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13 de maio - Brasil reconheceu, em São João del-Rei, influência afro-brasileira no barroco mineiro

Não é sem motivo que se diz: a cultura afro-brasileira cada vez ganha mais espaço, é reconhecida e fortalecida em São João del-Rei. Transcendendo o aspecto cultura / folclore / espetáculo (sem dúvida também muito importante), a questão volta e meia é tratada com grande profundidade e abrangência nacional, por instituições respeitáveis. Até sob novos enfoques, como por exemplo reconhecendo a participação negra na autoria e construção da arte "clássica" mineira.

Exemplo disto foi a 22ª Assembleia Nacional do Instituto Mariama - associação que congrega bispos, padres e diáconos do Brasil - realizada na cidade há menos de um ano, mais precisamente no período de 26 a 30 de julho de 2010. Presidida pelo padre Guanair da Silva Santos, era propósito do evento, progressista e ousado: "... Trabalhar para que os padres sejam homens comprometidos com a transformação da realidade a partir do anúncio do Evangelho, que nos impulsiona a estar com os olhos abertos à situação atual da comunidade negra no Brasil."

A assembleia teve como tema central "A contribuição dos artistas negros na arte sacra do estado de Minas Gerais". Sobre ele, ao final dos trabalhos, que contaram com notável colaboração do historiador são-joanense Antonio Gaio Sobrinho, foi aprovada uma mensagem de grande valor, que destaca:

"Embora não seja fácil encontrar referências documentais sobre a contribuição dos negros na arte sacra, sabemos que trouxeram da África técnicas, habilidades, saberes e conhecimentos artísticos, que aqui foram utilizados e ressignificados. Muitos negros e mulatos se distinguiram como mestres em diferentes artes., entre eles Aleijadinho, Aniceto de Sousa Lopes, Venâncio do Espírito Santo, João da Mata, Ireno Batista Lopes, Luiz Batista Lopes, Manoel Dias de Oliveira e Padre José Maria Xavier. Isto nos leva a crer que, mesmo diante do ocultamento histórico, os artistas negros conseguiram imprimir seus traços no embelezamento e na riqueza cultural de nosso país.

Sobre isso, o papa João Paulo II assim escreveu aos artistas em 1999: "através das obras realizadas, o artista fala e comunica com os outros. Por isso, a história da arte não é apenas uma história de obras, mas também história de seres humanos. As obras de arte falam de seus autores, dão a conhecer seu íntimo e revelam a contribuição original que eles oferecem à história da cultura."

Situando a assembleia no contexto da realidade dos negros no Brasil, o documento lembra os compromissos sociais, políticos e humanos da Igreja Católica, ressaltando: "Diante de forças que negam vida plena aos negros e negras na sociedade, nós, ministros ordenados, na medida em que assumimos, com consciência, nossa negritude, explicitamos melhor a identidade de nossa Igreja, marcada, desde o seu nascimento, pela diversidade cultural, num discipulado de reparação, missionário e dialogante. (...) A Igreja precisará ajudar para que as feridas culturais injustamente sofridas na história dos afro-americanos, não absorvam nem paralisem, a partir do seu interior, o dinamismo de sua personalidade humana, de sua identidade étnica, de sua memória cultural, de seu desenvolvimento social nos novos cenários que se apresentam."

Ao apresentar a síntese de alguns aspectos da Mensagem da 22ª Assembléia Nacional do Instituto Mariama, o almanaque eletrônico Tencões & terentenas marca a passagem deste 13 de maio como oportunidade de reflexão sobre a realidade do negro no Brasil, especialmente em São João del-Rei, lembrando a importância de que, continuamente, sejam realizadas abolições & ebulições.

Veja, nos vídeos abaixo, uma abordagem histórico-artística da obra de Aleijadinho, o grande mestre mulato que deu cor brasileira à arte do século XVIII. O filme tem direção do consagrado cineasta Joaquim Pedro de Andrade.

                


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*     Serviço     *
Conheça a íntegra da Mensagem da 22ª Assembleia Nacional do Instituto Mariama acessando http://www.geledes.org.br/escultura/acontribui%C3%A7%C3%A3odosartistasnegrosnaartesacra04/08/2010.html

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