Algumas - os cruzeiros - têm em si diversos estigmas da Paixão: coroa de espinhos,suplícios, sudário, lanças, lençol em forma de M, martelo, escadas, torquesa, túnica, dados, cálice, cana verde, cravos, corda, coluna, a placa com a inscrição INRI (ou JNRJ) e até, no ponto mais alto e sobre tudo, o galo que cantou três vezes antes da negação e pranto de São Pedro. A História conta que os mais conhecidos cruzeiros de São João del-Rei foram erigidos pela Irmandade de São Francisco da Penitência.
No raiar e avançar dos anos setecentos em Minas, as cruzes e cruzeiros levantados em diversos locais das vilas mineradoras tinham funções diversas, tanto religiosas quanto mágicas. Inclusive espantar o "inimigo", afastando os maus espíritos e as assombrações que "teimavam em insuflar brigas e confusões nas áreas de garimpo" - conta em interessante ensaio o historiador Meynardo Rocha de Carvalho (1).
Além disso, naquela época se acreditava que o símbolo maior do sacrifício de Cristo, transformado em monumento público, tinha a força de defender a população contra os perigos das doenças, dos conflitos familiares e dos malfeitores, o que era reforçado pelo imaginário de que, no dia 3 de maio, Nossa Senhora descia do céu às vilas do ouro, beijando as cruzes que estivessem enfeitadas e distribuindo graças para o dono da casa.
O professor Antonio Gaio (2) publicou um artigo sintético e consistente sobre diversos cruzeiros de São João del-Rei. Falando sobre o Cruzeiro das Mercês, ele conta: "Ficava abaixo da escadaria, próximo ao Passinho do Encontro, circundado de viçoso jardim e guarnecido de elegante gradil. Fora erguido tempos antes pelo padre francês Miguel Sípolis, diretor do Caraça até 1867. Daí se infere a antiguidade deste Cruzeiro, junto ao qual se realizavam festas no Dia da Invenção da Santa Cruz."
Gaio continua: "Em 1923, a pedido da Câmara Municipal, a Fábrica da Matriz o transferiu para o alto, onde permanece soberano até os dias atuais. Antes disso, a sessão da Câmara realizada no dia 13 de outubro de 1869 fez menção a este Cruzeiro, situando-o em frente à casa do capitão Pedro Alves de Antrade."
Veja, no link abaixo, uma matéria veiculada no programa Terra de Minas sobre as cruzes e cruzeiros de São João del Rei
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Fontes :(1) CARVALHO, Meynardo Rocha - O Culto à Santa Cruz em Minas do Ouro: religiosidade popular no Bispado de Mariana, 1745/1830 - http://www.descubraminas.com.br/Upload/Biblioteca/0000114.pdf
(2) GAIO, Antonio - Cruzes e Cruzeiros de São João del-Rei. Jornal da ASAP -
http://www.saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/16
Ilustração: Reprodução de imagem do programa das Comemorações dos Passos em 1994
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