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Mostrando postagens de 2013

Retrato sentimental e poético de São João del-Rei

                              "   Todo sino é uma saudade de bronze.                        Toda maria-fumaça é uma saudade                        de ferro e fogo. " Ao que se sabe, o teólogo Rubem Alves não dedicou esta construção poética a São João del-Rei. Mas ela expressa tão precisamente o sentimento são-joanense que pode ser considerada um retrato sentimental e poético de São João del-Rei. ........................................................................... Foto: Marcinho Lima

Novena barroca de Natal em São João del-Rei. Encantamento, magia e mistério!

O calendário festivo de São João del-Rei é tão intenso que mal termina uma "festa" e outra já está a caminho, quando não começando ou, então, já na metade. As comemorações do Natal, por exemplo, na "terra onde os sinos falam" começam no dia 16 de dezembro, com uma novena barroca, na igreja do Rosário - a mais antiga da cidade. Nesta celebração, durante nove noites a Orquestra Lira Sanjoanense - a mais antiga das Américas - executa hinos, salmos, responsórios e ladainhas compostos no século XIX, entre eles as famosas "Matinas do Natal", que o compositor são-joanense Padre José Maria Xavier criou especialmente para a ocasião. Muito alegres, vivas e suaves, as Matinas são cantadas em latim e descrevem a história do nascimento de Cristo. Narram o chamado que o Anjo fez aos pastores, o movimento do cometa que guiou os Reis Magos do Oriente até Belém, a humildade devota dos animais que estavam na estrebaria, a harmonia infinita e brilhante dos astros no céu

Os olhos de Santa Luzia iluminam São João del-Rei, seja de noite, seja de dia

13 de dezembro - dia de Santa Luzia. A eternamente jovem, virgem e cega, que tem domínio sobre os olhos, protege a visão e guia os cegos na sua noite longa e sem estrelas. Em São João del-Rei, Santa Luzia tem bastante prestígio junto ao povo são-joanense, que chega a ter com ela, inclusive, relativa intimidade física. Durante o ano quase inteiro, a Santa - em imagem de madeira - mora sobre uma arca grande na sacristia da modesta igreja de São Gonçalo Garcia. A ela fazem companhia flores artificiais, bilhetes, pedidos, agradecimentos e fotografias daqueles que lhe devem ou lhe pedem favor: homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e velhos. Pessoas simples, humildes de bens e ricas de esperança e fé. Da noite da Quarta Feira de Trevas até o entardecer da Sexta Feira da Paixão, Santa Luzia vai para a entrada da igreja onde, à frente do tapa-vento, recebe os são-joanenses. Estes, por sua vez, ajoelham-se diante dela, beijam a fita roxa que pende de seus pés e passam-lhe o polega

Folias de Reis anunciam - com cor, suor, devoção e alegria - o Natal em São João del-Rei

São João del-Rei está em um momento muito feliz. Não apenas pelo calor e entusiasmo com que está comemorando os 300 anos da criação da quarta vila  de Minas Gerais, ou melhor, da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, quando o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes foi elevado à categoria de Vila, com o nome de São João del-Rei, em homenagem ao faustoso soberano português D. João V. São João del-Rei está em um momento muito feliz porque está voltando seu olhar para si própria. Não que negue e desvalorize o mundo que existe do outro lado da Serra do Lenheiro, mas sim porque está garimpando suas próprias riquezas, se apropriando de seus tesouros culturais, reconhecendo suas origens e reforçando-as como bases de sua identidade e de sua cultura. É de posse desta história, desta memória e deste patrimônio que, a partir de então, São João del-Rei vai se apresentar para o mundo. E recebê-lo na intimidade dos quintais da alma são-joanense, onde se cultiva e colhe

