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Mostrando postagens de 2017

Vamos ao Presépio da Muxinga? Fica no coração de São João del-Rei

Jesus sorri, os anjos cantam, a estrela brilha, os sinos dobram, a criança brinca, a luz acende, o carrossel gira, a negra passa  roupa com o ferro de brasa, o homem pesca, o jacaré abre a boca, o cachorro late, o passarinho voa, o marceneiro serra madeira, o ferreiro forja o ferro da ferradura que põe no cavalo, a carroça passa, a mulher corre atrás do gato que roubou a carne, o trem faz a curva e atravessa o túnel. A vida passa devagar nessa pequenina cidade qualquer do interior de Minas, no começo do século 20. Que bem podia ser, ou em sonho foi, São João del-Rei, por exemplo. Pequenina cidade, não, minúscula. Tão diminuta que cabe em um tablado alto, do tamanho de uma mesa grande, com borda de chitão estampado de grandes flores coloridas. Um mundo tão pequeno que só cabe na infância, mas que encantadamente é infinito e dura para sempre na imaginação e na lembrança de adultos e velhos, como um atestado de viva existência. - Do que estamos falando? - Ora, do Presépio da Mux

O Natal de São João del-Rei é encantado e dura quase um mês!

Nem todos percebem, mas o Natal em São João del-Rei dura muito tempo, quase um mês. Começa no dia 15 de dezembro, com a Novena do Menino Jesus, na Igreja do Rosário, e vai até o dia 6 de janeiro, quando se festeja o Dia de Reis. Assim como o Ano Novo, com quem se abraça e se embaraça, o Natal, como um todo, é uma festa ao mesmo tempo sacra, religiosa e profana, pois em São João del-Rei envolve de tudo um pouco. Rezas populares, tradições barrocas, encenações teatrais, montagem de presépios, ceia e almoços com gastronomia própria, comemorações sociais, foguetes, toque de sinos, confraternizações de amigo oculto, troca de presentes, folias de reis e pastorinhas, enfim uma epopéia de felicidade, intensa como uma maratona festiva A Novena do Menino Jesus é um capítulo à parte. Realizada na Igreja do Rosário, edificada pela Irmandade mais antiga da cidade e uma das 3 mais antigas do Brasil, fundada em 1708, foi composta pelo compositor Padre José Maria Xavier e desde sempre é executa

304 anos da vila de São João del-Rei. 314 anos do Arraial Novo de N. S. do Pilar

Hoje, dia 8 de dezembro, São João del-Rei comemora aniversário. 304 anos de elevação à categoria de vila, em 1713. Na verdade, as origens da cidade nos fazem voltar no mínimo 314 anos, pois, por volta de dez anos antes, em 1703, já se tinha notícia da existência do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Também no dia 8 de dezembro se rende homenagens a Nossa Senhora da Conceição que, podemos dizer, é madrinha de São João del-Rei. Assim como o sol que nasce da noite e ilumina o dia, Nossa Senhora da Conceição mora com São Francisco no lado direito do Córrego do Lenheiro e, de lá, no toque de seu sino, conversa com suas comadres, Nossa Senhora do Pilar, poderosa e excelsa padroeira da cidade, Nossa Senhora do Rosário, doce mãe, conforto, mistério, magia e força dos negros são-joanenses, Nossa Senhora do Carmo, zelosa protetora da prosperidade e da tranquilidade dos filhos carmelitas, e Nossa Senhora das Mercês - a senhora dos favores, libertadora dos cativos, inve

São João del-Rei é múltipla, plural e diversa, no tempo e no espaço

A riqueza arquitetônica de São João del-Rei é muito maior do que muita gente imagina. Ela é dinâmica, evolutiva e por isso documenta, com os diferentes tipos de fachadas e elementos visuais, a evolução econômica, social e cultural pela qual passou a cidade nos últimos três séculos.Isto, sem dúvida, a difere de outras cidades históricas cuja arquitetura, se por um lado é mais harmônica e uniforme, por outro é mais limitada do que abrangente, porque registra um único período histórico-econômico. A visão ampla e a compreensão da realidade como um processo dinâmico mostram como é equivocado julgar uma cidade histórica mais valiosa e importante do que outra simplesmente porque esta retrata apenas um momento estático e aquela outra corajosamente arrisca apresentar esteticamente toda a dinâmica de sua história. Simplificando, é como se uma fosse um livro de um único capítulo, com ilustrações semelhantes, falando de um único fato, e a outra uma obra em que o herói, em sua epopeia, vivesse

