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Mostrando postagens de 2020

Em São João del-Rei, São Jorge perde a cabeça, mas não perde a vergonha! E nem a pose!

Antigamente, em São João del-Rei, no tempo em que nossos pais viviam a infância, certamente fazia parte do universo deles a mula-sem-cabeça: aquela figura imaginária e muito temida, que andava a horas mortas pelos locais ermos, nas noites da quaresma. Seu tropel, ora lento e bem compassado, ora veloz e desritmado, era percebido pelo bater de seus cascos no calçamento das ruas, e do mesmo modo que surgia, desaparecia, no silêncio, ao longe.  Fora a estória de uma ou outra alma penada, em um corpo decapitado, vagando pela noite à procura de sua cabeça, cortada por castigo, vingança, cobiça, inveja, ira - ou simplesmente por crueldade - em São João del-Rei, sempre que se falava (e ainda hoje quando se fala!) que alguém perdeu a cabeça, na maioria das vezes é para justificar desaforos, adultérios, crimes passionais, e até mesmo assassinatos. Mas neste domingo por volta do meio-dia, passando pela lateral direita da igreja do Carmo, uma cena incomum chamou minha atenção: São Jorge decapita

Quem mantém viva e acesa a alma de São João del-Rei?

O são-joanense. Você o conhece? Então me diz: - Quem é este ser, esta entidade, a quem se refere, quando genericamente se diz "o são-joanense"? Eis aí uma questão complexa... Longe de ser apenas um adjetivo gentílico, esta não é uma condição nata dos que vieram à luz sob o céu de São João del-Rei. Nem tampouco é um título que se concede aos cidadãos que escolheram o vale da Serra do Lenheiro para aqui viver. "O são-joanense" em questão é muito mais do que isto.  Engana-se também quem pensa que é um estado de espírito... São-joanense é aquele que herdou do tempo uma bagagem imensurável e intangível de mistério e sentimento e a materializa, corporalmente, no seu modo de ser, de pensar e de agir. De compreender este mundo e ainda em vida transitar pelo outro, quase todo dia. O são-joanense "legítimo" segue o relógio do sol, mede pelas estações do ano o seu tempo, que é a eternidade. Ele tem códigos próprios de comunicação e conduta, valores peculiares, lingua

"Pelo sinal, da Santa Cruz", em São João del-Rei!

Se outros nomes São João del-Rei pudesse ter, um deles, muito possivelmente, seria São João da Cruz. Afinal, a cidade possui em seu centro histórico e arredores tão grande quantidade de Cruzeiros da Paixão e cruzes simples, em praças, largos, esquinas, altos, fachadas, vias públicas que, para grosseiramente contá-los nos dedos é preciso usar as duas mãos. Isso mesmo: numa rápida  contagem mental somam 10. Completos com todos os estigmas da Paixão de Cristo, ou meramente uma cruz, assentados com adros cercados por gradis de ferro trabalhado ou plantados sobre uma única pedra ou em meio a um conjunto delas, ou, ainda, em fachadas de casas e igrejas, eles estão em toda parte. Por isso, não se tem certeza, mas essa quantidade e a diversidade levam a crer que São João del-Rei deve ser a cidade histórica que mais cruzes tem em sua paisagem urbana central. Mas além de ocupar espaços físico-geográficos, as cruzes estão de tal modo entranhadas no imaginário e na cultura do povo são-joanense que

São João del-Rei, "verás que o filho teu não foge à luta, nem teme quem te adora, a própria morte..."