300 anos de São João del-Rei em destaque no Terra de Minas

Minas Gerais dirigiu um olhar especial para São João del-Rei neste dia 8 de dezembro, saudando o povo são-joanense pelos 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à  Vila de São João del-Rei. O programa Terra de Minas , da TV Globo, produziu uma série especial sobre a cultura e as tradições locais, exibida neste domingo, que você pode conhecer clicando nos links abaixo A barroca lembrança dos velhos quintais que ainda existem no centro da cidade http://redeglobo.globo.com/mg/globominas/terrademinas/videos/t/edicoes/v/terra-de-minas-comemora-300-anos-de-sao-joao-del-rei-e-desvenda-os-quintais-da-cidade/3003704/ A música que desce das torres e escorre sonora pelas ruas coloniais http://redeglobo.globo.com/mg/globominas/terrademinas/videos/t/edicoes/v/com-instrumentos-pelas-ruas-sao-joao-del-rei-transforma-os-sinos-da-igreja-em-musica/3003710/ Pinturas rupestres e história de amor proibido na Serra do Lenheiro http://redeglobo.globo.com/mg/globominas/ter

Festa, emoção e coração nos 300 anos da Vila de São João del-Rei - Falam os são-joanenses

Trezentos anos separam 8 de dezembro de 1713 de 8 de dezembro de 2013. Trezentos anos unem 8 de dezembro de 2013 a 8 de dezembro de 1713. À luz do sol do Campo das Vertentes e à sombra da Serra do Lenheiro, São João del-Rei está em festa, celebrando os três séculos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar da Comarca do Rio das Mortes à condição de Vila, com o nome de São João del-Rei. A quarta instituída em Minas Gerais, quando o estado ainda se chamava Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro. A história de São João del-Rei se mistura com a história de vida dos são-joanenses. Aliás, é difícil saber se elas se fundem, se são indissociáveis ou se são uma só. Isto é o que se percebe nos depoimentos de são-joanenses publicados hoje no blog São João del-Rei 300 anos, que você pode ler clicando neste link  http://saojoaodelrei300anos.blogspot.com.br/ Parabéns, São João del-Rei, pelos seus 300 anos. Parabéns, são-joanenses, por sua história e por suas histórias!

Coração são-joanense: 300 anos de história & sentimento - Mande sua mensagem!

300 anos não são 300 dias . Por isto, os três séculos de elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar a Vila de São João del-Rei enchem de alegria e orgulho são-joanenses e não são-joanenses. Afinal, nascia ali a quarta vila do ouro instituída em Minas Gerais. Em cada um destes 109.500 dias, construiu-se São João del-Rei e tudo o que identifica, diferencia e singulariza o povo desta cidade. Educação, sabedoria, religiosidade, humanismo, cidadania, criatividade, cultura, tradição, patrimônio, lembrança e memória. Esta é a principal riqueza da  terra onde os sinos falam . Pensando nisto - e no entusiasmo dos trezentos anos da Vila de São João del-Rei - que tal declarar à cidade seu afeto e sentimento,  encaminhando uma mensagem para o e-mail   sjdr300anos@gmail.com  ? Texto, desenho, foto, poema, vídeo, música, história ou estória - vale tudo! Se possível, informe pelo menos nome, idade e cidade, pois muitas mensagens serão publicadas no blog São João del-Rei 300 anos (

Eparrêi, São João del-Rei! Valei-nos Santa Bárbara, São Jerônimo...

Em tempos passados, sempre que um raio violento estrondosamente cortava ao meio o céu de São João del-Rei, logo se ouvia aflito chamado: Santa Bárbara! São Jerônimo! Era assim que se pedia socorro quando vinha o temor das tempestades. E logo se cobria espelhos, para que não refletissem os raios, se desligava tomadas, ninguém abria janela, pegava tesoura ou tocava em torneira. Pelo contrário, se acendia uma vela, benta no dia de Nossa Senhora das Candeias, 2 de fevereiro, e se queimava a palma levada à igreja para bênção na manhã do Domingo de Ramos. Tudo sob a invocação de Santa Bárbara. A santa, que tem aos pés uma torre, na cintura uma espada, nas mãos um cálice e uma palma verde, na cabeça uma coroa, exerce domínio inquebrantável quando o céu se desmancha em chuva forte. Acalma raios, amansa ventos, tranquiliza o firmamento. Afasta o temor e traz paz ao coração. Nos tempos modernos, para-raios sobre torres e telhados são a contemporânea espada de Santa Bárbara. Ante

