Acabou o sábado, deu meia-noite, o sol nasceu, mas, no coração de São João del-Rei, quem declara e proclama o domingo é o toque dos sinos da Matriz do Pilar, pouco depois de badalar 7 horas. A partir de então, o correr da manhã é medido e contado pelos toques dos sinos do Carmo, do Rosário, de São Francisco, de São Gonçalo e das Mercês, chamando os fiéis para as missas dominicais. Assim, é impossível não saber que é domingo, no centro histórico de São João del-Rei. Especificamente hoje (10 de janeiro) esta "rapsódia sonora" foi enriquecida por três toques fúnebres, às 9h, 10 e 11h, nos sinos da igreja do Rosário, informando o falecimento de algum membro da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, que, fundada em 1708, é a mais antiga irmandade são-joanense, também uma das mais velhas do Brasil. E, minutos depois das 8 horas da noite, de um toque festivo especial nos sinos da Matriz do Pilar, anunciando que amanhã, com uma novena, começará a Festa de São Sebastião - mártir prot
Antigamente, em São João del-Rei, no tempo em que nossos pais viviam a infância, certamente fazia parte do universo deles a mula-sem-cabeça: aquela figura imaginária e muito temida, que andava a horas mortas pelos locais ermos, nas noites da quaresma. Seu tropel, ora lento e bem compassado, ora veloz e desritmado, era percebido pelo bater de seus cascos no calçamento das ruas, e do mesmo modo que surgia, desaparecia, no silêncio, ao longe. Fora a estória de uma ou outra alma penada, em um corpo decapitado, vagando pela noite à procura de sua cabeça, cortada por castigo, vingança, cobiça, inveja, ira - ou simplesmente por crueldade - em São João del-Rei, sempre que se falava (e ainda hoje quando se fala!) que alguém perdeu a cabeça, na maioria das vezes é para justificar desaforos, adultérios, crimes passionais, e até mesmo assassinatos. Mas neste domingo por volta do meio-dia, passando pela lateral direita da igreja do Carmo, uma cena incomum chamou minha atenção: São Jorge decapita