O diabo dia e noite no dia a dia da antiga São João del-Rei

Hoje as coisas estão muito diferentes, mas antigamente o diabo estava presente dia e noite em todas as coisas de São João del-Rei. Afinal, quanto maior for a religiosidade de um povo, mais canais e ambientes existem para as pessoas estabelecerem relacionamentos com o mundo sobrenatural. E sendo São João del-Rei uma cidade tão religiosa, imagine ... Principalmente pelos são-joanenses mais simples, mais humildes, mais crédulos e menos letrados, a presença do anjo das trevas era muito temida. Chegava às vezes a ser pressentida e evitada, mas as vezes, em situações diversas, seu nome era exclamado e, mais raramente, até invocado. Quem nunca ouviu: - isso é coisa do diabo! ou, - mas que diabo, sô!, ou, ainda, - vai pro diabo que o carregue!? Se fora de hora o galo fazia barulho estranho no galinheiro, tinha-o visto passar por perto. Se algum objeto ou documento misteriosamente sumia dentro de casa, era ele que tinha escondido. Se alguém se via diante de um desejo incontrolável de faze

Quanto vale a Legalidade deste Chafariz de São João del-Rei?

O centro histórico de São João del-Rei é rico de belas paisagens e templos tão grandiosos que alguns monumentos importantes, muitas vezes, passam despercebidos até mesmo da própria população. É o caso do Chafariz da Legalidade, que há um bom tempo está abandonado, sob o pretexto de estar em obras. Uma pena! Ele é um monumento gracioso e delicado, erigido em 1833, para eternizar um momento importante da história da cidade, onze anos após a independência do Brasil. É o único chafariz de cantaria ainda existente em São João del-Rei e tem acabamento esmerado  e linhas arquitetônicas esbeltas  e elegantes, em um estilo artístico que nos leva de volta à época do Brasil Império. Fica em um larguinho muito simpático, no muro de arrimo do Grupo Escolar Maria Tereza. É cercado por um jardim verde, hoje muito mal cuidado, mas que  poderia ser transformado em um orquidário, em uma área de convivência. Com pouco esforço e um modesto investimento, poderia se tornar até  um espaço cultural ao

Presciliano Silva, dizem os músicos, é um dos maiores compositores sacros de São João del-Rei

Se "palavra de rei não volta atrás", de palavra de músico não se duvida. Escrita em pautas, é pura música, que se solfeja, toca e canta! Sendo assim, inegavelmente, Presciliano Silva é um dos mais importantes compositores barrocos de nossa região. E quem diz isso? Quem mais conhece desse assunto: os músicos mais velhos das setecentistas orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos e da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei. Mesmo quem não conhece seu nome, conhece algumas peças de sua obra, como a emocionante Ó Vos Omnes - uma das mais belas composições inspiradas nesta lamentação relativa ao sofrimento da mãe dolorosa, executada em diversos momentos da Festa de Passos e no rito da Comunhão, na tarde da Sexta-Feira da Paixão, na Matriz do Pilar. Presciliano nasceu em São João del-Rei em 1854, onde sua carreira musical foi muito fértil, não só com obras de finalidade religiosa, mas também com composições para piano, atualmente desconhecidas, mas que fora

No mês de agosto, sem lugar para o desgosto, São João del-Rei mais parece um conto de fadas!

Conta a lenda que agosto é o mês do desgosto. Se é em várias partes do mundo, pelos mais diversos motivos, em São João del-Rei não é bem assim. Afinal, é no oitavo mês do ano que, há mais de 280 anos, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte realiza uma celebração barroca que, sem dúvida nenhuma, nos moldes em que acontece, é única no mundo: a dormição de Nossa Senhora, sua assunção ao Céu e coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade. Mas se, com o mesmo enredo, existir outra similar em algum lugar do planeta, de modo algum é tão bonita quanto a de São João del-Rei. Tudo o que a envolve é de tamanha e tão bela delicadeza, que parece mesmo ser o sonho de Nossa Senhora. Um sonho que dura onze dias, ocupados por uma novena, uma piedosa e longa vigília, uma soleníssima missa cantada, duas magníficas procissões e o canto do Te Deum . Não é atoa que as solenidades da Boa Morte são a festa religiosa são-joanense que inspirou o maior número de compositores locais, desde o

Museu de Arte Sacra é o oratório vivo da fé, da cultura e da arte de São João del-Rei

Quando o assunto é museu, São João del-Rei é uma cidade pródiga. Confirmando sua riqueza histórica e culltural, a terra onde os sinos falam tem, no mínimo, dez instituições culturais que de fato são, ou podem ser consideradas, museus. São elas o Museu Regional do IPHAN, Museu de Arte Sacra, Museu Ferroviário, Museu da FEB, Museu Municipal Tomé Portes d'El-Rei, Museu do Barro, Memorial Cardeal Dom Lucas, Memorial Presidente Tancredo Neves, o Centro de Referência Musical José Maria Neves e o Presépio da Muxinga, que bem poderia se tornar a semente do Museu do Natal. Há muito tempo, o Museu dos Sinos é um sonho, mas ainda não se realizou. Peças, memórias e registros visuais e sonoros para seu acervo é o que não faltam! Mas o que torna um museu verdadeiramente importante e útil para a sociedade não é apenas o tamanho ou a riqueza de seu acervo. Mais do que isso, é principalmente a sua vitalidade enquanto instituição pública a serviço da memória, ou seja, os laços vivos que ele est

