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Mostrando postagens de junho, 2014

O doce e Sagrado Coração de São João del-Rei

Certamente foi pensando em São João del-Rei que Herivelto Martins compôs a célebre modinha Ave Maria do Morro , pois o povo são-joanense passa, quase os 365 dias do ano, " pertinho do céu ". Festeja, na terra onde os sinos falam, com entusiasmo e devoção, tudo o que alegra os anjos no céu. Junho, por exemplo, do lado de dentro das muralhas da Serra do Lenheiro, é o mês do Coração de Jesus, em honra do que acontecem, na Matriz do Pilar, há quase duzentos anos, missas, pregações, meditações e bênção diária do Santíssimo Sacramento. As cerimônias são musicadas com obras de vários compositores barrocos são-joanenses, entre eles o Padre José Maria Xavier, João Feliciano de Souza, Luiz Batista Lopes e Carlos dos Passos Andrade. A imagem do Coração Santo que sobe ao altar-mor nesta época veio da França em maio de 1881, e o Apostolado são-joanense da Oração, responsável por difundir a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, este ano está completando 120 anos. Na segunda s

São João Batista é padrinho de São João del-Rei e deu à cidade afilhada suas notas musicais

São João Batista é o padrinho de São João del-Rei. Desde que, em 1713, o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila, tendo no nome um chamado ao santo das águas batismais, primo de Jesus Cristo, nascido no dia em que o sol menos tempo brilha no céu, 24 de junho. Mas o santo das águas do Rio Jordão é também o santo do fogo. Em seu louvor se acendem fogueiras que, com suas grandes labaredas, tornam quente e brilhante a noite maior e mais fria do ano. Fogueiras douradas como o astro-rei, e como o Rei Sol Português, Dom João V, a quem foi dedicada a Vila de São João del-Rei. Para agradar à vila afilhada, São João Batista deu a São João del-Rei, para brincar, as notas musicais, tiradas todas das primeiras sílabas das palavras de seu hino sacro. E desde então, São João, vila e depois cidade, não se separou mais da musicalidade ou, indo mais longe, da sonoridade. Em São João del-Rei, música e sons estão, o tempo todo, em toda parte... São João del-Rei v

Encontro de Verônicas de São João del-Rei. Resgatar, revelar, projetar e eternizar

São João del-Rei vive a olhar para dentro do peito e, mirando a própria alma, a trazê-la em essência sempre para a superfície. Resgatar, revelar, renovar, reinventar, projetar e eternizar, mantendo-a assim viva e pulsante. Isto foi o que mais uma vez se percebeu recentemente, no I Encontro de Verônicas  que homenageou a maestrina Maria Stella Neves Valle. Em tudo singular, Verônica é um dos mais importantes ícones da religiosidade e da tradição barroca de São João del-Rei. Sua existência dura poucas horas de uma noite tenebrosa quando, na Sexta Feira da Paixão, ela canta por sete vezes uma lamentação milenar, enquanto mostra um sudário alvo, estampado em vermelho com a face ensanguentada de Cristo. Rio frio de vento e silêncio transpassa os largos, esquinas e encruzilhadas onde ela canta. Ninguém fala palavra, criança não chora, mal se respira ou suspira. Prende-se, ou perde-se, o ar. Coberta de preto até a cabeça, nem mãos à mostra, encobertas por luvas também pretas, Verônic

Maria Stella Neves Valle. Brilhante e sonora estrela no céu de São João del-Rei

Quanto mais um povo reconhece como valores culturais não apenas obras, tradições e monumentos, mas  também as pessoas que construíram e constroem seu patrimônio, mais se apropria de sua própria história, mais revigora sua identidade e mais fortalece sua auto-estima. Isto é o que vemos cada vez mais em São João del-Rei. Neste 17 de junho, por exemplo, a cidade - por meio do Memorial Dom Lucas Moreira Neves - dá início a uma programação cultural em homenagem à maestrina Maria Stella Neves Valle que, se viva, hoje estaria completando 86 anos. Há um ano Dona Stella nos deixou, mas continua viva em cada nota musical que salta dos instrumentos e das gargantas da barroca Orquestra Ribeiro Bastos, que regeu por quase quarenta anos. Missas cantadas, palestras, programas educativos, lançamento de vídeos, recitais - tudo acontecerá durante a I Semana Cultural Maestrina Maria Stella Neves Valle , para aumentar ainda mais o acesso, o conhecimento e o gosto dos são-joanenses pela música colon

Novo sino do Carmo ameniza efeitos do tempo no patrimônio sonoro de São João del-Rei

