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Mostrando postagens de setembro, 2013

São Cosme e São Damião brincam inocentes nos largos, ruas e becos de São João del-Rei

No meio de tanta festança que no mês de setembro acontece no centro histórico de São João del-Rei - todas grandiosamente belas, corporativamente promovidas pelas Irmandades e Confrarias setecentistas -, pode parecer que não existe espaço para manifestações culturais singelas e espontâneas. Mas não é bem assim. Mal avançam as primeiras horas da manhã do dia 27 de setembro, já se percebe nos mais diferentes pontos da cidade, principalmente nas áreas residenciais dos bairros, um alvoroço diferente: são as crianças correndo atrás dos doces distribuídos  pelos adultos para saudar São Cosme e São Damião. Balas de coco, paçoca, pé de moleque, maria-mole, pirulito, doce de batata doce, pipoca industrializada - tudo vale para adoçar a vida e acariciar a infância da inocência, legítima e verdadeira. Não aquela oficialmente " pastichificada " no comercial Dia da Criança. Na verdade, a tradição de deixar doces e balas nos jardins e também distribuir guloseimas açucaradas no dia

Festa das Mercês: São João del-Rei reinventa ícones, ressignifica símbolos e reescreve sua história

Na sua dinâmica sociocultural, a cada dia São João del-Rei ressignifica elementos e símbolos de sua história, dando-lhes novos e contemporâneos sentidos. No vale da Serra e ao longo do Córrego do Lenheiro, o que antes ostensivamente apontava condenação, hoje serve para induzir questionamentos. O que outrora, em séculos passados, sinalizava colonial castigo, neste terceiro milênio, é alvorada da consciência dos direitos humanísticos e cidadãos. Você imagina que o Pelourinho, onde desde 1713 se castigavam escravos e executavam severas punições na Vila de São João del-Rei, pudesse servir de mastro para um toldo da principal barraca da quermesse da Festa de Nossa Senhora das Mercês? Pois é! Em setembro de 2013, isto aconteceu. A face religiosa, tradicional e barroca, da Festa das Mercês continua fiel aos rituais setecentistas. Toques de sinos, foguetes, novenas, missas cantadas, incensos, irmãos com hábitos, escapulários e mantos caudalosos, andores enfeitados, procissões, fogos de

24 de setembro. Data importante para São João del-Rei. E para a igreja de Nossa Senhora das Mercês.

Graciosa, leve, alegre, luminosa. Estes adjetivos são perfeitos para a pequenina igreja de Nossa Senhora das Mercês de São João del-Rei. Sem dúvida, ela é uma das mais antigas igrejas da cidade, pois está mencionada na História do Distrito do Rio das Mortes, escrita pelo sargento-mor José Álvares de Oliveira, em 1751. No entanto o edifício, na sua face atual, foi inaugurado no dia 24 de setembro de 1877, com bênção e procissão de Nossa Senhora das Mercês. Antes, em 1808, o templo havia passado por outra remodelação. Com sua alta, vasta e farta escadaria, a igreja de Nossa Senhora das Mercês é singular entre os demais templos são-joanenses. Tem uma única torre, deslocada lateralmente do corpo da igreja, um delicado jardim lateral, encravado na pedra da Serra do Lenheiro, e um alto cruzeiro à sua frente. Na Sexta-Feira da Paixão, converte-se no principal cenário barroco da Semana Santa de São João del-Rei. É no alto de sua escadaria que acontece o Descendimento da Cruz, que ant

Propina legal em São João del-Rei. Era no século XVIII...

A história de São João del-Rei tem muitos registros curiosos e  inusitados. No dia 24 de setembro de 1781, por exemplo, um Acórdão autorizou o pagamento de “propinas” a cada membro da Câmara de São João del-Rei  – presidente, vereadores, procurador, e escrivão do Senado - que comparecesse às festas religiosas realizadas na Matriz do Pilar. O valor variava de acordo com a importância social da celebração e procissão. As quatro festas mais importantes – Corpo de Deus, Visitação de Santa Isabel, Anjo Custódio do Reino e Nossa Senhora do Pilar – rendiam cada uma, ao  bolso de cada servidor público, dez mil réis. Igual valor ganharia quem comparecesse às festividades de São Francisco da Bórgia e do Patrocínio de Nossa Senhora. Consideradas de menor expressão, as festas de São Sebastião, São João Batista e da Publicação da Bula garantiam, cada uma, cinco mil réis. A assiduidade no cumprimento social do compromisso religioso, representando o poder público, poderia aumentar em

Devota, convicta e confiante, São João del-Rei dialoga com os Céus

Pelas encruzilhadas e esquinas de São João del-Rei, misteriosamente, as letras misturam-se em uma prece. Escorrem pelas ladeiras íngremes, espalham-se nos largos e praças. Aparecem, quando menos se espera, do fundo de sacolas de compras. Desejo dos são-joanenses, é a Oração por uma cidade , que clama o seguinte:                         “Pai Nosso, que estais no Céu,                           que estais no Alto do Cristo,                           com vossos braços estendidos,                           como a nos abençoar:                           Protegei nossa cidade,                           livrando-a de toda maldade.                           Famosa “cidade dos sinos”,                           em que a música dança no ar.                                   Que o pão de cada dia                                   n ão falte pra nossa gente;                                   que sempre exista trabalho,                                   pra esse povo d

