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Mostrando postagens de abril, 2014

Santeiros de hoje mantêm vivo o ofício de trazer o céu para o chão nas terras de São João del-Rei

Os séculos passam, as gerações se renovam mas, em São João del-Rei a grande intimidade que existe entre o humano e o divino não enfraquece. No século XVIII, grandes artistas esculpiram, no Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes, belas imagens barrocas, também encarnadas e vestidas pelo povo do lugar. Estas magníficas obras de arte até hoje são admiradas nas igrejas, em altares e andores, e no Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. No século XXI esta produção continua, com a mesma qualidade, quantidade, criatividade e intensidade. Prova disto é a exposição Escultores do Sagrado - escultores sacros da atualidade são-joanense , aberta à visitação pública no Memorial Dom Lucas Moreira Neves, de 4 de abril a 4 de maio. Nela, algumas obras mostram o potencial criativo, o domínio técnico e a capacidade escultórica dos atuais escultores sacros de São João del-Rei, ali representados por Carlos Calsavara, Fernando Pedersini, Miguel Ávila e Ronaldo Nascimento. O apura

Pudesse, São João del-Rei entregaria um buquê de notas musicais à maestrina Maria Stella Neves Vale

Há exatamente um ano, no dia 28 de abril, acenaram-se adeus a maestrina Maria Stella Neves Valle e São João del-Rei. Fora-se ela, pela imensidão celeste, a reger astros, cometas e estrelas. Ficara a cidade, no devir eterno e cotidiano, a pressentir seus passos firmes, a imaginar seus gestos decididos, a intuir a harmonia das vozes e instrumentos que ela, já octogenária, vivamente, até há dois anos atrás, comandava. Já senhora da admiração e do respeito dos são-joanenses, dona Stella agora vai ganhar uma pequena praça, à margem direita do Córrego do Lenheiro, em frente à Estação Ferroviária. De lá, certamente, vai reger os apitos da Maria Fumaça, que dali parte e para ali volta, de sexta-feira a domingo, quando é manhã e quando é tarde, lendo no céu a pauta compassada pela clave de sol. São-joanense que é são-joanense, sabe quem dona Stella foi. Sabe o valor que ela tem. Tem por ela grande gratidão. E, entre Misereres e Motetos, a eterniza todo dia, na memória e no coração. Cl

São João del-Rei, terra das sete pontes

Da velha Ponte do Rosário, até a novíssima Ponte da Estação, ao todo são sete as pontes que atravessam o Córrego do Lenheiro na região central de São João del-Rei. Coloniais e grandiosas, de tempo e pedra; românticas, de juras de amor e ferro; modernas e ágeis, de cimento; estreitas e quase pênseis, de pensamento e pressa. Entre as duas maiores e mais grandiosas - a do Rosário e a da Cadeia -, fica a mais frágil, desprotegida e delicada: a Ponte dos Suspiros. Ligando o centenário Grupo Escolar João dos Santos ao Museu do Largo Tamandaré, atravessá-la já fez medo a muita criança, tamanha a aventura que parecia. Sobre a Ponte dos Suspiros, o poeta são-joanense, professor aposentado, Hélio da Conceição Silva , escreveu:             "Por que 'Ponte dos Suspiros'?               Curioso, o turista indaga,               sobre o nome da estreita via.                      - Ah, é denominação antiga!                       Por sua fraca estrutura                       o

Forças, confusões e alvoroços de São Jorge nas terras de São João del-Rei

Hoje, dia 23 de abril, é dia de São Jorge. Sempre muito forte no imaginário do povo e bastante respeitado na religiosidade popular, em São João del-Rei o santo guerreiro é personagem atuante e ilustre desde as primeiras décadas do século XVIII. Naquele tempo, o santo era vivo (vivo nos dois sentidos) e ganhava corpo duas vezes por ano, sempre no mesmo dia. O homem que o representava saía vestido a caráter, com capacete, escudo e lança, montado em garboso cavalo, nas duas procissões de Corpus Christi que se realizavam nas ruas coloniais das margens esquerda e direita do Córrego do Lenheiro. Uma, de caráter mais político, era promovida pelo Senado da Câmara e a outra, com espírito religioso, era organizada pela Santa Madre Igreja. Mas já enjoado de fazer sempre o mesmo percurso, o santo resolveu cobrar pelo serviço prestado e então, Igreja e Câmara, unidas pelo mesmo problema, resolveram substituí-lo pela bela imagem que hoje se encontra em posição de destaque no Museu de Arte Sac

Tributo ao alferes Tiradentes: uma dívida de São João del-Rei para com sua própria história

