Em São João del Rei não é raro, volta e meia a gente ouvir, algum são-joanense, com um quê de mistério, dizer: - "Aqui em São João, parece que tem uma coisa!..." Se prestar bem a atenção na vida da cidade, você vai ver que de fato eles têm razão. Em São João del Rei, às vezes do nada, parece que uma porta se abre, rompendo a delimitação dos tempos e dos mundos. Nestes momentos, há quem quase fique sem saber se está no aqui e agora, no hoje, presente, ou se está lá e antes, no ontem, passado. E isto não ocorre só nas grandiosas, solenes e pomposas tradições barrocas, que são a principal identidade são-joanense não. Esta dúvida, na verdade, é a certeza de que foi transposto o portal do lado racional, pragmático e definitivo e então se está a transitar nos territórios da emoção e da memória afetiva. A procissão de São Benedito, realizada em meados de maio na capelinha do Bonfim, é um dos melhores exemplos. Extremamente delicada e singela, assim como a capela, não percorre a
É um sacrilégio, quase um crime ou pecado mortal, ir a São João del Rei e não passear calmamente pela Rua Santo Antonio. É algo mais ou menos como ir à Cidade do Rio de Janeiro e não ver o mar, ou como ir a Roma e não ver o Papa! A tricentenária, estreita, poética, misteriosa e sedutora rua ainda hoje é a morada de muitos tesouros, guardados nos baús da música barroca, da história e da arquitetura colonial. O consagrado compositor sacro Padre José Maria Xavier, por exemplo, nasceu nela, em 1819. A Banda de Música Theodoro de Faria (1902), a bicentenária Orquestra Ribeiro Bastos (1790) e a Orquestra Lira Sanjoanense, que é a mais antiga orquestra das Américas em funcionamento ininterrupto desde a sua fundação, em 1776, têm suas sedes e arquivos naquela rua. Consta que a Lira Sanjoanense, inclusive, foi a primeira corporação musical profissional instituída no Brasil. Por tudo isto, poeticamente, a Rua Santo Antônio bem poderia se chamar também Rua da Música. A capela de Santo Antônio,