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Mostrando postagens de agosto, 2015

Em São João del-Rei, a cultura popular vai para o bar. E não quer mais sair de lá!

Diferentemente da cultura erudita, que se pratica e se conserva em espaços consagrados, a cultura popular vive na rua, é do mundo. Mesmo quando não está a céu aberto, sua proteção pode ser o telhado de uma igreja humilde, de uma casa de gente simples, da lona de um circo ou de uma barraquinha de quermesse. Até o mercado e o bar servem de teto para a cultura popular. Em São João del-Rei, apesar da modernidade que tomou conta dos espaços de convivência mais desfrutados pelos homens, em alguns bares, antigamente chamados botequins,  ainda se encontra o ambiente simples, mas culturalmente muito rico, de outros tempos. Tudo autêntico: uma imagem ou um quadro do santo protetor daquela casa, mais comumente os guerreiros São Jorge e São Miguel, ou das muitas invocações de Nossa Senhora, principalmente a de Aparecida, a das Mercês e a do Carmo, resgatando as almas que queimam em chamas ardentes. Santo católico não bebe, não come, mas em compensação sua presença não ocupa espaço nem faz

Letras de amor e dor, em bico de beija-flor. O coração do navegante negro em São João del-Rei

Letras do tempo, escritas com lágrima e dor nas páginas obscuras, sombrias e esquecidas da história do Brasil cochilam sossegadas, longe dos olhos e da memória, guardadas em algum lugar de São João del-Rei. Uma fita ondulante, erguida no bico de dois beija-flores,  mais parece uma pauta musical. Nela, as notas são quatro letras que escrevem, acentuada, a palavra Amôr. Logo abaixo, um coração flamejante, apunhalado e sangrante, tem ao lado ramos de flores humildes, um passarinho triste e uma borboleta quase sem vontade de voar. Tudo no centro de uma pequena toalha de algodão branco, hoje amarelado pelo passar dos longos dias e dos anos lentos e distantes. - Mas o que é que esse pano, esse bordado, tem de tão importante para almejar estar guardado em museu? - Ora, esta toalha é uma página da história. Aqui anda meio jogada, desprezada, mas se outros lugares soubessem dela, certamente seria muito disputada... - Quem bordou isto, com linhas tortas tão sem vida e pontos tão des

Em São João del-Rei, Mãe do Ouro fez estrela virar pepita e dragão virar serpente no fundo Rio Jordão

Quem anda por São João del-Rei se encanta com a paisagem urbana. Seus casarios, suas pontes, seus largos, seus jardins, suas escadarias, balaústres e monumentos. Se encanta com a paisagem religiosa. Suas procissões, suas novenas, seus ritos, seus ofícios, responsórios, antífonas, Te Deum's. Suas igrejas, seus anjos, seus santos, suas portadas e suas torres. Se encanta com sua paisagem sonora. Seus toques de sino, dobres, tencões, terentenas, tens-tens, floreados, repicados, canjica queimou. Seus sons de orquestra, violinos, violas, bombardinos, trompetes, trompas, trombones, flautas, vozes. Seus toques de banda, dobrados, marchas. Seus apitos do trem, das fábricas, com o estrelamento ruidoso e brilhante de seus foguetórios... - Mas e a paisagem humana de São João del-Rei, o que ela nos mostra? - Ora, muito mais do que a gente imagina! A paisagem humana de São João del-Rei é feita de tempo, de sonho, imaginação e sentimento. Ela está em toda parte. O tempo todo. É só