São João del-Rei 2007-2017: Dez anos Capital Brasileira da Cultura

Há dez anos, em 2007, São João del-Rei recebeu um título de grande valor: " Capital Brasileira da Cultura ". Mais do que uma simples homenagem, essa honraria foi a expressão nacional de reconhecimento da importância de nossa terra para a educação, as ciências, as artes - enfim para a cultura de nosso país. No mesmo sentido, merecidamente, no ano seguinte, São João del-Rei se autodeclarou " Capital Brasileira da Cultura para Sempre " - uma iniciativa muito lúcida, pois o significado de uma história como a nossa 'não tem prazo de validade'! Como Capital Brasileira da Cultur a, durante todo o ano de 2007 nossa cidade sediou uma série de eventos que movimentaram ainda mais a vida cultural de São João del-Rei, que normalmente já é sempre muito intensa. Em dezembro daquele ano, quando a cidade preparava-se para cumprimentar a nova cidade-irmã que também receberia "o título, a faixa, o cetro e a coroa", a Secretaria da Cultura de Minas Geras

Em São João del-Rei o come-quieto come melhor debaixo de seu próprio teto

A culinária de Minas tem lugar de destaque na cozinha brasileira. Dos saborosos e fartos pratos dominicais e festivos, capitaneados pelo lombo com tutu ou pelo feijão tropeiro, com arroz branco, couve e um enorme séquito de acompanhamentos,  onde se destacam o torresmo, a farofa, a maionese caseira, até o trivial feijão com arroz mais simples, feito à hora com verduras e legumes colhidos nos canteiros do quintal, que começa na porta da cozinha, e um ovo caipira frito, pego no ninho do galinheiro. Cachaça. Caipirinha de limão rosa ou de limão galego.Tudo que se come e se bebe na casa mineira é tão sagrado quanto foram o pão e o vinho na santa e última Ceia de Cristo com os apóstolos. Talvez desse modo se explique o fato de, em sua terra, o mineiro nato não ser tão chegado a comer fora. O come-quieto sabe que o que há de melhor é o que ele come sob seu teto. Mas para ele, no rotineiro dia a dia, da porta da rua para fora, também tem pedaços do Paraíso; alguns espaços se salvam.

São João del-Rei de todos os tempos, de todos os estilos, sem preconceito...

Andar pelo centro histórico de São João del-Rei, prestando atenção nos detalhes de sua arquitetura, é uma viagem no tempo, rica de linhas e estilos - um prato cheio para dar asas à imaginação. Além das torres, telhados, frontispícios, pináculos, portadas, colunas, cornijas, coruchéus, cimalhas, rocalhas, ombreiras, aldabras e tudo o mais que é tipico da arquitetura colonial, a cidade possui exemplares  preciosos de outros estilos arquitetônicos característicos a séculos seguintes ao período setecentista, também muito ricos em suas figuras, linhas e curvas. Isto, aliás, é o que particulariza São João del-Rei em relação a outras cidades históricas mineiras, tornando-a arquitetonicamente mais plural, diversificada e rica, como um relógio que marca a passagem do tempo, por meio de suas construções. Figuras de animais, letras , flores, plantas, flechas, setas, estrelas, corações, enfeitam diversas construções do centro histórico e de outras áreas antigas um pouco mais afastadas, com

As linhas da mão e a fibra real do coração de São João del-Rei

Cidade colonial, barroca, as linhas de São João del-Rei, em sua maioria, são curvas. Curvas telhas, curvas torres, curvas beira-seveiras, curvas pontes, curvas conchas, rocalhas e volutas, curvas barroquices, como a curva lua crescente de prata que firma o pé de Nossa Senhora da Assunção, em sua subida ao céu no dia 15 de agosto. Diferentes destas, tem também a linha do trem, paralela e reta, que agora só leva à vizinha Tiradentes... Mas além destas, tem muitas outras linhas, que desenham o passado no presente, mostrando às vezes o que, a olho nu, no corre-corre da rotina, muitas vezes não se vê: as tramas do pau-a-pique das velhas paredes, os detalhes das aldabras e dos gradis de ferro batido, a harmonia secular das pedras pé-de-moleque, as nervuras e formatos das pétalas e das folhas de nossas plantas devocionais e da medicina popular. Tudo isso tem fibra, e esta fibra é real. Isso mesmo: Fibra Real é o nome de um projeto são-joanense muito interessante. Discreto como os minei

