Nem sempre a gente se dá conta, mas o feijão é um dos principais ingredientes de pratos importantes da autêntica e tradicional comida mineira. Tutu de feijão, feijão tropeiro, feijoada, feijão refogado, caldo de feijão. Nos dias comuns ou em ocasiões especiais, quase sempre o feijão é presença certa na mesa de Minas.
Mas e o bolinho de feijão? Quem não é dessas bandas ou não passou por aqui, dificilmente sabe o que é esse petisco que, trocando em miúdos, é parente do acarajé. Talvez até seja pai ou irmão do baiano, mas não tem recheio, a massa é mais fina e, bem menor no tamanho, é muito semelhante à comida preparada "como fundamento" para rituais afro-brasileiros. Antigamente, preparar a massa do bolinho de feijão era um processo artesanal. O feijão "dormia" em água fria, no sereno, para soltar a casca. Depois, era triturado e moido pelo atrito de duas grandes pedras. Como a modernidade chegou na cozinha, hoje o liquidificador dá uma mãozinha e facilita as coisas.
Não existe mais o vendedor que andava pelas ruas com o tabuleiro ou balaio gritando: êh, oin! Bolinheiro... , mas de vez em quando ainda se vê mulheres de pano na cabeça vendendo em grandes caldeirões a massa crua para ser frita. De qualquer modo, quem quiser comer um excelente bolinho de feijão deve ficar atento ao entra-e-sai no Bar Mineirão, na Rua Getúlio Vargas, quase ao lado da Matriz do Pilar. Lá, poucas vezes por dia, por uma das duas portas, entra um rapaz com um tabuleiro, que esvazia em poucos minutos. Você já imagina a preciosidade, parecida com grandes pepitas de ouro velho, que ele carrega. Os mais espertos não perdem tempo: enquanto esperam sua chegada, vão provando várias cachaças, com mel, com coco, com limão, com carqueja, com casca de laranja, com losna, com outras ervas ou, simplesmente, branquinha e pura.
Além do bolinho de feijão e das cachaças, no Bar Mineirão também tem doce de batata doce roxa, seco, dormido, quase cristalizado por fora, mas cremoso por dentro. Aquele dos botequins de nossa infância. Tem sonhos, lembranças, memórias. Às vezes ali se ouve música clássica, com boa qualidade de som, e, sempre, de muito perto, todos os dobres, tencões e terentenas dos sinos das igrejas do Carmo, das Mercês, do Pilar, do Rosário. Dependendo do movimento e do vento, se ouve até os dobres dos sinos de São Francisco.
Na rua antiga e sagrada, onde tudo respeitosamente anda e passa devagar, o Bar Mineirão é como um oratório do tempo. E dos bolinhos de feijão!
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Ilustração: Conjunto arquitetônico da Matriz do Pilar, onde fica o Bar Mineirão (foto do autor)
Mas e o bolinho de feijão? Quem não é dessas bandas ou não passou por aqui, dificilmente sabe o que é esse petisco que, trocando em miúdos, é parente do acarajé. Talvez até seja pai ou irmão do baiano, mas não tem recheio, a massa é mais fina e, bem menor no tamanho, é muito semelhante à comida preparada "como fundamento" para rituais afro-brasileiros. Antigamente, preparar a massa do bolinho de feijão era um processo artesanal. O feijão "dormia" em água fria, no sereno, para soltar a casca. Depois, era triturado e moido pelo atrito de duas grandes pedras. Como a modernidade chegou na cozinha, hoje o liquidificador dá uma mãozinha e facilita as coisas.
Não existe mais o vendedor que andava pelas ruas com o tabuleiro ou balaio gritando: êh, oin! Bolinheiro... , mas de vez em quando ainda se vê mulheres de pano na cabeça vendendo em grandes caldeirões a massa crua para ser frita. De qualquer modo, quem quiser comer um excelente bolinho de feijão deve ficar atento ao entra-e-sai no Bar Mineirão, na Rua Getúlio Vargas, quase ao lado da Matriz do Pilar. Lá, poucas vezes por dia, por uma das duas portas, entra um rapaz com um tabuleiro, que esvazia em poucos minutos. Você já imagina a preciosidade, parecida com grandes pepitas de ouro velho, que ele carrega. Os mais espertos não perdem tempo: enquanto esperam sua chegada, vão provando várias cachaças, com mel, com coco, com limão, com carqueja, com casca de laranja, com losna, com outras ervas ou, simplesmente, branquinha e pura.
Além do bolinho de feijão e das cachaças, no Bar Mineirão também tem doce de batata doce roxa, seco, dormido, quase cristalizado por fora, mas cremoso por dentro. Aquele dos botequins de nossa infância. Tem sonhos, lembranças, memórias. Às vezes ali se ouve música clássica, com boa qualidade de som, e, sempre, de muito perto, todos os dobres, tencões e terentenas dos sinos das igrejas do Carmo, das Mercês, do Pilar, do Rosário. Dependendo do movimento e do vento, se ouve até os dobres dos sinos de São Francisco.
Na rua antiga e sagrada, onde tudo respeitosamente anda e passa devagar, o Bar Mineirão é como um oratório do tempo. E dos bolinhos de feijão!
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Ilustração: Conjunto arquitetônico da Matriz do Pilar, onde fica o Bar Mineirão (foto do autor)
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