Tempestade em São João del-Rei faz lembrar 1797

A última noite de novembro deste ano não desceu sobre São João del-Rei com seu manto azul escuro  bordado de estrelas. Pelo contrário. No momento em que a lua nova deveria estar pousando sobre a Serra do Lenheiro, uma nuvem pesada prenunciava um acontecimento que, ao longo de 300 anos, os são-joanenses já viram muitas vezes: uma forte tempestade que com muito ruidosos e velozes flashes de prata fez brilhar telhados e paralelepípedos. A água, violenta, transformou o pacato fio d'água que corta ao meio a cidade em um gigante líquido e furioso, a enfrentar, com vigor, as setecentistas pontes de pedra e a resistir ao extremo os limites que o guarnecem, em São João del-Rei conhecidos como cais. Longe do mar, ali o Córrego do Lenheiro, na intimidade dos mais antigos, é informalmente chamado de praia. Contra as forças da natureza, o homem pode muito pouco, quase nada e esta realidade é universal. Está presente o tempo todo, em toda parte do mundo. Basta olhar as notícias que volt

Até na tristeza e na dor, São João del-Rei pulsa vida e cor

Vivacidade, vibração e cor. Esta é, no momento, uma das santíssimas trindades de São João del-Rei. Basta andar sem pressa e percorrer com olhar atento as praças, largos, ruas e becos do centro histórico para perceber que a cidade vive uma era de muita energia e corajosamente a proclama na cor das fachadas, dos portais, beirais e janelas. A foto que ilustra este post mostra isso: a natureza generosa da árvore azul é uma cortina para janelas do Hospital Nossa Senhora das Mercês. Em uma delas, toalhas amarelo e laranja acenam a certeza de quem, mesmo em um leito, acredita que a vida intensamente pulsa do lado de dentro e do lado de fora, mediada pelos tons firmes dos tecidos tramados que secam ao sol.

Em São João del-Rei, tocar sino é sagrada sina

Sobre o amor "de nascença" e o encantamento dos meninos de São João del-Rei pelo ofício de dobrar sinos, o vídeo abaixo - testemunho inocente e verdadeiro - diz mais do que muitas mil palavras. Clique e confira!.. http://vimeo.com/76107756

1713 / 2013 - São João del-Rei 300 anos - 8 de dezembro está chegando, mas a festa começa já!

A todo instante aparecem novos eventos que acontecerão para comemorar os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, fundado por volta de 1703, à categoria de vila, com o nome de São João del-Rei. Assim nasceu a 4a vila do ouro instituída em Minas Gerais, quando este território ainda fazia parte da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Participe, comemore, festeje, cuidando de seu jardim, regando as flores que saltam para a rua, pulando por cima dos muros de sua casa, mantenha limpa sua calçada, sua rua, sua praça. Toda cidade é o espelho da alma do povo que mora nela! Lembrando o que disse o poeta Antônio Marcos Noronha                           " Era um dia comum                             e virou festa.                            A gente põe nas coisas                            as cores que tem por dentro. " Parabéns, São João del-Rei! Para conhecer outros eventos que já estão acontecendo na cidade, em comemoração ao terceir

20 de novembro: São João del-Rei tem consciência negra

Não é verdade dizer que em São João del-Rei não existe preconceito racial. Os negros de nossa terra que aqui já sofreram - e os que ainda hoje sofrem - discriminação desmentiriam, testemunhando em contrário. O modo como foi constituída a sociedade são-joanense, nas origens do século XVIII, quando o ouro qual gabiroba era catado à mão nas encostas da Serra do Lenheiro, contribuiu para que em São João del-Rei as questões raciais fossem muito próprias. Como em todo arraial nascido da mineração do século XVIII, a população era formada por pessoas de todos os níveis, classes e procedências, principalmente de aventureiros que, sem eira nem beira, viam no Eldorado das Alterosas a grande oportunidade de enriquecimento. Inclusive negros. Isto forjou uma sociedade mestiça e moldou um espírito coletivo favorável à diversidade, ao sincretismo, à tolerância e à miscigenação. A verdade é que, desde aquela época, de algum modo o negro estava e está inserido na vida de São João del-Rei, mu

A música de São João del-Rei é a afilhada preferida de Santa Cecília.

