Vanguarda e pioneirismo na valorização do folclore brasileiro sacudiram São João del-Rei oitocentista
Nem ainda começara o século XX e, em São João del-Rei, uma professora já se dedicava, pioneiramente, a estudar, documentar e valorizar a cultura popular brasileira, especialmente o folclore infantil. Era a são-joanense Alexina de Magalhães Pinto, por muitos considerada a primeira folclorista de nosso país.
Nascida na segunda metade do século XIX (1870), seu trabalho foi tão inovador que tornou-se conhecida como "a mineira ruidosa" e não era sem motivo. Consta que, sempre no primeiro dia de aula do ano letivo, rasgava diante dos alunos as cartilhas tradicionais, tipo b, a, ba, para mostrar que era contrária ao método de leitura por associação de palavras e propunha um método de aprendizagem global. Foi quem usou pela primeira vez as cantigas, lendas, brincadeiras, jogos e outros elementos do folclore com fins educacionais, transformando-os em livros infantis e outros instrumentos pedagógicos.
Produções acadêmicas sobre sua obra dizem que ela foi a primeira professora a substituir a palmatória pelas cantigas de roda e os castigos por exercícios de memória e dicção. Fale depressa sem gaguejar: o bispo de Constantinopla é um bom constantinopolitanizador. Era com jogos assim que "punia" os alunos teimosos e endiabrados.
Alexina Pinto estava à frente de tudo. Até de São João del-Rei, que à época não conseguia dimensionar nem a grandiosidade de suas propostas educacionais nem seu modo ousado de viver. Com isso, sua relação com a sociedade são-joanense tornou-se conflituosa. Após - aos vinte anos - fugir para a Europa, voltou um anos depois, desfilando pelas ruas e praças montada em um desconhecido e estranho artefato de duas rodas, que chamava a atenção de todos. Assim, foi a primeira mulher a andar de bicicleta na São João del-Rei de 1890. A hostilidade da sociedade conservadora e provinciana contra a educadora cosmopolita cresceu tanto que Alexina chegou a ser apelativamente agredida na rua, de modo primitivo, com ovos e tomates. Todos contra ela, que só não foi excomungada porque seus parentes intercederam junto ao bispo de Mariana.
Tão grande quanto o rebuliço que causou Alexina Pinto no raiar do século XX foram a inovação que ela prenunciou e o legado de suas ideias. Ainda no século XIX teve quatro livros sobre folclore ("As nossas histórias", "Os nossos brinquedos", "As cantigas de criança e do povo" e "Danças populares e provérbios usuais") publicados na França e em Portugal. Mas só setenta anos depois é que se viu brotar o reconhecimento de seu pioneirismo no campo da Pedagogia, assim como suas propostas serem redescobertas, valorizadas e resgatadas por autores e educadores modernos.
Alexina Pinto morreu no dia que completava 51 anos - 18 de fevereiro - acidentalmente, arrastada por uma locomotiva, no Rio de Janeiro, há 90 anos. Não fosse isso, certamente teria se juntado aos intelectuais e artistas que, no ano seguinte à sua morte, fundaram o Movimento Modernista e promoveram a Semana de Arte Moderna de 1922.
Inegavelmente, ficou uma dívida de São João del-Rei para com ela, já que a única homenagem que recebeu na cidade foi, desde 1924, tornar-se nome de rua. Contudo, não fica bem uma cidade culturalmente tão avançada e progressista cultivar esta injustiça. Por isso, não será hora e oportunidade de São João del-Rei se retratar, prestando à sua memória um tributo dinâmico e transformador? Por exemplo, criando o Festival Anual de Folclore e Arte-Educação Alexina Pinto? Fica a ideia ...
