Uma longa pausa, que já durou um mês e, certamente, ainda vai durar vários, ninguém sabe quantos. É assim que vai vivendo São João del-Rei onde, nestes tempos temerários do novo coronavírus 19, aqui como acolá reinam o isolamento social e, em consequência, o adormecimento cultural.
A cidade que é viva e festiva o ano inteiro, especialmente no bimestre março-abril - quando acontecem algumas das festas mais importantes e representativas de seu calendário turístico-religioso-cultural, que são a Quaresma / Festa de Passos e a Semana Santa - em 2020 viu esse tempo passar em branco, em silêncio e inerte. Sem as cores, as flores, a música, os odores, os movimentos e encenações dos ofícios e procissões. Consciente, cautelosa, cuidadosa e amorosa, a população são-joanense atendeu volitivamente o solidário chamado e ficou em casa. Guardou para depois a magia e o encantamento que há 300 anos viveria naqueles dias.
Apesar do desejo de que tanto este medo quanto este perigo passem logo, ainda é mistério quantas vezes a terra vai precisar girar em torno de si mesma para essa ameaça passar.
Mas, mesmo involuntária e indesejada, essa pausa não precisa ser improdutiva. É certo que ela trouxe e está alimentando contenções e restrições de várias ordens, incertezas e inseguranças, porém será prejuízo dobrado se ela roubar ou esvaziar nossos dias, como os de quem vive apenas para matar o tempo. A energia estancada no presente precisa ser potencializada e convertida em combustível para alimentar a ação, o entusiasmo e a alegria, que terminarão por vir, daqui há muitos dias.
Como quem se prepara antecipadamente para ir a uma festa, é preciso se preparar para esses novos tempos. Mesmo porque quando o novo tempo chegar, o mundo não vai ser mais o mesmo. As pessoas não serão mais as mesmas. A vida não será a mesma. O que eu quero como pessoa, como cidadão e como coletividade, como eu quero que seja esse novo tempo? É certo que ele não vem pronto; ele será construído. Como estou me preparando para esse novo ofício - o de construir um novo tempo e um novo mundo?
São João del-Rei é uma cidade eminentemente cultural. No peito de nossa terra, veios de ouro levam, como se fossem sangue, sonhos e memórias a um coração reluzente, que pulsa cultura. Cultura, que é uma mistura de ação, com imaginação, ilusão e transformação.
Sem dúvida, passada essa era, São João del-Rei será ainda mais viva, mais ativa e mais festiva. Mais consciente, mais comprometida, mais decidida. Quem sabe não pode ser até a São João del-Rei de nossos sonhos? Entretanto, precisamos estar prontos não só para vivê-la, mas também para fazê-la.
Para isso, é bom começar já a sonhar, mas também a planejar, se instruir e se instrumentalizar, sobretudo os agentes culturais, sejam eles pessoas, empresas ou instituições. Muitas vezes eles são os sujeitos que apontam o norte e indicam direções. Por isso, ter os pés no chão, no presente, é importante, porém não é menos importante ter também o olhar no horizonte e o pensamento no futuro. Desde já, então, convém ampliar a visão, ver a realidade sob nova perspectiva, buscar novas referências, revisar os valores, reconsiderar os ideais.
São João del-Rei, nossas vidas, não serão melhores se nós continuarmos sendo os mesmos. Afinal, o homem e a mulher de espírito velho não constroem o mundo novo!
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Texto e foto: Antonio Emilio da Costa
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