Dizem que o mineiro trabalha em silêncio. Se isto é verdade, o são-joanense, então... Mesmo e até quando trabalha para fazer barulho! É assim sempre que um novo sino vai ser batizado e subir à torre de uma barroca igreja de São João del-Rei: intenção, dedicação, ação, emoção em palavras certas, no tom exato. Pura e silenciosa melodia. Mal o domingo amanhece e tudo o que no centro histórico de São João se ouve é um melodioso e vivaz concerto de sinos. Anunciando as celebrações matutinas, em horas esparsas, as torres das igrejas de São Gonçalo, São Francisco, Bonfim, Rosário, Matriz do Pilar, Mercês e Carmo dobram seus sinos, anunciando que aquele é o Dia do Senhor. E que por isso, em instantes, naquela igreja começará uma missa. Mas no próximo domingo, 22 de junho, a partir das 8 horas, além de chamar para a missa costumeira, os sinos da igreja do Carmo dobrarão ainda mais alegres e festivos, por um motivo maior: a bênção e batismo do sino São João da Cruz e sua subida à torre es

Casa do Tesouro diversifica os mosaicos do rico caleidoscópio cultural de São João del-Rei

A cultura de São João del-Rei é diversa, múltipla, plural e complementar.Vem de muitas matrizes, de sucessivas épocas históricas, de origens variadas. É uma cultura de matizes diferentes, porém convergentes em uma única direção: a valorização do homem, sua dignificação, elevação e felicidade. Por isto é tão rica. Ela acredita no paraíso, certa de que ele existe e de que grande parte dele pode ser vivida em São João del-Rei, e no presente. Talvez por se lembrar do que ensinou o Padre Antônio Vieira, no distante século XVI,  1694, quando em um sermão disse: " cada um sonha como vive ". Na verdade, São João del-Rei é um caleidoscópio cultural, onde algumas peças ocupam o centro e maior espaço e outras, menores, se movem nas pontas. Todas integradas. A cada movimento de todas ou de somente uma delas, novo mosaico se forma e se transforma, sem nunca se repetir. Neste panorama de avançado, evoluído e ecumênico respeito, a Associação Afrobrasileira Casa do Tesouro - E

Cultura é o maná que alimenta de felicidade a alma de São João del-Rei

Existe algum dia em que, culturalmente, em São João del-Rei nada acontece? É muito difícil... A cidade tem, nas manifestações culturais mais diversas, o maná que a alimenta de sol a sol. Faça sol ou faça chuva. Diferentemente do Velho Testamento, em São João del-Rei o maná não cai do Céu para alimentar os homens. Ele brota dos corações. Escorre das mãos são-joanenses para  se espalhar sobre a terra, para se volatilizar pelos ares, na forma de festa e arte - cultura, da mais pura. Maná que nutre as almas. Música, folguedos, procissões, cortejos, novenas, rodas de samba, congadas, representações, teatro, folias. Tudo o que dá cor ao mundo, torna vibrante a mais monótona rotina, faz viva, quente e brilhante até a hora mais fria e morta do dia. Terminaram nesta noite as duas "festas" do Divino Espírito Santo, mas a trezena de Santo Antônio continua, até o dia 13, enchendo de vida a rua mais poética e musical da cidade. Nela, moram duas setecentistas orquestras barrocas e

O divino e barroco Espírito Santo de São João del-Rei

Vermelho vivo e vibrante, amarelo dourado e brilhante. Estas, neste fim de semana, são as cores de São João del-Rei. É que a cidade festeja, no seu máximo esplendor, o Divino Espírito Santo - terceira pessoa da Santíssima Trindade. Durante o dia, o coração do centro histórico pulsa em taquicardia, ao som de sinos, toques de caixa, tropéus de cavalos, sanfonas, percussões e cantos de congadas e de folias. Dali partem cavalgadas e coloniais cortejos de imperadores e festeiros, rumo à igreja de Bom Jesus de Matosinhos, onde a festa tem alma popular. À noite, cenário sereno, das torres imponentes se ouvem dos sinos dobres e repiques. Do coro, o canto do coral dos Coroinhas de Dom Bosco, em novena e vigília. Nos altos, foguetes e as piruetas  prateadas dos fogos de artifício. No pequeno largo, em frente aos portões e muros dos cemitérios, a banda tocando alegres marchas de procissão. É o espírito barroco de São João del-Rei. Espírito barroco e alma popular, fundidos em um só sentime

Meio Ambiente é o novo verde, brilhante e sonhado Eldorado de São João del-Rei

Encontrar o verde Eldorado, colher do chão esmeraldas. Esta era a febre dos bandeirantes que, na aurora  do século XVIII, atravessaram serras, venceram abismos, estancaram rios, domesticaram a natureza, subverteram dia e noite para chegar ao coração do território que mais tarde viria a ser Minas Gerais. Na forma de douradas pepitas, as sementes de São João del-Rei brotaram naquele tempo, nas encostas da Serra do Lenheiro, em meio a capim e a quartzo. Floreceram entre barroco e arte. Medo, ousadia, pavor, cultura e castigo. Fé, trabalho, traição, tradição e paciência. Sofrimento, sentimento, temperança, lembrança, sensatez e desvario. Bravura, crueldade, covardia, memória, iluminismo e humanidades. Também em São João del-Rei, nestes 300 anos, o desenvolvimento custou o domínio, a escravidão, a exploração e a expropriação da natureza. Do solo, o ouro. Do solo, a água. Do solo, as matas. Das matas, os animais. Dos animais, a carne. Da carne, a alma. Do homem, o homem. Sonho explorató