São João del-Rei, como em todo o Brasil, no dia 20 de novembro comemora-se o Dia da Consciência Negra, homenageando o herói Zumbi dos Palmares. Oxalá nos ajude que esta data comemorativa se fortaleça a ponto de se transformar no Dia Nacional de Luta Contra a Desigualdade e a Discriminação Racial, estendendo-se as homenagens, hoje dedicadas ao herói pioneiro, para todos os brasileiros que, efetivamente, dedicaram sua vida - e até a sua morte - para as causas da igualdade e da verdadeira democracia racial, servindo de exemplo para as gerações que desde então os sucedem.
Como em todo o país, a população negra de São João del-Rei é quantitativamente muito expressiva. Mas qualitativamente, ela tem ainda maior valor. Desde os tempos coloniais, os escravos vindos da África e seus descendentes muito contribuíram e contribuem concretamente para o desenvolvimento desta nossa cidade, nos mais importantes e preciosos setores: da mineração à arquitetura barroca; dos serviços domésticos e braçais às composições musicais e à manutenção e preservação das orquestras mais antigas das Américas; das tradicionais irmandades e suas festas magníficas ao samba, ao carnaval e à congada. Das fábricas de tecido à prática do ensino superior. Enfim, da economia à arte, da mão de obra à inteligência, à cultura e ao saber.
Mas nem sempre a população são-joanense reconheceu e valorizou o importante papel desempenhado pelos negros e a verdadeira contribuição que eles deram - e dão! - para o desenvolvimento de nossa cidade. Apesar de no fim da primeira década do século XVIII - no tempo da Guerra dos Emboabas e quando sequer o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes havia sido elevado à condição de Vila - ter-se fundado aqui a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos - a primeira irmandade negra dedicada à santa protetora dos escravos criada em Minas Gerais e a terceira no Brasil; apesar de desde aquela época ser notória a participação dos negros na vida social e cultural de São João del-Rei, principalmente por meio da música, esculturas e pinturas barrocas, aqui foi grande, e por muito tempo, o sofrimento dos escravos africanos e de seus dependentes.
Laura de Mello e Souza, por exemplo, no seu livro Desclassificados do Ouro, conta que em nossa cidade, no ano de 1764, a escrava Maria Angola, alforriada e encarcerada sem motivo por muitos meses, sofrendo na prisão castigos terríveis e torturas desumanas, precisou encaminhar petição ao capitão-general pedindo que lhe "devolvessem a liberdade". A mesma autora fala do desconforto e protestos dos moradores da nossa ainda hoje tradicional e nobre Rua Direita diante do namoro e da cantoria de uma vizinha, "mulata que vivia sobre si".
O viajante Pohl, quando hospedou-se em São João del-Rei em 18...viu uma cena urbana tão brutal que registrou-a na caderneta de anotações que lhe servia como diário de campo.O que o assustou foi ver da janela de seu quarto na hospedaria a cabeça de um negro espetada em um poste e coberta de moscas. Esta era a forma encontrada pelo poder publico para provar como era severo o castigo imposto aos escravos.
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