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Mostrando postagens de 2022

Instituto Histórico de São João del-Rei não dá ponto sem nó!

  Com quantas páginas, quantos parágrafos, quantas palavras se escreve a história do povo de um lugar? Pergunta difícil de responder, pois, com certeza, ninguém sabe. Ainda mais porque uma história não se escreve só com palavras. Primeiro a história tem que ser vivida, ou seja, ser escrita com a própria vida, pelos personagens que são seus protagonistas reais. Depois ser registrada ou resgatada, e contada, não só por meio de palavras, mas também nos mais diversos suportes, como por exemplo fotografias, filmes, sons, desenhos, pinturas e bordados. Mas por falar em bordados, tem uma coisa que pouca gente sabe: o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei não dá ponto sem nó. Isto mesmo, o Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei não dá ponto sem nó. Tanto que desenvolve um projeto inovador de resgatar e divulgar aspectos humanos importantes da história de nossa cidade, utilizando principalmente linhas coloridas, agulhas bastidores e tecidos. O projeto chama-se Bord

Dia 20 de novembro não passa em branco em São João del Rei!

  O passado e o presente estão tão unidos, e até mesmo tão emaranhados, em São João del-Rei, que não é raro, de repente, a gente se confundir e, por alguns instantes, ficar em dúvida quanto ao tempo em que agora se está. Se no século 18, 19, 20 ou 21. Principalmente se num domingo à noite, na cidade sonolenta, você começar a ouvir, ao longe, o toque de atabaques, o bater de palmas, o som de vozes firmes, entoando cantos ritmados e desconhecidos, quase ancestrais. Uma situação incomum no coração do centro histórico de São João del-Rei, mais precisamente no Largo do Rosário.  Um local que, segundo a História, desde os idos de 1708, foi um território de muito significado, força e importância para os africanos e seus descendentes, num tempo em que estas terras ainda eram o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes. Mais de 300 anos depois o Largo do Rosário ainda conserva para os descendentes são-joanenses dos africanos o mesmo significado e a mesma força, pois foi lá que, e

Em São João del-Rei, cultura não é evento nem espetáculo. É vida!

Em São João del-Rei, a cultura não é espetáculo. É a própria vida. E também não é evento. Pelo contrário, nesta terra a cultura cumpre-se naturalmente. Faz parte do cotidiano, pontuando o passar do tempo, o correr dos dias, o mudar das estações, o escorrer da existência. Emoção, beleza, tradição, delicadeza, sentimento, recordação, crença, imaginação, verdade - arte para todos, por toda parte. Cultura e arte constituem de tal modo a realidade do centro histórico, que praticamente não são percebidas como tal, pelos próprios são-joanenses, nem próximos, nem distantes. O que em outras cidades seria visto e valorizado como um raro acontecimento extraordinário, entre nós é algo que já foi incorporado à nossa essência e faz parte de nosso dia a dia, resgatando, refazendo, reavivando efortalecendo nossos laços com nós mesmos. Com nossas memórias, nossas lembranças, nossas origens, nossas energias vitais e nossas emoções ancestrais. Principalmente (e muito principalmente!) preservada tanto com

Em São João del-Rei, nem tudo o que reluz é louro!

Se te parassem na rua e, sem mais, te perguntassem qual a contribuição cultural que os africanos, eles próprios e seus descendentes, deram para a formação da identidade são-joanense, na ponta da língua o que você responderia? Certamente você demoraria alguns segundos para pensar e apontar alguns exemplos, muitos deles do tempo do ouro e sem nenhuma conotação cultural, mas relacionados ao trabalho braçal, primitivo, pesado, na base mais rasteira da escala produtiva, não é mesmo? Cortar e carregar pedra para a construção das pontes e das igrejas, para a construção civil e para o calçamento urbano. Faiscar e garimpar nas betas e, também como fruto do trabalho escravo, dar conta de todos os serviços da casa grande e das propriedades de seu senhor.  Muito pouco, você não acha? Mas também muito fácil de compreender. Vamos lá: se fosse feito um censo de cidades, no quesito cor, muito possivelmente São João del-Rei se autodeclararia uma terra morena.   Me diga uma coisa: e esta tão grande quan

Setembro é uma primavera de poesia e fé em São João del Rei

  Antes mesmo que chegue a primavera, a fé e a religiosidade florescem todos os dias do mês de setembro em São João del-Rei. Senhor dos Montes, Bom Jesus de Matosinhos, Exaltação da Santa Cruz, Nossa Senhora das Dores, Bom Jesus dos Perdões, Chagas de São Francisco, Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora do Parto, Santa Teresa, São Miguel Arcanjo, Anjos Custódios - faltam dias ao calendário para acomodar tantas celebrações, que se dão por meio de novenas, tríduos, missas, procissões, rasouras, bênçãos, te deum's e outros barroquíssimos ritos litúrgicos e para-litúrgicos. Sinos de todas as torres, de quase todas as igrejas e capelas do centro histórico tocam várias vezes por dia; às 12 horas e às 6 da tarde um alto-falante, do alto da igreja das Mercês, entoa para toda a cidade uma prece musical à Rainha Mercedária. As bandas de música, as orquestras, os corais - cada um a seu modo, no horário próprio e no lugar certo - enriquecem o universo sonoro da cidade com antífonas, responsó

