Nas reais exéquias de Dom João V, oficiadas em São João del-Rei no dia 28 de dezembro de 1750, além da música e da cenografia barroca, a poesia também foi utilizada como importante elemento artístico de sensibilização da sociedade colonial que se firmava às margens do Córrego do Lenheiro. No centro e no alto, em toda parte, a sombra da morte do "Fidelíssimo" monarca que emprestara seu nome à Vila elevada em dezembro de 1713 se destacava até em palavras escritas, em um idioma em muito desconhecido da população, em sua maioria analfabeta.
O mausoléu construído e exposto na Matriz do Pilar para aqueles ofícios fúnebres tinha muitos poemas e inscrições em latim, falando principalmente sobre a morte e as "virtudes" do soberano morto em Lisboa. Conforme a historiadora Júnia Ferreira Furtado, textos mostravam a estreita ligação entre o poder absolutista português e a Igreja, ao justificar que "o sol português da Majestade Augusta do Senhor Rei Dom João, o V, no seu ocaso (crepúsculo), antes quisera trocar o seu Reino de Portugal (...) pelo Reino Celeste, onde reinará triunfante e glorioso por toda a eternidade entre os habitadores do Império".
Na análise e descrição da historiadora, "os emblemas que adornavam o mausoléu construído em São João del-Rei falavam por si próprios. Num jogo de simpatias, onde cada elemento levava a sua significação, elaborava-se uma linguagem visual, completada com os dizeres e os poemas em latim.
Formado por oito faces, na primeira estampava o emblema de uma águia real bebendo os raios de sol (...) significava o desprezo pela fragilidade do mundo e sombras da terra, se queria ilustrar entre as luzes do Divino Sol.
Em outra, havia o Rei estampado como um Atlante, a simbolizar o trabalho que teve de sustentar a monarquia portuguesa, por tantos anos. Uma vela acesa significava o papel luminoso que teve para a difusão da religião cristã.
O sol lembrava o enorme poder que tivera. Uma fênix exaltava suas virtudes e entregava sua alma aos Criados. A Árvore dos Poetas representava o próprio Rei, cuja vida fora ceifada tão cedo e, por último, o fogo a simbolizar a luz do entendimento.
Na porta da Matriz do Pilar, via-se um esqueleto com o manto do Cavaleiro da Ordem de Cristo, tendo na mão direita uma coroa. Dispostos em outros pedestais, viam-se vários esqueletos, um sustentando a púrpura real, outro empunhando o régio cetro. Neste ambiente cenográfico, Dom João V se elevava à figura de ícone e criava o seu próprio culto, sem o qual toda a teatralidade artístico-fúnebre não adquiria sentido".
Prestando atenção no que apurou em cuidadosa pesquisa e nos descreve Júnia Furtado, percebemos que não é de hoje que a cultura de São João del-Rei adotou a Morte como parte importante de sua essência. Entendemos, assim, porque as procissões que mais seduzem e encantam são-joanenses e visitantes são exatamente aquelas que dizem respeito à morte, como a Procissão do Enterro do Senhor, do trânsito de Nossa Senhora Morta, entre outras. E também porque os muros e os portões dos cemitérios de São João del-Rei são tão monumentais e até a razão do que faz sobreviver, nas praças, nos altos, esquinas e encruzilhadas, tantos cruzeiros com os estigmas da Paixão.
Minas não tem mar, mas São João del-Rei é o oceano do tempo. E o infinito da eternidade...
O mausoléu construído e exposto na Matriz do Pilar para aqueles ofícios fúnebres tinha muitos poemas e inscrições em latim, falando principalmente sobre a morte e as "virtudes" do soberano morto em Lisboa. Conforme a historiadora Júnia Ferreira Furtado, textos mostravam a estreita ligação entre o poder absolutista português e a Igreja, ao justificar que "o sol português da Majestade Augusta do Senhor Rei Dom João, o V, no seu ocaso (crepúsculo), antes quisera trocar o seu Reino de Portugal (...) pelo Reino Celeste, onde reinará triunfante e glorioso por toda a eternidade entre os habitadores do Império".
Na análise e descrição da historiadora, "os emblemas que adornavam o mausoléu construído em São João del-Rei falavam por si próprios. Num jogo de simpatias, onde cada elemento levava a sua significação, elaborava-se uma linguagem visual, completada com os dizeres e os poemas em latim.
Formado por oito faces, na primeira estampava o emblema de uma águia real bebendo os raios de sol (...) significava o desprezo pela fragilidade do mundo e sombras da terra, se queria ilustrar entre as luzes do Divino Sol.
Em outra, havia o Rei estampado como um Atlante, a simbolizar o trabalho que teve de sustentar a monarquia portuguesa, por tantos anos. Uma vela acesa significava o papel luminoso que teve para a difusão da religião cristã.
O sol lembrava o enorme poder que tivera. Uma fênix exaltava suas virtudes e entregava sua alma aos Criados. A Árvore dos Poetas representava o próprio Rei, cuja vida fora ceifada tão cedo e, por último, o fogo a simbolizar a luz do entendimento.
Na porta da Matriz do Pilar, via-se um esqueleto com o manto do Cavaleiro da Ordem de Cristo, tendo na mão direita uma coroa. Dispostos em outros pedestais, viam-se vários esqueletos, um sustentando a púrpura real, outro empunhando o régio cetro. Neste ambiente cenográfico, Dom João V se elevava à figura de ícone e criava o seu próprio culto, sem o qual toda a teatralidade artístico-fúnebre não adquiria sentido".
Prestando atenção no que apurou em cuidadosa pesquisa e nos descreve Júnia Furtado, percebemos que não é de hoje que a cultura de São João del-Rei adotou a Morte como parte importante de sua essência. Entendemos, assim, porque as procissões que mais seduzem e encantam são-joanenses e visitantes são exatamente aquelas que dizem respeito à morte, como a Procissão do Enterro do Senhor, do trânsito de Nossa Senhora Morta, entre outras. E também porque os muros e os portões dos cemitérios de São João del-Rei são tão monumentais e até a razão do que faz sobreviver, nas praças, nos altos, esquinas e encruzilhadas, tantos cruzeiros com os estigmas da Paixão.
Minas não tem mar, mas São João del-Rei é o oceano do tempo. E o infinito da eternidade...
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