Festa das Mercês - Doce, sereno e sublime encanto de São João del-Rei

Há quase 300 anos o povo de São João del-Rei participa - com fé, devoção e encantamento - da sublime novena barroca de Nossa Senhora das Mercês. É um ofício encantador, numa capela delicadamente dourada, entre flores, incensos, música suave que vem de violas, violinos, violoncelos, flautas, clarinetas e de belas vozes que se harmonizam em rendilhados de notas musicais que formam volutas sonoras inigualáveis. O sino sozinho, na torre altaneira, soberana e solitária, toca alegre. Padre Geraldo canta vigoroso responsórios seculares, que orquestra e fieis, em coro único, respondem convictos. Fieis em sua maioria negros de carapinha branca, entre jovens e crianças, compenetrados vivenciam por uma hora e meia, um amoroso abraço imaginário com Nossa Senhora das Mercês. Com o olhar trocam palavras, fazem pedidos, promessas, agradecimentos. A tudo a Virgem acolhe de braços abertos e face levemente inclinada na direção da mão direita, que estende para o povo são-joanense com um buquê de crav

Setembro deveria ter mais dias em São João del-Rei. É pouco tempo para muita festa e muita fé...

Os trinta dias do mês de setembro são pouco para a quantidade das celebrações religiosas que acontecem em São João del-Rei no nono mês do ano. São cinco grandes festas e há dias em que, até, são simultâneas. Todas com toques de sinos, foguetes, cantos, flores, anjos, cores, incensos, mistérios, crenças, esperanças e certezas... Este ano, logo no dia 1º, a procissão do Senhor Bom Jesus do Monte encerrou a festa do Cristo crucificado que mora em uma colina no lado oeste da cidade, à sombra da Serra do Lenheiro. Quatro dias depois, começou a novena que terminou em procissão no dia 14, também para homenagear Nosso Senhor Bom Jesus. Desta vez, o de Matosinhos, na face norte da cidade - imediações de onde, a História diz, assentou-se por volta de 1704, cobrando pedágios pela travessia do Rio das Mortes, o bandeirante taubateano fundador de São João del-Rei, Tomé Portes del-Rei. Antes de tal procissão, no dia 12 começou a Quinquena de São Francisco - série de cinco ofícios sacr

Dom Lucas Moreira Neves - Primavera floresce igualdade, gratidão e memória em São João del-Rei

Entre as várias preciosidades culturais que o cardeal Dom Lucas Moreira Neves deixou para São João del-Rei, uma delas se multiplica e se repete a cada ano: é a Semana Cultural Dom Lucas, realizada sempre no período de 08 a 15 de setembro, no memorial que leva o nome dele, que é um dos mais queridos são-joanenses, filho de família a quem muito deve a cultura de nossa terra. Em 2013, o tema que norteia todos os eventos mostra como a cada alvorecer mais evolui e se ilumina a compreensão, a humanidade, o pensamento, a democracia, a religiosidade - enfim a própria sociedade são-joanense. É que o nobre espaço, durante oito dias, abre-se com todo respeito e dignidade para cultura afro-sãojoanense, aqui brotada e frutificada quando o século XVIII, entre raios luminosos de ouro e sol, começava a amanhecer. Melhor reconhecimento e tributo aos são-joanenses de ontem e de hoje não poderia haver, do que a escolha de tema tão rico e tão pertinente, 300 anos vivo na sociedade local. Ora n

Igreja de São Francisco de São João del-Rei é uma divina epopeia, esculpida em pedra - I

Não é exagero dizer que a igreja de São Francisco de Assis de São João del-Rei - um dos mais expressivos exemplares da arquitetura religiosa barroca brasileira - é também uma das mais belas obras de arte da humanidade. Tão maravilhosamente bonita e a tantos já seduziu, encantou e inspirou que é muito difícil ser original ao dizer qualquer coisa sobre ela. Uma das mais precisas e fieis descrições desta joia da sensibilidade são-joanense foi feita no livro Igrejas de São João del-Rei , lançado há exatos cinquenta anos. Nele, o historiador são-joanense Luís de Melo Alvarenga assim  começa a narrativa, que será reproduzida em diversas partes neste Almanaque Eletrônico Tencões e terentenas : "Magnífica obra de arte é este templo dedicado a São Francisco de Assis. Notável não só pelo trabalho em pedra e madeira, como por seu risco original, em linhas curvas, formando um conjunto harmonioso. Aureliano Pimentel, em página magistral, descreve esta igreja e sintetiza sua descrição

São João del-Rei. D'Além-mar, tropical, capital de Portugal!

Há apenas três meses da data exata - 8 de dezembro - em que se comemorarão os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes à condição de Vila de São João del-Rei, a todo instante chegam informações mostrando que, tanto quanto rica, é também ainda pouco conhecida a história da tricentenária São João del-Rei. Quantos são-joanenses, por exemplo, sabem que, em 1755, quando um forte terremoto sacudiu Lisboa, São João del-Rei foi cogitada para ser a capital do império português? Quem nos conta é o juiz de direito Auro Aparecido Maia de Andrade, que resgatou esta intenção do Primeiro Ministro do rei D. José I, Marquês de Pombal - sábio administrador que viu na quarta vila instituída em Minas Gerais importância singular na mais importante colônia portuguesa de além-mar, que era o Brasil. Capital do país sonhado pelos inconfidentes; quase capital de Minas quando da Proclamação da República, São João del-Rei, em 2007, com muita justiça e propriedade, fo