São João del-Rei é terra abençoada. Santos e anjos que moram na corte celestial habitam também a terra que tem no nome uma homenagem ao Rei Sol português, D. João V. Entre as tantas divindades que habitam o firmamento, mas que não tiram os olhos do povo são-joanense, uma, inclusive, fica mais na cidade do que no céu. É Santa Cecília! Mas pudera: como desde 1717 a Música firmou morada em São João del-Rei, aqui a santa tem para cuidar quatro bandas de música e três orquestras, vários corais, grupos de câmera, duos, trios e quartetos, muitos maestros, sineiros e compositores, sempre em permanente atividade. Nas igrejas, nos teatros, nas praças, nas ruas, nos auditórios. E como Santa Cecília é padroeira dos músicos, não é sem motivo que ela está em toda parte... Mas aqueles a que a santa dedica tanto olhar e zelo não lhe são ingratos. Deram-lhe lugar de honra, em um dourado altar lateral da Matriz e Pilar, e a guardam consigo, em imagem ou estampa, na sede da Orquestra Ribeiro

Rondó do Apocalipse segundo São João del-Rei

Em São João del-Rei, passeando pela Rua Direita, descobri que no Bazar Apocalipse não vende passagem para o fim do mundo. Nem para a casa do capeta. Não vende Arca de Noé, nem costela de Adão, nem a lira de Davi, nem lança de centurião, nem trombeta de Jericó, nem o ' cinco ' Salomão... Vende vuvuzela, argola, agulha, arruda, arruela, sacola, corneta, cadarço, caneca, caneta, boneca, barbante e monte de tudo que é invenção. Você vê a marca da besta-fera na placa pinguela? Se não, fica esperto. É questão de tempo. Espera...

Em São João del-Rei, herói Tiradentes encontra Tancredo Neves. Séculos XVIII e XXI se abraçam!

Há 267 anos, no dia 12 de novembro de 1746, na capela de São Sebastião do Rio Abaixo, pertencente à paróquia da Vila de São João del-Rei, foi batizado um menino, nascido na Fazenda do Pombal, então pertencente à mesma Vila. Seu nome de batismo? Joaquim José da Silva Xavier. Apelido como ele ficou mais conhecido? Tiradentes. O maior herói de Minas Gerais e o grande símbolo do sentimento brasileiro de soberania e amor à liberdade. Sua história, todo mundo sabe: não teve madrinha, era o quarto de nove irmãos, ficou órfão de mãe aos 9 anos, tornou-se dentista - daí o apelido Tiradentes - e alferes de cavalaria. Foi o grande idealizador da Inconfidência e o único sumariamente castigado com o sacrifício da morte em forca, diante da multidão. Esquartejado, seu corpo, antes suspenso no cadafalso, novamente fora elevado, em partes, pelos caminhos onde andou. Transformado em símbolo, Tiradentes tornou-se um ente abstrato. Uma lembrança distante na cidade onde, historicamente, em 1746

1713 - 2013 . Contagem regressiva: faltam 30 dias para os 300 anos da Vila de São João del-Rei

Daqui a exatos 30 dias, no dia 8 de dezembro, São João del-Rei estará vivendo uma data especial: os 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes à condição de Vila, com o nome de São João del-Rei. A quarta vila instituída na Capitania de Minas Gerais homenageia, no nome, o rei sol Português, Dom João V, soberano daquela época. Sua esposa, Mariana, havia sido homenageada nomeando a primeira vila de Minas. Na Casa de Câmara e Cadeia daquela cidade existe, até hoje, em pintura, um retrato de cada um deles. A programação comemorativa do tricentenário é longa e vasta. Além dos eventos pontuais já realizados este ano, se tornará mais intensa a partir do dia 22 de novembro, com uma jornada de educação patrimonial. Mas a partir do dia 2 de dezembro, vários eventos acontecerão todo dia, até encerrar-se no dia 6 de janeiro, com o já tradicional Encontro de Folias de Reis. Do barroco ao popular, do erudito ao artesanal, da fé à festa, do sagrado ao pro

Foto antiga mostra São João del-Rei em 1922, comemorando os 100 anos do Grito do Ipiranga