Missa do Aleluia. Um dos mais belos ritos da Semana Santa de São João del-Rei

Depois do esplendor, do encantamento e da intensidade maravilhosamente sensorial e dramática que são a Festa de Passos – desde as Vias Sacras até o Setenário das Dores, passando pelas rasouras e procissões do Encontro – e a Semana Santa de São João del-Rei – desde o Ofício de Ramos, até os ofícios de Trevas, o Canto da Paixão, Adoração da Cruz, descendimento e Procissão do Senhor Morto – é praticamente impossível imaginar que, complementando as celebrações da Paixão de Cristo, ainda possa haver algo uno, e de tamanha beleza, que seja capaz de exaltar de prazer todos os sentidos, da visão ao olfato, da audição ao tato. Mas existe. É a Missa do Aleluia! Diferentemente de outras ocasiões, em uma das três portas principais da matriz do Pilar, há velas a venda, que as pessoas tranquilamente compram e conservam apagadas. Nas 20 horas que neste dia o relógio não bate, o ritual começa em absoluto silêncio, do lado de fora, do lado esquerdo de quem sobe o adro da igreja, então guarnecido

A Paixão de Cristo, os mistérios, encantos e a magia da antiga Semana Santa de São João del-Rei

Antigamente em São João del-Rei, além da fé e da devoção, muitos outros sentimentos ocupavam os corações são-joanenses durante a Quaresma e a Semana Santa. Desde a piedade e a penitência, passando pelo jejum e abstinência voluntária de carne, até a restrição do lazer. Os bailes, por exemplo, eram suspensos nos clubes e salões locais e só voltavam a acontecer após a meia noite do Sábado Santo, ou melhor, do primeiro minuto do Domingo de Páscoa. Era o famoso Baile da Aleluia. O Domingo de Ramos era um contexto especial e uma ambiência religiosa singular. Começava com o som longo e espaçado dos sinos e a bênção das palmas, na igreja do Rosário, ao fim do que, na Matriz do Pilar se assistia a missa que, segundo os antigos, tinha o Evangelho mais demorado do ano. Teatralizado e cantado, narrava a história de Cristo,  da prisão no Horto das Oliveiras até o último suspiro, no Monte Calvário. As palmas bentas, acreditava-se, tinham poderes mágicos de proteção da casa que a guardava

Tapetes de flores, areia e serragem trazem o Céu para o chão na Semana Santa de São João del-Rei

Já faz mais de três décadas que as ruas de São João Del-Rei, durante a Semana Santa, apresentam um novo atrativo que encanta sanjoanenses e turistas: os delicados tapetes decorativos. Especialmente aos sanjoanenses, essa expressão cultural atrai duplamente, pois além de admirá-la, eles podem participar de sua produção e, assim, ser protagonistas de uma ação criativa que demora oito, dez horas para ser realizada, mas é muito efêmera. Em quinze, vinte minutos, o céu no chão se desfaz sob o caminhar de anjos, virgens, virtudes, reis, profetas, heróis, apóstolos, guarda romana- personagens do Velho Testamento que, voltando no tempo, vêm à frente do Senhor Morto na procissão do Enterro de Sexta-Feira da Paixão. Enfeitar ruas para procissões é tradição em diversos países católicos e forrar as ruas com folhas e flores também é comum em países da Península Ibérica e da América Central. Nas velhas cidades brasileiras, essa manifestação evoluiu para a confecção de tapetes de areia, fl

Passo a passo da tradicional Festa de Passos de São João del-Rei

As celebrações dos Passos de Nosso Senhor Jesus Cristo a caminho do Calvário, ou simplesmente a Festa de Passos, realizadas em São João del-Rei tem particularidades marcantes que as diferem completamente daquelas que são realizadas em outras cidades históricas mineiras. Elas começam na primeira sexta-feira da Quaresma, com uma Via Sacra solene que se repete nas duas sextas-feiras seguintes. É um cortejo que se abre com um irmão dos Passos carregando erguida uma cruz de madeira preta, com o lençol banco na forma de um M, e se encerra com outro, carregando suspenso, em seu madeiro, um bicentenário crucificado. Estas Vias Sacras param nas capelas-passos, onde a Orquestra Ribeiro Bastos canta motetos barrocos que, mesmo sendo muito antigos e em latim, são muito familiares aos são-joanenses. E para finalizar, canta o tradicional Senhor Deus, Misericórdia, que ecoa profundo e torna-se um lamento ainda mais pungente diante do silêncio da pequena multidão. No quarto fim de semana da Q