Ninguém contesta: no Brasil, quando se fala em Semana Santa barroca, um dos primeiros nomes que vem à cabeça é o de São João del-Rei.Tanto que talvez não seja exagero dizer que, em termos de Semana Santa, São João del-Rei está para o Brasil assim como Sevilha está para a Espanha.
Brasil e Espanha são países católicos. O sangue latino dos dois povos favorece um comportamento passional e extremado; inspira expressões barrocas, dramáticas e intensas, tanto nas manifestações de alegria quanto nas de tragédia. Assim, a forma como se representa e se celebra a Semana Santa na Andaluzia, especialmente em Sevilha (que é a mais famosa da Espanha), e em São João del-Rei é bem semelhante. Cada qual com suas peculiaridades, que não chegam a constituir diferenças, mas, pelo contrário, são "marcas registradas", que as legitimam e patenteiam. Todas são mui belas e grandiosas...
A Semana Santa de Sevilha, por exemplo, distingue-se da de São João del-Rei pela sua "quantidade". Na cidade andaluz, que durante muitos séculos foi dominada pelos árabes, as celebrações da Semana Santa duram muitos dias, noites inteiras. São tantas as "Cofradyas y Hermandades" a realizar a um só tempo suas próprias procissões que, para evitar conflitos e tumultos, a Cura teve que organizar os cortejos, estabelecendo horários e percursos, tal qual se faz nos desfiles das escolas de samba carioca. Às vezes a programação começa às 16h e chega a durar mais de 12 horas, ininterruptamente.
Cada Ordem religiosa sevilhana tem 200, 300 participantes, entre Capatazes, Nazarenos, Penitentes, Costaleros, Mulheres e as Bandas de Tambores y Cornetas. Chegam a ter até três grandes andores, representando cenas do Calvário que às vezes envolvem até cinco personagens em cada andor. Não é raro, no caminho, grandes cantores, populares ou eruditos, e até pessoas do povo, entoarem as Saetas, que são lamentos cantados em ritmo influenciado pelo flamenco gitano. A Semana Santa de Sevilha é espetacular, representadora, não sacramental.
A Semana Santa de São João del-Rei difere-se da de Sevilha pela sua profundidade e pela sacralidade. Organizada por apenas duas irmandades - cada uma responsável por celebrações distintas, realizadas em períodos diferentes - conta integralmente a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Paixão, cabe à Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos e é celebrada durante 37dias. Reviver a Morte e Ressurreição é responsabilidade da Irmandade do Santíssimo Sacramento, no período que vai do Domingo de Ramos ao Domingo da Páscoa.
As outras sete irmandades sediadas em igrejas do centro histórico apoiam, participando das procissões e montando, na quinta-feira santa, para visitação, cenas conhecidas da vida de Jesus: nascimento, milagres, prisão, parábolas, sermões, última ceia etc. Estas ambiências externas ao culto são complementares a celebrações litúrgicas como os Ofícios de Trevas, Lava-Pés, Sermão das Sete Palavras, Adoração da Cruz e outras.
Outro aspecto que difere a Semana Santa de São João del-Rei da Semana Santa de Sevilha é que, aqui, as cerimônias se alternam em espaços abertos e fechados. Ora acontecem dentro de igrejas, ora nas ruas do centro histórico. Do mesmo modo, aqui as cerimônias são oficiadas pelo clero (lá são conduzidas apenas pelas agremiações religiosas). Aqui a música, executada pela Orquestra Ribeiro Bastos, formalmente faz parte das solenidades, como linguagem e como mensagem. E, principalmente, aqui a Semana Santa tem sentido sagrado, não é representação, mas re-vivificação e re-vivenciação.
Quanto à duração, em São João del-Rei o conjunto das solenidades de Sexta-Feira da Paixão consomem um total de 12 horas, entre oito da manhã e meia-noite, com dois intervalos.
Apesar destas diferenças, as duas Semanas Santas têm grandes semelhanças intrínsecas, que com certeza resultam de fortes afinidades entre a alma mineira e o espírito andaluz.