"Você sabe de onde eu venho"? - perguntou com poucas notas a Banda do Batalhão de Infantaria de Montanha, tocando o primeiro verso da Canção do Expedicionário, tão conhecida e tão cantada em São João del-Rei. Muito querida do povo são-joanense, esta marcha não pode nunca faltar no repertório de desfiles, marchas, retretas e concertos militares, por seu poder de, pela memória e pela lembrança, chamar de novo à vida nossos jovens soldados que, aqui deixando sonhos e família, atravessaram o oceano para combater e derrotar  na Itália o grande inimigo mundial. O nazi-facismo. Muitos, nesta 2a guerra mundial, deixaram lá a própria vida e outros tantos regressaram ao Brasil, para viver mais 50. 60, 70, 80 anos na terra da qual foram feitos, e nela fechar definitivamente os olhos, à luz de algum último raio de sol. Isto foi o que se reviveu no Largo do Carmo de São João del-Rei, no fim da tarde azul da quarta-feira, 22 de julho de 2020. Mesmo em tempos de pandemia, vários populares

Sapateiros do tempo em que Adão rodava pião na palma da mão. Coisas de São João!

Sr. Geraldo, mestre da Sapataria Nossa Senhora do Carmo, em sua mesa de trabalho Quase ninguém sabe, mas o ofício de sapateiro foi um dos primeiros serviços oficializados na Vila de São João del-Rei. Consta que, no dia 20 de julho de 1719, o Senado da Câmara local concedeu licença para Manoel de Araújo exercer aqui a função de confeccionar e consertar sapatos, colaborando para a saúde, o conforto, a elegância e a distinção dos nobres moradores destas paragens. Pelo jeito, naquela época ser sapateiro não significava exercer um ofício irrelevante nem economicamente pouco expressivo. Para conquistar a licença, Manoel de Araújo teve que apresentar fiador e se comprometer com o pagamento dos quinto reais e das taxas de almoçataria. Mais de 70 anos depois, outro sapateiro Manuel, desta vez Manuel da Costa Capanema, foi réu citado nos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira, suspeito de fazer parte do grupo de conjurados.-  - Por qual motivo? - Porque mais de uma vez, em diferentes lugares,

Inconfidência dos escravos: Reis foram presos na Quaresma de São João del-Rei.

Da história colonial de São João del-Rei, especialmente de alguns capítulos, pouco se fala. A bem da verdade, deles nada se fala, principalmente quando não exaltam fatos grandiosos, vangloriam feitos gloriosos, louvam atos destemidos e corajosos daqueles que, por razões que aqui não vem ao caso, foram consagrados como heróis. Assim como em quase toda parte, também aqui a história dos oprimidos não consta dos livros de História. Uma pena. Mas vamos adiante... Desde os anos setecentos, a Quinta-Feira Santa sempre sensibilizou e mobilizou fortemente a população de São João del-Rei. Principalmente as cerimônias da Última Ceia do Senhor e do Lava-pés, além da visitação às igrejas, que retratam primorosamente e com grande criatividade as cenas bíblicas que contam os milagres, sermões e outras passagens da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vem daquela época o costume, ainda hoje muito vivo, de na noite de Quinta-Feira Santa visitar uma a uma as belas igrejas barrocas e capelas do

Na pandemia, São João del-Rei dorme, pra sonhar com o novo dia!

  Largo de São Francisco, visto de uma janela da Rua das Flores.

Covid 19 trouxe novos chafarizes para São João del-Rei

Na paisagem urbana do centro histórico de São João del-Rei, dois monumentais chafarizes se destacam: o da Legalidade, em cantaria, há muitas décadas transferido para um agradável largo, em frente ao antigo Grupo Escolar Maria Teresa, e o chafariz da Municipalidade, de ferro fundido, importado da Europa e instalado no jardim do Largo do Carmo, integrando o magnífico conjunto formado pela igreja e pelo cemitério daquela Ordem Terceira. A cidade ainda possui, também, o chafariz da Deusa Ceres, certamente da mesma idade e origem do chafariz da Municipalidade. Entretanto, conta a história que este monumento, tal qual uma pessoa errante, vagou por diversos pontos da cidade e, há algumas décadas, está anacrônico e atordoado na Praça de Matosinhos, em frente à igreja do Bom Jesus, onde em sonho acena para os turistas que nos fins de semana e feriados passeiam na Maria Fumaça. Sabe-se que outrora existiu um chafariz de cantaria no Largo de São Francisco, conforme fotografia possivelment

