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Mostrando postagens com o rótulo cultura negra

Dia 20 de novembro não passa em branco em São João del Rei!

  O passado e o presente estão tão unidos, e até mesmo tão emaranhados, em São João del-Rei, que não é raro, de repente, a gente se confundir e, por alguns instantes, ficar em dúvida quanto ao tempo em que agora se está. Se no século 18, 19, 20 ou 21. Principalmente se num domingo à noite, na cidade sonolenta, você começar a ouvir, ao longe, o toque de atabaques, o bater de palmas, o som de vozes firmes, entoando cantos ritmados e desconhecidos, quase ancestrais. Uma situação incomum no coração do centro histórico de São João del-Rei, mais precisamente no Largo do Rosário.  Um local que, segundo a História, desde os idos de 1708, foi um território de muito significado, força e importância para os africanos e seus descendentes, num tempo em que estas terras ainda eram o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Mais de 300 anos depois o Largo do Rosário ainda conserva para os descendentes são-joanenses dos africanos o mesmo significado e a mesma força, pois foi ...

São João del-Rei, com respeito, se curva e"bate paó" pra São Benedito!

Em São João del-Rei, o ano tem 365 dias, e todos eles são de festa. Inclusive não é raro, no calendário religioso, haver dias com mais de uma festa, o que nos leva a pensar que, em nossa terra, o ano precisa ter mais dias, para nele caber melhor todas as festas. E então, com isso, as pessoas são-joanenses viverão muito mais... Aliás, vamos pedir esse milagre a São Benedito? Afinal, não é possível que ele, desde o dia 29 de abril passado recebendo satisfeito as homenagens festivas que a comunidade do Bonfim lhe presta com grande fraternidade, alegria e entusiasmo - tríduo, missas, adorações, bênçãos, orações, cânticos, confraternizações, comunhões, shows e doações - faça a desfeita de não dar importância a este nosso pedido! A festa de São Benedito é singular no calendário religioso de nossa cidade. A começar que ela é devotada a um santo negro e, sendo assim, convém que seja também uma homenagem de lembrança, resgate e reconhecimento a todos os negros que participaram e participa...

A Paixão segundo São João (del-Rei)

Quem anda com o coração aberto em São João del-Rei colhe e recolhe imagens vivas de puro sentimento. Oportunidades de rever a vida e entender que a existência humana é breve e passa. Dela, restará viva apenas alguma lembrança, por algum tempo. Este poema é um retrato, tirado no entardecer de hoje (19/07), na Rua das Flores. Fará parte do livro A Paixão segundo São João (del-Rei) , quando ele vier a ser publicado. XIV Estação - Procissão das Lágrimas Está doendo demais! , gritava a mulher negra aos prantos, amparada por dois homens negros, silenciosos. Dos olhos dela desciam rios caudalosos, ladeira abaixo, pelo beco, até a encruzilhada onde às vezes se encontram o Espírito Santo, Nossa Senhora do Rosário e Santo Antônio. A tarde fugia, o sino tocou Ângelus, mas nada adiantou. Nenhum dos três veio trazer alento, obedientes ao que, no Velho Testamento, pregou o profeta Jeremias: "Grande como o mar é tua dor. Quem poderá te consolar?" A tarde caiu mais um pouc...

Letras de amor e dor, em bico de beija-flor. O coração do navegante negro em São João del-Rei

Letras do tempo, escritas com lágrima e dor nas páginas obscuras, sombrias e esquecidas da história do Brasil cochilam sossegadas, longe dos olhos e da memória, guardadas em algum lugar de São João del-Rei. Uma fita ondulante, erguida no bico de dois beija-flores,  mais parece uma pauta musical. Nela, as notas são quatro letras que escrevem, acentuada, a palavra Amôr. Logo abaixo, um coração flamejante, apunhalado e sangrante, tem ao lado ramos de flores humildes, um passarinho triste e uma borboleta quase sem vontade de voar. Tudo no centro de uma pequena toalha de algodão branco, hoje amarelado pelo passar dos longos dias e dos anos lentos e distantes. - Mas o que é que esse pano, esse bordado, tem de tão importante para almejar estar guardado em museu? - Ora, esta toalha é uma página da história. Aqui anda meio jogada, desprezada, mas se outros lugares soubessem dela, certamente seria muito disputada... - Quem bordou isto, com linhas tortas tão sem vida e pontos tão...

Salve a coroa do "Rei do Mundo" em São João del-Rei! Atotô, Obaluaiê!

Agosto, em São João del-Rei era um mês de grande apreensão. Céu de tempo revolto, de neblina ainda pela manhã, de nuvens em agitado movimento, o vento correndo frio e raivoso, varrendo em redemoinho folhas no chão, sacudindo com força as roupas nos varais, espalhando viroses... Para muitos, agosto é mês de cachorro “zangado”, como se dizia antigamente dos cães contaminados pela raiva. Em uma era em que tudo era tranquilo e o mundo girava devagar, o oitavo mês do ano era também temido pela quantidade de acidentes que aconteciam naquele período, marcado pelo dia de São Bartolomeu, festejado em 24 de agosto. São Bartolomeu é  “santo bravo”; tão bravo que na noite de São Bartolomeu, no ano de 1572, praticou-se canibalismo nas cidades francesas de Lyon e Auxerre,  inclusive com venda de gordura, fígado e coração humanos. As vísceras eram assadas em braseiros, no meio das praças, conta Frei Beto, citando Jean de Léry. O sincretismo religioso afrobrasileiro associou São Ba...