Carnaval, com certeza, dura mais do que três dias, ou, sendo mais objetivo, dura o tempo todo que nele se pensa ou que dele se lembra. A não ser a data fixada por calendário e o estabelecimento de "áreas" geográficas e cronológicas que, disciplinadoramente, fixam locais e horários, e da oficialização manifesta pelo estabelecimento - por meio da subvenção - de algumas atividades organizadas, como desfiles das escolas de samba, blocos, ranchos, tudo no Carnaval genuíno é espontâneo. Algo como se fosse a subjetividade coletiva. Por isso, vez por outra se ouve dizer "espírito do carnaval", "alma carnavalesca" e por aí afora...
Pensando assim, chega-se à conclusão que Carnaval, no seu sentido autêntico e verdadeiro, é uma festa onde não cabe a "liberdade condicional", ou seja, é uma festa que transcende a oficialização que tentam adotar como sua determinante. Indo direto ao assunto, falo do fato de condicionarem e submeterem esta prática cultural à subvenção financeira do poder público, resumindo-a ao desfile de agremiações carnavalescas.
Lançada esta isca de pensamento e reflexão, vamos dar uma volta pelas lembranças e relembranças do reinado de Momo nos velhos carnavais de São João del-Rei? Os são-joanenses octogenários com certeza se lembrarão do Rancho Carnavalesco do Boi Gordo e do Bloco União das Flores. Os são-joanenses antigos se lembrarão do Príncipe da Lua, do Custa Mas 'Vae', do Bate Paus, da Depois Eu Digo, da Qualquer Nome Serve, da Falem de Mim, do Largo da Cruz, do Pão Molhado. Os mais jovens têm como referências a Bandalheira, o Bloco da Alvorada, a Lesma Lerda, as Domésticas e o Vamos a La Playa.
Cidade plural, múltipla, diversa, construída e vivida por muitos - muitos velhos e muitos jovens - São João del-Rei, tal qual no tempo do ouro, hoje harmoniza nativos e forasteiros. Com um olho e com uma mão conserva e preserva riquezas culturais de ontem, mas com outro olho procura ver o futuro e com outra mão construir o amanhã, tudo no tempo marcado pelo coração.
Folhear o Carnaval de rua, espontâneo, de ontem, de São João del-Rei em décadas passadas é como folhear um livro de Debret. Negas Malucas, diabos, melindrosas, ciganos, havaianas, piratas, baianas, carrascos, palhaços, colombinas, gatinhos, Donas Onças, Zé-Pereiras, malandros, centuriões, bailarinhas, presidiários, pierrôs, borboletas, demônios, mosquitos, caveiras, fadas - a fantasia interior de cada um a brincar pelas ruas, becos, jardins, ladeiras e largos de São João del-Rei, dando asas à imaginação e criando uma ambiência lúdica que nâo tinha lugar em outros dias do ano. Fantasia interior, asas da imaginação e ambiência lúdica que não eram subvencionadas.
O olhar de São João del-Rei que busca o futuro bem podia olhar-se neste espelho e ver nele a necessidade que existe de libertar e fantasiar o Carnaval. Cada um pondo na rua seu sonho, sua imaginação e sua fantasia, brincando em liberdade criativa, ampla, responsável, geral e irrestrita. A alegria verdadeira é incompatível com a liberdade condicional.
...........................................................................
Leia também
Olá sou do estado do Espirito Santo e estou planejando passar o carnaval ai em São João Del Rei, gostaria de saber se alem de muita folia no carnaval tambem posso visitar os monumentos historicos da cidade ou eles ficam fechados para visitação nesses dias?
ResponderExcluirOlá, bem-vinda!
ExcluirVocê conhecerá uma cidade-monumento vivo, construída ao longo de 3 séculos. Sua arquitetura, de vários estilos (do colonial barroco até o moderno, com expressões dos séculos XIX e XX), é harmônica e deixa bem evidente a evolução.
Os museus fecham porque ficam no trajeto da folia, mas as igrejas cumprem funções religiosas normalmente. Assim, você poderá visitá-las nos horários das missas.
No mais,São João del-Rei te espera. Seja bem-vinda!
Obrigada Antonio pela sua resposta, estou cada vez mais interessada em conhecer São João Del Rei, e gostaria de mais uma informação sua, se for possível me responder claro, queria mais informações a respeito de hospedagens. Estou indo com meu namorado, o que você me sugere?
ResponderExcluirMais uma vez obrigada e boa noite.
Olá! Com certeza, com o olhar arte-educador você encontrará muita coisa para ver em São João del-Rei. Principalmente se buscar o que está além do óbvio e do explícito, mas sim presente no que é singelo, ingênuo, autêntico e sutil.
ExcluirNão se sabe de nada que deponha contra a higiene, a segurança e a qualidade do atendimento das pousadas são-joanenses, mas não se pode esquecer que, no Carnaval, em qualquer lugar do mundo, às vezes acontecem coisas inesperadas e imprevisíveis.
Uma dica: não demore para escolher e reservar, pois a procura é sempre grande.
Muita alegria, bom carnaval e folheie sempre este almanaque eletrônico. Inclusive para encontrar dicas do que visitar em São João e conhecer previamente um pouco da história, da cultura e das curiosidades e fatos pitorescos da cidade.
Grande abraço.
Claubol, sumiu um pedaço da mensagem anterior, que repito aqui:
ExcluirPara garantir autonomia plena a este almanaque eletrônico, a linha editorial de Tencões & terentenas é restritiva quanto à indicação de estabelecimentos comerciais. Contudo, como muitas pousadas são-joanenses têm site, sugiro que você os acesse para subsidiar sua escolha.
Grande abraço!
Sua linha editorial, ou melhor, suas percepções, são fantásticas Emílio. Sem pedir "licença", divulguei este link no Daqui de Pitangui, hoje.
ResponderExcluirUm abraço.
Leonardo, obrigado pela força, que vem de longa data. Quanto ao elogio, tanto quanto eu você sabe como nos dedicamos e esforçamos para fazer bem à nossa terra natal. Continuemos juntos e solidários, São João del-Rei e Pitangui, nesta empreitada. Grande abraço!
Excluir