Há 222 anos, no dia 21 de abril, foi enforcado no Rio de Janeiro Joaquim José da Silva Xavier, o alferes Tiradentes. À época de seu nascimento, era são-joanense, pois em 1746 a Fazenda do Pombal pertencia à Vila de São João del-Rei. O registro de seu batismo foi assentado em livro pertencente à Matriz do Pilar da mesma vila. Seu corpo foi esquartejado e disperso pelas estradas de Minas. Sua cabeça, qual troféu, foi elevada em um poste, na antiga Vila Rica, para que o tempo a consumisse... Já faz bastante tempo que a memória do sacrifício do alferes Tiradentes, em São João del-Rei resume-se a uma cavalgada. Com isto, a cidade constroi e confessa infinita dívida para com tão importante personalidade histórica da vida nacional. O povo de São João del-Rei precisa - e o alferes Tiradentes merece!- recuperar e reintegrar a figura do "animoso alferes" em seu imaginário. E, para isto, nada melhor nem mais eficiente do que a arte, em suas diversas formas: literatura, poesia,

Semana Santa - A Poesia convoca à Ressurreição em São João del-Rei

Em São João del-Rei, Deus fala ao povo em várias linguagens, mas é principalmente por meio da arte que, desde o raiar dourado do século XVIII, o Criador vale-se da estética para tocar o coração dos são-joanenses. Os templos barrocos, com suas torres, portadas, esculturas, pinturas, imagens e alfaias, por toda parte semeam anjos que espalham o Céu - com sol e lua - para o Vale da Serra do Lenheiro. A música, misturada ao incenso, às pétalas, às cores e a tudo o que reluz, leva o olhar e eleva o espírito até a mais brilhante estrela. A Poesia não se abstém de seu papel mensageiro e foi com ela que, no final da Missa da Ressurreição do Senhor , em 2014, Padre Geraldo Magela da Silva, fez um convite ao povo de São João del-Rei. Evocando a grande poetisa Cecília Meireles , no Cântico XIII , assim o Pároco da Matriz do Pilar conclamou a todos:                      "Renova-te.                        Renasce em ti mesmo.                        Multiplica os teus olhos, para verem

Semana Santa de São João del-Rei, original e autêntica, é destaque na mídia regional

Por sua originalidade genuína como tradição setecentista, única em Minas Gerais e no Brasil, a Semana Santa de São João del-Rei vem ganhando grande espaço na mídia regional em 2014. Trata-se de reconhecimento merecido, pois a preservação destas celebrações, não só como expressão de fé, mas também como manifestação artística, é fruto do esforço e da dedicação dos são-joanenses, amantes da riqueza cultural barroca herdada de seus antepassados: pais, avós, bisavós, tataravós... Sobre este assunto, veja, abaixo, uma reportagem recente do programa Viação Cipó e matérias veiculadas este mês no canal G1 . http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2014/04/oficio-das-trevas-e-tradicao-secular-na-semana-santa-de-sao-joao-del-rei.html

Semana Santa de São João del-Rei: a fé, a crença, a magia e a projeção das trevas que há em todos nós

Antigamente, desde seu começo, no Domingo de Ramos, a Semana Santa era um tempo impregnado não só de religiosidade, mas também de muito misticismo, em São João del-Rei. Entre as pessoas mais velhas, e também entre as mais simples, ainda é assim. Acreditavam que especialmente no período máximo do sofrimento de Cristo, até o instante de sua ressurreição, as forças negativas e perversas, capitaneadas por Satanás, estavam soltas sobre a Terra, castigando Jesus e tentando os homens. Semeando armadilhas e espalhando riscos, provocando pavores, desconstruindo o equilíbrio, institucionalizando a des-ordem que constitui o caos. Tinham certeza que o Diabo estava solto e furioso porque se aproximavam do fim seus dias de incontrolado convívio entre os homens e a natureza bruta. Por isso jejuavam, se martirizavam, se abstinham, se sacrificavam, se mantinham em longos e meditativos silêncios, na crença de assim não assanhar o Coisa Ruim, de mantê-lo à distância, de não provocá-lo, de passarem

Semana Santa de São João del-Rei: Domingo de Ramos, determinista domingo de angústias...

