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Mostrando postagens com o rótulo patrimônio imaterial

São João del Rei tem saudades do tempo que não viveu!

O calendário da vida , em São João del-Rei, é regido pelas festas religiosas. O são-joanense tradicional, "legítimo" - como diziam (e ainda dizem!) os mais antigos quando querem testemunhar que algo  é 'o orignal e verdadeiro' -, medem o tempo pelos ponteiros de deus girando numa ciranda alegre e festiva de celebrações, que se sucedem pelo ano inteiro. De janeiro a dezembro. Pensando sob uma certa perspectiva, pode-se até mesmo dizer que o calendário religioso de nossa terra tem mais dias do que o calendário civil. Há pouco mais de um ano, a cidade de repente viu-se diante de uma nova realidade. A pandemia do coronavirus virou o mundo pelo avesso e, nele, São João del-Rei. Do dia para a noite, uma des-ordem se estabeleceu, tão perigosa quanto desconhecida e misteriosa, e qualquer deslize, inocente ou acidental; qualquer transgressão, deliberada ou por vontade própria, quase sempre tem levado ao que em toda parte é líquido e certo: à morte.  Mas aqui, não à morte como ...

Via Sacra e Encomendação de Almas. Magias da Quaresma em São João del-Rei

Quaresma é uma era diferente em São João del-Rei. Talvez seja a era anual de São João del-Rei. Sendo assim, as  sete sextas-feiras da Quaresma, então... Até quem não é nativo, ou mesmo os são-joanenses alheios às tradições e à identidade local - enfim, qualquer pessoa que nestes dias transitar pelo centro histórico ou pelos bairros mais antigos da cidade - vai notar algo diferente no ar. Atmosfera mais densa, clima espesso e misterioso, ecos da reza de algum terço, esgarçado e trazido entrecortado e de longe pelo vento, dobre longo, solitário e choroso de um sino, expectativa contraditória  quanto à Paixão e à compaixão, à dor e ao gozo, à festa que é  sofrimento. O silêncio conversa nas esquinas, nas pontes, nas encruzilhadas, nos largos e seus cruzeiros. Espreita das janelas de guilhotinas, escorre nas pedras do chão, escorrega, sorrateiro, pelas bicas dos telhados. Conversa com as pessoas que passam, com suas memórias, lembranças e pensamentos. À noite, tem...

Festa do Bonfim. Tesouro espiritual de São João del-Rei!

Gira o mundo, passa o tempo, renovam-se ideais, valores e desejos, vão-se costumes, fama, pessoas e nomes, apaga-se promessas, abandona-se juras... Acontece tudo, mas aqui tem coisas que não mudam: a fé do povo de São João del-Rei e o modo como os são-joanenses se relacionam com o que é sagrado. A intimidade de, ainda vivos, transitarem pelos territórios celestes a conversar com os santos, os recursos e expedientes que criaram e sustentam para fazer seus pedidos, empenhar votos, expressar confiança, agradecer intercessões e graças, atravessar séculos e esperar a vida eterna. É isso o que os são-joanenses fazem, com suas incontáveis e quase cotidianas procissões. É isso o que vai ser feito no próximo domingo - o primeiro do mês de agosto - no alto do Bonfim. A festa já começou há mais de uma semana, com novenas e procissões, mas seu ponto máximo será no anoitecer daquele dia, quando o sino, na torre pequenina, dobrará veloz e alegre e foguetes e fogos de artifício lançarão para...

Museu dos Sinos para comemorar os 305 anos da Vila de São João del-Rei!

305 anos de elevação à categoria de Vila, com o nome de São João del-Rei. Esta é a grande efeméride que nossa cidade comemora no próximo dia 08 (de dezembro), numa festa diversificada, que vai durar mais de três semanas, como tanto gosta o povo são-joanense. Aliás, se tem uma coisa que o povo de São João del-Rei não dispensa é festa, com tudo o que este tipo de acontecimento requer, merece e tem direito: banda de música, apito de trem, fogos de artifício, luzes coloridas, sorriso aberto, roupa nova, perfume, dança animada, comida boa, bebida de primeira, flores, juventude, gentilezas, maturidade, lembranças, agradecimentos, saudades e... toques de sino! - Ah, os toques dos sinos de São João del-Rei. Mesmo com todos os outros encantos histórico-culturais que colocam nossa terra em um lugar destacado frente às milhares de cidades que existem no Brasil e as centenas de milhares que existem no mundo, são eles que coroam a singularidade patrimonial são-joanense. Quando quem fala é a ...

Betas de São João del-Rei. Se o homem foi feito de barro, o são-joanense, foi feito de ouro!