Rua das Flores. Caminho de história, do século 18 à eternidade, em São João del-Rei

Como uma veia importante que escorre vida para o coração do centro histórico de São João del-Rei, a Rua das Flores é um caminho de história, que começa no século 18, atravessa o tempo e vai às portas da Eternidade. Subindo da Muxinga ou descendo dos lados do Tejuco, ela é irmã paralela da Rua Santo Antônio e, por estar mais alta um degrau acima, na topografia que um dia se chamou Morro do Pagão, é um mirante esplendoroso para se admirar o Largo e a igreja de São Francisco, apontados pela Rua da Prata, e se extasiar com a majestade da igreja do Carmo - soberana coroa de pedra e beleza sobre os poéticos telhados do Largo da Cruz. Pontuada por monumentos singulares - como o sobrado da esquina, onde o Presépio da Muxinga fica adormecido de sol a sol e só acorda poucos dias entre o Natal e o Dia de Reis; a imponente casa oitocentista, guarnecida pela guirlanda de flores debruçadas sobre o gradil que delimita o colorido jardim; os portões dos cemitérios da Matriz e do Rosário, onde dorm

"Deus te ajude mas a mim não desampare", em São João del-Rei!

A sabedoria mineira ensina que, " Em Minas, entender logo já é muito tarde. O bom mesmo é antecipar ". Sendo assim, mesmo que não pareça, imagina como é matreiro e arisco o são-joanense, e não é sem motivos. Afinal, a Vila de São João del-Rei foi uma das primeiras e mais importantes matrizes de nosso Estado, instituída  no tempo em que Minas e São Paulo formavam uma única Capitania. Daí é que, pelo bem ou pelo mal - e com muita propriedade -, o são-joanense não dá ponto sem nó.  Vê fumaça onde não há fogo, não amarra cachorro com linguiça, não bota a mão na cumbuca nem procura chifre em cabeça de cavalo. Vai que ele ache!... E isso vale para tudo. Para as coisas desse mundo e também do outro. Nesse tempo de pandemia, preocupados e precavidos, muitos são-joanenses colocaram uma cruz na porta principal de suas casas, e outros, além desse apelo ao Deus-Filho e por garantia, ainda colocaram ao lado, em uma folha de papel A-4, a seguinte mensagem para o Deus-Pai: &quo

Marmelada com canela. O doce caminho para a morte na velha São João del-Rei

Pela formação colonial-barroca da cultura são-joanense, mesmo sob a ilusória égide da temperança, da serenidade e da discrição mineira, aqui em São João del-Rei tudo é exacerbado, extremado, monumentalizado. Independentemente se são o idílio ou o inferno, o sagrado ou profano, o luto ou o gozo, a alegria ou o sofrimento. Quando não as duas coisas ao mesmo tempo. Porta de entrada deste mundo para o outro, a Morte é um eixo importante e presente em quase todas as manifestações culturais são-joanenses, sejam elas expressões coletivas, celebradas no mundo da rua, ou vivências individuais, que acontecem entre as paredes cobertas pelo telhado de um lar. No primeiro caso, como em geral são ocasiões festivas, programadas para a coletividade rememorar, viver ou reviver situações simbólicas, consagradas e preservadas como tradição, o passar do tempo não foi suficiente para modificá-las tanto. Isto porque,  mesmo veladamente ou inconscientemente, elas têm uma finalidade - e até mesmo uma f

