanhecer ou o entardecer já bastam. O nono mês do ano é suavemente santo à sombra da Serra do Lenheiro. Faltam-lhe horas, dias e noites para tamanha devoção. Senhor do Monte, Bom Jesus de Matosinhos, São Francisco em chagas, Nossa Senhora das Mercês, São Miguel Arcanjo, Anjo da Guarda. Setembro precisaria ter 40 dias para caber, dia a dia, toda a são-joanense liturgia. Ser trinta por cento maior. Os sinos não param. A orquestra canta continuamente. Aqui e ali, foguetes estouram sua alegria e fogos de artifício riscam o céu. Anjos infantis dobram esquinas, em meio a brancas nuvens de incenso e de algodão doce. As bandas tocam marchas alegres, enquanto