Em São João del-Rei, o Ciclo do Ouro já acabou há muito tempo, mas deixou em nossa cidade um patrimônio valiosíssimo, tanto construído quanto imaterial. E não estamos falando aqui apenas da paisagem colonial, com suas belas igrejas, pontes, monumentos e toda a paisagem urbana, nem somente das tradições barrocas que tão bem conservamos até hoje, e que nos fazem únicos no Brasil e no mundo. Estamos falando também do nosso modo de ser, pensar e ver o mundo; do nosso modo de comportar diante da vida; imaginar, entender e explicar o que não se vê e o quê, com que, não se pode. Nossa essência, são-joanense, é de ouro! Mas além disso tudo o metal dourado, de onde saiu, nos deixou mais. Uma riqueza de valor inestimável, pouco conhecida e menos ainda valorizada, sobretudo para fins culturais e turísticos: as betas de ouro. Somente no centro histórico e arredores, elas são muitas - há quem fale em mais de 20! - o que também é extraordinário em relação às demais cidades históricas. Porém...

Tesouros vivos de São João del-Rei - Ulisses Passarelli: garimpeiro de congadas e folias!

Na história de São João del-Rei, ouro é o que não falta. Ouro, do mais puro e mais reluzente, outrora catado em meio a raízes de capim, colhido em bateias, faiscado em veios de profundas betas e subterrâneas galerias. Dele brotaram altares de ouro, anjos de ouro, amuletos de ouro, alianças de ouro, corações de ouro, crucifixos de ouro, correntes de ouro... Metal cobiçado, há muito tempo este ouro esgotou-se das encostas são-joanenses. Mas daqueles tempos distantes e para sempre, existe outra riqueza viva e inesgotável nesta terra em que os sinos falam, mais brilhante e valiosa do que o ouro de outrora, que alimentou violências, ganâncias e castigos e emoldurou barrocos ideais. Esta outra riqueza é tão grande, tão vibrante e tão intensa que não pode ser congelada em templos nem em museus. Ela pulsa, corre no sangue, anima a fé e várias crenças, impulsiona, dá ritmo, resgata, recria e perpetua cantos, danças, ritos, rezas, orações, preces, mandingas, festejos. Em termos humanos mais...

Dia do Sineiro fará bater ainda mais sonoro e feliz o coração de São João del-Rei

Ninguém duvida: os sinos são um dos mais importantes, consagrados, conhecidos e reconhecidos símbolos de São João del-Rei. Não precisa nem olhar para o alto nem estar perto de alguma igreja do centro histórico para perceber. Eles falam por si.Todo dia - uns mais outros menos - toda hora, sua metade e quartos, eles estão ali, marcando o tempo e as eras, tocando, dobrando, mandando mensagens, quase todas falando de Deus. Alguns, toques alegres, entusiasmados, festivos, outros, dobres dolentes, reflexivos, pungentes, tristes, fúnebres. Chamadas para missas, momento do glória e da consagração, aviso de novena, saída, passagem e chegada de procissão, Te Deum, ofícios e funções litúrgicas especiais. Falecimentos. Enterros. Em São João del-Rei nada acontece sem a presença e a voz do sino. Até o Carnaval, quando várias vezes ele chama para as Quarenta Horas de Adoração ao Santíssimo Sacramento e avisa, às nove da noite da Terça-Feira Gorda, que dentro de três horas a Quarta-Feira de Cinza...

Encontro de Sineiros de Minas Gerais: Em São João del-Rei, palavra de sineiro não volta atrás

                No encanto do Primeiro Encontro de Sineiros de Minas Gerais,                  clique no link abaixo e ouça o que dizem com as mãos e o coração                 os eternos meninos, homens sineiros de São João.                 E palavra de sineiro não volta atrás... https://www.youtube.com/watch?v=ThwzmJfsT0Q

Encontro de Sineiros de Minas Gerais: da voz do bronze à voz dos homens em São João del-Rei

Dificilmente existe, no dia a dia de São João del-Rei, algum personagem mais presente do que ele: o sineiro. Assim como os sinos, é do alto das torres barrocas que eles anunciam júbilo ou tristeza, executando no bronze sons melodiosos que transmitem sinais litúrgicos e códigos seculares: dobres, repiques, chamadas, cinzas, tencões, terentenas, floreados, canjica queimou e uma infinidade de tantos outros. Se existem símbolos eternos de São João del-Rei, juntamente com os sinos, os sineiros estão entre eles. Por tudo isto, São João del-Rei é também conhecida como " a cidade onde os sinos falam " e, portanto, não poderia ser realizado em outro lugar o Primeiro Encontro de Sineiros de Minas Gerais . Aqui, ele está acontecendo neste fim de semana, com atividades diversas - apresentações, intercâmbios, visita às torres, relatos e conversas sobre este patrimônio imaterial brasileiro, que é o toque dos sinos de São João del-Rei e demais cidades históricas de Minas Gerais. Part...

