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Todo dia é Sexta-Feira da Paixão em São João del Rei

  Quando o assunto é cultura, em seu sentido mais genuinamente antropológico, São João del-Rei é uma das cidades históricas brasileiras mais ricas e mais dinâmicas. Seu conjunto arquitetônico não é  uniforme nem homogêneo, mas o que isto importa? Seu casario de estilos diversos, característicos de sucessivas épocas, registra em si, como em nenhuma outra cidade histórica mineira, a passagem dos séculos com seus ciclos de evolução econômica, estética e social. Tão ou mais do que outras cidades surgidas no tempo do ouro, a cultura local é autêntica e peculiar, e mantém-se viva de modo natural e espontâneo. Tanto que, por não se pautar na realização de eventos de inspiração e motivação externa, para um público "estrangeiro", há quem diga, desavisadamente,  que em  São João del-Rei não se promove cultura. Mas dependendo do ponto de vista e do que se tem como cultura, quem pensa assim não está de todo errado, por uma razão muito simples: São João del-Rei " não vive de cul...

"Pelo sinal, da Santa Cruz", em São João del-Rei!

Se outros nomes São João del-Rei pudesse ter, um deles, muito possivelmente, seria São João da Cruz. Afinal, a cidade possui em seu centro histórico e arredores tão grande quantidade de Cruzeiros da Paixão e cruzes simples, em praças, largos, esquinas, altos, fachadas, vias públicas que, para grosseiramente contá-los nos dedos é preciso usar as duas mãos. Isso mesmo: numa rápida  contagem mental somam 10. Completos com todos os estigmas da Paixão de Cristo, ou meramente uma cruz, assentados com adros cercados por gradis de ferro trabalhado ou plantados sobre uma única pedra ou em meio a um conjunto delas, ou, ainda, em fachadas de casas e igrejas, eles estão em toda parte. Por isso, não se tem certeza, mas essa quantidade e a diversidade levam a crer que São João del-Rei deve ser a cidade histórica que mais cruzes tem em sua paisagem urbana central. Mas além de ocupar espaços físico-geográficos, as cruzes estão de tal modo entranhadas no imaginário e na cultura do povo são-joanense...

Em São João del-Rei todas as ruas levam à religiosidade

São João del-Rei é território sagrado. Principalmente na região que compreende o centro histórico onde, a curtas distâncias entre si e das formas mais variadas, diversos marcos lembram e servem como pórticos para o são-joanense adentrar no universo profundo de sua religiosidade e chegar até as profundezas de sua fé, suas crenças e lembranças. Quem, andando pelos lados antigos de São João del-Rei, nunca viu um são-joanense, jovem ou mais vivido, interromper seu pensamento, diminuir o ritmo de seus passos e fazer o sinal da cruz ao passar diante de um cruzeiro, de um cemitério ou de uma igreja?  Este é um comportamento que, mesmo diante dos novos modelos, padrões e valores impostos pela sociedade hiperconectada, digital e virtual, continua firme como parte da rotina de muitos são-joanenses. E as razões são infinitas: pedir proteção divina, fortalecer-se na luta contra os maus e contra os males, abrir e desembaraçar os caminhos tortuosos e confusos, abrandar a ira e amansar o c...

São João del-Rei. Aposto que aqui tem coisa que você ainda não viu!

Mesmo quem vive em São João del-Rei, e atravessa todo dia as ruas, praças e becos do centro histórico, pode sempre se surpreender com a paisagem. Basta desprender-se do pensamento demasiadamente racional e da visão rotineira dos caminhos e percursos, para deixar livre o olhar e, então, ver o que sequer  imagina. Os telhados, por exemplo, com suas sucessões de muitas águas, formando belas geometrias, com a textura das telhas curvas, coloniais, que alternam cores que vão do marrom e do avermelhado até o quase ocre-rosado das capas e bicas mais novas, que foram trocadas há pouco tempo. Eles mostram uma face surpreendente e praticamente desconhecida da paisagem são-joanense, acostumados que somos a olhar apenas as fachadas do casario. Que também são muito bonitas. Aliás, como são belas as fachadas das casas e sobradões do centro histórico de nossa cidade! Retratando diferentes estilos, característicos principalmente da evolução econômica, social e cultural que marcou São J...

Novos tempos, novas mulas sem cabeça assombram São João del-Rei

Uma rua estreita, sinuosa, com subida e descida, no centro da cidade, tendo na metade uma pedreira angulosa e no alto dela um cruzeiro bicentenário, erguido no tempo em que mulas sem cabeça corriam noturnas a horas ermas e mortas, aterrorizando a todos com suas línguas de fogo. Talvez, superando interrupções, uma continuidade da Rua Santo Antônio – caminho dos bandeirantes, escravos, libertos e aventureiros, no alvorecer do século XVIII, atravessando a Vila de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes rumo à Rua do Fogo e à Rua do Barro Vermelho. Paralelo a uma ponta da avenida principal, o lugar foi batizado com um nome estranho, que os índios tupis falavam para referir-se a uma árvore de grandes e polpudas vagens. No seu começo, tem um alto muro de arrimo de pedras aparentes que em certas épocas do ano mais parece uma cascata de samambaias, musgos e liquens. No seu final, uma cruz alta, fina e simples, fincada em uma pequena pedra, sem os estigmas mas com a tabuleta J.N.R....