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Mostrando postagens com o rótulo arte popular

Em São João del-Rei, a cultura popular vai para o bar. E não quer mais sair de lá!

Diferentemente da cultura erudita, que se pratica e se conserva em espaços consagrados, a cultura popular vive na rua, é do mundo. Mesmo quando não está a céu aberto, sua proteção pode ser o telhado de uma igreja humilde, de uma casa de gente simples, da lona de um circo ou de uma barraquinha de quermesse. Até o mercado e o bar servem de teto para a cultura popular. Em São João del-Rei, apesar da modernidade que tomou conta dos espaços de convivência mais desfrutados pelos homens, em alguns bares, antigamente chamados botequins,  ainda se encontra o ambiente simples, mas culturalmente muito rico, de outros tempos. Tudo autêntico: uma imagem ou um quadro do santo protetor daquela casa, mais comumente os guerreiros São Jorge e São Miguel, ou das muitas invocações de Nossa Senhora, principalmente a de Aparecida, a das Mercês e a do Carmo, resgatando as almas que queimam em chamas ardentes. Santo católico não bebe, não come, mas em compensação sua presença não ocupa espaço nem...

Vovô Gomide & as Catitas de São João del-Rei

Na galeria dos personagens típicose muito populares de São João del-Rei, um muito pitoresco, mas hoje praticamente esquecido, é Vovô Gomide. Fins dos anos 50, começo dos anos 60, já relativamente idoso, o velho meio branco, baixinho, de cabelo e barba brancos, morava na esquina da Rua Coronel Tamarindo com a Rua Rodrigues de Melo, onde hoje existe a Praça Padre José Maria Fernandes, próximo à Rua do Barro e ao Pau D'Angá. Para as crianças, pela semelhança, era o ilustre Marquês de Tamandaré, que naquela época corria de mão em mão na nota de Cr$ 1 (um cruzeiro). Sempre de paletó escuro e surrado, com sua voz mansa, rouca e baixa, se dizia nobre, descendente do Barão de Cocais, e aguardava a chegada de sua parte da lendária herança, que vinha não se sabe de onde, mas do século XIX. O que fazia dele uma pessoa especial? Vovô Gomide catava no chão maços vazios de cigarro que os fumantes jogavam fora e desenhava a lápis, no verso da estampa e no papel branco, garatujas de corpo...

São Miguel Arcanjo: um luminoso corpo celeste em São João del-Rei

Divindade que é, São Miguel Arcanjo não tem corpo. É espírito, um dos mais elevados das Potestades. Quando Deus criou a luz e, em seguida, o universo, com seus astros, planetas e cometas, São Miguel há muito já existia. Mas em São João del-Rei, desde séculos passados até hoje, muitos artistas se dedicam a dar ao Anjo Maior forma humana. E, com isto, existe na cidade um sem-número de representações de São Miguel, nas mais diversas técnicas, formas e materiais - madeira, cerâmica, ferro, pinturas, bordados, pedra sabão, cobre, papel, palha, aninhagem. Todas aladas, a maioria com a balança na mão esquerda, várias com espada flamejante, algumas com escudo e lança, tendo o demônio, assustado e temeroso, a seus pés. Na ilustração deste post, a representação do arcanjo São Miguel - obra em cerâmica, criada pelo saudoso artista plástico são-joanense Marcos Mazzoni, em 1992 (acervo do autor) .

Em São João del-Rei, herói Tiradentes encontra Tancredo Neves. Séculos XVIII e XXI se abraçam!

Há 267 anos, no dia 12 de novembro de 1746, na capela de São Sebastião do Rio Abaixo, pertencente à paróquia da Vila de São João del-Rei, foi batizado um menino, nascido na Fazenda do Pombal, então pertencente à mesma Vila. Seu nome de batismo? Joaquim José da Silva Xavier. Apelido como ele ficou mais conhecido? Tiradentes. O maior herói de Minas Gerais e o grande símbolo do sentimento brasileiro de soberania e amor à liberdade. Sua história, todo mundo sabe: não teve madrinha, era o quarto de nove irmãos, ficou órfão de mãe aos 9 anos, tornou-se dentista - daí o apelido Tiradentes - e alferes de cavalaria. Foi o grande idealizador da Inconfidência e o único sumariamente castigado com o sacrifício da morte em forca, diante da multidão. Esquartejado, seu corpo, antes suspenso no cadafalso, novamente fora elevado, em partes, pelos caminhos onde andou. Transformado em símbolo, Tiradentes tornou-se um ente abstrato. Uma lembrança distante na cidade onde, historicamente, em 1746...

Tapetes de flores de São João del-Rei: arte-manifesto lembra que "os sonhos não envelhecem"

Areia, serragem, sementes, flores. Gestos delicados, contornos cuidadosos, concentração, cordialidades, sorrisos. Cores. Muitas cores, escorrendo entre os dedos a formar símbolos sagrados, paisagens celestiais, querubins, cálices, pietás, sudários, estrelas, rocalhas, volutas, rendilhados. É deste modo que o céu desce ao chão em forma de tapete processional e se alastra nas ruas de pedra durante as festas religiosas de São João del-Rei. Mas como tudo na cidade, esta história já vem de um bom tempo. E o tempo passa a favor de São João del-Rei.  Este ano, quando se completam 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes a Vila de São João del-Rei, completaram-se, no mês de abril, 30 anos da re-criação dos tapetes de serragem e flores como expressão artística, arte-manifesto em favor da preservação e valorização turístico-cultural da quarta vila do ouro instituída em Minas Gerais. Tudo começou em 1983 numa conversa de jovens que começou em uma ...

Outubro Rosa em São João del-Rei." Todo dia é dia, toda hora é hora de saber que este mundo é seu"!

Todo mês de outubro, em muitas das grandes capitais brasileiras, os mais belos e principais monumentos públicos recebem iluminação noturna especial, rosada, como parte da campanha de prevenção do câncer de mama. É o movimento nacional conhecido como Outubro Rosa . Em São João del-Rei, independentemente da época do ano e do horário do dia, muitas pessoas, por puro deleite, pintam as fachadas de suas casas de cores vivas e variadas, em tons vibrantes: vermelho, verde, abóbora, azul, amarelo, abacate, hortência, ocre, cereja, ferrugem, laranja, lilás, rosa, terra - sem qualquer pudor ou constrangimento. Agindo assim, buscam deixar mais alegres a vida e a paisagem, fazendo cumprir o que sentencia uma antiga constatação poética de Antônio Marcos Noronha:                                 " Era dia comum                            ...

Ajudada por sacis, Alexina Pinto rasgou cartilhas e revolucionou o ensino infantil em São João del-Rei

4 de julho é data que deveria ser escrita com algarismos de ouro no Livro de História da Educação em São João del-Rei. Nele, em 1870, nasceu a educadora Alexina de Magalhães Pinto , considerada a primeira folclorista do Brasil e precursora da utilização da cultura popular como recurso didático-pedagógico no processo de alfabetização infantil. Sua história de vida é sem igual, em São João del-Rei, em Minas Gerais e no Brasil. A começar pela viagem que, aos 22 anos, fez sozinha à Europa, para conhecer e estudar em centros culturais daquele continente. Em 1892, quando o século XX sequer tinha chegado, Alexina Pinto andava de bicicleta no centro da cidade e aplicava em salas de aula proposta educacional revolucionária, que rasgava a cartilha de alfabetização tradicional, substituía castigos por brincadeiras de trava-língua e trocava a temida palmatória por cantigas de roda . Como era de se esperar, tanta inovação e vanguardismo chocaram a conservadora sociedade provincian...