28.dezembro.1750. Em São João del-Rei o dia virou noite, de tristeza pela morte do Rei Sol Português
Há mais de 260 anos, exatamente há 261, São João del-Rei foi protagonista de uma das três mais importantes celebrações acontecidas em Minas Gerais na primeira metade do século XVIII: as Solenes Exéquias d'El Rey Nosso Senhor Dom João V. Foi mais uma oportunidade para a Vila de São João del-Rei, assim batizada em homenagem ao monarca defunto, mostrar sua importância tanto para a metrópole quanto para as demais vilas mineiras, homenageando com inigualável pompa e luxo o falecido Rei Sol português. Dom João V faleceu em 31 de julho de 1750, mas a notícia de sua morte demorou cinco meses para chegar a Minas Gerais.
As exéquias realizadas em São João del-Rei, na Matriz do Pilar, segundo a historiadora Júnia Ferreira Furtado, se comparam às celebrações do Triunfo Eucarístico (Vila Rica, 1733) e ao Áureo Trono Episcopal (Mariana, 1748). Pesquisando diversos autores, Júnia mostra que o ambiente criado envolvia e aguçava todos os sentidos utilizando as mais diferentes linguagens artísticas:
"um clima fúnebre e algo etéreo; um tempo suspenso entre a vida e a morte, foi criado na igreja, por dois coros, dois rabecões e um cravo... O contraste da sombra, da vida e da morte, tão ao gosto barroco, ficava evidenciado pelo jogo de claro escuro. O mausoléu fúnebre então construído e a Matriz onde se realizou a cerimônia foram cobertos de poemas e inscrições, dísticos, epitáfios e esqueletos que em todo o corpo deste templo horrorizava a vista para estimular a dor."
"Os altares foram cobertos de cortinas negras, com fitas de veludo acentuando a escuridão. Antes de se iniciar o serviço, os altares foram iluminados e no mausoléu se acendeu uma pira de luzes que vomitando incêndios de um amor penalizado, ateados no sentimento, sem os poder apagar o pranto, pretendiam desafiar as estrelas do céu, pelo sol que nos roubaram."
Ela continua - "As metáforas estavam evidentes nesta descrição: o Rei representado pelo sol, símbolo de luz, de poder, o rei dos astros; a escuridão significando a morte, a perda, a dor; as luzes, que desafiavam a morte e até o brilho das estrelas. No mesmo ato fúnebre, os presentes à igreja e os que se amontoavam nas ruas acenderam velas em tal profusão e abundância que fizeram perder de vista as estrelas do firmamento, transformando a noite em dia, expiando o medo da própria morte."
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Fonte: FURTADO, Júnia Ferreira. DESFILAR: a procissão barroca. Publicado em http://www.fafich.ufmg.br/pae/apoio/desfilaraprocissaobarroca.pdf
Acessado em 27 de dezembro de 2011.
Ilustração: Desenho do mausoléu erigido na Matriz do Pilar de São João del-Rei para as Exéquias Reais de Dom João V, em dezembro de 1750
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