Brasil e Espanha são países católicos. O sangue latino dos dois povos favorece um comportamento passional e extremado; inspira expressões barrocas, dramáticas e intensas, tanto nas manifestações de alegria quanto nas de tragédia. Assim, a forma como se representa e se celebra a Semana Santa na Andaluzia, especialmente em Sevilha (que é a mais famosa da Espanha), e em São João del-Rei é bem semelhante. Cada qual com suas peculiaridades, que não chegam a constituir diferenças, mas, pelo contrário, são "marcas registradas", que as legitimam e patenteiam. Todas são mui belas e grandiosas...
A Semana Santa de Sevilha, por exemplo, distingue-se da de São João del-Rei pela sua "quantidade". Na cidade andaluz, que durante muitos séculos foi dominada pelos árabes, as celebrações da Semana Santa duram muitos dias, noites inteiras. São tantas as "Cofradyas y Hermandades" a realizar a um só tempo suas próprias procissões que, para evitar conflitos e tumultos, a Cura teve que organizar os cortejos, estabelecendo horários e percursos, tal qual se faz nos desfiles das escolas de samba carioca. Às vezes a programação começa às 16h e chega a durar mais de 12 horas, ininterruptamente.
Cada Ordem religiosa sevilhana tem 200, 300 participantes, entre Capatazes, Nazarenos, Penitentes, Costaleros, Mulheres e as Bandas de Tambores y Cornetas. Chegam a ter até três grandes andores, representando cenas do Calvário que às vezes envolvem até cinco personagens em cada andor. Não é raro, no caminho, grandes cantores, populares ou eruditos, e até pessoas do povo, entoarem as Saetas, que são lamentos cantados em ritmo influenciado pelo flamenco gitano. A Semana Santa de Sevilha é espetacular, representadora, não sacramental.
A Semana Santa de São João del-Rei difere-se da de Sevilha pela sua profundidade e pela sacralidade. Organizada por apenas duas irmandades - cada uma responsável por celebrações distintas, realizadas em períodos diferentes - conta integralmente a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Paixão, cabe à Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos e é celebrada durante 37dias. Reviver a Morte e Ressurreição é responsabilidade da Irmandade do Santíssimo Sacramento, no período que vai do Domingo de Ramos ao Domingo da Páscoa.
As outras sete irmandades sediadas em igrejas do centro histórico apoiam, participando das procissões e montando, na quinta-feira santa, para visitação, cenas conhecidas da vida de Jesus: nascimento, milagres, prisão, parábolas, sermões, última ceia etc. Estas ambiências externas ao culto são complementares a celebrações litúrgicas como os Ofícios de Trevas, Lava-Pés, Sermão das Sete Palavras, Adoração da Cruz e outras.
Outro aspecto que difere a Semana Santa de São João del-Rei da Semana Santa de Sevilha é que, aqui, as cerimônias se alternam em espaços abertos e fechados. Ora acontecem dentro de igrejas, ora nas ruas do centro histórico. Do mesmo modo, aqui as cerimônias são oficiadas pelo clero (lá são conduzidas apenas pelas agremiações religiosas). Aqui a música, executada pela Orquestra Ribeiro Bastos, formalmente faz parte das solenidades, como linguagem e como mensagem. E, principalmente, aqui a Semana Santa tem sentido sagrado, não é representação, mas re-vivificação e re-vivenciação.
Quanto à duração, em São João del-Rei o conjunto das solenidades de Sexta-Feira da Paixão consomem um total de 12 horas, entre oito da manhã e meia-noite, com dois intervalos.
Apesar destas diferenças, as duas Semanas Santas têm grandes semelhanças intrínsecas, que com certeza resultam de fortes afinidades entre a alma mineira e o espírito andaluz.
Estou contando os dias para chegar nesta cidade e me encantar com esses momentos da Semana Santa! Mais uma vez, parabéns pelo blog e pela postagem dos videos! Paullo
ResponderExcluirPaullo, você será bem-vindo!
ResponderExcluirObrigado, Antônio Emílio! Há anos, participo das cerimônias em São João Del Rey e, confesso a você que, quando me aproximo da cidade, é como se eu estivesse voltando para casa! grande abraço
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