Ninguém duvida da riqueza cultural de São João del-Rei. Principalmente das tradições barrocas que, herdadas do século XVIII, permanecem vivas, nas mais diversas formas de expressão: ofícios religiosos, música barroca, ricas procissões, toques de sinos, tapetes de rua e muitas outras atividades que preenchem de som, perfume e cor os 365 dias do ano de quem vive às margens do Córrego do Lenheiro.
Mas existem algumas manifestações culturais que, paralelas ou periféricas às grandes celebrações litúrgicas, ainda são pouco conhecidas - e por isto mesmo pouco reconhecidas - pelos próprios são-joanenses. Entre estas, estão as folias, pastorinhas e congadas, que se apresentam por ocasião do Natal, Santos Reis Magos e São Sebastião, em janeiro, Divino Espírito Santo, em maio / junho, e Nossa Senhora do Rosário, por todo o mês de outubro.
Em algumas situações, as folias e congadas podem ser vistas no centro histórico da cidade, mas seu território forte são os bairros e alguns distritos de São João del-Rei, sobretudo no do Rio das Mortes e de São Gonçalo do Amarante, popularmente chamado Caburu.
A beleza, singeleza, simplicidade e dramaticidade popular destes grupos mostram que sua origem vem do espírito telúrico, de um tempo distante quando o homem com os pés acariciava o chão, conversava com o vento, se irmanava e vivia em harmonia com as plantas, com os animais e com todas forças da natureza. Isto se vê nos seus cantos, suas danças, suas vestes, suas caixas, seus estandartes e seus adereços. Todos muito simples, leves, alegres como só pode ter quem não maculou a pureza ingênua da inocência.
Felizmente, a cada ano vê-se as folias e congadas reforçarem suas raízes, com vigor e vitalidade. Reforçarem sua presença, nos seus locais de origem, e conquistarem respeito, admiração e encantamento, nos largos e becos coloniais. Que em breve as folias, pastorinhas e congadas sejam incluídas com o merecido destaque no calendário cultural de São João del-Rei, recebam incentivos e estímulos para sua preservação e também a atenção de estudiosos e pesquisadores.
Mesmo em pequeno número nos grupos e ternos, tal qual orvalho e sereno, as crianças congadeiras dão viço e frescor a uma prática ancestral, que é ao mesmo tempo misteriosa e explícita. Para decifrá-la, entendê-la e vivê-la, basta deixar no peito, qual tambor, bater o coração.
Foto: Ulisses Passarelli
Para saber mais sobre os congadeiros de São João del-Rei, clique no link abaixo e assista o documentário Esse rosário é meu
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