Isolamento social & resgate cultural em São João del-Rei no Dia de Santa Cruz

Isolamento social é sinônimo de resgate e produção cultural? Por que não? Em São João del-Rei, com toda certeza, pode ser sim! Herdeiro e agente de um incalculável e inesgotável tesouro cultural, a quarentena a que vive 'a terra onde os sinos falam' só é tediosa e improdutiva para o são-joanenses que isso quiser. As horas vagas - e são muitas! - podem ser o tempo que se precisa para relembrar, rememorar, resgatar, reaprender e reavivar o saber, o fazer e o viver que são a essência, a magia, o encantamento e a alma do povo de cá. Daqui a alguns dias será 03 de maio - Dia de Santa Cruz. Uma data muito significativa no calendário religioso-cultural de nossa cidade, quando era costume comum enfeitar de flores ou papel de seda colorido repicado uma pequena cruz de madeira,e  pendurá-la  na porta principal ou na fachada, como elemento de fé e de identificação entre os iguais. Mas a movimentada rotina dos novos tempos foi aos poucos diluindo este hábito, que embelezava tanto a p

Depois do Coronavirus, quem construirá a nova São João del-Rei?

Uma longa pausa, que já durou um mês e, certamente, ainda vai durar vários, ninguém sabe quantos. É assim que vai vivendo São João del-Rei onde, nestes tempos temerários do novo coronavírus 19, aqui como acolá reinam o isolamento social e, em consequência, o adormecimento cultural. A cidade que é viva e festiva o ano inteiro, especialmente no bimestre março-abril - quando acontecem algumas das festas mais importantes e representativas de seu calendário turístico-religioso-cultural, que são a Quaresma / Festa de Passos e a Semana Santa - em 2020 viu esse tempo passar em branco, em silêncio e inerte. Sem as cores, as flores, a música, os odores, os movimentos e encenações dos ofícios e procissões. Consciente, cautelosa, cuidadosa e amorosa, a população são-joanense atendeu volitivamente o solidário chamado e ficou em casa. Guardou para depois a magia e o encantamento que há 300 anos viveria naqueles dias. Apesar do desejo de que tanto este medo quanto este perigo passem logo, aind

Quem arrancou estas páginas do calendário de São João del-Rei?

Em 2020, arrancaram páginas importantes no calendário de São João del-Rei. Este é o sentimento que ficou no peito dos são-joanenses, na segunda-feira que sucedeu o Domingo de Páscoa, na "terra onde os sinos falam ". - O quê aconteceu? - Por causa do isolamento social preventivo ao novo Coronavírus 19, as igrejas ficaram fechadas em grande parte da Quaresma e por toda a Semana Santa. Assim não tiveram procissões nas ruas nem Ofícios de Trevas na Matriz do Pilar, assim como as celebrações internas foram realizadas a portas fechadas, com reduzidíssimo número de pessoas essenciais às funções litúrgicas. Tudo transmitido primorosamente pelo rádio e pelas mídias sociais, porém com orfandade da expectativa, do envolvimento, da memória, do vivenciar e do sentimento. - Mas e a história do calendário? Por que isso aconteceu? - Porque que o povo desta São João, surgida nos primeiros anos do século XVIII, ainda conserva vivas muitas referências culturais trazidas de quando o ou

Semana Santa de São João del-Rei vence o novo coronavírus 19

O tempo muda, fica diferente em São João del-Rei quando chega a Semana Santa. A cidade se recorta e descola do universo, emerge para um espaço próprio de tempo e lugar. Nesses dias o são-joanense transita entre quatro eixos - o pessoal, enquanto indivíduo; o religioso, enquanto ser; o coletivo, enquanto elemento integrado a uma comunidade, e o de memória, esta, afetiva, sentimental e até mesmo ontológica. Finda a Quaresma, as primeiras manifestações da Semana Santa propriamente dita são muito profundas e enigmáticas em São João del-Rei. A cerimônia da benção dos ramos, na igreja do Rosário, o toque angustioso e demorado dos sinos daquela igreja, a procissão que sai até a Matriz do Pilar, onde acontece o Ofício de Ramos com a leitura teatralizada do Evangelho - tudo traz em si uma expectativa do obscurecer da glória, da alegria e da vida, vive-se ali a antecipação emocional do sofrimento e do apagar-se. O cordeiro sabe de seu destino e, entre resoluto e resignado, caminha para o sa