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Fonte: www.teses.usp.br/teses/.../8/.../FLAVIA_GUIA_CARNEVALI.pdf
Ilustração:Reprodução do quadro Inconfidência Mineira, de Clóvis Graciano. 1973. Museu da Caixa Econômica Federal - Brasília
Nascida na segunda metade do século XIX (1870), seu trabalho foi tão inovador que tornou-se conhecida como "a mineira ruidosa" e não era sem motivo. Consta que, sempre no primeiro dia de aula do ano letivo, rasgava diante dos alunos as cartilhas tradicionais, tipo b, a, ba, para mostrar que era contrária ao método de leitura por associação de palavras e propunha um método de aprendizagem global. Foi quem usou pela primeira vez as cantigas, lendas, brincadeiras, jogos e outros elementos do folclore com fins educacionais, transformando-os em livros infantis e outros instrumentos pedagógicos.
Produções acadêmicas sobre sua obra dizem que ela foi a primeira professora a substituir a palmatória pelas cantigas de roda e os castigos por exercícios de memória e dicção. Fale depressa sem gaguejar: o bispo de Constantinopla é um bom constantinopolitanizador. Era com jogos assim que "punia" os alunos teimosos e endiabrados.
Alexina Pinto estava à frente de tudo. Até de São João del-Rei, que à época não conseguia dimensionar nem a grandiosidade de suas propostas educacionais nem seu modo ousado de viver. Com isso, sua relação com a sociedade são-joanense tornou-se conflituosa. Após - aos vinte anos - fugir para a Europa, voltou um anos depois, desfilando pelas ruas e praças montada em um desconhecido e estranho artefato de duas rodas, que chamava a atenção de todos. Assim, foi a primeira mulher a andar de bicicleta na São João del-Rei de 1890. A hostilidade da sociedade conservadora e provinciana contra a educadora cosmopolita cresceu tanto que Alexina chegou a ser apelativamente agredida na rua, de modo primitivo, com ovos e tomates. Todos contra ela, que só não foi excomungada porque seus parentes intercederam junto ao bispo de Mariana.
Tão grande quanto o rebuliço que causou Alexina Pinto no raiar do século XX foram a inovação que ela prenunciou e o legado de suas ideias. Ainda no século XIX teve quatro livros sobre folclore ("As nossas histórias", "Os nossos brinquedos", "As cantigas de criança e do povo" e "Danças populares e provérbios usuais") publicados na França e em Portugal. Mas só setenta anos depois é que se viu brotar o reconhecimento de seu pioneirismo no campo da Pedagogia, assim como suas propostas serem redescobertas, valorizadas e resgatadas por autores e educadores modernos.
Alexina Pinto morreu no dia que completava 51 anos - 18 de fevereiro - acidentalmente, arrastada por uma locomotiva, no Rio de Janeiro, há 90 anos. Não fosse isso, certamente teria se juntado aos intelectuais e artistas que, no ano seguinte à sua morte, fundaram o Movimento Modernista e promoveram a Semana de Arte Moderna de 1922.
Inegavelmente, ficou uma dívida de São João del-Rei para com ela, já que a única homenagem que recebeu na cidade foi, desde 1924, tornar-se nome de rua. Contudo, não fica bem uma cidade culturalmente tão avançada e progressista cultivar esta injustiça. Por isso, não será hora e oportunidade de São João del-Rei se retratar, prestando à sua memória um tributo dinâmico e transformador? Por exemplo, criando o Festival Anual de Folclore e Arte-Educação Alexina Pinto? Fica a ideia ...
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Fonte: www.teses.usp.br/teses/.../8/.../FLAVIA_GUIA_CARNEVALI.pdf
Ilustração:Reprodução do quadro Inconfidência Mineira, de Clóvis Graciano. 1973. Museu da Caixa Econômica Federal - Brasília
As datas estão erradas. Alexina Magalhães pinto, nasceu em 4 de Julho de 1869.
ResponderExcluirAgradeço sua observação, mas justifico que a data de nascimento informada foi publicada na tese da USP, citada como fonte.
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