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Humor e morte à moda São João del-Rei


Em todo o país, ninguém duvida da esperteza do mineiro. Quanto mais cara de bobo tiver, mais astuto, mais matreiro o ser. Até na hora da morte. Só que não conta vantagem, não fala pra ninguém. No caladinho, dá nó em pingo d'água, não dá ponto sem nó; vê fumaça onde ainda não há sinal de fogo e não dá passo nem coice maior do que as pernas. Afinal, ensinam que em Minas entender logo é muito tarde; que bom mesmo é antecipar. Esse espírito deu origem a muitas piadas, como a reproduzida abaixo, cuja moral bem pode ser: macaco velho não mete a mão na cumbuca!

Corre a lenda que certo são-joanense estava muito mal de saúde. Sua vida estava por um fio, já a arrebentar em poucas horas. Definitivamente desenganado pelos médicos. Esgotadas todas as esperanças de dar socorro ao corpo, a única saída então era tentar salvar a alma. Para isso a família chamou um padre, para a extrema unção.

Piedoso e solidário, o sacerdote não negou o pedido. Como a morte não espera, adiantou-se o quanto pode e foi logo ao encontro do moribundo. Chegando lá, pediu a reserva e a privacidade que momento tão grave requeria, esvaziando o quarto para que o quase-morto ficasse à vontade na despedida deste mundo. Fez as orações adequadas e, em seguida, falou baixo, mas com firmeza:
- Agora, confirme sua fé em Nosso Senhor Jesus Cristo e renegue a Satanás!

O doente mexeu os olhos e, nada!

O padre insistiu:
- Irmão, não vacile. Coragem neste momento decisivo, do qual ninguém foge. Reafirme sua fé em Deus,  Nosso Senhor Jesus Cristo, e renegue a Satanás!

De novo, nada. Aí o padre perguntou:
- Homem, você está me ouvindo? Por que não faz o que te peço?...

Com esforço, o doente balbuciou:
- Padre, como não sei pra onde vou, é melhor não ficar mal com ninguém!...

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