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Mostrando postagens de julho, 2012

Do barroco ao eletroacústico: mais música em São João del-Rei

Você acha que é possível um são-joanense  apaixonado por composições sacras mineiras dos séculos XVIII e XIX  - executadas principalmente na Semana Santa e nas muitas novenas das igrejas barrocas de São João del-Rei  - ser também amante da música eletroacústica? Pois lhe digo que sim e que isto não é adultério. E digo até o nome dele: Francisco José dos Santos Braga. Além de se destacar como estudioso, concertista e compositor deste estilo de música contemporânea, Braga deu grande contribuição para o crescimento do número de corais em nosso país. Foram dele o projeto e os esforços para criação do Coral do Senado Federal, em Brasília, do qual fez parte, na fase inicial, como pianista. Este é mais um exemplo de que a musicalidade de São João del-Rei sempre atravessa as ondas minerais da Serra do Lenheiro e semeia claves de sol e notas musicais nos mais diversos e distantes pontos do território brasileiro. Mas muito antes disso, nos idos de 1960, em São João del-Rei, nosso composito

São João del-Rei: onde o céu abraça o chão

Onde o céu não desce ao chão, em São João del-Rei, a geografia se eleva, disposta a projetar o são-joanense ao infinito. O morro do Bonfim é um lugar assim: talvez o ponto mais elevado da cidade, mas com certeza o que mais bela visão oferece da Serra do Lenheiro, roxa e verde no seu ondular de seios, fendas, cascatas e vales. Pequenina, a capelinha de Nosso Senhor do Bonfim fica no horizonte da linha tênue onde céu e terra, se separados, se juntam; se juntos, se separam. Tão diminuta que parece de papel, foi construída em 1769, pelo devoto José Garcia de Carvalho, nas imediações de onde semearam, na infância do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, a primitiva capela da santa padroeira, incendiada nos idos de 1709, pelos ódios e labaredas da Guerra dos Emboabas. Delicada, bandeirante, de janelas azuis, torre e sino singelos, cercada de cheirosos manacás, a capelinha branca parece uma ovelha desgarrada, à espera do árcade e crucificado pastor. Bonfim. Seu nome

Quer passear por São João del-Rei de todos os tempos? Então, embarque nesta viagem...

São João del-Rei ainda guarda muito da face que tinha nos séculos passados. Isto é o que vai conferir quem folhear o livro São João del-Rei - Minas Gerais , editado pelo IPHAN / Programa Monumenta , em 2010. Pena que uma obra tão rica e tão importante para a memória arquitetônica local até hoje não tenha sido amplamente divulgada na cidade - fato que é muito comum no que diz respeito aos trabalhos produzidos sobre São João del-Rei e que este almanaque eletrônico gostaria muito de minimizar. Composto por cerca de 80 fotografias e desenhos em preto e branco, em sua maioria pertencentes ao acervo do IPHAN, o livro - uma preciosa pesquisa iconográfica coordenada por Maria da Graça Soto Queiróz - traz interessantes imagens de São João del-Rei. Desde um desenho retratando a paisagem local no começo do século XIX até registros fotográficos da evolução urbana da cidade durante quase todo o século XX, passando pelos riscos artístico-arquitetônicos originais das igrejas do Carmo e de São Fra

São João del-Rei de ontem, de hoje, de todos os dias

Foi logo no começo dos anos setenta do século XX que a vocação turística de São João del-Rei despontou com maior força, coincidindo com a popularização do turismo como fenômeno de massa e com o novo interesse nacional pelas cidades históricas. Paisagem singular, arquitetura colonial, música barroca, tradições religiosas raras, manifestações genuínas da cultura popular, culinária saborosa, carnaval criativo e receptividade, civilidade e cortesia. Todas estas riquezas são-joanenses apontavam para um futuro turisticamente promissor e, já navegando nestas ondas, o Grupo Financeiro Ipiranga construiu e instalou, em um dos pontos mais nobres da cidade, o Hotel Porto Real. Um empreendimento hoteleiro condizente com o que de mais moderno e confortável havia naquela época. Uma das grandes contribuições que o Hotel Porto Real prestou para o desenvolvimento do turismo em São João del-Rei foi o lançamento e a distribuição, nos idos de 1972 / 1973, do calendário São João del-Rei de todos os d