Me diga: que lugar de São João del-Rei é este? De onde foi tirada esta foto? Em que hora, dia, mês e ano? O que de tão importante estava para acontecer? Vamos por partes, o título ajuda. Esta é a visão que antigamente se tinha da atual Avenida Presidente Tancredo Neves, na altura do Círculo Militar, na margem esquerda do Córrego do Lenheiro, possivelmente tirada de cima da Ponte da Cadeia. Ela foi tirada na tarde do dia 7 de setembro de 1922 quando, comemorando o primeiro centenário da Independência do Brasil, o povo são-joanense esperava, em massa, com expectativa e entusiasmo, o desfile cívico da corporação militar que hoje é o atual 11º Regimento. ........................................................ Fonte e foto: saojoaodelreitransparente.com.br Texto: Antonio Emilio da Costa

Em São João del-Rei todo dia é Dia da Cultura. 24 horas por dia. 365 dias por ano! Há três séculos...

Desde quando Minas Gerais - ainda Capitania unida a São Paulo - no alvorecer do século XVIII, começava a construir sua identidade, arte, memória, criação, patrimônio, música, tradição, criatividade e várias formas de expressão erudita e popular fazem parte da alma de São João del-Rei. Os são-joanenses vivem isto cotidianamente, 365 dias por ano. Por este motivo, 5 de novembro, em princípio, deveria ser uma data reluzente no calendário de São João del-Rei. Começar com uma alvorada festiva, feita pelas cinco bandas de música, continuar movimentado durante todas as horas seguintes com exposições de arte, cortejos dos grupos de congada e folias, shows e recitais nas praças públicas, apresentações de música barroca, concertos sinfônicos, até encerrar-se, tarde da noite, com uma ruidosa, harmônica e colorida queima de fogos de artifício. Mas para os são-joanenses, nada disto é excepcional. Pelo contrário, tudo isto faz parte do dia a dia de São João del-Rei, em autêntica celebração do

Finados. Junto aos veios de ouro, às raízes e às nascentes de São João del-Rei, requiescat in pace

São João del-Rei, desde sempre, tem intimidade com a morte. Cemitérios colados às casas, os vivos são vizinhos dos mortos. No século XVIII, a Procissão das Cinzas lembrava em cortejo solene e figurado, nas ruas coloniais, a finitude da vida. Desde aquela época, durante a Quaresma, no ciclo da Festa de Bom Jesus dos Passos, Encomendações de Almas, em três consecutivas sextas-feiras, percorrem encruzilhadas, cruzeiros e portões de cemitérios, a chamar os mortos e entregar-lhes músicas e orações. São João del-Rei, a religião, a morte e as contradições. No Carnaval, uma escola de samba ensaia sua bateria no limite exato que une e separa os mortos e os vivos - o alto portão de ferro do Cemitério do Carmo. Nos desfiles, o Bloco dos Caveiras expõe debochadamente a morte, com a irreverência em estandartes, caixões, defuntos, ossos, fogo, fumaça e figuras tenebrosas. É medonho. Na Sexta-feira da Paixão, o grande momento é a Procissão do Enterro, também chamada Procissão do Senhor Morto.

Na memória de São João del-Rei, onde foram parar Todos os Santos?

Uma tradição muito antiga que já dobrou a  esquina - e há décadas não se vê mais em São João del-Rei - é a Ladainha de Todos os Santos . Apesar de o dia de Todos os Santos ser 1º de novembro, em nossa cidade a ladainha era rezada na alvorada dos três dias que antecediam o domingo em que se comemorava a Ascensão do Senhor. A recitação acontecia durante uma procissão sem andor, que saía da Matriz do Pilar ainda de madrugada, antes do nascer do sol. Puxada pelo vigário, percorria em círculo irregular ruelas e becos do centro histórico, retornando para a mesma igreja de onde saíra. O padre, cantando, chamava alto, pelo nome, todos os santos e os devotos, em coro cantado, suplicavam também em alta voz: rogai por nós ! No passado, o clamor era em latim: ora pro nobis ! Tem coisas que o tempo leva e não traz de volta. Em São João del-Rei, a Ladainha de Todos os Santos foi uma delas. Ficou em algumas lembranças. Oxalá para sempre vire memória. Sobre o mesmo tema, leia também http:/

Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei. 230 anos de existência. 197 anos de oficialização