São João del Rei é a cidade histórica mais barroca do Brasil

 São João del-Rei é a cidade histórica mais barroca do Brasil. Você duvida? Então, pense comigo. Você está em casa em uma noite qualquer e, de repente, escuta os sinos tocarem, avisando que algo extraordinário está acontecendo. E, para confirmar este aviso, escuta também uma banda de música tocando, alegre, marchas, dobrados e hinos religiosos, na cadência ritmada de um coração que bate feliz. Então, diante destes sinais de um  imprevisto encantamento, logo você se pergunta: - O que pode ser extraordinário em São João del-Rei, se aqui a festa, o esplendor, a magia, a beleza, as cores, as flores, a delicadeza, a música, o perfume, as luzes, a alegria, a solenidade, o sonho, a imaginação, a fantasia, a realidade e a criação fazem parte do dia a dia? Não é preciso ser, nem estar, atento para perceber que, principalmente nas praças, largos, becos e ruas do centro histórico são-joanense, em vários momentos do dia se vive em outro tempo, consumindo, produzindo, reproduzindo, reacendendo, res

Independente de religião, boldo é planta sagrada em São João del-Rei!

  Especialmente procurado para curar a ressaca  braba de são-joanense que exagera na água que passarinho não bebe e em outras canjibrinas, sem dispensar o torresmo, o bife de fígado acebolado, as almôndegas, chouriços, costelas com mandioca e até mesmo o mocotó e a dobradinha, o boldo é um remédio miraculoso. Seu gosto amargo, mais amargo ainda do que o caldo do chifre do diabo, tem poderes que ninguém duvida. Como por exemplo desarmar as bombas que estouram na cabeça e espremem os miolos do infeliz moribundo;  lavar da boca o gosto de cabo de velho guarda-chuva e levar para bem longe as náuseas, enjoos e até mesmo os vômitos, que desgraçadamente torcem o estômago e trazem a bílis por sobre a língua. Por tudo isto, o boldo, em São João del-Rei é uma planta, podemos até dizer, bastante venerada. Muito fácil de ser plantado, não é raro encontrar um pé, às vezes até mesmo florido com seus pendões roxos, nos velhos quintais que ainda resistem à exploração imobiliária. Mas o que surpreende

São Benedito, me responda: Aqui tem ou não tem uma coisa?

  Em São João del Rei não é raro, volta e meia a gente ouvir, algum são-joanense, com um quê de mistério, dizer: - "Aqui em São João, parece que tem uma coisa!..." Se prestar bem a atenção na vida da cidade, você vai ver que de fato eles têm razão. Em São João del Rei, às vezes do nada, parece que uma porta se abre, rompendo a delimitação dos tempos e dos mundos. Nestes momentos, há quem quase fique sem saber se está no  aqui e agora, no hoje, presente, ou se está lá e antes, no ontem, passado. E isto não ocorre só nas grandiosas, solenes e pomposas tradições barrocas, que são a principal identidade são-joanense não. Esta dúvida, na verdade, é a certeza de que foi transposto o portal  do lado  racional, pragmático e definitivo e então se está a transitar nos territórios da emoção e da memória afetiva. A procissão de São Benedito, realizada em meados de maio na capelinha do Bonfim, é um dos melhores exemplos. Extremamente delicada e singela, assim como a capela, não percorre a

As boas coisas de São João del Rei: café, música e arte na Rua Santo Antonio

  É um sacrilégio, quase um crime ou pecado mortal, ir a São João del Rei e não passear calmamente pela Rua Santo Antonio. É algo mais ou menos como ir à Cidade do Rio de Janeiro e não ver o mar, ou como ir a Roma e não ver o Papa! A tricentenária, estreita, poética, misteriosa e sedutora rua ainda hoje é a morada de muitos tesouros, guardados nos baús da música barroca, da história e da arquitetura colonial. O consagrado compositor sacro Padre José Maria Xavier, por exemplo, nasceu nela, em 1819. A Banda de Música Theodoro de Faria (1902), a bicentenária Orquestra Ribeiro Bastos (1790) e a Orquestra Lira Sanjoanense, que é a mais antiga orquestra das Américas em funcionamento ininterrupto desde a sua fundação, em 1776, têm suas sedes e arquivos naquela rua. Consta que a Lira Sanjoanense, inclusive, foi a primeira corporação musical profissional instituída no Brasil. Por tudo isto, poeticamente, a Rua Santo Antônio bem poderia se chamar também Rua da Música. A capela de Santo Antônio,