Voltar a trinta, quarenta, cinquenta e tantos anos atrás. São João del-Rei está voltando no tempo. Isto mesmo, São João del-Rei está voltando no tempo, mas não que esteja andando para trás. Pelo contrário, a tricentenária cidade está se redescobrindo e redescobrindo suas riquezas. E lutando para recuperar o tempo que perdeu, durante as décadas em que foi adormecida. Adormecida, porém, mineiramente: um olho fechado pelo sono letárgico e o outro arregalado, vigiando a manutenção de seu patrimõnio material e imaterial, rico, diverso, genuíno e original.
- Como assim? Tem jeito de andar pra frente voltando para trás?
- Tem. A cidade está recuperando a vivacidade da movimentação positiva que tinha há coisa de meio século e que, como uma chama, foi se apagando pelo descuido, pelo abandono e, tristemente, até mesmo pelo desprezo ao que é uma das maiores fontes de desenvolvimento e renda, não só da atualidade como também dos tempos futuros: o turismo.
O mundo gira, o tempo passa, as estações brincam de roda, as coisas mudam, até em nossa cidade. Novos ventos sopraram, os comandos mudaram, o povo acordou e, como num passe de mágica, a cidade se viu novamente bonita e viva. Com a autoestima cidadã elevada, São João del-Rei cada dia mais se enfeita, para si e para os outros. Para nosso estado, nosso país e para o mundo, que vem nos conhecer e nos visitar, nas mochilas, nas câmeras e no interesse dos turistas.
Tal qual a bela adormecida, São João del-Rei abriu os olhos e agora enxerga o turista como um convidado especial, que merece respeito, atenção, consideração e amizade. A cidade não quer ser para ele um shopping barroco, uma praça de alimentação típico-mineira, um parque temático, um cenário encantador para tudo o que é belo, rico e perfeito.
São João del-Rei voltou a sonhar e quer encantar turistas, visitantes e são-joanenses pelo que sua realidade histórica e, antropologicamente, cultural é: sua comida de todo dia e dos dias de festa, suas festas religiosas tradicionais, sua ecumênica religiosidade popular, seu jeito de ser e viver - ora hospitaleiro, gentil e amigável, ora desconfiado, meio tímido, quase acanhado. São João del-Rei quer encantar turistas e visitantes com suas virtudes e seus equívocos, com seus sonhos extraordinários e suas dificuldades cotidianas e banais, ou seja, encantar o turista com o que verdadeiramente se é. Mas além dos turistas, encantar também os são-joanenses, que a constroem, sustentam, movimentam e se identificam com a cidade, potencializando o amor cidadão e a autoestima pessoal.
Não é todo lugar que é assim. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, São João del-Rei é festa o tempo todo. Aconteça o que acontecer, haja o que houver, faça chuva ou faça sol, é sino tocando, é orquestra cantando, é foguete estourando, banda de música ritmando, maria-fumaça apitando. Flores enfeitando, incenso perfumando, fogos de artifício encantando...
Dentre outras coisas tantas, é esta vivência cultural genuína que São João del-Rei tem e quer oferecer, como experiência turística agradável e enriquecedora, a quem aqui vem conhecer, se divertir, degustar, vivenciar, espairecer e descansar. Produto turístico espontaneo e natural como os ipês são-joanenses e suas cores, o café com broa e pão de queijo, o rosmaninho e seu perfume, o doce crespo das amêndoas, o gosto aveludado de pinga com mel, as fitas de papel crepom colorido que se soltam dos sinos em movimento nos dias de procissão e voam longe, levadas pelo vento, sobre os telhados, até espalharem cores pelas pedras do chão.
.oO0Oo. .oO0Oo. .oO0Oo.
Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
Comentários
Postar um comentário