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Sabedoria de São João del-Rei na poesia de Bárbara Heliodora


Às vésperas de se completar, no dia 24 de maio, o 192º ano da morte de Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, heroína inconfidente, filha de São João del-Rei, o almanaque eletrônico Tencões & terentenas reverencia sua memória divulgando aqui, para a geração atual, um dos poemas que, no século XVIII, ela escreveu para seus quatro filhos.

Na obra - que tem  valor ainda maior considerando ter sido escrita numa época em que, no Brasil Colônia, poucas mulheres eram letradas - Bárbara Heliodora transmite valores humanos de grande sabedoria, ensina virtudes e recomenda atitudes prudentes e sensatas.

Aprendamos com ela e repassemos para os mais jovens!

Conselhos a meus filhos

Meninos, eu vou ditar
As regras do bem viver,
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz sábios é o pensar.

Neste tormentoso mar
De ondas de contradições,
Ninguém soletre feições,
Que sempre se há de enganar;
De caras a corações
Há muitas léguas que andar.

Aplicai ao conversar
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos,
E também podem fallar:
Há bichinhos escondidos,
Que só vivem de escutar.

Quem quer males evitar
Evite-lhe a ocasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguém os procurar;
E antes que ronque o trovão,
Manda a prudência ferrar.

Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas;
Rapazes e raparigas
Não sabem mais, que asnear;
As conversas e as intrigas
Servem de precipitar.

Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem, que ratos velhos
Não há modo de os caçar:
Não batam ferros vermelhos,
Deixem um pouco esfriar.

Se é tempo de professar
De taful o quarto voto,
Procurai capote roto
Pé de banco de um brilhar,
Que seja sábio piloto
Nas regras de calcular.

Se vos mandarem chamar
Para ver uma função,
Respondei sempre que não,
Que tendes em que cuidar:
Assim se entende o rifão.
Quem está bem, deixa-se estar.

Devei-vos acautelar
Em jogos de paro e tópo,
Prontos em passar o copo
Nas angolinas do azar:
Tais as fábulas de Esopo,
Que vós deveis estudar.

Quem fala, escreve no ar,
Sem pôr virgulas nem pontos,
E pode quem conta os contos,
Mil pontos acrescentar;
Fica um rebanho de tontos
Sem nenhum adivinhar.

Com Deus e o rei não brincar,
É servir e obedecer,
Amar por muito temer
Mas temer por muito amar,
Santo temor de ofender
A quem se deve adorar!

Até aqui pode bastar,
Mais havia que dizer;
Mas eu tenho que fazer,
Não me posso demorar,
E quem sabe discorrer
Pode o resto adivinhar.

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Tencões & terentenas já publicou sobre Bárbara Heliodora http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/03/face-feminina-de-sao-joao-del-rei.html

Poema transcrito de  http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/barbara_heliodora.html

Ilustração: Casa de Bárbara Heliodora, em São João del-Rei.Sobradão do século XVIII onde nasceu e viveu a heroína inconfidente (foto do autor)

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