Pular para o conteúdo principal

Mineirice, mineirismo e mineiridade desde sempre vivem em São João del-Rei (1)

Você sabe qual a diferença entre mineirice, mineirismo e mineiridade? Pois é diferenças existem, mas isso é assunto para os estudiosos, já que os cidadãos comuns da Terras Alterosas não só sabem quanto praticam, no viver de todo dia, o que é cada coisa. Porém "não dizem nem a si mesmos, este irrevelável segredo chamado Minas"*.

São João del-Rei, fundada cerca de 1703, foi uma das primeiras vilas de Minas Gerais, elevada a esta categoria em 1713. Foi também sede da Comarca do Rio das Mortes - uma das três áreas geográficas e administrativas em que se dividia o Estado no século XVIII. Cenario, em 1709, da Guerra dos Emboabas, São João del-Rei foi também berço da Inconfidência Mineira, terra natal de Tiradentes e Bárbara Heliodora. Nos séculos XIX e XX continuou destacando-se na história do país e, hoje, é reconhecida nacionalmente não só por seu  patrimônio histórico-cultural mas também por sua cultura viva, representada pelas orquestras, irmandades, ternos de congada, grupos folia de reis, pastorinhas, ranchos carnavalescos e pessoas que mais são "entidades culturais". O que é isso tudo senão a santíssima trindade Mineirice, Mineirismo e Mineiridade?

Frei Beto, no texto Ser Mineiro, mostra, por meio de ditados populares, pensamentos, frases de caminhão, conjecturas, piadas, citações poéticas e literárias, o que é, em que se baseia e como se perpetua o espírito de quem tem a alma de Minas Gerais. É um texto longo que Tencões & terentenas, como bom almanaque mineiro, apresentará aos poucos, em partes, comendo quieto, devagar, pelas beiradas... Então, comecemos!

Ser Mineiro (1ª parte)
"Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um mistério sobre o qual venho há anos especulado: o que é ser mineiro?Das reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice, muitas delas colhidas em filosóficas inscrições de rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada, eis as conclusões prévias e provisórias, sujeitas a chuvas e trovoadas a que cheguei.

Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cegos; sorrir sem mostrar os dentes; tomar café ralo para guardar  dinheiro grosso. É desconfiar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão. Mineiro pede emprestado para disfarçar a fartura. Se é rico, compra carro do ano e manda por meia sola em sapato velho. Mineiro vive pobre para morrer rico. Mineiro não é contra nem a favor, antes pelo contrário.

(Continua futuramente. Enquanto isso, clique & ouça...)


Leia mais sobre Mineirismo, Mineirice e Mineiridade acessando http://diretodesaojoaodelrei.blogspot.com/2011/05/mineirice-mineirismo-e-mineiridade_30.html

Comentários

  1. diretodesaojoaodelrei.blogspot.com é = a sensacional!!!

    ResponderExcluir
  2. Leonardo, pra ficar ainda mais interessante,a postagem ganhou trilha sonora. Acesse e ouça. Em breve continua o texto de Frei Beto. E a trilha sonora também...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Debaixo de São João del-Rei, existe uma São João del-Rei subterrânea que ninguém conhece.

Debaixo de São João del-Rei existe uma outra São João del-Rei. Subterrânea, de pedra, cheia de ruas, travessas e becos, abertos por escravos no subsolo são-joanense no século XVIII, ao mesmo tempo em que construíam as igrejas de ouro e as pontes de pedra. A esta cidade ainda ora oculta se chega por 20 betas de grande profundidade, cavadas na rocha terra adentro há certos 300 anos.  Elas se comunicam por meio de longas, estreitas e escuras galerias - veias  e umbigo do ventre mineral de onde se extraíu, durante dois séculos, o metal dourado que valia mais do que o sol. Não se tem notícia de outra cidade de Minas que tenha igual patrimônio debaixo de seu visível patrimônio. Por isto, quando estas betas tiverem sido limpas e tratadas como um bem histórico, darão a São João del-Rei um atrativo turístico que será único, no Brasil e no mundo. Atualmente, uma beta, nas imediações do centro histórico, já pode ser visitada e percorrida. Faltam outras 19, já mapeadas, dependendo da sensi

Em São João del-Rei não se duvida: há 250 anos, Tiradentes bem andou pela Rua da Cachaça...

As ruas do centro histórico de São João del-Rei são tão antigas que muitas delas são citadas em documentos datados das primeiras décadas do século XVIII. Salvo poucas exceções, mantiveram seu traçado original, o que permite compreender como era o centro urbano são-joanense logo que o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes tornou-se Vila de São João del-Rei. O Largo do Rosário, por exemplo, atual Praça Embaixador Gastão da Cunha, surgiu antes mesmo de 1719, pois naquele ano foi benta a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, nele situada e que originalmente lhe deu nome. Também neste ano já existia o Largo da Câmara, hoje, Praça Francisco Neves, conforme registro da compra de imóveis naquele local, para abrigar a sede da Câmara de São João del-Rei. A Rua Resende Costa, que liga o Largo do Carmo ao Largo da Cruz, antigamente chamava-se Rua São Miguel e, em 1727, tinha lojas legalizadas, funcionando com autorização fornecida pelo Senado da Câmara daquela Vila colonial.  Por

Padre José Maria Xavier, nascido em São João del-Rei, tinha na testa a estrela da música barroca oitocentista

 Certamente, há quase duzentos anos , ninguém ouviu quando um coro de anjos cantou sobre São João del-Rei. Anunciava que, no dia 23 de agosto de 1819, numa esquina da Rua Santo Antônio, nasceria uma criança mulata, trazendo nas linhas das mãos um destino brilhante: ser um dos grandes - senão o maior - músico colonial mineiro do século XIX . Pouco mais de um mês de nascido, no dia 27 de setembro, (consagrado a São Cosme e São Damião) em cerimônia na Matriz do Pilar, o infante foi batizado com o nome  José Maria Xavier . Ainda na infância, o menino mostrou gosto e vocação para música. Primeiro nos estudos de solfejo, com seu tio, Francisco de Paula Miranda, e, em seguida dominando o violino e o clarinete. Da infância para a adolescência, da música para o estudo das linguas, José Maria aprendeu Latim e Francês, complementando os estudos com História, Geografia e Filosofia. Tão consistente era seu conhecimento que necessitou de apenas um ano para cursar Teologia em Mariana . Assim, j