No universo da imaginação, a realidade pode ser sempre mais bela do que de fato é. Você já pensou como seria extraordinário se, à meia-noite deste sábado, 31 de dezembro, fogos de artifício explodissem em vários largos de São João del-Rei, escrevendo no céu estrelado, em dourado, diamante, esmeralda, azul, rubi, púrpura e prata, poemas sobre as esperanças que se renovam a cada Ano Novo?
Sonhar não custa nada e no mundo dos sonhos isto é possível. Convidemos Carlos Drummond de Andrade para, com seus Poemas de Dezembro, nos guiar nesta encantada via sacra, pelo centro histórico de São João del-Rei.
Ponte da Cadeia
"Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano e
eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é voo de um pássaro
é uma canção."
(Dezembro de 1968)
Largo da Cruz
"Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor:
aliança."
(Dezembro de 1973)
Escadaria das Mercês
"Depois de moldar de vento a flauta
que há de espalhar esta canção
por fim tecer de amor
lábios e dedos
que a flauta animarão.
E a flauta, sem nada mais
que puro som
envolverá o sonho da canção
por todo o sempre
neste mundo."
(Dezembro de 1981)
Largo do Rosário
"Quem me acode a cabeça
e ao coração
neste fim de ano,
entre alegria e dor?
Que sonho,
que mistério,
que oração?
Amor."
(Dezembro de 1985)
Largo do Carmo
"Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
com todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir a ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota
mas com ele se come, se passeia, se ama,
se compreende, se trabalha
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? Passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo augusto direito de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo,
eu sei que não é fácil, mas tente, experiente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."
(Dezembro de 1997)
Feliz Ano Novo para todos!
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