Novena barroca de Natal em São João del-Rei. Encantamento, magia e mistério!

O calendário festivo de São João del-Rei é tão intenso que mal termina uma "festa" e outra já está a caminho, quando não começando ou, então, já na metade. As comemorações do Natal, por exemplo, na "terra onde os sinos falam" começam no dia 16 de dezembro, com uma novena barroca, na igreja do Rosário - a mais antiga da cidade. Nesta celebração, durante nove noites a Orquestra Lira Sanjoanense - a mais antiga das Américas - executa hinos, salmos, responsórios e ladainhas compostos no século XIX, entre eles as famosas "Matinas do Natal", que o compositor são-joanense Padre José Maria Xavier criou especialmente para a ocasião. Muito alegres, vivas e suaves, as Matinas são cantadas em latim e descrevem a história do nascimento de Cristo. Narram o chamado que o Anjo fez aos pastores, o movimento do cometa que guiou os Reis Magos do Oriente até Belém, a humildade devota dos animais que estavam na estrebaria, a harmonia infinita e brilhante dos astros no céu ...

Um canto de louvor e gratidão, de São João del-Rei, para sua áurea, excelsa e espanhola padroeira

Outubro, mais precisamente no dia 12, é a data consagrada à padroeira de São João del-Rei, Nossa Senhora do Pilar. Contam que a Virgem aqui chegou em imagem primitiva, trazida pelos próprios bandeirantes, a quem protegia de perigos, tristeza, violências, emboscadas, animais peçonhentos, maus pensamentos e infortúnios. Em troca, de início eles lhe construíram uma capela, incendiada em 1709, no final da Guerra dos Emboabas. A matriz atual, dedicada à Virgem espanhola começou a ser construída em 1721 e é um dos mais belos templos do barroco brasileiro. Nela acontecem as principais cerimônias da Semana Santa mais tradicional do Brasil, algumas únicas em todo o mundo. Volta e meia ali se ouve a música colonial de uma novena, dobres e repiques de sinos em tencões e terentenas. Da Matriz do Pilar sempre sai uma procissão... Como aqui se repete há quase 300 anos, a novena de Nossa Senhora do Pilar começa no dia 3 de outubro e vai até o dia 11, véspera da data maior. A parte musical, comp...

A História de São João del-Rei é feita de muitas histórias. E também de belas estórias...

Desde que no alvorecer do século XVIII Tomé Portes del-Rei fincou pé nas margens do Rio das Mortes, cobrando pedágio pela travessia fluvial que levava às portas do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, até a mais recente badalada dos sinos da Matriz do Pilar, muitos personagens estão - há mais de 300 anos, na lida do seu dia a dia - a escrever a história de nossa terra. Brancos, negros, mulatos, morenos, criolos. Nobres, proscritos, desbravadores, déspotas, clandestinos, bandeirantes, sacerdotes, escravos. Livres, cativos, forros, libertos, sonhadores, serviçais. Intelectuais, iletrados, artistas, artesãos, analfabetos, escultores, músicos, cientistas, inventores de estórias que mais parecem a própria vida. Depois de Tomé Portes, ainda no Arraial, a Guerra dos Emboabas, certamente acendeu o lume para a instituição da vila de São João del-Rei. Em 1717, o Conde de Assumar esteve aqui e foi saudado com a música do mestre Antônio do Carmo. Gostou tanto que voltou outras vezes....

São Cosme e São Damião brincam inocentes nos largos, ruas e becos de São João del-Rei

No meio de tanta festança que no mês de setembro acontece no centro histórico de São João del-Rei - todas grandiosamente belas, corporativamente promovidas pelas Irmandades e Confrarias setecentistas -, pode parecer que não existe espaço para manifestações culturais singelas e espontâneas. Mas não é bem assim. Mal avançam as primeiras horas da manhã do dia 27 de setembro, já se percebe nos mais diferentes pontos da cidade, principalmente nas áreas residenciais dos bairros, um alvoroço diferente: são as crianças correndo atrás dos doces distribuídos  pelos adultos para saudar São Cosme e São Damião. Balas de coco, paçoca, pé de moleque, maria-mole, pirulito, doce de batata doce, pipoca industrializada - tudo vale para adoçar a vida e acariciar a infância da inocência, legítima e verdadeira. Não aquela oficialmente " pastichificada " no comercial Dia da Criança. Na verdade, a tradição de deixar doces e balas nos jardins e também distribuir guloseimas açucaradas no dia ...