"Toque da Penitência"*. Sinos de São João del-Rei - da gripe espanhola ao coronavírus 19

Mundialmente muito falada nos últimos dias, a palavra "corona", há quase 300 anos é bastante conhecida dos são-joanenses. Mais do que simplesmente conhecida, ela é repetida contritamente 7 vezes na noite de Sexta-feira da Paixão, em um dos momentos mais representativos da religiosidade e da cultura do povo de São João del-Rei: a Procissão do Senhor Morto, também conhecida como Procissão do Enterro do Senhor. Aliás, a palavra "corona" é cantada duas vezes na última parte do lamento da Verônica, que naquela noite emudece e tira o ar dos são-joanenses na escadaria da igreja das Merces, precedendo a Marcha da Paixão, que a Banda Theodoro de Faria toca, dando emoção e ritmo ao início da monumental Procissão do Enterro. E, depois, nas vezes que a Verônica mostra o sudário e canta no Largo do Rosário, em frente à casa onde nasceu Bárbara Heliodora (cruzamento da Rua da Prata com o Largo São Francisco), em frente à antiga Delegacia de Polícia, na encruzilhada dos Quat

Via Sacra e Encomendação de Almas. Magias da Quaresma em São João del-Rei

Quaresma é uma era diferente em São João del-Rei. Talvez seja a era anual de São João del-Rei. Sendo assim, as  sete sextas-feiras da Quaresma, então... Até quem não é nativo, ou mesmo os são-joanenses alheios às tradições e à identidade local - enfim, qualquer pessoa que nestes dias transitar pelo centro histórico ou pelos bairros mais antigos da cidade - vai notar algo diferente no ar. Atmosfera mais densa, clima espesso e misterioso, ecos da reza de algum terço, esgarçado e trazido entrecortado e de longe pelo vento, dobre longo, solitário e choroso de um sino, expectativa contraditória  quanto à Paixão e à compaixão, à dor e ao gozo, à festa que é  sofrimento. O silêncio conversa nas esquinas, nas pontes, nas encruzilhadas, nos largos e seus cruzeiros. Espreita das janelas de guilhotinas, escorre nas pedras do chão, escorrega, sorrateiro, pelas bicas dos telhados. Conversa com as pessoas que passam, com suas memórias, lembranças e pensamentos. À noite, tem Via Sacra sol

No Carnaval de São João del-Rei tem a Bandalheira do bem!

Se São João del-Rei, por sua infinita riqueza sonora e musical, deseja ser consagrada também como "terra da música", nada mais certo do que seu carnaval - efetivamente - começar com uma banda: a Bandalheira! Na verdade, a Bandalheira é bem mais do que uma banda, e do que um bloco carnavalesco. Com suas tantas décadas de existência, ela é mesmo uma corporação. Um sentimento que vive adormecido durante um ano inteiro para, na tarde do sábado que antecede o sábado de carnaval, corporificar-se por algumas horas, exalando alegria, samba, marchinhas e amizade, conforme declaravam seus estandartes este ano. Na Bandalheira, democraticamente, há igual espaço para todos, independentemente da idade, sexo, raça, religião, condição social ou econômica e qualquer outro tipo de diferença. Desse modo, como toda e qualquer ação humana, seu cortejo é um ato político em favor da alegria, da fraternidade, do respeito humano e da igualdade. Tanto que as marchinhas e sambas que a banda toc

Vamos redesenhar, pintar e bordar a história de São João del-Rei?

