Antigamente, agosto era o mês mais temido pelo povo de São João del-Rei. Com seu céu pesado e opaco, com seu tempo brusco e suas ventanias, o oitavo mês do ano inspirava, aos são-joanenses do começo do século XX, quase tanto medo quanto a Quaresma.
Isto porque acreditavam que nos 40 dias de jejum e sofrimento de Jesus, o Coisa-ruim, com permissão divina, estava solto na terra para tentar também os homens. E com suas ciladas, embustes, armadilhas, pactos e ilusões, desviá-los do bom caminho para por a perder suas almas...
E pensavam que em agosto o perigo vinha do desconhecido e do acaso, das forças misteriosas e ocultas que regem a essência da natureza, gerando ameaças e provocando desastres de toda ordem. Nas águas dos rios e das lagoas, nos caminhos e nas estradas, nos abismos e precipícios, com fogo, objetos cortantes, animais peçonhentos e até mesmo com cachorros zangados. Loucura, envenenamentos, enforcamentos, afogamentos, suicídios e assassinatos também faziam parte deste rosário de preocupações.
Dia 24 de agosto, por exemplo, dia de São Bartolomeu, então, era o máximo do terror. Como tudo de ruim e nefasto podia nele acontecer, havia quem até evitasse sair de casa, deslocar-se além do necessário e redobrasse o cuidado ao lidar com objetos que pudessem ser perigosos.
Contra tudo isto, acreditavam no poder de benzeduras e orações fortes, que além de rezadas diariamente em horários e lugares próprios, em silêncio e solidão, eram também dobradas e transformadas em patuás e amuletos que, como proteção, carregavam junto ao corpo, muitas vezes pendurados no pescoço.
Todas estas crenças tornavam mais rico e fascinante o universo imaginário das pessoas mais crédulas e simples. Fincavam marcos que ingenuamente pontuavam seus calendários anuais e davam mais cor e sabor às suas existências.
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