Hoje, Domingo de Ramos, em São João del-Rei o tempo já mudou. O início oficial da Semana Santa imerge os são-joanenses em uma outra era emocional, emoldurada e conduzida pelo mais profundo sentimento religioso. Há em tudo uma expectativa determinista do que já é conhecido, que se repete há muitos séculos, mas que é anualmente revivido, como se fosse sempre a primeira vez. Um pesar denuncia o desejo irrealizável de que a história acontecida pudesse ainda ter outro rumo, ou não mais se repetir, como se faz desde sempre. Tudo começa na Igreja do Rosário, aos pés do Senhor do Triunfo, entre palmas viçosas, pratarias brilhantes, paramentos vermelhos, incensos aromáticos, cruzes cobertas, em meio ao povo que levanta nas mãos ramos verdes que o bispo benze, ao som de antífonas e hinos  barrocos do século XVIII que a Orquestra Ribeiro Bastos entoa. Tudo lembra tristemente a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a caminho do sofrimento e do sacrifício. O sino toca pungente notas es

Lamentosa e comovente, a Procissão da Soledade encerra a Festa de Passos em São João del-Rei

No anoitecer desta sexta-feira,  dia11 de abril de 2014, a sexta Sexta-Feira da Quaresma, o espírito de São João del-Rei, religiosamente, se perturbará, em silêncio, para dentro da própria alma. Será a noite da Soledade de Nossa Senhora, quando acontecerá a Procissão das Lágrimas, nome hoje em desuso, mas muito adequado para o que se rememora: a volta da mãe de Jesus do Monte Calvário para casa, relembrando todo o sofrimento do filho sepulto e vivendo, resignada e na plenitude, a saudade. O andor de Nossa Senhora das Dores que hoje será carregado em meio largos, becos, ladeiras e esquinas, cruzeiros e encruzilhadas do centro histórico de São João del-Rei nesta noite é absolutamente austero, quase árido. Apenas arnica - planta medicinal usada em infusão no alcool para aliviar dores musculares, entorses e contusões - discretamente se espalha sobre a madeira, em volta coberta por sanefas roxas e galões dourados. Nossa Senhora vai com seu diadema de doze estrelas de prata, suas quatr

Setenário das Dores: a angústia, a desolação e a saudade de Deus segundo São João del-Rei

Certamente bem poucos lugares celebram tão barrocamente as sete dores de Maria Santíssima como São João del-Rei. Aliás, é bem possível que, no mundo, nenhum outro, pois na ' cidade onde os sinos falam ' o Setenário das Dores é singular: é um ritual de características próprias, estrutura litúrgica única e músicas compostas nos séculos XVIII e XIX por compositores locais, especialmente para a celebração. É uma cerimônia tocante desde o início, quando a bicentenária Orquestra Ribeiro Bastos executa o " Domine ad adjuvandum ", clamando a presença divina, e a Irmandade de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos adentra o templo dourado, com suas opas roxas. O altar-mor, antes fechado por uma grossa cortina, se abre mostrando a solidão de Nossa Senhora das Dores diante da cruz vazia, no são-joanense calvário. Nuvens de incenso perfumam e embaçam tudo, materializando uma ambiência de sonho. O Setenário das Dores era um dos atos litúrgicos que o recém-falecido Padre Paiva mai

Céu Aberto: mais anjinhos nas procissões de São João del-Rei

Quando a questão é resgatar e fortalecer tradições que tornam sua cultura singular no Brasil e no mundo, São João del-Rei é mais forte, mais competente e mais capaz do que se imaginga. Tanto que, apenas nove dias após o lançamento, neste Almanaque Eletrônico , da campanha Céu Aberto: mais anjinhos nas procissões de São João del-Rei , a proposta apresentou resultados surpreendentes. Mais de 20 anjinhos atenderam ao chamado e alinharam-se em legião diante do andor do Senhor dos Passos, na igreja de São Francisco, para acompanhá-lo na setecentista e barroca Procissão do Encontro. A campanha Céu Aberto surgiu da observação de que pouco a pouco estava diminuindo a quantidade de crianças vestidas de anjo nas procissões de São João del-Rei. Isto, ao mesmo tempo em que enfraquecia a beleza dos cortejos religiosos tradicionais de nossa terra, não oferecia às crianças a oportunidade de vivenciar uma experiência que seria lembrada por toda vida. De imediato a campanha recebeu adesão da I

Aquarela da Festa de Passos em São João del-Rei

  Em São João del-Rei, a Festa de Passos é tão sagrada que até a natureza, solidária, se veste de roxo em compaixão ao que sofreu Nosso Senhor Jesus Cristo a caminho do Calvário. Quaresmeiras robustas, e também as delicadas, florescem arroxeadas estrelas de dor no Largo de São Francisco. Contornando o jardim em forma de lira, que tem palmeiras como cordas, a imagem barroca arrasta sua cruz, sobre montanhas de hortências, nuvens de incenso e aromas de rosmaninha e de manjericão. Em meio à marcha triste que a banda toca e aos suspiros setecentistas de impropérios e misereres, vindos de violas, violinos, violoncelos, de flautas e clarinetas. Sinos dobram graves e, além de afinados sons, lançam pelos ares estreitas fitas de papel que, do mesmo tom, se juntam às quaresmeiras floridas. Em São João del-Rei, roxo não é uma cor. É memória, lembrança e sentimento...