São João del-Rei clareou a noite em dia, no "desponsório" de Dom João VI

Importante vila colonial, em tudo participante dos mais importantes acontecimentos da metrópole Lisboa, São João del-Rei deu início, no dia 23 de julho de 1786, aos grandiosos festejos que ali comemoraram os casamentos do futuro rei D. João VI com Carlota Joaquina, filha do rei da Espanha, Carlos IV, e do infante D. Gabriel de Castela com a infanta Mariana Vitória. Naquela época, infante eram os príncipes e princesas, filhos legítimos dos reis portugueses. Voltando à festa, houve missa solene cantada com dois coros de música, na Matriz do Pilar, procissão do Santíssimo Sacramento e Te Deum Laudamos, cantado por vinte padres, ricamente paramentados com capas de asperges e muito toque de todos os sinos. Isto foi, principalmente, para a nobreza e autoridades, assim como três óperas, "em teatro firmado para isso no meio do curro com nobre aparato" e concertos musicais no passeio público, onde foi erigido um grande obelisco de luzes "que faziam as noites tão claras qua

Frei Cândido sonhou São João del-Rei à frente de seu tempo

Em São João del-Rei, 17 de julho de 1907 seria uma data comum não fosse, neste dia, que Frei Cândido Vroomans reuniu-se na casa franciscana com vários operários da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Contudo, ainda assim nada haveria de extraordinário se aquele encontro tivesse finalidade religiosa, mas não foi isso o que aconteceu. O tema em pauta era social e humanista e tratou da preocupante realidade socioeconômica e cultural do trabalhador são-joanense. Já no final do século XIX a cidade tinha iniciado um processo de industrialização, abrigando algumas fábricas, inclusive a de tecidos que ainda hoje existe. Preocupado com a situação em que, como " o operário é o homem que se dedica de todo ao  trabalho material, não lhe resta tempo, nem facilidades, nem meios, nem dinheiro para ter acesso a livros nem jornais que o ajudem a se instruir ", o franciscano propôs a criação de uma entidade que trouxesse novos horizontes para os trabalhadores. Sua proposta era tão lógica e s

O fotógrafo que viu o céu no chão de pedras das barrocas ruas de São João del-Rei

Este ano  (2012), Nossa Senhora do Carmo chegou mais cedo em São João del-Rei. Veio de véspera e, mesmo celebrada em barroca novena, apareceu inesperadamente. Como o faz todo 16 de julho, trouxe flores, trouxe brisas, trouxe sorrisos, alento, estrelas, serenado amor. Mas para a surpresa de todos, no dia 15, tomou pela mão e levou, entre seus anjos, o fotógrafo que na terra via o céu nas ruas de São João del-Rei:  vizinho de meus pais na Rua Padre Faustino, Sebastião Machado Gomes Jacó. Diademas de prata, espadas de prata, soberanas coroas, lívidas faces, gestos interrompidos, rechonchudos, contorcidos e levitantes querubins, buquês de grave-roxas orquídeas, montanhas de azuis hortências, sangrentos sudários, agonizantes crucificados, altivos estandartes, agudas lanças, intransponíveis escudos, espadas, sanefas, volutas, colunas, transbordantes cálices, flamejantes tochas, asas, brocados, lanternas reluzentes, sanguíneos rubis, diamantinas lágrimas. Este era o alfabeto plural com

Igreja do Carmo: brilho luminoso, estrela da manhã dos olhos de São João del-Rei - 1

16 de julho. O dia maior em que São João del-Rei realiza, com pompa grandiosa, a procissão de Nossa Senhora do Carmo, é um bom momento para se fazer um passeio histórico sobre um dos mais belos monumentos religiosos do barroco brasileiro: a igreja são-joanense de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Mal começara 1733 - portanto exatamente 20 anos após ter sido criada a Vila de São João del-Rei - e escravos, artífices e artistas, sob as riquezas e o poderio da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, já se movimentavam na construção da capela primitiva daquela padroeira. Tamanhos foram o investimento em ouro puro, empenho e a mão de obra empregada que às vésperas do natal de 1734, o padre Antônio Pereira Correa benzeu o pequeno templo. Entre a autorização para a obra, no dia 10 de dezembro de 1732, até sua inauguração, no dia 20 de dezembro de 1734, passaram-se apenas dois anos e dez dias. Uma das mais ricas e precisas descrições do templo carmelita de São João del-Rei foi escrita pelo his

