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Mostrando postagens com o rótulo modernidade

Marmelada com canela. O doce caminho para a morte na velha São João del-Rei

Pela formação colonial-barroca da cultura são-joanense, mesmo sob a ilusória égide da temperança, da serenidade e da discrição mineira, aqui em São João del-Rei tudo é exacerbado, extremado, monumentalizado. Independentemente se são o idílio ou o inferno, o sagrado ou profano, o luto ou o gozo, a alegria ou o sofrimento. Quando não as duas coisas ao mesmo tempo. Porta de entrada deste mundo para o outro, a Morte é um eixo importante e presente em quase todas as manifestações culturais são-joanenses, sejam elas expressões coletivas, celebradas no mundo da rua, ou vivências individuais, que acontecem entre as paredes cobertas pelo telhado de um lar. No primeiro caso, como em geral são ocasiões festivas, programadas para a coletividade rememorar, viver ou reviver situações simbólicas, consagradas e preservadas como tradição, o passar do tempo não foi suficiente para modificá-las tanto. Isto porque,  mesmo veladamente ou inconscientemente, elas têm uma finalidade - e até mesmo u...

A magia do Natal através dos tempos em São João del-Rei

Mal dezembro se anuncia, Jesus dá sinais de seu Advento em São João del-Rei. Serena orvalhos de ternura, semeia estrelas luminosas na noite escura, faz brotar flores de bondade, que dão frutos de calor e fartura, sopra brisas de fina música e sorri com mansidão. Foi assim no anoitecer deste domingo - o primeiro do Advento de 2019. Como no conto alemão do flautista de Hamelin, a Rua das Flores transformou-se em uma longa pauta musical, por onde os sons suaves de um violino, de um violoncelo, de um piano e de uma flauta subiam até o altar-mor da Capela do Divino Espírito Santo e, de lá, pousavam nos corações serenidade, encantamento, conforto, alívio, esperança, humanidade. Nos corações infantis,  jovens, maduros e mais vividos, de homens e mulheres, brancos e negros, indistintamente. São João del-Rei tem dessas coisas, surpreende sempre, com arte e encantamento, quando menos se espera, como por exemplo numa noite qualquer de domingo! Peças de compositores consagrados - como...

São João del-Rei. Dentro do tempo tem Tempo. Do colonial ao barroco digital

Não é raro, aqui, ali e acolá, encontrar são-joanenses chorando pelo leite derramado. Desqualificando gratuitamente a cidade como patrimônio da cultura brasileira, pelo que se perdeu de sua paisagem urbana colonial e imperial. Mas também tem gente séria, sábia e comprometida refletindo produtivamente sobre esta situação. É verdade, muito se perdeu, e a responsabilidade começa com o Estado, que não foi competente o bastante para agir, tanto com medidas protetoras quanto com ações convictas e enérgicas para impedir - e no que fosse possível e adequado reparar - demolições e descaracterizações. Mas a comunidade também tem grande parcela de culpa. Ignorante do valor da tão vasta riqueza histórico-patrimonial que era de sua propriedade, deixou-se enganar pelo canto da sereia da então modernidade do século XX, não zelou e destruiu muitas edificações que eram tão valiosas. O mundo evolui, as cidades crescem, surgem novas necessidades urbanas e humanas e, se de lado nenhum vier intelig...

Valei-nos Nossa Senhora do Rosário! Sorri com bondade para os congadeiros de São João del-Rei

Mesmo ficando meio à margem da cultura oficial são-joanense, algo como o primo pobre das nobres tradições coloniais, o congado, ou congada, como alguns preferem, é uma manifestação cultural forte em nossa região, principalmente nos bairros mais afastados e nos distritos de São João del-Rei. Não se precisa de nenhum esforço para entender porque isto acontece: basta relembrar a condição social do povo que introduziu este produto cultural na região: negros africanos, escravizados, que viviam à margem do sistema político-social. Na economia eram apenas a força bruta; para a religião vigente, no começo havia dúvida se sequer tinham alma. Ainda hoje ainda não são os negros são-joanenses que possuem visibilidade destacada na sociedade local que compõem os grupos de congado. Congado exige alma negra, exige fé autêntica e natural, exige crença, convicção e coragem. Se não for assim é folclore, folguedo, espetáculo e diversão. Mesmo que não se dimensione, a região de São João del-Rei tem...

São João del-Rei, templo do tempo, precisa pulsar no ritmo do coração

As cidades históricas são templos do tempo, são arcas da memória, são vertentes dos sonhos. Lugares sagrados, são testemunhas vivas de feitos e fatos, são o território da história, ou melhor são territórios onde a história habita. Quem vive em uma cidade histórica precisa ter consciência do privilégio que é viver em terras que por si só são espaços de memória, lembranças e recordações, constituídos por suas ruas e avenidas, seus becos, seus largos e suas praças. Neles, igrejas, casarões e monumentos estão o tempo todo a silenciosamente contar o que viram ao longo de tantos séculos. Quem administra uma cidade histórica precisa ter compromissos verdadeiros com a cultura e com a memória local, pois a saúde destes patrimônios depende muito de atitudes e decisões que só do poder público podem emanar. Principalmente os homens públicos têm na história a vitrine e o porta-retrato de sua competência, de seu comprometimento, de seus valores, da sua trajetória, do seu fazer. Quem visita ...

São João del-Rei e a Folia de Reis a "Caminho da Salvação"

A passagem de folias de reis pelas ruas de São João del-Rei - do centro histórico às localidades mais periféricas - é tradição centenária, mas nos últimos anos andou perdendo força, pela falta de renovação em seus membros. É que a modernidade e a urbanização, com seus novos valores estéticos e apelos tecnológicos, aos mais jovens ainda parecem  opor a folia de reis tradicional ao status de progresso e evolução. Com isso, os grupos são-joanenses cada vez mais se tornaram menores e mais escassos, compostos em sua grande maioria por pessoas mais idosas. Atentos a esta realidade, alguns intelectuais buscaram não só minimizar este enfraquecimento quanto valorizar a folia de reis, elevando a auto-estima de seus membros e das comunidades que as conservam, pensando na  revigoração desta importante expressão cultural popular do ciclo natalino. Foi assim que a Organização Não Governamental Atitude Cultural organizou e promoveu, durante mais de uma década, o Encontro das Folias de ...

Em São João del-Rei, fraternalmente, a alegria é irmã da tristeza e as duas, civilizadamente, se respeitam

Ideal de respeito às diferenças e fraternidade, em São João del-Rei a alegria e a tristeza se reconhecem como irmãs e de vez em quando se revezam na ciranda que são os dias e as noites no vale da Serra do Lenheiro. Cada uma justifica a existência da outra, acentuando seu brilho ou obscuridade. Evidenciando esta peculiaridade, o jornal Folha de S. Paulo noticiou uma homenagem que o sacerdote Padre Paiva recebeu na avenida, durante o desfile carnavalesco, das escolas de samba locais, enquanto seu corpo era velado na magnífica Matriz do Pilar. Clique no link abaixo e leia. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/155594-padre-homenageado-no-carnaval.shtml