Sobretudo a partir da vinda dos intelectuais modernistas à nossa cidade, no começo do século 20, São João del-Rei passou a ser paisagem muito retratada por um sem-número de artistas plásticos, principalmente desenhistas e pintores, que vinham a esta terra em busca da originalidade, da graça, das cores, da vivacidade e da simplicidade de nossa paisagem. De Quirino Campofiorito a Tom Maia, de Alberto da Veiga Guignard e José Pancetti a Emeric Marcier e Carlos Bracher - cada qual com sua percepção humana, geográfica e cultural, sua técnica e sua sensibilidade - a "terra da música, onde os sinos falam" foi e continua sendo grande musa inspiradora. Isto sem citar os consagrados fotógrafos e cinegrafistas, que para cá voltaram suas lentes e flashes e, também, lembrar dos viajantes europeus que por aqui passaram no século 19 e produziram desenhos muito importantes para conhecermos como era nossa região naquela época, há duzentos anos atrás. Entretanto, essa produção é majorita

Em São João del-Rei, camiseta da Festa de Passos é uma nova tradição!

Ainda estamos a um mês do Carnaval, mas as quaresmeiras roxas já floriram, dando um sinal muito ansiado pelos são-joanenses: daqui a alguns dias, já será tempo quaresmal. Dias contritos, noites arrastadas, sinos pesarosos, tempo complacente, vento reticente, pausas no olhar distante, pro alto, pra dentro, pro sempre, pro nada, pra aqui, pra lugar nenhum... Pausas simplesmente. Em São João del-Rei, Quaresma é Festa de Passos. Vias Sacras, lembranças antigas, manjericão, recitação do terço, saudade por perto, desejo de penitência, arnica, aperto no peito, hortência, sopro no coração, orquídea, suspiro calado, rosmaninho, saudade seca de seiva e alento. Cera da vela, cruz com o lençol branco, crucificado erguido andando veloz pelas ruas, o povo em alas, ao lado, àtrás, bandeira roxa SPQR, passinhos enfeitados, encomendação de almas. Senhor Deus, misericórdia! Miserere mei Popule Meus. Ó vos omnes! Aos são-joanenses não basta viver. É preciso vestir. Inclusive a Quaresma. Revestir

Orações fortes amarram o amor nas esquinas e becos de São João del-Rei

Dizem que o mineiro é desconfiado de tudo e, tal qual São Tomé, só acredita naquilo que vê. Mas não é bem assim. Pelo menos em São João del-Rei, não é! A verdade é que os mineiros - e os são-joanenses em especial - guardam tudo a sete chaves, não alardeiam o que suspeitam nem proclamam o que imaginam e muito menos o que desconfiam. O que desejam, então... O são-joanense acredita no que não vê e, mais do que isto, dialoga e se relaciona intimamente com o que a vista não alcança. Mas isto ele não confessa. Se por algum motivo - crença, promessa ou obrigação - tem que professar essa sua crença, o faz da forma mais anônima. Torna pública a sua fé com tanto segredo e tanto mistério que é impossível identificá-lo, mesmo que a revelação seja no local mais público, na mais movimentada esquina da cidade. Você quer local mais visível, dia e noite, do que o sobradão do lado direito de quem se vira para a Matriz do Pilar, exatamente aquele onde começa o bequinho de degraus largos que disfar

Todo Ano Novo que começa é tempo dos reis de São João del-Rei!

Mal o ano começou e São João del-Rei, no imaginário do povo deste lugar, já está se avançando cinquenta, sessenta dias no tempo, vislumbrando os dois primeiros grandes marcos de seu calendário: o Carnaval e a Semana Santa. A cultura de nossa cidade é construída a partir de festas, ora religiosas, ora profanas, que se interligam, se sucedem, se complementam e dialogam, mostrando que o viver local é uma caminhada involuntária por um percurso fantástico e mágico, que transcorre entre a finitude e a eternidade. Quer realidade mais barroca do que esta, própria desta terra de el-rei? No dia 6 de janeiro - dia dos Santos Reis -, o Menino Jesus, Rei dos Reis, sentado em seu trono, sai em uma pequena rasoura, pelos arredores da tricentenária igreja do Rosário, ao som dos sinos e da Banda de Música, reluzente em sua pueril majestade. Alguns dias passam... Súdito deste rei, soldado de Cristo, a partir do dia 11 de janeiro, a cidade rende homenagens a São Sebastião, com novena, tencões e te