197 anos. Este é o tempo que se passou desde que Dom João VI, no dia 31 de outubro de 1816, assinou Provisão confirmando a fundação da Santa Casa de Misericórdia da Vila de São João del-Rei. Mas o hospital já existia desde o século XVIII, mais precisamente desde 1783, quando foi criado pelo ' irmão da Misericórdia ' Manoel de Jesus Fortes, com o nome de Casa da Caridade.   Um documento datado da época exata em que começou a funcionar o hospital, assim o descreve:             ficava " em lugar próprio e acomodado, no qual [o irmão Manoel] fez              os cômodos  necessários para 30 doentes, com todas as camas precisas              e distinção de lugares  para p essoas de um e de outro sexo. A obra tem             merecido aplauso de todo o povo.                               Por verem que sendo principiada em janeiro do presente ano de 1783,              logo para ela  entraram enfermos aos quais até o presente momento                 não tem faltado

Quem escreveu, com letras arabescas, os primeiros capítulos da dourada história de São João del-Rei?

A história de São João del-Rei e tão antiga - e dá tantas voltas no tempo - que muitos nomes que a escreveram estão diluídos nos séculos, esquecidos das memórias, desconhecidos do são-joanense de hoje. Um deles é o do capitão José Álvares de Oliveira. De origem legitimamente portuguesa, Álvares de Oliveira viveu em São João del-Rei por quase cinquenta anos, aqui chegando pouco depois da descoberta do ouro na Serra do Lenheiro e da criação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar. Aqui, teve participação destacada, como capitão, na violenta Guerra dos Emboabas, que aterrorizou a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro entre 1708 e 1709. Com a instituição da Vila de São João del-Rei, em 8 de dezembro de 1713, foi eleito procurador da primeira Câmara e depois, em 1719, juiz ordinário do Senado da Câmara. Em 30 de outubro de 1751, eleito fiscal da Real Casa de Fundição da Vila de São João del-Rei, não aceitou o cargo. Seu estado de saúde não era bom e, além do mais, a sensatez sabi

Finados dias, de lembranças, dores, ausências e de saudades, em São João del-Rei

Novembro ainda se avizinha, mas já se sente um suspiro fundo no peito colonial de São João del-Rei. Um sopro no coração, barroco, de saudade. O décimo primeiro mês do ano traz consigo, como estandarte, o vazio deixado por aqueles que já se foram. A lembrança daqueles que não mais existem. Traz no ar o que Adélia Prado escreveu: " a ausência a ocupar todos os meus cômodos ". Nos dias que antecedem Finados, os são-joanenses já acorrem, preventivamente, aos cemitérios. Lavam e enceram os túmulos, espanam os crucifixos, avivam os nomes das placas, tiram fora as desbotadas flores de plástico. Vazias, as floreiras novamente serão enfeitadas com ramos da flor saudade na manhã do dia 2 de novembro, enquanto os sinos, de todas as torres, choram Exéquias. Outubro de 2013. Em São João del-Rei ainda é assim...

São João del-Rei, setembro de 1993. Relembrar, para não esquecer! E cada vez mais aprender...

Há 20 anos, São João del-Rei foi manchete nos principais jornais impressos do país. Nos telejornais, não foi diferente: o nome da cidade era repetido várias vezes por dia. E não era por um fato glorioso ou um acontecimento à altura dos são-joanenses. Pelo contrário. O motivo de tamanho alvoroço  era  uma questão preocupante para o patrimônio arquitetônico-urbanístico do país, que colocava de um lado o poder público local e de outro o poder público federal. Do que se tratava? Do asfaltamento da Rua Santo Antônio - uma das mais antigas e bonitas do centro histórico colonial, famosa por suas casas tortas e por ser endereço das sedes das duas orquestras mais antigas das Américas - a Lira Sanjoanense e a Ribeiro Bastos - e da centenária Banda de Música Theodoro de Faria.Temia-se que a rua, que fora trilha de entrada dos bandeirantes no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, em 1703, 290 anos depois servisse de caminho para o asfalto chegar definitivamente às ruas, becos, praças e larg

Corações negros de São João del-Rei teluricamente batem como tambor por Nossa Senhora do Rosário

