No dia a dia, as manhãs de domingo em São João del-Rei são marcadas pelos toques dos sinos das seis igrejas do centro histórico, chamando para as muitas missas matinais. No Domingo de Passos é diferente. Durante todo o dia (e até em boa parte da noite), os sinos dobram toques especiais - ora langorosos, ora vigorosos -, informando rasouras, marcando as horas que faltam para a saída das procissões, chamando os “irmãos”, anunciando a saída dos andores, assinalando aproximação, parada e afastamento dos “Passinhos” e, por fim, a chegada e encerramento – Sermão do Calvário na Matriz do Pilar.
Seja religioso ou não, quem assiste a Procissão do Encontro sempre é subtraído do tempo e tomado de emoção que alterna encantamento, sensibilização, religiosidade e respeito. Fascinam a pompa singela, a humildade monumental, materializadas nos paramentos, nos objetos de culto, nas imagens, nos altares-passos, nos perfumes, incensos, velas, veludos, sedas, flores, música. Juntos, tudo compõe um repertório complexo e profundo. Linguagem elaborada e muito refinada, a misturar elementos humanos, sobre-humanos, divinos – o antes, o ontem, o agora, o sempre, o nunca. O ser...
Quem, sendo partícipe, volitivamente é parte da Procissão, durante o percurso vive outro tempo. Transita por outro espaço. Desfruta o sagrado que aspira, transmuta-se. É instrumento no cumprir e no cumprir-se. Religião tem esse poder.
Quando, após a Orquestra tocar o último moteto, as imagens entram de costas na Matriz do Pilar e dentro dela desaparecem, fechadas pelas grossas portas da Sacristia dos Passos, o Céu volta ao céu. O presente re-ocupa seu lugar. Século 21. Brasil. São João del-Rei assume sua real geografia no Campo das Vertentes, Minas Gerais.
Mas o alívio e o conforto de uma sublime vivência sobre-humana ficaram estampados no Sudário da alma são-joanense.
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