Pular para o conteúdo principal

Ofício de Trevas marca Semana Santa de São João del-Rei



Na quarta feira da Semana Santa, a partir das 19 horas, a Matriz do Pilar de São João del-Rei estará lotada. Pessoas de todas as idades, são-joanenses, visitantes e turistas, todos em silêncio, acompanhando por duas horas o Ofício de Trevas. A tradição tem mais de duzentos anos e São João del-Rei faz questão de mantê-la, sendo a única cidade do Brasil e do mundo, a preservá-la, quase do mesmo jeito como era realizada no período colonial.

Musicalmente, o Ofício de Trevas é uma cerimônia muito sofisticada e rica. Os cantos gregorianos fazem lembrar a oração dos monges nos conventos nos tempos medievais; os responsórios barrocos revelam o requinte e o esplendor do tempo do ouro e a música peculiar, só executada nestes ofícios, cheia de curvas e espirais, alegoricamente bem pode ser considerada a face "rococó" da sonoridade de São João del-Rei.

O Ofício de Trevas é uma liturgia densa, dramática. Todo cantado, reúne leituras, lamentações, comentários, salmos, orações e responsórios, dispostos em duas partes sequenciais - Matinas e Laudes. À medida que a cerimônia vai transcorrendo, as luzes da igreja, tanto os lustres quanto as velas, vão sendo apagadas até que, alcançada a escuridão, os fiéis batem com força os pés no chão, para lembrar a morte e a ressureição de Jesus.

Por encantar a todos que o assistem, é grande o número de vídeos postados no Youtube para divulgar vários cantos e responsórios do Ofício de Trevas. Sem dúvida, os são-joanenses e turistas que os postam estão prestando importante serviço de ampliar mundialmente a divulgação do patrimônio cultural de São João del-Rei.  Ao mesmo tempo, estão colaborando com pessoas que se interessam por temas relacionados à música e à religiosidade barroca no Brasil durante o período colonial, inclusive contribuindo para o desenvolvimento de estudos científicas e produções culturais sobre o tema.

Veja, nos vídeos abaixo, diferentes momentos dos Ofícios de Trevas de São João del-Rei.





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo...

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila ...

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necess...