Festa barroca de Nossa Senhora do Carmo encanta São João del-Rei

Desde sábado passado, dia 7 de julho, São João del-Rei vive clima de festa muito antiga, que nos remonta aos idos de 1727. Naquela época Nossa Senhora do Carmo era cultuada em um altar da então recém-inaugurada Matriz do Pilar e sua festa, já era pomposamente celebrada todo dia 16 de julho pela Confraria do Escapulário, agremiação que precedeu e deu origem à Irmandade - e depois Ordem Terceira - de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Na cidade onde os sinos falam, a festa de Nossa Senhora do Carmo ainda hoje mantém a mesma estrutura litúrgica do século XVIII: toques de sino, novena, muitas missas, missa solene, procissão e canto do Te Deum. A bela procissão percorre várias ruas do centro histórico são-joanense e, em alguns anos, adentra o alto e imponente portão do Cemitério do Carmo, para que Nossa Senhora visite o sono de seus mortos. Os textos da novena foram musicados nos anos setecentos e oitocentos por vários compositores mineiros e são-joanenses, entre eles Jerônimo de Souza

São João del-Rei: uma imagem vale mais do que muitas mil palavras

Se uma imagem vale mais do que mil palavras, São João del-Rei está muito bem na fita. Orgulho dos são-joanenses e uma das mais importantes obras do barroco mineiro e nacional, a igreja de São Francisco de Assis de nossa cidade ilustrou um anúncio do Ministério do Turismo, publicado em um dos mais importantes veículos de comunicação do país - a revista Istoé (Página 7, edição 2199). Pena que o anúncio não dê crédito ao monumento histórico-artístico-cultural retratado, nem como "defesa publicitária". Seria uma forma de o Ministério do Turismo acertar, com um só tiro, dois alvos: veicular sua mensagem institucional e também promover importantes destinos turísticos brasileiros. Fica a sugestão...

Nelson Freire & São João del-Rei: amor antigo e eterna emoção

No calendário histórico-cultural de São João del-Rei, o primeiro sábado deste mês de julho, dia 1º, certamente ficará marcado como uma data especial. Nele, o grande pianista Nelson Freire reencontrou dois carinhosos amigos - o palco e o velho piano onde, aos cinco anos de idade, fizera seu primeiro concerto. Onde? No Teatro Municipal de São João del-Rei. De lá para cá, daquela noite fria até hoje, já se passaram mais de 60 anos... O fato foi registrado no Jornal Nacional , em matéria que entrevista um personagem local muito querido por todos e que teve a felicidade de, também menino, assistir e aplaudir o concerto histórico realizado em 1950: o também pianista Abgar Campos Tirado. Para ver a matéria, basta clicar neste link da TV Globo  http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/pianista-nelson-freire-volta-ao-palco-onde-fez-seu-primeiro-concerto/2020047/

Quatro bandas de música e muita festa no dia que a energia elétrica chegou a São João del-Rei

 Nem todos sabem, mas São João del-Rei foi uma das primeiras cidades brasileiras a contar com o serviço regular de energia elétrica. A inauguração aconteceu no dia 6 dejulho do ano 1900, em cerimônia anunciada por muitos foguetes, prestigiada por autoridades de toda a região e animada por quatro bandas de música locais. Confirmando a religiosidade do povo são-joanense, coube ao vigário João Pimentel benzer as instalações da usina distribuidora e acionar a chave que pela primeira vez ligou a eletricidade. Para se ter uma ideia do que isto representa, basta avaliar: era julho de 1883 quando a primeira cidade brasileira recebeu os serviços de energia elétrica, ou seja, apenas 17 anos antes de São João del-Rei. Por outro lado, a Praia de Botafogo, na então capital do país, Rio de Janeiro, só veio a receber iluminação elétrica provisória em setembro de 1905 - portanto mais de cinco anos depois da chegada da energia elétrica à cidade da música e dos sinos. ..........................

Alexina Pinto deu Educação a São João del-Rei

 Detalhe da fachada do centenário Grupo Escolar Maria Teresa   Foi num dia 4 de julho, quando em São João del-Rei muitas crianças e jovens ruidosamente festejam a chegada das férias escolares, que chegou ao mundo a revolucionária educadora são-joanense Alexina de Magalhães Pinto. Era 1870. Portanto, há 142 anos. Desde sua juventude, ainda no século XIX, Alexina mostrou-se uma pessoa de extrema vanguarda para sua época. Aos 22 anos, viajou sozinha para a Europa, para estudar nos centros culturais do Velho Continente e lá buscar bases para revolucionar a educação infantil brasileira. Foi isso o que fez ao voltar para o Brasil, mais precisamente para São João del-Rei: literalmente rasgou em sala de aula as velhas cartilhas, para implantar uma proposta educacional inovadora, que substituiu a palmatória por jogos de trava-lingua e os castigos por estórias e cantigas do folclore nacional. Como se isso não bastasse, mostrou às damas da sociedade são-joanense que mulher també