Pela intensidade e fervor das manifestações religiosas que há mais de trezentos anos são realizadas em São João del-Rei - antes pelos escravos e, depois, por seus descendentes - logo depois que começa a primavera, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, pode-se dizer que outubro é o sagrado mês negro desta terra. Afinal, desde 1708 Nossa Senhora do Terço é madrinha do povo que veio da África e há três séculos vive ao longo e em torno da Serra do Lenheiro Caixas, tambores, vozes, bandeiras, rezas, rosários, fitas, flores, espelhos, olhares - tudo ressoa, pulsa, vibra, brilha, tremula nos grupos de congada de São João del-Rei e arredores. Homens, mulheres, crianças, idosos, unindo ontem e hoje, dois tempos, neste mês se juntam em grupos e ternos para praticar uma devoção muito antiga, iniciada em 1208. Foi naquele distante ano que Nossa Senhora do Rosário apareceu a São Domingos de Gusmão e lhe entregou um terço de 150 contas. Isto, exatamente 500 anos de ser criada a Irmandade

Líricos e poéticos becos de São João del-Rei: Beco do Salto, veiazinha de um coração colonial

O Beco do Salto é como uma veiazinha estreita e acanhada, na aurícula mais colonial do coração histórico de São João del-Rei. Unindo a Rua Santa Teresa à Rua Santo Elias e desaguando em esquina da casa mais antiga da cidade, tem por vizinhos próximos, quase porta a porta, uma grande pedreira com uma mina de ouro, a igreja e o Cemitério do Carmo, o Chafariz da Municipalidade, o Largo da Cruz, o Largo do Carmo e a Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Tão grande e por tanto tempo foram sua timidez e autoabandono que suas casas quase se autoarruinaram. Hoje, com restaurações, estão novamente reforçando sua face de outros tempos. A memória nacional ganha com isto. Personagens famosos, verdadeiramente importantes na cultura musical de São João del-Rei, moradores de um pequenino sobrado no Beco do Salto, foram o violinista Geraldo Ivon da Silva, o Geraldo Patusca, e sua primeira esposa, Maria José, a Maricota - ambos músicos da Orquestra Lira Sanjoanense. Ali, sob esta

Saúde pública e serviço social nas primeiras décadas da Vila de São João del-Rei

A elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes à categoria de Vila, em 8 de dezembro de 1713, deu a São João del-Rei, não somente um novo status sócio-geopolítico-administrativo na Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Possibilitou e favoreceu a implantação pioneira de alguns serviços públicos essenciais que, como sementes do respeito ao direito de cidadania, proporcionavam melhores condições de vida aos que habitavam nas cercanias da Serra do Lenheiro. Um destes serviços foi a saúde. Consta que em 22 de outubro de 1718, portanto há 295 anos, a Câmara contratou o médico português José de Macedo Correa, formado pela Universidade de Coimbra, para " curar os pobres de graça ". Por este trabalho ele receberia, anualmente, 1 libra de ouro. Foi, assim, Dr. Macedo o primeiro médico que se instalou na Vila de São João del-Rei. Para esta contratação, a Câmara tinha um bom argumento: " estavam morrendo muitos escravos, por não haver quem lhes

Em São João del-Rei, no mês de outubro, viva Nossa Senhora do Rosário!

Em São João del-Rei, antes que em qualquer outro lugar de Minas, "Bendito, louvado seja ô ganga,    o rosário de Maria!    No mundo, já era noite, ô ganga.     Lá no céu, parece dia... Foi por meio de nossa cidade que a Senhora do Rosário desceu nas terras mineiras. Antes que surgisse o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, ela ainda não havia chegado nas regiões onde o ouro brilhava qual as estrelas. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São João del-Rei é a mais antiga de Minas Gerais. A segunda mais velha do Brasil. Como não se orgulhar disso? Como não ser grato à Senhora do Rosário por esta preferência pelos são-joanenses, a quem, desde a madrugada do século XVIII, oferece o Menino Jesus e o rosário da salvação? Como não se rejubilar por esta distinção? A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros de São João del-Rei foi fundada em 1708, quando fervia na região a sangrenta Guerra dos Emboabas. Nenhuma vila tinha sido instituída na

Líricos e poéticos becos de São João del-Rei: Beco do Capitão do Mato do sagrado ao pecado, perdição

Entre os velhos becos da colonial São João del-Rei, um era o mais desgraçado. Caminho da maldade e do pecado, era o Beco do Capitão do Mato. Numa ponta, imaculada, a pureza e a bondade. Torre branca, muitas portas, tudo para a capela do Santíssimo Sacramento, em eterna adoração, na igreja do Carmo. Na outra, pura obscuridade: mulheres de vida livre, serenatas, rufiões, risadas, bandidos, gemidos, pervertidos, miseráveis, jogatinas, cachaçadas. No caminho de pedra e poucos passos, entre virtude e desgraça, morava a crueldade do solitário capataz que a alma ao diabo, em troca de ouro, entregara. O tempo passou. Adeus Margarida Tomba-homem. Adeus Helena dos Cachos. Adeus Índia Paraguaia. Adeus mulheres da vida. Adeus escravidão. Adeus capitão do mato... Estreito e simpático, entre a igreja do Carmo e a Rua da Cachaça, o Beco do Capitão do Mato é hoje uma rota inocente, de pedra calçada. Tanto que, na voz do povo, tem nome infantil: Beco da escadinha, Beco do Carmo. Visto da parte

Líricos e poéticos becos de São João del-Rei: Beco Sujo tem flores de cidadania e civilidade

Por mais belos e delicados que pudessem ser, antigamente, em São João del-Rei, becos não eram locais nobres. Eram como atalhos, vielas que não alcançaram a condição de rua, tamanhas sua estreiteza, pequena extensão e desprezada importância. Gente de bem não morava em beco. Na velha São João del-Rei, também não costumavam ser caminhos por onde passava quem queria ou podia ser visto. Muito pelo contrário, estes trajetos traziam em sua reputação algo de clandestino, escuso, suspeito, condenável. No discurso popular " campear nos becos ", não era coisa de gente direita, decente, bem-intencionada. Mas os becos sempre foram locais poéticos, singulares, autênticos caminhos que levavam  sorrateiramente a seu destino quem, por pressa, vergonha, acanhamento ou atitude duvidosa, não desejava ser interrompido ou reconhecido. À noite eram (e ainda hoje são) caminhos arriscados. Ninguém nunca sabe o quê nem quem pode encontrar em uma curva fechada e estreita, em um ângulo agudo, por

Tapetes de flores de São João del-Rei: arte-manifesto lembra que "os sonhos não envelhecem"

Areia, serragem, sementes, flores. Gestos delicados, contornos cuidadosos, concentração, cordialidades, sorrisos. Cores. Muitas cores, escorrendo entre os dedos a formar símbolos sagrados, paisagens celestiais, querubins, cálices, pietás, sudários, estrelas, rocalhas, volutas, rendilhados. É deste modo que o céu desce ao chão em forma de tapete processional e se alastra nas ruas de pedra durante as festas religiosas de São João del-Rei. Mas como tudo na cidade, esta história já vem de um bom tempo. E o tempo passa a favor de São João del-Rei.  Este ano, quando se completam 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes a Vila de São João del-Rei, completaram-se, no mês de abril, 30 anos da re-criação dos tapetes de serragem e flores como expressão artística, arte-manifesto em favor da preservação e valorização turístico-cultural da quarta vila do ouro instituída em Minas Gerais. Tudo começou em 1983 numa conversa de jovens que começou em uma expo

Crianças: a Arca da Memória de São João del-Rei

Quando se fala na preservação da memória e perpetuação da cultura de São João del-Rei, não se pode esquecer de um segmento muito importante: as crianças. São elas que, por gerações, levarão acesa na lembrança a chama da história do que nos legaram nossos antepassados. Que perpetuarão séculos afora, com amor, zelo e compromisso, as crenças, esperanças, tradições, sabedorias e saberes aqui construídos e cultivados há mais de três séculos. O dia 12 de outubro - Dia da Criança - é bom para se lembrar disto. Pensando assim, é preciso cada vez mais inserir a criança no universo cultural de São João del-Rei. Nas tradições barrocas, como as procissões e outras festas religiosas. Nas expressões populares, como congada, folia de reis, carnaval, artesanato. Em todas as artes, sejam música, teatro, literatura, dança ou artes plásticas. Na gastronomia... Na vanguarda de outras cidades, São João del-Rei já desenvolve algumas ações neste sentido. Em relação aos tapetes processionais, isto já